sábado, dezembro 30, 2006

Os últimos passos de um condenado

Mataram Saddam. Na forca, nesta madrugada, o que deve ter correspondido mais ou menos ao amanhecer no Iraque. Ao homem que governou um país com uma mão de ferro mergulhada em sangue, deram a "morte suja" medieval -- considerada particularmente humilhante porque o condenado muitas vezes liberava todo tipo de fluido enquanto agonizava, de fezes a sêmen. Uma morte assustadora também: quando se usava uma corda curta, o pescoço não quebrava, e o infeliz podia levar até três minutos para deixar de sentir os terrores do sufocamento.


Leio a notícia com melancolia. Naturalmente, sei bem os motivos que levaram Saddam a essa situação; conheço também os precedentes, como os dos altos oficiais nazistas enforcados depois dos julgamentos de Nuremberg. Mas também não esqueço que se tratava de um homem preso e subjugado, tornado inofensivo, posto na exasperante situação de uma contagem regressiva para a execução. Não importa o que ele tenha feito, é impossível evitar a empatia e, particularmente, a idéia de que ninguém merece isso. Mesmo Saddam.

Bem posso imaginar o que sentem suas vítimas, que talvez estejam se regozijando. Entendo a posição delas, o senso de que "justiça foi feita" -- muitas vezes, um eufemismo para o prazer da desforra. Mas quem disse que as pessoas emocionalmente envolvidas são as melhores para julgar? Se o fossem, não haveria necessidade de tribunais e leis, e viveríamos num mundo (ainda mais) hobbesiano de luta de todos contra todos. Não, definitivamente não são elas, infectadas a seu malgrado com o ódio provocado pela perversidade de um tirano, quem deve julgar o direito de seu algoz continuar vivendo. Mas alguém deve? É admissível que um prisioneiro subjugado, neutralizado em sua ameaça, seja ainda assim morto? Há justiça quando a satisfação só vem com a visão de um cadáver?

Muita gente sensata dirá que sim. Porém, boa parte delas tratá no tom da resposta a mesma ânsia de desforra que as vítimas, o mesmo desejo de ver a "retribuição" do mal àquele que primeiro o perpetrou. Dirão sim não porque tenham pensado a respeito, mas porque, por inteligentes e sensatas que sejam, naquele momento estarão falando com o coração. Querem vingança, tanto quanto as vítimas, e matar alguém para se sentir bem não me parece um motivo suficiente.

Claro, nem todos serão tão primários, e é perfeitamente admissível que haja argumentos racionais a favor da pena de morte. Ainda estou por vê-los, na verdade. Certamente não se encontram na imprensa, onde vez por outra algum leitor indignado, e mais raramente um militante qualquer, a apresenta como solução para horrores como o dos últimos atentados no Rio de Janeiro -- ou seja, a pena capital como forma de remediar um sistema carcerário ineficaz, o que significa não julgá-la por seus próprios méritos. Também não estão nas melhores tradições espirituais, ao menos na parte menos contaminada com costumes de época e conveniências mundanas. Então, onde?

Seja como for, para Saddam, a questão perdeu qualquer importância prática. Ele se foi. Lamento por ele -- por tudo que fez pelo poder, e por sua aparente incapacidade de mudar de idéia depois que o perdeu. Por outro lado, fico pensando também no que poderia ter sido sua vida se continuasse apenas preso. Teria reconsiderado alguma coisa? A humilhação diária de se ver como prisioneiro teria abatido seu enorme ego? Seria possível que, talvez, adotasse valores diferentes? Impossível saber. Se havia alguma probabilidade de reforma em Saddam, ela lhe foi tirada às primeiras horas da manhã. E onde muitos viram a derrubada final de um tirano, eu vi também uma oportunidade perdida.

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Pesquisando um pouco sobre o tema, encontrei uma mensagem do Dalai Lama sobre a pena de morte. Transcrevo na íntegra:


His Holiness, Tenzin Gyatso, The Fourteenth Dalai Lama: Message Supporting the Moratorium on the Death Penalty

In general, death is something none of us wants, in fact it is something we don't even like to think about. When death takes place naturally, it is a process beyond our control to stop, but where death is wilfully and deliberately brought about, it is very unfortunate. Of course, within our legal systems there are said to be certain reasons and purposes for employing the death penalty. It is used to punish offenders, to prevent them ever repeating their misdeed and to deter others.

However, if we examine the situation more carefully, we will find that these are not real solutions.

Harmful actions and their tragic consequences all have their origin in disturbing emotions and negative thoughts, and these are a state of mind, whose potential we find within all human beings. From this point of view, every one of us has the potential to commit crimes, because we are all subject to negative disturbing emotions and negative mental qualities. And we will not overcome these by executing other people.

What is deemed criminal can vary greatly from country to country. In some countries, for example, speaking out for human rights is considered criminal, whereas in other countries preventing free speech is a crime. The punishments for crimes are also very different, but usually include various forms of imprisonment or hardship, financial penalties and, in a number of countries, physical pain. In some countries, crimes that the government considers very serious are punished by executing the person who committed the crime.

The death penalty fulfills a preventive function, but it is also very clearly a form of revenge. It is an especially severe form of punishment because it is so final. The human life is ended and the executed person is deprived of the opportunity to change, to restore the harm done or compensate for it. Before advocating execution we should consider whether criminals are intrinsically negative and harmful people or whether they will remain perpetually in the same state of mind in which the committed their crime or not. The answer, i believe, is definitely not.

