sexta-feira, março 27, 2009

Wall Street Fighter IV: o jogo do ano

Nada como duas sátiras em uma.



Se você não entendeu nada, não se preocupe. Provavelmente você já era velho demais nos anos 90. :-)

segunda-feira, março 23, 2009

O homem e seus livros



23/03/2009 - 00h01

Livro que pertenceu a Hitler reduz esse ícone do mal à dimensão humana

International Herald Tribune
Timothy W. Ryback*
Há três anos, os bens de Yves Saint Laurent foram leiloados por quase meio bilhão de dólares. Duas semanas atrás, um punhado de pertences pessoais de Mahatma Gandhi - óculos de aro redondo, um par de sandálias, uma tigela de arroz - foram vendidos por US$ 1,8 milhão. Na semana passada, um livro da desaparecida biblioteca pessoal de Adolf Hitler foi oferecido no famoso centro de leilão parisiense Hotel Drouot por um lance inicial de mil euros. Depois de uma rápida rodada de apostas, o volume foi vendido por € 1.800.

No caso de um Matisse de Yves Saint Laurent, vendido por € 35,9 milhões, o comprador investiu num bem cultural durável e, é claro, no bom gosto impecável do último dono. O milionário indiano que ofereceu o lance vencedor para os pertences de Gandhi disse que queria repatriar os objetos para exibição pública em seu país.

Mas o que motiva alguém a comprar um artefato de Hitler? Toda vez que pertences autênticos de Hitler vão a leilão, é inevitável e compreensível que o número de protestos se iguale ao número de apostas - acusações de especulação; críticas quanto à fetichização do líder nazista morto; inquietações quanto à natureza dos possíveis compradores ("Que tipo de pessoa compraria esse tipo de coisa?")

Com a maioria dos artefatos de Hitler, como o globo que foi vendido por US$ 100 mil, essas questões são certamente compreensíveis e justificáveis. Mas um livro da biblioteca particular de Hitler pode ser mais do que o objeto de um desejo questionável.

Hitler não era apenas um bibliófilo fanático, tendo reunido uma biblioteca de 16 mil volumes até sua morte, mas era também um leitor voraz que dizem ter lido um livro por noite durante a maior parte de sua vida adulta. Os livros eram uma parte integral do seu caráter e identidade. "Quando uma pessoa dá, tem que receber", disse ele uma vez. "E o que eu preciso, recebo dos livros".

Nesse sentido, os livros de Hitler são mais do que meros artefatos. Os volumes que ele leu e estudou, as passagens marcadas a lápis, tudo isso diz algo sobre seus interesses e sobre o curso de seus pensamentos em algumas de suas horas mais íntimas. Eles nos permitem observar este ícone do mal reduzido a dimensões humanas: um homem de meia idade numa poltrona com um livro na mão, e, vez ou outra, um lápis.

A maior parte da coleção de Hitler, dividida entre três bibliotecas elegantemente mobiliadas em suas casas de Berlim, Munique e em seu retiro nos Alpes em Obersalzberg, desapareceu na primavera de 1945, vítima da caça de troféus coletiva dos soldados americanos, franceses e do Exército Vermelho.

A parte remanescente da biblioteca, cerca de 1.200 livros - que incluem uma coleção de ensaios escrita por Gandhi - pode ser encontrada no setor de livros raros da Livraria do Congresso em Washington, D.C. Outros 80 livros, retirados do abrigo de Hitler em Berlim depois de seu suicídio, estão na Universidade Brown, em Rhode Island. Há relatos de que um número desconhecido, talvez vários milhares de livros, esteja escondido num arquivo de Moscou.

Portanto, quando volumes isolados vêm à tona - como o que foi leiloado no Hotel Druout -, eles representam exatamente o tipo de fonte primária de evidência histórica de que os estudiosos de Hitler carecem. Infelizmente, esses livros aparecem rapidamente nos leilões e depois somem em coleções privadas.

