domingo, abril 30, 2017

Ainda estamos no mesmo barco...

A política é um campo de combate. E a política ideológica que hoje se advoga, alimentada por grandes princípios solenes como "Liberdade" e "Igualdade", é fundamentalmente moralista: é sempre feita contra alguém. Pode ser o privilegiado, o revolucionário, o estrangeiro, o pervertido, sempre alguém que encarna o pecado, a injustiça, o erro. Tão habituados estamos a essa linguagem de antagonista que podemos acabar esquecendo do óbvio: que estamos todos no mesmo barco, e que ainda existe uma coisa chamada condição humana, comum ao milionário e ao pobre, ao conservador e ao radical, ao cristão e ao muçulmano, ao dito "normal" e ao dito "desviante". Há também dor na "felicidade" que atribuímos a outros, como há alegrias e dignidade nos que julgamos sofredores. É algo que as simplificações ideológicas -- esses arremedos seculares da religião -- ignoram ou negam, o que as torna tão inferiores às visões mais espirituais.

 Esta mensagem de Neio Lúcio/Chico Xavier, do livro Jesus no Lar, nos relembra da humanidade comum de todos nós. Ela me deu muito o que pensar e por isso a reproduzo aqui.

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O apelo divino


 
Reunidos os componentes habituais do grupo doméstico, o Senhor, de olhos melancólicos e lúcidos, surpreendendo, talvez, alguma nota de oculta revolta no coração dos ouvintes, falou, sublime:
 
— Amados, quem procura o Sol do Reino Divino há de armar-se de amor para vencer na grande batalha da luz contra as trevas. E para armazenar o amor no coração é indispensável ampliar as fontes da piedade.
 
Compadeçamo-nos dos príncipes; quem se eleva muito alto, sem apoio seguro, pode experimentar a queda em desfiladeiros tenebrosos.
 
Ajudemos aos escravos; quem se encontra nos espinheiros do vale pode perder-se na inconformação, antes de subir a montanha redentora.
 
Auxiliemos a criança; a erva tenra pode ser crestada, antes do sol do meio-dia.
 
Amparemos o velhinho; nem sempre a noite aparece abençoada de estrelas.
 
Estendamos mãos fraternas ao criminoso da estrada; o remorso é um vulcão devastador.
 
Ajudemos aquele que nos parece irrepreensível; há uma justiça infalível, acima dos círculos humanos, e nem sempre quem morre santificado aos olhos das criaturas surge santificado no Céu.
 
Amparemos quem ensina; os mestres são torturados pelas próprias lições que transmitem aos outros.
 
Socorramos aquele que aprende; o discípulo que estuda sem proveito, adquire pesada responsabilidade diante do Eterno.
 
Fortaleçamos quem é bom; na Terra, a ameaça do desânimo paira sobre todos.
 
Ajudemos o mau; o espírito endurecido pode fazer-se perverso.
 
Lembremo-nos dos aflitos, abraçando-os, fraternalmente; a dor, quando incompreendida, transforma-se em fogueira de angústia.
 
Auxiliemos as pessoas felizes; a tempestade costuma surpreender com a morte os viajores desavisados.
 
A saúde reclama cooperação para não arruinar-se.
 
A enfermidade precisa remédio para extinguir-se.
 
A administração pede socorro para não desmandar-se.
 
A obediência exige concurso amigo para subtrair-se ao desespero.
 
Enquanto o Reino do Senhor não brilhar no coração e na consciência das criaturas, a Terra será uma escola para os bons, um purgatório para os maus e um hospital doloroso para os doentes de toda sorte.
 
Sem a lâmpada acesa da compaixão fraternal, é impossível atender à Vontade Divina.
 
O primeiro passo da perfeição é o entendimento com o auxílio justo...
 
Interrompeu-se o Mestre, ante os companheiros emudecidos.
 
E porque os ouvintes se conservassem calados, de olhos marejados de pranto, Ele voltou à palavra, em prece, e suplicou ao Pai luz e socorro, paz e esclarecimento para ricos e pobres, senhores e escravos, sábios e ignorantes, bons e maus, grandes e pequenos...
 
Quando terminou a rogativa, as brisas do lago se agitaram, harmoniosas e brandas, como se a Natureza as colocasse em movimento na direção do Céu para conduzirem a súplica de Jesus ao Trono do Pai, além das estrelas...