However horrible the act they have committed, I believe that everyone has the potential to improve and correct themselves. Therefore, i am optimistic that it remains possible to deter criminal activity, and prevent such harmful consequences of such acts in society, without having to resort to the death penalty.

My overriding belief is that is is always possible for criminals to improve and that by its very finality the death penalty contradicts this. therefore, I support those organizations and individuals who are trying to bring an end to the use of the death penalty.

Today, in many societies very little importance is placed on education or the development of human values through social programs and entertainment. In fact, if we take television programming as an example, violence, including killing, is regarded as having a high entertainment value. This is indicative of how misguided we have become.

I believe human beings are not violent by nature. Unlike lions and tigers, we are not naturally equipped to kill with sharp teeth and claws. From a Buddhist viewpoint, I believe that the basic nature of every sentient being is pure, that the deeper nature of mind is something pure. Human beings become violent because of negative thoughts which arise as a result of their environment and circumstance.

I wholeheartedly support an appeal to those countries who at present employ the death penalty to observe an unconditional moratorium. At the same time we should give more support to education and encourage a greater sense of universal responsibility. We need to explain the importance of the practice of love and compassion for our own survival and to try to minimize those conditions which foster murderous tendencies, such as the proliferation of weapons in our societies. These are things even private individual can work towards.

This statement was read by Kobutsu Malone, Zenji at the "Creating a Legacy" event on Friday night, April 9, 1999 at Laurie Auditorium


Source: http://www.engaged-zen.org/HHDLMSG.html

A morte das línguas

Dying Languages

BY JOHN McWHORTER
December 28, 2006
URL: http://www.nysun.com/article/45847


In the rush of the holiday season you may have missed that a white buffalo was born at a small zoo in Pennsylvania. Only one in 10 million buffalo is born white, and local Native Americans gave him a name in the Lenape language: kenahkihinen, which means "watch over us."

They found that in a book, however. No one has actually spoken Lenape for a very long time. It was once the language of what is now known as the tristate area, but its speakers gradually switched to English, as happened to the vast majority of the hundreds of languages Native Americans once spoke in North America.

The death of languages is typically described in a rueful tone. There are a number of books treating the death of languages as a crisis equal to endangered species and global warming. However, I'm not sure it's the crisis we are taught that it is.

There is a part of me, as a linguist, that does see something sad in the death of so many languages. It is happening faster than ever: It has been said that a hundred years from now 90% of the current 6,000 languages will be gone.

Each extinction means that a fascinating way of putting words together is no longer alive. In, for example, Inuktitut Eskimo, which, by the way, is not dying, "I should try not to become an alcoholic" is one word: Iminngernaveersaartunngortussaavunga.

Yet the extinctions cannot be stopped, for the most part. Trying to teach people to speak their ancestral languages, for example, will almost never get far beyond the starting gate. Some years ago, I spent some weeks teaching Native Americans their ancestral language. To the extent that the exercise helped give them a feeling of connection to their ancestors, it was time well spent.

However, it was clear that there was no way that they would learn more than some words and expressions. Languages are hard to learn for adults, especially ones as different from English as Native American ones. In Pomo, the verb goes at the end of the sentence. There are sounds it's hard to make when you're not born to them. For busy people with jobs and families, how far were they ever going to be able to get mastering a language whose word for eye is ‘uyqh abe?

Yes, there was Hebrew. But that was because of an unusual combination: religion, a new nation, and the superhuman dedication of Eliezer Ben-Yehuda, who settled in Palestine and insisted on speaking only Hebrew to all Jews, including his infant son. But this extended to reducing his wife to tears when he caught her singing a lullaby to the child in her native Russian. Clearly Ben-Yehuda's was one of those once-in-a-lifetime personalities.

Yet the conventional wisdom is that we must strive to have as many future Hebrews as possible, since supposedly one's language determines one's cultural outlook. But a simple question shows how implausible that notion is. To wit, precisely what "cultural outlook" does English lend its speakers?

Thinking about the broad heterogeneity of people using this language, it is obvious that the answer is none, and the academic literature on the topic yields little but queer little shards of faint support for the "language is culture" idea. Which brings us back to languages as, simply, languages.

The language revivalists yearn for — surprise — diversity. What they miss is that language death is a healthy outcome of diversity.

If people truly come together, then they speak a common language. We can muse upon a "salad bowl" ideal in which people go home and use their nice "diverse" language with "their own." But in reality, almost always the survival of that "diverse" language means that the people are segregated in some way, which in turn is almost always due to an unequal power relationship — i.e., precisely what "diversity" fans otherwise consider such a scourge.

Jews in shtetls, for example, spoke Yiddish at home and Russian elsewhere because they lived under an apartheid system, not because they delighted in being bilingual. The Amish still speak German only because they live in isolation from modern life, which few of us would consider an ideal for indigenous groups to strive for.

In the end, the proliferation of languages is an accident: a single original language morphed into 6,000 when different groups of people emerged. I hope that dying languages can be recorded and described. I hope that many persist as hobbies, taught in schools and given space in the press, as Irish, Welsh, and Hawaiian have.

However, the prospect we are taught to dread — that one day all the world's people will speak one language — is one I would welcome. Surely easier communication, while no cure-all, would be a good thing worldwide. There's a reason the Tower of Babel story is one of havoc rather than creation.