Um colecionador americano juntou dezenas de livros de Hitler, incluindo uma coleção da obra de Shakespeare em dez volumes encadernados à mão em couro trabalhado com uma suástica e as iniciais "AH" gravadas na lombada. Hitler citava Shakespeare frequentemente - "Ser ou não ser" era sua frase favorita.

Um morador do norte do Estado de Nova York comprou um livro de Hitler de um sebo por 50 centavos. O livro de 200 páginas e capa dura, "God's Realm and the World Today" [algo como "O Reino de Deus e o Mundo de Hoje"], foi publicado em 1915 e tem muitas anotações. Um colecionador holandês encontrou uma cópia surrada de Hitler do livro "Life of Frederick the Great" ["A Vida de Frederico, o Grande"] de Thomas Carlyle, uma biografia do século 19 que enaltece o fervor destrutivo do rei da Prússia e que alimentou as esperanças delusórias de Hitler em relação a uma miraculosa mudança de sorte na primavera de 1945.
Hitler estava lendo Carlyle nas semanas anteriores a seu suicídio.

De acordo com o catálogo do leilão montado pela empresa parisiense Kahn-Dumousset, o livro de Hitler em oferta na semana passada era um volume de antiquário, publicado em 1712, com uma ilustração de frontispício que mostrava o "furor, guerra, ódio e discórdia" na história europeia, e contava a história dos governantes europeus desde o duque de Savoy até o rei da Prússia.

O livro foi supostamente retirado do retiro de Hitler nos Alpes por um membro da 2ª Divisão Armada da França, o que empresta ao volume ainda mais valor histórico. A casa de Hitler nas montanhas abrigava muitos dos livros mais apreciados pelo líder nazista, incluindo seus volumes de Shakespeare.

Diferente de muitos outros livros remanescentes, que contêm dedicatórias de colegas ou admiradores nazistas - Heinrich Himmler, Herman Goering, Leni Reifenstahl, para citar alguns - esse volume não tem nenhuma dedicatória, sugerindo que foi uma aquisição particular, tornando-o assim ainda mais pessoal e relevante.

Na última quarta-feira, quando o livro de Hitler foi a leilão, junto com mais de outros 200 itens de antiquário, só havia lugar para ficar em pé no Hall 11 do Hotel Druout, mas ninguém respondeu ao lance de abertura de mil euros.

Entretanto, seguiu-se uma rodada movimentada de apostas anônimas por telefone, e o livro foi finalmente vendido por € 800 a mais do que o preço inicial. O tomo belamente encapado foi removido de vista e preparado para ser enviado para seu dono anônimo.

Hitler teria aprovado. No final de sua vida, o líder nazista ordenou que seus pertences pessoais fossem destruídos numa tentativa de obliterar o máximo possível sua vida privada. Ele queria ser lembrado exatamente como havia apresentado a si mesmo para o mundo: cheio de fúria, guerra, ódio e discórdia. Ele não queria deixar espaço para nuances, muito menos para insights sobre as obsessões e inseguranças particulares que alimentavam sua personalidade.

Enquanto o Matisse de Yves Saint Laurent passou da coleção de um investidor para outro e os artefatos pessoais de Gandhi retornaram para sua terra natal como patrimônio nacional, o livro de Hitler - como muitas outras coisas que poderiam nos dar mais informações sobre essa personalidade impenetrável - foi destinado a uma obscuridade ainda maior.

* Timothy W. Ryback é secretário geral da Academia Diplomática Internacional, e autor de "Hitler's Private Library: The Books that Shaped the Man" [algo como "A Biblioteca Particular de Hitler: Os Livros que Formaram o Homem"].

