segunda-feira, junho 11, 2007

Lazeres outonais

Dei um tempo em Sex and the City, o livro. Divertido a princípio, tem me parecido mais árido e até sombrio a cada novo capítulo. A série, por outro lado, é bem mais leve -- quando assistida com moderação. Fico com ela, e só com ela, por enquanto.

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Ainda encantado com Lost Girls, a produção mais recente do turbilhão criativo que é Alan Moore. Criador de clássicos dos quadrinhos como V de Vingança, Watchmen e alguns dos arcos mais líricos do Monstro do Pântano, entre outros, Moore, um artista excêntrico que parece realmente saído das histórias que cria, resolveu direcionar seu talento com palavras e imagens para um gênero literário largamente subestimado: o erótico. Como era de se esperar, ele o faz com uma habilidade consumada. Afinal, num gênero em que a sutileza parece ter saído de moda há quase um século, e a beleza narrativa perdeu espaço para descrições gráficas de corpos e perversões, Moore combina fantasia e realismo de uma forma que, finda a leitura, ainda reverbera agradavelmente pela mente do leitor, de uma forma que só a boa literatura consegue. Uma excelente pedida.

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Comprei Tripulação de Esqueletos, de Stephen King. Um livro de contos que eu tinha até esquecido que existia, e que ingenuamente não esperava encontrar em português. É estranho ler King em nossa língua pátria -- fico pensando na acurácia da tradução de todos aqueles coloquialismos típicos dele. Em compensação, é interessante ficar procurando que contos já vi em alguma adaptação televisiva. Lembro de pelo menos um, A balsa, que fez parte da série Contos da Cripta, e na época achei particularmente perturbador. No momento em que escrevo, ainda não o li realmente, mas fico me perguntando o efeito. Uma espécie de tira-teima com uns 15 anos de atraso.

Gosto mais, confesso, do King contista do que do romancista. Não, estou sendo injusto com o autor: a questão é que o próprio formato do conto me agrada mais, especialmente no gênero sobrenatural ou fantástico. O bom e velho Stephen, que quase morreu há poucos anos ao ser atropelado, já concebeu maravilhas como Jersusalem's Lot, que provavelmente merece um lugar de honra na história do gênero de terror ao lado dos contos consagrados de Lovecraft e Poe. A narrativa confessional em primeira pessoa, o ritmo de diário... Coisas que poderiam ser cansativas em um romance se tornam o tempero principal no conto. Considerando que King gasta dezenas, até uma centena de páginas, em seus romances descrevendo o cotidiano dos personagens (boa parte deles, pessoas absolutamente convencionais), o conto o força a demonstrar uma agilidade muito eficiente. Para quem gosta de histórias sombrias (não necessariamente sobrenaturais), Tripulação de Esqueletos é uma boa sugestão.

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Para não ficar só em desilusões amorosas, erotismo e horror, comprei também Travessuras da Menina Má, de Mario Vargas Llosa. É um daqueles livros que ficam meses na lista dos mais vendidos, tornam-se assunto fácil em rodinhas elegantes e têm uma alta probabilidade de serem vistos no metrô, em cafés ou centros culturais. Em outras palavras, o tipo de obra que costumo ignorar. Mas a sugestão de dois amigos e uma oferta de livro usado na Livraria Cultura me fizeram abrir uma exceção. Já não bastasse a enorme lacuna de ficção em minha biblioteca, o número de autores hispânicos em suas prateleiras é próximo de zero e talvez o Sr. Llosa possa ser um primeiro passo para corrigir essa falha. Espero que ele saiba ser convincente ao longo do livro -- pois o primeiro parágrafo, aquele cartão de visitas de tantos autores, é absolutamente banal.

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Roma
está acabando. O penúltimo episódio passou há pouco, e parecia haver ganhos para toda uma temporada adicional. Suspeito que seja mais uma série maravilhosa encerrada às pressas, mas vou manter a esperança até o "gran finale" do próximo domingo. Até agora, ela tem valido cada minuto.

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Ainda falando em seriados inteligentes, uma sugestão enfática: vejam House, toda quinta-feira no Universal Channel, às 23h, ou, com sorte, na sua locadora mais próxima. Nada como um protagonista memorável nas mãos de um ator brilhante.

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Uma tarde domingueira lendo O Paradoxo do Poder Americano, de Joseph Nye Jr. Fazia tempo que não gostava tanto de uma leitura compulsória. Da próxima vez que alguém vier me dizer que em vinte anos todos estaremos estudando chinês, já poderei retrucar com algumas projeções comparativas sobre o quanto a China teria de crescer para efetivamente se aproximar do que os Estados Unidos representam hoje. Não se preocupem, meus caros leitores, estaremos todos muito velhos quando e se isso acontecer.

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Bem, amanhã é dia 12, o para muitos fatídico Dia dos Namorados. Confesso que tinha esquecido, um efeito colateral de estar solteiro, raramente ir a shoppings e não ver muita TV. Mas eis que, na última sexta-feira, o suplemento de lazer de O Globo traz como matéria de capa uma lista de lugares onde o leitor não agraciado pelo Cupido poderia arranjar um par até a terça-feira fatal. Havia sugestões para todos os perfis, desde karaokês para os extrovertidos até uma curiosa adega onde só há mesas para seis pessoas -- uma forma de estimular a socialização entre os mais tímidos.

Sei que esses toques humorísticos são deliberados em matérias de fim de semana, e sei também que esse é o tipo de assunto quase obrigatório nas pautas jornalísticas. Uma espécie de reconhecimento ritual de uma data importante. Ainda assim, não pude evitar o pensamento de que talvez algumas pessoas estejam levando Sex and the City a sério demais.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fiquei imaginando este tipo de descrição mais vezes neste blog. Que blog!!!! Suas dicas literárias são relevantes e serão compradas em momento oportuno.
Espero que seja breve este momento de abertura à leituras extra-curriculares mais densas.