For those still uncomfortable given that this single language would be big bad English, then notice how that discomfort eases when you imagine the language being, say, Lenape.

Mr. McWhorter is a senior fellow at the Manhattan Institute.

domingo, dezembro 24, 2006

Feliz Aniversário


Homem ou ideal, divindade ou iniciado, mito ou realidade... Não importa tanto o que ele foi ou gostaríamos que fosse. Mas algo paira no ar nesta época, e a generosidade, por mínima que seja, flui mais fácil, as confraternizações ganham outro sabor. Sim, é Natal, e para muita gente isso é sinônimo apenas de lautas refeições e corridas às lojas; mas este nem de longe é o único significado da data, e nem precisa ser. Mais do que qualquer outra data, esta nos convida à reflexão sobre o nosso papel no mundo e, principalmente, a nossa existência em relação aos outros, sobretudo aos nossos semelhantes. E mais do que em qualquer outra época do ano, palavras como "amor" e "solidariedade" adquirem maior significado.

Hoje é o dia do Nascimento. Do que ou de quem, resta a cada um de nós, em seu íntimo, decidir.

Paz na Terra aos homens de boa-vontade. E aos demais também.

Mais legumes, menos senilidade

Prato mais verde
Dezembro
http://www2.uol.com.br/vivermente/conteudo/noticia/noticia_102.html

Verduras e legumes ajudam a prevenir a perda cognitiva associada ao envelhecimento, segundo estudo publicado na Neurology. Já as frutas não garantem o mesmo efeito. Foi o que mostrou estudo realizado por pesquisadores da Universidade Rush, em Chicago. Eles investigaram durante seis anos os hábitos alimentares de quase 4 mil pessoas acima dos 65 anos. "Comparados com quem comeu menos de uma porção diária de vegetais, os idosos que ingeriram em média de 2,8 porções por dia tiveram um declínio cognitivo até 40% mais lento", afirma a neurologista Martha Clare Morris. Entre os diferentes tipos vegetais consumidos pelo participantes, as folhas verdes parecem ser as principais responsáveis pela manutenção das funções cognitivas. Surpreendentemente, o consumo de frutas não exerceu nenhum efeito. "Sabemos que a vitamina E, encontrada em maior quantidade nas folhas, retarda o declínio mental e o fato de serem geralmente consumidas com óleo ou azeite facilita a absorção dos nutrientes pelo organismo. Ainda assim não entendemos por que as frutas não se associaram aos resultados positivos", afirma a autora.

sábado, dezembro 23, 2006

Pregando no deserto

O Washington Post de hoje traz uma matéria interessantíssima sobre um advogado saudita que tem a audácia de desafiar os tribunais religiosos de seu país, uma "terra de ninguém'" em se tratando de direitos humanos, onde uma mulher estuprada pode receber um castigo quase tão grande quanto o de seus agressores pelo simples fato de estar acompanhada de um homem na hora do ataque. Como usar um sistema legal absolutamente retrógrado em prol de uma boa causa, é o que você descobre clicando aqui.

Particularmente fascinante é como o advogado, que era graduado na sharia, a tradicional lei islâmica, descobriu o quão injusta ela poderia ser: ao estudar Direito na capital saudita, conta que pela primeira vez teve de raciocinar sobre os princípios legais, em vez de apenas decorá-los. Ao fazê-lo, descobriu toda uma forma de ver o mundo que não mais passava pelo dogmatismo limitado em que militara.

Acenda-se um pouco da luz adormecida no interior de um homem, e as trevas jamais terão o mesmo poder sobre ele.

Uma relíquia


Quem diria, o bom e velho Pato Donald também esteve na Alemanha Nazista...

Para não dizerem que este é um post com más vibrações, uma outra raridade direto dos arquivos da Disney. Agradecimentos ao autor do Omedi, que colaborou nesse trabalho de arqueologia cinematográfica diariamente feito por milhares de pessoas no You Tube.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Morre Joseph Barbera, criador dos Flintstones

O americano Joseph Barbera, um dos criadores de personagens clássicos do mundo da animação, como Os Flintstones, Scooby-Doo, Os Jetsons e Tom e Jerry, morreu nesta segunda-feira.

Barbera tinha 95 anos e morreu de causas naturais em sua casa, em Los Angeles, onde vivia com a mulher, Sheila.

Na década de 1950, Barbera formou com William Hanna a empresa de desenhos animados Hanna-Barbera, que se tornaria uma das mais famosas de Hollywood, responsável por inúmeros clássicos dos desenhos animados.

Antes, a dupla já havia criado seu primeiro grande sucesso, Tom e Jerry, nos estúdios MGM. As aventuras de Tom e Jerry renderam sete Oscars a seus criadores.

Barbera e Hanna (que morreu em 2001) produziram mais de 300 séries de desenhos animados.

Depois da morte de Hanna, Barbera continuou na ativa como produtor para a Warner Brothers Animation.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Humanos farejadores

Unleash your inner bloodhound – start sniffing
Matéria do New Scientist.

Human subject’s path following a scent trail scent trail of chocolate essential oil through a field (right), as compared to a dog’s scent path of a pheasant dragged through a field (Image: Jess Porter, UC Berkeley)

Human subject’s path following a scent trail scent trail of chocolate essential oil through a field (right), as compared to a dog’s scent path of a pheasant dragged through a field (Image: Jess Porter, UC Berkeley)


Humans can follow scent trails across a field in the same way that dogs can – and they improve with practice – a intriguing new field study has revealed.