Tradução: Eloise De Vylder

sexta-feira, março 20, 2009

De Heróis e Vigilantes

E South Park faz sua versão dos super-heróis sombrios que têm feito o deleite de Hollywood: conheça Mysterion & The Coon. Aqui vai um aperitivo:




Uma sátira perfeita e emocionante ao Cavaleiro das Trevas.

terça-feira, março 17, 2009

Desejo, beleza e horror: a Internet, tráfico de mulheres e algumas divagações

É de largo conhecimento de qualquer pessoa que tenha passado mais de meia hora navegando pela Internet que, desde os primeiros tempos em que a rede se tornou conhecida do grande público, o negócio que mais prosperou no mundo virtual foi o de imagens eróticas. Seja na forma de ensaios artísticos ou da pornografia mais hardcore, o sexo parece estar a um clique de distância de quase qualquer recanto eletrônico. Obviamente, ele sempre esteve presente em qualquer sociedade, mas a facilidade de acesso ao menos visual a ele nunca foi tão grande -- e, naturalmente, ao mercado que o acompanha

"Anna", do MET-Art

Não é preciso ser um expert para perceber que, em boa parte desse oceano virtual de corpos esculturais e performances extravagantes, boa parte das modelos atende por nomes naturais do Leste Europeu e da Rússia: Olga, Svetlana, Sofia, Zuzana etc. Depois que, muitos anos atrás, por dica de uma colega de faculdade, adentrei uma das então ascendentes agências de casamentos russas, foi fácil entender o motivo. Mesmo descontando o fato de que não é qualquer pessoa que aparece em sites onde um belo corpo é pré-requisito, o tipo físico nessa região corresponde muito bem ao ápice do padrão de beleza caucasiano. Ou, como me disse um amigo que já teve a sorte de visitar Praga, é possível esbarrar em várias "top models" anônimas simplesmente andando pela rua. Some-se a isso o fato de que os países da região, ao emergirem das ruínas do comunismo, entraram numa crise econômica considerável, privando seus cidadãos das velhas garantias. Em outras palavras, havia um pool genético formidável à espera de oportunidades capitalistas que quisessem tirar proveito dele. 

Pois bem: demanda e oferta, certo? Nós, internautas ocidentais cheios de testosterona e tempo para gastar online, somos beneficiados com modelos e atrizes (?) esteticamente impressionantes, e elas, por sua vez, ganham  mais assim do que em carreiras mais "respeitáveis" em seus países natais. Um belo argumento liberal que, do ponto de vista estritamente legal, legitimaria as 372 milhões de webpages pornográficas, segundo um dado de 2007.

Particularmente, sempre fiquei intrigado com essa simbiose. Não pelos números grandiosos (você sabia que se gastam 89 dólares por segundo com pornografia na rede?) ou pela possibilidade de ter acesso instantâneo a material contendo (quase) toda e qualquer variedade sexual já concebida pela imaginação humana. O que sempre me despertou curiosidade, e deve ser ago até comum, era a pessoa das modelos. Não, não me refiro às proporções de sua figura, que falam por si nos sites; refiro-me às suas origens. Como elas foram parar ali? Tendo nomes eslavos, provavelmente vieram de áreas onde as perspectivas de vida são limitadas, mas não necessariamente o nível educacional. Teriam tido acesso de fato a estudo? Fizeram uma carreira nesse ramo ou teria sido um "bico"? Por que uma opção aparentemente tão extravagante? Suas famílias sabem dessa atividade? Como a sociedade a que pertencem encara esse segmento pujante e em expansão da economia? E ainda...quais os laços disso com a prostituição tradicional?

Tenho pensado muito nisso desde que li McMáfia: Crime sem Fronteiras, de Misha Lenny, mencionado em um post anterior. Um dos capítulos do livro é dedicado ao tráfico de mulheres dos países da antiga União Soviética para o resto do globo, sobretudo Oriente Médio (Israel incluso) e Ásia. Seguindo o padrão das reportagens sobre o assunto, Lenny começava com uma história individual e a partir daí traçava um panorama do tema. Lendo-o, não pude deixar de pensar no quanto pode ser tênue a linha que separa as ninfas de beleza estonteante que ilustram tantos ensaios e vídeos e o destino melancólico das prostitutas comuns. Hoje, em particular, pesquisando sobre o assunto, deparei-me com isto

Nowhere is this trafficking worse than it is in Moldova, Olga’s home, where experts estimate that since the fall of the Soviet Union between 200,000 and 400,000 women have been sold into prostitution — perhaps up to 10 percent of the female population.