Jess Porter and Noam Sobel at the University of California in Berkeley, US, and colleagues tested whether 32 people were able to follow a 10-metre-long scent trail of chocolate essence through open grass using only their noses. Two-thirds of them could.

They then trained four of the subjects three times a day for three days over a two week period to see whether they improved with practice. After training the subjects followed the trail more accurately and at more than double the speed. Watch a human sniffer dog in action (2.1MB, requires QuickTime player).

“Once people realised that they could do this, they seemed to develop a good sense of how to zig-zag their noses back and forth across the odour plume in order to pick up the scent most effectively,” says Porter.

Stereo smells

The findings also shed new insight into how mammals smell. Sensory biologists have long-argued about whether mammals compare the scent inputs coming into each nostril in order to localise where a smell is coming from, in the same way they use their left and right ears.

Other animals, such as lobsters, do this by waving their sensor-studded antennae across a scent plume in order to study it, but some had thought that mammalian nostrils were too close together for this to work.

Porter’s team used an imaging technique to establish that the two nostrils do indeed inhale air from distinct, non-overlapping areas of space.

Pick a nostril

Volunteers performed worse at the scent-tracking task when one nostril was blocked, and when they wore a device that conjoined the air input from two separate nostrils into a single “virtual” nostril as it entered the nose.

“It now seems that there’s a common mechanism of scent localization from insects to humans,” says Matthias Laska, a sensory physiologist at Linköping University in Sweden.

As for whether humans could ever get as good as dogs at tracking a scent, Sobel says the biggest problems seems to be getting our noses close to the ground while still being able to move quickly. “Crawling seems to be the rate limiting step,” he says.

The team now plans to study the ability of humans to track scents while standing up.

Journal reference: Nature Neuroscience (DOI: 10.1038/nn1819)

sexta-feira, dezembro 15, 2006

O poder de uma boa tirada

Uma das funções deste blog é divulgar boas leituras, virtuais ou não. Assim, é no pleno cumprimento do dever que apresento a vocês o Sr. Ambrose Bierce, muito conhecido em terras anglófonas como autor de histórias de terror -- o que já lhe rende o crédito pela audácia --, mas também um satirista de primeira linha. O Dicionário do Diabo, sua obra máxima nesse campo, já foi lançado em português, para delícia dos ironistas e dos apreciadores de um humor ferino. Quem lê inglês poderá encontrar a versão original gratuitamente aqui.


O Estado do Paraná / Data:18/9/2005
Vamos rir um pouco com o “amargo” Bierce?

João Manuel Simões
O norte-americano Ambrose Bierce (1842-1914), jornalista famoso pela sua irreverência viperina, e escritor que se notabilizou como autor de contos de horror algo satânicos, da linhagem de Edgar Allan Poe, foi sobretudo um satirista implacável, cuja metralhadora giratória não poupava ninguém.

Cultivando permanentemente a ironia ácida e o sarcasmo contundente, cético e cínico, com uma tendência irresistível para um pessimismo algo mórbido, mas também capaz de exercitar o humor negro (ou branco), apolíneo ou dionisíaco, Bierce pertence a uma família ilustre que tem entre seus antepassados Swift e Voltaire. Isso para não falar dos quase irmãos que se chamaram Oscar Wilde, Bernard Shaw e H. L. Mencken.

Conhecido em vida como the bitter Bierce, o amargo Bierce, esbanjou talento na atividade jornalística, em cuja província fez de tudo, da reportagem ao editorial, da crônica do quotidiano à exegese política, da análise social à crítica literária.

Foi sobretudo um iconoclasta militante, sempre empenhado em demolir ou fustigar com o seu látego verbal acerbo políticos corruptos ou demagogos, administradores incompetentes na administração e competentíssimos nas suas falcatruas rapinantes, empresários desonestos, artistas medíocres, camelôs e charlatães da fé e, last but not least, poetastros.

A síntese do seu pensamento e da sua cosmovisão crítica encontra-se no livro famoso, The devil’s dictionary (O dicionário do diabo). É desse dicionário que eu irei reproduzir alguns verbetes extremamente saborosos, que fui colecionando ao longo dos anos, extraídos de jornais, revistas e livros. (Curiosamente, nunca tive nas mãos o original ou a tradução do dicionário ambrosiano).

Aí vai, pois, uma série de verbetes em cuja textualidade se patenteia de modo claro a verve e o espírito cintilante do autor. Escolhi naturalmente aqueles que se me afiguram mais hilariantes ou significativos.

Como define Bierce o cérebro? Assim: “Trata-se de um aparelho fisiológico com o qual nós pensamos...que pensamos”.

E o que vem a ser, na sua concepção, um infiel? Bierce explica: “Em Nova York, aquele que não crê na religião cristã. Em Bagdá, aquele que crê”.

E o que é, pela peculiaríssima ótica de Ambrose, um aborígene? Ele responde, curto e grosso: “Sujeito de valor reduzido que atravanca as terras recém-descobertas, mas que logo deixa de atravancá-las e passa a fertilizar o solo”. Jonathan Swift não diria melhor.

E como concebe ele a amizade? Com língua afiada e sabendo a fel, Bierce dá a sua definição cáustica: “É um bote suficientemente grande para levar dois passageiros, quando faz bom tempo, mas só um, quando o tempo fica ruim”. Monsieur de Arouet assinaria em baixo.

Continuemos rindo com a leitura de outro verbete – canibal: “Gastrônomo da velha escola, que conserva os gostos simples e adere à dieta natural da época préporcina”.

Vejamos agora o verbete cultura: “Aquela espécie de ignorância que distingue os estudiosos e intelectuais”.

Um conhecido, na opinião desassombrada do dicionarista e prestidigitador conceitual, nada mais é do que “uma pessoa que nós conhecemos suficientemente bem para pedir-lhe dinheiro emprestado, mas não o suficiente para emprestar-lhe”. Shaw e Wilde endossariam a “boutade”.

Já a meninice, vista pelos seus óculos de lentes escuras e irreverentes, é simplesmente “aquele período intermediário entre a idiotia da infância e a loucura da juventude”. Flaubert adoraria.

E o que é verdadeiramente um connaisseur? “Especialista que sabe tudo sobre algo e nada sobre o resto”. É fogo, o amargo Bierce...

Agora, vejamos uma das mais pungentes definições do norte-americano. Ela está consubstanciada no verbete nascimento: “A primeira e a maior de todas as desgraças que podem acontecer ao pobre ser humano”. Existe aí um eco nítido do verso de Camões: “E sempre o mal maior é ter nascido”. Será que Bierce o conhecia? “May be, may be not”.

Outra definição famosa é a que ele dá de patriotismo: “No célebre dicionário do dr. Johnson, o patriotismo aparece definido como o último refúgio dos patifes. Permito-me fazer uma correção indispensável: não é o último, mas o primeiro”.Um verbete digno de La Rochefoucauld ou Chamfort.

Finalmente, a super-hilariante definição de regaço: “Um dos órgãos mais importantes do corpo feminino, providência admirável da natureza para o repouso das crianças, mas útil sobretudo em festas campestres, para suportar bandejas com frangos frios ou cabeças de marmanjos”.

Será preciso acrescentar algo mais? Penso que não. Temos aí o quantum satis. O bastante para o justo deleite do prezado leitor que me deu a honra da sua leitura.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Ilusões

Olhe atentamente para esta imagem. (Clique para melhor efeito).





Ainda Pinochet

Existem ocasiões em que o "óbvio", infelizmente, tem de ser enunciado. Todas as discussões em torno da legitimidade do golpe de 11 de setembro de 1973, que elevou a ditadura pinochetista ao poder, sugerem que esta é uma delas. O presente artigo do jornal britânico The Economist demonstra aqui que, para nossa vergonha como seres humanos, muitos jovens de outra forma promissores, que se declaram "liberais" e "defensores da liberdade", ainda não conseguiram entender que esses belos rótulos não fazem sentido se não vêm acompanhados de uma valor muito mais básico; o respeito à vida humana. Sem isso, "liberdade" é um conceito vazio, mais um eufemismo para justificar quaisquer horrores que algum ideólogo hábil possa propor a título de uma boa causa. A morte, a tortura e o "desaparecimento" não podem ser aceitos como políticas oficiais sob qualquer circunstância, por mais dividendos materiais que se possam alegar em seu favor. Isso deveria ser auto-evidente, mas parece que, em pleno século XXI, ainda tem de ser dito e relembrado várias vezes.

Assim, nem Fidel, nem Pinochet, nem George Bush ou quem quer que tenha recorrido a esse tipo de expediente brutal como método e sistema. Aos que vierem relativizar isso, que denunciam, indignados, tais atos nos outros mas abrem sempre uma exceção para o regime de sua preferência -- a estes aplica-se o dito bíblico de "lobos em pele de cordeiro". O bem que estejam dispostos a fazer, e muitos têm lá sua cota de boas intenções genuínas, está ainda manchado pela brutalidade e pelo ódio. Ele jamais será completo, portanto, não importa quão belos sejam seus discursos, e quão imponentes os vultos dos intelectuais que citem. Não percebem que é justamente esse potencial para a destruição que fez ruírem tantos sistemas e movimentos promissores, em todos os tempos, e se não foram capazes de se dar conta disso ao lerem os livros de História, não merecem, hoje, o crédito e a superioridade moral que reclamam. São iludidos, dispostos a romper com formas externas e facções políticas, mas não com a maior praga que infecta qualquer sistema político ou social: o desumanização do outro, seja ele estrangeiro, adversário político, dissidente ou tirano. Ninguém -- ninguém -- tem o direito ao assassinato, e não se pode alegar "legítima defesa" em relação a pessoas já presas, sejam de direita ou de esquerda, terroristas ou guerrilheiras, ou o que forem.
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Augusto Pinochet

The passing of a tyrant

Dec 13th 2006
From The Economist print edition

No ifs or buts. Whatever the general did for the economy, he was a bad man


AP

HIS was not the bloodiest of the military dictatorships that afflicted South America in the 1970s. That accolade belonged to the Argentine junta. Nor was it the longest-lasting: Alfredo Stroessner misgoverned Paraguay for 35 years and Brazil's collegial military regime lasted for 21. But General Augusto Pinochet, who ruled Chile from 1973 to 1990 and who died last weekend, was the most brutally successful of the dictators. He presided over a viciously effective police state and came to personify a whole era of bloody despotism during the latter stages of the cold war (see article).