Isso é aterrador. A explicação bate com o que eu já imaginava desde os tempos em que me permiti sonhar por uns minutos com uma noiva russa:

The numbers are staggering, but for Liuba Revenko of the International Organization for Migration in Moldova the bondage of the country’s young women has become routine. “Moldovans are a hybrid population of Russians, Romanians, Jews, Ukrainians and Bulgarians,” Revenko said. “That creates a special race of women that are beautiful and in demand. They have no future. They are a good target for the traffickers.”

Como acontece com outras atividades criminosas, a paralisia e a corrupção dos ex-Estados socialistas permite ao tráfico e à escravização de mulheres seguir seu curso sem grandes obstáculos policiais. Na Macedônia, por exemplo, a reportagem da MSNBC informa que o próprio ministro do Interior, um "linha-dura", admitia que os policiais sob seu comando estavam na folha de pagamento dos cafetões e traficantes. Nada muito diferente, afinal, do que acontece também em nossas plagas.

Achei as reportagens em dois minutos de pesquisa, e agora me volto para a moça da foto acima. Seria ridículo pressupor que o mercado virtual de sexo sobrevive apenas às custas de escravas, ou fazer da existência desse tipo de monstruosidade um pretexto moralista contra a indústria pornográfica. Enquanto houver desejos e fantasias insatisfeitos, ela continuará existindo; enquanto existir, continuará responsável por muito dinheiro; finalmente, enquanto houver esse fluxo de recursos, não faltarão jovens atraentes dos dois sexos dispostos a fazer uso de seu corpo para ter direito a uma parcela do lucro. Não obstante, olhando para "Anna", e pensando nas legiões como ela -- muitas delas com carreiras muito menos sedutoras em sites muito mais sórdidos --, ocorre-me que, para o observador/consumidor distante, é quase impossível dizer a diferença. Não sei de onde ela vem, ou para onde foi depois que se vestiu e deixou o set de fotografia. E percebo, para meu espanto e alguma tristeza, o quão fácil pode ser esquecer o assunto e parar apenas no deleite que é olhar para sua imagem. 

Mas hoje não.

segunda-feira, março 16, 2009

O princípio do prazer: um retiro misto dedicado à sexualidade feminina

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2009/03/16/ult574u9230.jhtm

The New York Times
Por Patricia Leigh Brown e Carol Pogash
San Francisco - Até mesmo numa cultura em que os brinquedos sexuais são um negócio próspero e Oprah Winfrey discute como ter uma vida melhor no quarto, uma comunidade mista dedicada ao orgasmo feminino paira nos extremos.

A fundadora do One Taste Urban Retreat Center, Nicole Daedone, vê a si mesma como a líder de um "lento movimento sexual" que enfatiza exclusivamente o prazer feminino - no qual o amor, o romance a até o flerte não são necessários.

"Na nossa cultura, admitir as questões do corpo é quase como admitir um erro", diz Daedone, 41, que pode citar a poeta Mary Oliver e falar ironicamente sobre as complexidades da anatomia feminina com a mesma autoconfiança. "Não acho que as mulheres serão verdadeiramente livres antes de conquistar sua sexualidade".

Um grupo de 38 homens e mulheres - com média de idade beirando os 30 - vivem em tempo integral no centro de retiros, um prédio simples e elegante no distrito de South of Market. Eles cozinham juntos, praticam ioga e meditação e lideram workshops sobre comunicação para grupos de fora de até 60 pessoas.

Mas o coração das atividades do grupo, chamado misteriosamente no calendário do site de "prática matinal", é fechado para todos exceto os moradores.

Às 7 da manhã, todos os dias, enquanto o resto dos EUA está comendo cereal ou tentando enfrentar um engarrafamento sem hiperventilar, cerca de uma dúzia de mulheres, nuas da cintura para baixo, deitam-se com os olhos fechados numa sala de cortinas de veludo, enquanto os homens, vestidos, se aconchegam a elas, acariciando-as num ritual conhecido como meditação orgástica - "OMing", para os íntimos. Os casais, que podem ou não estarem envolvidos romanticamente, chamam uns aos outros de "parceiros de pesquisa".