The left abhorred him not only because of his brutality but because he overthrew the elected Marxist government of Salvador Allende. The coup in 1973, which had the backing of the United States, ended a democratic tradition in Chile that stretched back to the 1930s. For his defenders both at home and abroad—who not long ago were numerous—he was the saviour of his country. They argue that he rescued Chile from communism and went on to turn it into the fastest-growing economy in Latin America by applying free-market policies that would be imitated in eastern Europe and Asia. General Pinochet hoped that a record of economic success, not just intimidation, would enable him to win a referendum in 1988 and remain in power. Chileans voted instead to restore democracy, by 56% to 43%. The general stayed on as army commander, casting an overbearing shadow. He was finally brought to book, if not quite to trial, thanks to a Spanish judge, Britain's House of Lords and the courts in Chile.

The Pinochet story raises two uncomfortable questions for liberals. If the coup did indeed rescue Chile from an elected government that was Marxist-dominated—and thus anti-democratic—was it justified? The answer is no. The Allende government generated economic chaos and extreme political tension and would probably have imploded. But the intention of the junta was to crush democracy, not just communism.

The second uncomfortable question is whether Chile's subsequent economic success was possible only because of dictatorship. Like most Latin American dictators, General Pinochet was instinctively an economic nationalist. But he saw the “Chicago Boys”, a group of free-market economists, as a means to consolidate his personal dictatorship. The radical shrinking of Allende's bloated state was a way to avoid sharing patronage, and thus power, with the armed forces.

With Chileans cowed, the Chicago Boys could work as if in a laboratory, with no regard for social costs. They made mistakes: a fixed exchange rate and unregulated bank privatisations triggered a massive recession and financial collapse in 1982-83. More pragmatic policies and a renewal of growth followed. But it took the return of democracy in 1990, with its ability to bestow legitimacy, to create an investment-led boom and a large fall in poverty. Elsewhere in Latin America, free-market reforms were enacted by democracies.


When economic and political liberty are divorced

Most dictators are economic bunglers. A few get the economy right, as Spain's Franco did after 1958. But in the long run (as China is likely to discover) economic liberty seldom thrives in the absence of political liberty. And General Pinochet's claim to have stood selflessly for the former was tarnished when it emerged that he had amassed a fortune incommensurate with his salary. Even if history bothers to remember that he privatised the pension system, that should not wipe away the memory of the torture, the “disappeared” and the bodies dumped at sea. His defenders—who include Britain's Lady Thatcher—really should know better.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Histórias (reais?) de fantasmas

H-NET BOOK REVIEW
Published by H-Albion@h-net.msu.edu (November, 2006)

Edmund Jones. The Appearance of Evil: Apparitions of Spirits in Wales.
Edited with an introduction by John Harvey. Cardiff: University of Wales
Press, 2004. xii + 164 pp. Color plates, illustrations, notes,
bibliography, index. $49.95 (cloth), ISBN 0-7083-1855-X; $24.95 (paper),
ISBN 0-7083-1854-1.

Reviewed for H-Albion by Kathryn Brammall, Department of
History, Truman State University.

A Preacher's Demons

This short work is editor John Harvey's tribute to a local hero, Edmund
Jones, a "shadowy prophetlike chronicler" of Welsh preternatural
history. The Welsh countryside is rich with legend and mystery, thick
with stories of fairies, ghosts, apparitions, and bodiless voices and
Harvey claims that the nonconformist preacher, who tirelessly
crisscrossed Wales from the 1730s until shortly before his death in
1793, is responsible for the survival of much of this tradition.
Harvey's intention is somewhat to rehabilitate Jones's reputation by
explaining why an intelligent, self-taught, eighteenth-century "great
Lover of Books" would unhesitatingly accept the existence of spirits and
demons.

Over the course of his career, Jones published a number of works, under
both his own name and a pseudonym, Solomon Owen Caradoc, including
several sermons, an autobiography, a geography and history of
Aberystruth, and two on the occult (the first in 1767--now lost--and the
second in 1780). Harvey suggests that though it might seem incongruous
for a religious, enlightened scholar to believe in ghosts, in fact it
was precisely Jones's religious convictions that convinced the preacher
that the spirit world was real and ubiquitous. For Jones, the appearance
of spirits was akin to the occurrence of miracles and demonstrated the
reality of the afterlife, an issue that was central to his religion. At
a time when the popularity of Deism, "Sadducism," and atheism was on the
rise, when more and more people demanded proof of God's existence as the
price of their "faith," when materialism was fast becoming the new
prophet, many Christians felt pressured to help reinvigorate a
"spiritually dark age" (p. 6). This mission was not a simple one and it
was fraught on all sides by dangers. So, as a devout, albeit
independent, nonconforming British Protestant, one wanted to avoid the
specter of Roman Catholic superstition. In addition, an educated mind
could not escape the requirements for proof demanded in an increasingly
scientifically enlightened age.

Harvey claims that in response to these imperatives, Anglicans and
Dissenters who argued for the existence of apparitions "developed
criteria to distinguish between authentic sightings and those that were
inventions of deceit or mania" (p. 6). They wanted to identify what
precisely such creatures were, what they could and would do, and how
these elements reflected the will and glory of God. The accounts Jones
reproduces fall squarely in this tradition and he is careful never to
include what might be considered naïve, unsupported rantings of a
disturbed mind. He is also careful to provide evidence in the form of
eyewitness testimony whenever possible. This testimony, according to
Harvey, is one of the most valuable features of Jones's work because his
sources span the social scale in a way unusual for premodern texts. In
part this is true, though Harvey both overstates and contradicts himself
when he claims that the majority of Jones's witnesses come from the
"servile and labouring classes" (p. 2). Jones's inclusion of testimony
from women, tailors, a turner, and other such artisans is virtually
unique, and therefore valuable, but the majority of his eyewitnesses (58
references over 134 stories) come from worthy, frequently gentry, or
clerical sources and Jones frequently states that he personally can
verify the morality and honesty of his sources. Furthermore, there are
no stories from the criminal or permanently itinerant ranks that
dominate the absolute lowest levels of society.