Uma comunidade dedicada a que homens e mulheres criem em público "o orgasmo que existe entre eles", nas palavras de uma moradora, isso pode soar como a sátira mais recente da Califórnia. Mas a baía tem uma história vivaz e notável de buscadores construindo vidas em torno da aventura sexual.

San Francisco tem orgulho de sua herança libertine, como Sean Penn demonstrou recentemente em "Milk". A busca pela transformação pessoal, inclusive através do sexo, levou para o litoral as banheiras quentes do Esalen Institute em Big Sur, berço do movimento do potencial humano, e nos anos 60, as comunidades floresceram na cidade, muitas abraçando o amor livre.

A One Taste é apenas a última parada desse metrô sexual, costurando uma liberdade individual radical, a espiritualidade ocidental e o feminismo.

"A ideia de uma comunidade sexual em San Francisco voltada para o orgasmo feminino faz parte da longa e rica história de mulheres que assumiram sua sexualidade e a tornaram pública", diz Elizabeth A.
Armstrong, professora de sociologia na Universidade Indiana, que estudou as subculturas sexuais de San Francisco.

Assim como em muitas comunidades anteriores, a líder da One Taste, Daedone, é uma personalidade polarizadora, cujos admiradores veneram como uma diva sexual, apesar de alguns membros antigos dizerem que ela exerce um poder de culto sobre seus seguidores. Segundo eles, ela costumava sugerir fortemente quais os casais que deveriam se envolver romanticamente.

"Sempre existiu uma pressão em relação aos limites das pessoas", diz Judy Silver, que morou na One Taste por três anos e meio e saiu no outono passado. "Todos sabíamos que era um lugar extremo, e viemos para jogar duro".

O grupo não atraiu muita atenção durante seus quatro anos e meio de existência - talvez que esse tipo de comunidade não seja novidade para os moradores de San Francisco - apesar de ter causado alguma sensação quando o The San Francisco Chronicle escreveu sobre as aulas de ioga sem roupa do grupo (sem fins sexuais). Muitos voyeurs apareceram por lá depois disso. Agora as aulas são com os alunos vestidos.

As pessoas que chegam à One Taste são um grupo eclético. Algumas estão em períodos de transição, entre elas um engenheiro de 50 anos do Vale do Silício, com cara de jovem, divorciado recentemente, que disse que a prática de fixar sua atenção em um ponto minúsculo do corpo da mulher melhora sua concentração no trabalho.

A maioria dos moradores é de jovens buscadores, que procuram preencher um vazio interno e se fortalecer com a mistura de sexualidade e espiritualidade centrada na mulher pregadas por Daedone. Uma delas, Beth Crittenden, 33, cresceu entre as plantações de tabaco da conservadora Virgínia, um lugar onde, segundo ela, a anatomia feminina nunca era discutida e a masturbação era algo que não podia ser mencionado. "Eu nunca tinha feito nada, mesmo no cair da noite", diz ela.

Ela acabou caindo no prédio do centro na rua Fulton, com seus sofás aconchegantes, e matriculou-se num curso de prazer da mulher porque seus relacionamentos com os homens "acabavam sempre batendo num muro de cimento", diz.

Ela resistiu às ofertas de fazer novos cursos (por uma taxa), deletando as incessantes mensagens de e-mail do centro. Mas às vésperas de seu 29º aniversário, ela voltou, hesitante. "Eu estava com medo de abrir tanto minha vida, mas estava com mais medo de não fazê-lo", diz.

Agora que é uma instrutora, Crittenden fala sobre "a velocidade lenta do meu desejo e minha hesitação em ceder a ele".

Outra integrante, Racheli Cherwitz, 28, passou anos lutando com a anorexia e o alcoolismo, disse. Na busca de sua identidade, ela mudou-se para Israel e se tornou uma judia ortodoxa.