This and other elements of Harvey's analysis as laid out in the
introduction need to be read cautiously, but they bear consideration,
even though the reader might ultimately reach different conclusions.
Harvey makes claims regarding the book's value for the study of popular
culture, intellectual and religious antagonisms resulting from the
spread of Enlightenment ideals, as well as Jones's antiquarian agenda
and didactic, prophetic approach, and even highlights how Jones reveals
the connectivity between the visual and literary in the common mind.
More problematic, at least for this reader, are some of the editorial
choices Harvey makes. He himself admits that the extent to which he
modernized the wording, spelling, and sentence structure results in an
"edition that constitutes something approaching a translation rather
more than a direct transcription of the source texts." This can be
justified, however, since his aim was to "allow the general reader
immediate and uninterrupted access to the accounts" (p. 40).

What is less understandable and, ultimately more troublesome for the
historian, is Harvey's decisions on what to include in this edition and
his overall organization. Harvey chose to include not only the text of
the surviving "sequel" published in 1780; he inserts what he claims
(without sufficient supporting evidence) are the now lost tales from
1767. He further adds several accounts from Jones's 1779 _A
Geographical, Historical, and Religious Account of the Parish of
Aberystruth_. But the editor's manipulation of the text does not stop
there. Once he has increased the total number of stories by about a
third, he then groups the tales alphabetically by county and parish and
according to type. Though one might be sympathetic to a desire to
include as many "illuminating testimonies" as possible, from whatever
source, in an organization that flows in a pattern easily grasped by the
modern reader, doing so can undermine precisely the value of the
historical voice that Harvey claims is so unique and valuable. By making
such choices it is difficult to imagine how Jones's "charmingly
idiosyncratic" approach survives; surely part of his agenda, and what he
considered most convincing within his arguments is communicated in his
own organization structure and what he chose to publish when and where.
Moreover, we lose the sense of geographic meandering and the resultant
cultural interaction that was so much a part of Jones's exploration of
his Wales.

The above is not meant to suggest that Harvey's editorial choices have
created a book lacking historical rigor and merit; rather it is a
reminder, once again, to read this text carefully, keeping in mind what
it can communicate and what it cannot. It is a lovely book to read
because the editor's writing is clear and its production values are high
(thick glossy paper, vibrant color plates), it provides a picture of
Welsh culture that reinforces the notion that popular beliefs might not
always be at odds with those of social and intellectual elites (even at
the end of the eighteenth century), and it reminds us that religious
devotion was as widespread during the Enlightenment as skepticism and
rational inquiry.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Reforma

Além do You Tube, o Google parece ter adquirido também o Blogger (se é que não já o possuía), motivo pelo qual tive de fazer um "upgrade" por aqui. Com isso, o antigo sistema de comentários do Haloscan teve de ser aposentado. As mensagens ainda estão lá, mas já não mais acessíveis aos visitantes. Em compensação, ficou muito mais fácil criar uma lista de links e adicionar mais alguns acessórios ao layout.

Então, sejam todos bem-vindos ao Divagações 2.1!

domingo, dezembro 10, 2006

Sem deixar saudades

Curioso é que o ditador, aparentemente ainda tão querido no Chile -- apesar dos 3.000 mortos oficiais e das dezenas de milhares de torturados --, morreu no dia dedicado aos direitos humanos.


Outra curiosidade, agora triste, é ver os malabarismos morais que um grupo de jovens ditos "de direita" tem feito para justificar a brutalidade do regime pinochetista. Como não poderia deixar de ser, trata-se de mais uma discussão da comunidade de Olavo de Carvalho no Orkut. Um sinal de que o colunista que um dia admirei anda realmente disseminando o ódio político entre as mentes mais influenciáveis. Uma pena.



10/12/2006 - 15h50

Ditador chileno Augusto Pinochet morre aos 91 anos

da Folha Online

O ditador chileno entre 1973 e 1990 Augusto Pinochet morreu neste domingo, às 14h15 (15h15 pelo horário de Brasília), aos 91 anos, no Hospital Militar de Santiago. Pinochet havia sido internado às pressas na madrugada de domingo (3), após sofrer um ataque cardíaco.

Pinochet morreu no mesmo dia do aniversário de sua esposa, Lucía Hiriart Rodríguez, que completa 84 anos. Grupos peruanos defensores dos direitos humanos ressaltaram a ironia de que o ditador chileno Augusto Pinochet tenha ocorrido no Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado neste domingo.

O Exército afirmou que o corpo de Pinochet seria levado na noite deste domingo (por volta das 21h de Brasília) à Escola Militar. Amanhã, no salão central da instituição acontecerão os atos e a missa fúnebre.

O Exército chileno também informou que o funeral o ditador Augusto Pinochet será na próxima terça-feira.

O governo chileno confirmou que não haverá honras de Estado. A ministra da Defesa chilena, Vivianne Blanlot, representará o Executivo na missa do funeral.