Descobrir a One Taste, diz ela, melhorou sua autoimagem e deu a ela um "profundo acesso físico à mulher que sou e à mulher que quero ser".

Cherwitz viaja para Nova York e oferece treinamento particular sobre sensualidade numa filial da One Taste na Grand Street. Muitos de seus clientes, diz ela, são casais de judeus ortodoxos do Brooklyn.

No mundo da One Taste, homens e mulheres fazem um estranho pacto impessoal. Não há contato visual durante a meditação orgástica. A ideia, similar ao sexo do budismo tântrico, é prolongar o clímax sensorial - e compartilhá-lo publicamente - antes da "aceitação", que é como os moradores, que tendem a usar o jargão do grupo, chamam o orgasmo.

Apesar de os homens não serem tocados pelas mulheres e não chegarem ao orgasmo, eles dizem vivenciar uma sensação de energia e saciedade.
Tanto os acariciadores quanto as acariciadas insistem que o propósito verdadeiro do OMing é uma "hidratação" do ser, da conexão humana, e não o sexo.

Reese Jones, empresário-geek-capitalista-e-namorado de Daedone, compara a meditação orgástica a uma massagem.

"É um procedimento para nutrir o sistema límbico, como ioga ou pilates, sem nada além disso", diz. "Quando você vai a uma massoterapeuta", diz ele, "você não leva a massagista para jantar depois".

O inspirador e mentor de Daedone para se tornar uma guru sexual foi Ray Vetterlein, que ficou famoso nos círculos sexuais alegando prolongar os orgasmos de uma mulher comum para 20 minutos.

Vetterlein, que tem quase 80 anos, inspirou-se em Lafayette Morehouse, uma comunidade controversa de 40 anos de existência localizada no subúrbio de Lafayette, Califórnia, que promove demonstrações públicas de uma mulher atingindo o orgasmo desde 1976.

O fundador da Morehouse, Victor Baranco, era um vendedor de ferramentas que chamava sua filosofia de "hedonismo responsável".
Segundo alguns depoimentos, Baranco, que morreu em 2002, usava técnicas coercitivas de controle mental.

"Era uma gigantesca máquina de destruir o ego, assim como é toda tradição monástica válida", diz um homem que viveu na Morehouse por 20 anos e não quis ser identificado.

O início da carreira de Daedone não foi nem um pouco alternativo: ela estudou semântica na Universidade do Estado de San Francisco e depois doou suas pérolas para fundar uma galeria de arte. Mas aos 27 anos, seu mundo começou a ruir quando ela ficou sabendo que o pai, do qual ela estava afastada há tempos, estava morrendo de câncer na prisão, depois de ser condenado por molestar duas meninas.

"Tudo na minha realidade entrou em colapso", disse ela. "Meu corpo virou pedra e se estilhaçou".

Seu pai não havia se comportado inapropriadamente com ela, diz Daedone; pelo contrário, ele era uma figura distante.

"De certa forma eu me sentia próxima dele no toque, e de repente ele se fechou", diz ela. "Mais tarde entendi que ele estava tentando proteger-me dele mesmo, de sua patologia".

Seu caminho de volta para a vida começou no budismo, que ela seguiu com vingança, querendo morar numa comunidade zen. Mas numa festa em 1998, ela conheceu um budista que tinha uma prática que ele chamava de "sexualidade contemplativa".

Ele a convidou para deitar-se nua com ele, colocou um despertador e, enquanto a acariciava, começou a narrar delicadamente em detalhes a beleza que ele via, as cores que ia do coral, ao rosa profundo, ao rosa-choque perolado. "Eu simplesmente me abri, e o sentimento foi puro e limpo", diz Daedone. "De uma forma estranha, acho que naquele momento eu decidi viver".

Desde a abertura da One Taste, ela permitiu que a comunidade passasse por inúmeras mudanças; para seu desgosto, o local atraiu inicialmente desajustados que "gostavam de ficar à toa se bolinando", diz ela.

Ela admite que cometeu erros - entre eles as aulas de ioga sem roupas - mas tem sido astuta em relação a como apresentar seu produto. Ela trocou o termo "orgasmo deliberado", como é chamado pelos outros praticantes, por "meditação orgástica", mais apropriado para o marketing. Grande parte da atmosfera da comunidade gira em torno de Daedone, uma mulher de um charme considerável, apesar de seus detratores a verem como uma mestra em manipulação.

"Nicole lê as pessoas", diz Marci Boyd, 57, moradora mais velha do grupo, emprestando uma frase do livro "Stranger in a Strange Land", de Robert A. Heinlen, que significa entender alguém tão completamente que o observador se torna uno com o observado.

Elana Auerbach, uma das primeiras moradoras, que deixou o grupo com Bill Press, que hoje é seu marido, disse que a consequência da capacidade de Nicole de se tornar exatamente a pessoa mais desejada por um indivíduo é que "eles se apaixonam por Nicole, exalam Nicole". "Você deixa de confiar em si mesmo e começa a confiar em Nicole", diz ela.

Até pouco tempo, os moradores viviam num lugar apertado, sacrificando a privacidade pelo grupo, duas pessoas em cada cama, 12 camas em cada quarto, separadas por cortinas. Agora eles têm quartos particulares num prédio adjacente ao centro de meditação (ambos estão localizados providencialmente em Folsom Street, lugar que abriga a maior feira anual de couro, "bondage" e fetiche).

Auerbach diz que ela e Press acabaram decidindo que queriam uma vida "focada no coração e não nos genitais". Agora que têm um filho, veem sua experiência como uma lição.

"Nicole divulga uma mensagem e todo mundo repete aquilo", diz Press. Daedone insiste que ela não incentiva nem gosta da imagem de toda-poderosa. "Há um grande potencial para isso ser um culto", diz ela.

Ela deixou recentemente sua moradia na comunidade, em parte para evitar essa tendência. "Sempre que eu estava lá, todo mundo me tratava como uma guru", diz. "Eu acordava e as pessoas vinham sentar na minha cama".

Agora ela mora com Jones, seu namorado, que vendeu uma companhia de software que ele fundou, a Netopia, para a Motorola por US$ 208 milhões, e fornece recursos financeiros para a One Taste, ajudando inclusive a comprar uma sede de retiros em Stinson Beach, Califórnia.

Daedone quer que a One Taste seja conhecida, e para isso o centro oferece ensinamentos de rabinos e monges tibetanos, junto com aulas públicas e cursos sobre "sexualidade consciente".

Mas é difícil imaginar uma academia One Taste. Num curso de fim de semana realizado recentemente no centro, com uma platéia grande de homens e mulheres interessados em aprender a meditação orgástica, Daedone resumiu sua filosofia.

"Na nossa cultura", disse, beatificamente sentada sobre uma almofada, "as mulheres têm sido condicionadas a terem uma sexualidade fechada e uma abertura de sentimentos, e os homens têm uma sexualidade aberta e os sentimentos fechados. Há uma região enorme de resistência e vergonha".

Em breve os aspirantes a praticantes, incluindo um casal de Marin County que esperava reacender seu casamento, reuniram-se no chão em volta de uma cama de massagem. Justine Dawson, uma bela moradora da comunidade, de 34 anos, tirou seu robe e subiu na maca. Outro morador, Andy Roy, 28, começou sua tarefa, com uma concentração tão intensa que começou a suar.

Os presentes foram instruídos a falar sobre seus sentimentos, e muitos o fizeram, descrevendo a excitação que eles, também, estavam sentindo.

Quando terminou, Dawson emanava uma radiância digna de um Caravaggio, uma inocência juvenil. Em outro contexto, poderia ter sido um momento profundo e romântico entre dois amantes. Em vez disso, uma imagem diferente veio à mente: a entrevista pós-coito de Howard Cosell, segurando um microfone, no filme "Bananas", de Woody Allen.

Tradução: Eloise De Vylder

segunda-feira, março 02, 2009

Amor voraz

A criatividade das pessoas não tem mais fim...

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