O médico Juan Ignacio Vergara, chefe da equipe médica que atendia Augusto Pinochet, disse que o ditador sofreu um problema cardíaco que não pôde ser superado, apesar de uma série de manobras de reanimação.

Um relatório emitido pelo Hospital Militar de Santiago (às 11h de Brasília de hoje) falava sobre a estabilidade e chances de recuperação de Pinochet. Quatro horas depois, Pinochet sofreu uma "brusca recaída", morrendo às 14h15 (15h15 de Brasília).

Segundo relatório oficial da morte, o chefe militar sofreu uma inesperada e grave falência cardíaca, obrigando sua transferência em estado crítico da Unidade de Cuidados Intermediários para a Unidade de Cuidados Intensivos --onde foram feitas todas as medidas médicas de reanimação, sem resposta positiva.

Últimos anos

Pinochet passou os últimos anos de sua vida morando em Santiago e enfrentando acusações de abusos aos direitos humanos e fraudes cometidos durante os 17 anos em que esteve no poder. Sob seu regime, mais de 3.000 pessoas foram mortas por sua polícia secreta.

Apesar das acusações, o general não chegou a ir a julgamento, já que sua equipe de defesa sempre alegou que sua saúde era muito frágil para que ele enfrente o processo judicial.

Recentemente, quando completou 91 anos, Pinochet divulgou um comunicado afirmando que assumiu a "responsabilidade política" pelos atos cometidos durante seu regime, mas que a única razão para suas medidas era "fazer do Chile um grande país e evitar a desintegração".

"Perto do final dos meus dias, quero manifestar que não guardo rancor de ninguém, que amo a minha pátria acima de tudo, que assumo a responsabilidade política de tudo que aconteceu", afirmou o ex-ditador em mensagem lida por sua mulher, Lucía Hiriart.

A nota foi lida diante de 60 partidários que foram cumprimentá-lo por seu aniversário em sua mansão, situada no bairro de La Dehesa, em Santiago.

Pinochet enfrentava processos por crimes de violações dos direitos humanos, fraude ao fisco e uso de passaportes falsos no chamado Caso Riggs --aberto após a descoberta de contas secretas no exterior, nas quais ele acumulou fortuna de US$ 27 milhões, cuja origem não foi determinada.

Direitos humanos

Entre os processos relacionados a direitos humanos, figuram o desaparecimento de dissidentes em 1975, na chamada Operação Colombo, na qual Pinochet foi acusado de envolvimento no seqüestro de ao menos três dissidentes por serviços de segurança de seu governo.

O ex-ditador chegou a ser preso em diversas ocasiões em conexão com os crimes. Na segunda-feira passada (27), o juiz Víctor Montiglio ordenou a prisão domiciliar o ex-ditador como suposto responsável pelo seqüestro e homicídio de dois presos políticos em 1973, dentro do caso chamado "Caravana da Morte".

As duas vítimas da "Caravana", Wagner Salinas e Francisco Lara, eram membros da segurança do presidente socialista Salvador Allende, que se suicidou no palácio de La Moneda durante o golpe liderado por Pinochet em 11 de setembro de 1973.

Em 2006, o general Manuel Contreras, que chefiava a Dina [polícia secreta chilena] sob o regime de Pinochet, testemunhou ao juiz Claudio Pavez que Pinochet e seu filho, Marco Antonio, estariam envolvidos na produção clandestina de armas químicas e biológicas e no tráfico de cocaína. As acusações estão sendo investigadas pela Justiça chilena.

Com agências internacionais

sábado, dezembro 02, 2006

A arte da desmotivação

Uma visita casual ao excelente blog do Hermenauta, ex-nuance esperta de azul , levou-me a mais um representante do que talvez seja a maior delícia da Internet: a paródia criativa. No caso, àquelas técnicas de motivação que fazem a fortuna de tantos psicólogos e consultores cujo único trabalho consiste em reciclar as velhas idéias de pensamento positivo. Para que ser igual aos outros quando se pode fazer a mesma fortuna e ainda dar umas boas risadas? Essa é a idéia por trás de Despair.com, uma grande fornecedora de produtos desmotivadores, pessimista e cínicos, mas tremendamente bem pensados.

Eis uma amostra das pérolas do site:

Os verdadeiros líderes inspiram pelo exemplo. Quando isso não é uma opção, a intimidação brutal também funciona maravilhosamente.

Concordemos em respeitar as opiniões uns dos outros, não importam o quão errada a sua esteja.

Há uma hora em que todas as equipes aprendem a fazer sacrifícios individuais.

O único elemento consistente em todas as suas relação insatisfatórias é você.

Sempre se lembre de que você é único. Exatamente como todos os outros.

O ruim de ser melhor que todo o mundo é que as pessoas começam a dizer que você é pretensioso.

Sorte não dura a vida inteira a menos que você morra cedo.

Só porque você é necessário não quer dizer que é importante.



sexta-feira, dezembro 01, 2006

"Luke, eu sou seu tio!"


Sem dúvida, uma das coisas mais engraçadas que já apareceram na internet em muito tempo é a triste história do "irmão menos bem-sucedido" de Darth Vader, Lord Chad Vader. Enquanto seu irmão tenta conquistar a galáxia em nome do Lado Negro da Força, o pobre Chad usa exatamente o mesmo traje, as mesmas habilidades e, acima de tudo, a mesma linguagem supervilânica no gerenciamento de um mercadinho. Absolutamente imperdível, a começar pelo tema de abertura.

O link do primeiro capítulo no You Tube é este.