terça-feira, maio 31, 2011

A infância realmente perdida


Folha de S. Paulo, 31/5/2011.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

PASSADO EM BRANCO

Pode apostar: quem diz se lembrar de fatos ocorridos antes de seus quatro anos de vida está confundindo histórias ouvidas com memória própria; pesquisa mostra que esquecemos da nossa infância ainda crianças

Alexandre Rezende/Folhapress
Rafael Agulha de Freitas

JULIANA VINES
DE SÃO PAULO

A história começa com um tombo, uma viagem em família, uma briga na escola por volta dos quatro, cinco anos. Antes disso, nada.
"Desconhecemos e esquecemos muitos aspectos da nossa vida. É muito provável que você saiba pouco sobre si mesmo", diz Fani Hisgail, psicanalista.
E é justo a infância, tão saudosa e cantada pelos poetas, a época mais esquecida.
Ironia biológica? Os especialistas chamam de amnésia infantil, e não tem nada a ver com lapsos de memória, mas com os quatro primeiros anos de vida que parecem ter sido apagados com borracha.
"Sim, pode-se dizer que perdemos parte da nossa infância", afirma à Folha Carole Peterson, pesquisadora da Memorial University of Newfoundland, no Canadá.
Peterson coordenou uma pesquisa, publicada no começo do mês na revista "Child Development", sobre memórias de infância.
No estudo, 140 crianças entre quatro e 13 anos foram convidadas a contar suas primeiras memórias (fizemos o mesmo com quatro pessoas, leia depoimentos nesta e nas páginas seguintes).
Dois anos depois, as crianças da pesquisa tiveram que contar novamente as lembranças mais antigas e estimar quantos anos tinham quando tudo aconteceu.
As mais novas trocaram as memórias velhas por mais recentes. As maiores mantiveram as mesmas lembranças. Moral da história: esquecemos a infância enquanto ainda somos crianças.
Não há dúvida que crianças conseguem armazenar informações, segundo Martín Cammarota, pesquisador em neurofisiologia da PUC-RS.
"Elas sabem o que aconteceu ontem ou anteontem, mas são lembranças de curta duração."
A neurociência não tem certeza de por que isso acontece. Uma das hipóteses é que o cérebro ainda não estaria pronto para gravar memórias à tinta, de acordo com Rodrigo Neves Pereira, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
"É como se as crianças escrevessem a lápis no disco rígido da memória."
Estruturas cerebrais responsáveis por processar e arquivar informações não estão totalmente desenvolvidas aos dois anos ou três anos.
Na mesma direção, o neurocientista Ivan Izquierdo argumenta que, nessa idade, não dominamos totalmente a linguagem.
"As memórias de antes dos três anos são gravadas em códigos não linguísticos, que não fazem sentido depois que somos adultos."
Não por acaso, lembranças mais claras coincidem com o início da alfabetização. Algumas pessoas, porém, desenvolvem essa capacidade mais cedo. Mistérios.

SELEÇÃO INCONSCIENTE
"Amnésia infantil não tem relação com o amadurecimento do cérebro", diz logo de cara Renata Petri, psicanalista professora da Unifesp.
Para a psicanálise, parte da infância é esquecida porque as lembranças são conflitantes, dolorosas. "Aquilo que traz conflito elimina-se da consciência e vai constituir o inconsciente."
Nessa visão, o ser humano sofre os efeitos dessas memórias encobertas pelo resto da vida, mesmo sem conseguir lembrá-las. Daí viriam alguns medos e traumas.
"É comum estabelecermos a relação entre acontecimentos de infância e traumas futuros, mas não se pode reduzir a ideia de trauma a isso", afirma Fani Hisgail.
A neurologia até concorda que memórias esquecidas podem, sim, interferir na formação de novas lembranças, mas tem uma visão diferente do que é o inconsciente.
"São memórias que não estão ativas o suficiente para serem lembradas, mas que, mesmo assim, influenciam outros circuitos", comenta Gilberto Xavier, pesquisador em neurofisiologia da USP.
A influência do passado sobre o futuro esbarra em outro ponto: a competição entre acontecimentos. Não há como prever quais fatos serão lembrados a longo prazo. Depende do quanto prestamos atenção a eles, do excesso de informações e de fatores afetivos.
"Aspectos emocionais moldam a aquisição de memórias, influenciam a razão. É o que chamamos de erro de Descartes", diz Pereira.
Tombos, cortes e acidentes físicos são mais marcantes por motivos biológicos, de acordo com Xavier. "Você se lembra de um acidente para ter condições de evitá-lo. Biologicamente, esse é o sentido da memória." Parece simples. Mas, cada vez que um fato é resgatado, acrescenta-se um aspecto, uma ponta no novelo.
Depois de recordar algumas vezes acontecimentos distantes, é quase impossível separar a verdade do mito. "Criamos falsas memórias, e não há nada de patológico nem de malvado nisso", pondera Izquierdo.
É a mentira que não é mentira. Para a psicanálise, não importa. "Tudo é interpretação. Toda memória é uma leitura sem contato direto com a realidade", diz Preti.
Cada nova experiência resignifica a anterior. "De certa forma, o futuro influencia o passado."

sábado, maio 28, 2011

Dez dicas para falar bem em público



Publicada em 16/08/2006 às 10h00m

Globo Online

RIO - O professor de oratória Reinaldo Polito, que dá aulas em São Paulo , lista abaixo os dez principais conselhos para você ter sucesso nas apresentações em público e falar com segurança e desembaraço.

1) Prepare-se para falar. Assim como você não iria para a guerra municiado apenas com balas suficientes para acertar o número exato de inimigos entrincheirados, também para falar não deverá se abastecer com conteúdo que atenda apenas ao tempo determinado para a apresentação. Saiba o máximo que puder sobre a matéria que irá expor. Isto é, se tiver de falar 15 minutos, saiba o suficiente para discorrer pelo menos 30 minutos. Não se contente apenas em se preparar sobre o conteúdo, treine também a forma de exposição. Faça exercícios falando sozinho na frente do espelho, ou, se tiver condições, diante de uma câmera de vídeo. Atenção: embora esse treinamento sugerido dê fluência e ritmo à apresentação, de maneira geral, não dá naturalidade. Para que a fala atinja bom nível de espontaneidade fale com pessoas. Reúna um grupo de amigos, familiares ou colegas de trabalho, ou de classe, e converse bastante sobre o assunto que irá expor.

2) A naturalidade pode ser considerada a melhor regra da boa comunicação. Se você cometer alguns erros técnicos durante uma apresentação em público, mas comportar-se de maneira natural e espontânea, tenha certeza de que os ouvintes ainda poderão acreditar nas suas palavras e aceitar bem a mensagem. Entretanto, se usar técnicas de comunicação, mas apresentar-se de forma artificial, a platéia poderá duvidar das suas intenções. Respeite seu estilo de comunicação. Você vai se sentir seguro e suas apresentações serão mais eficientes.

3) Não confie na memória, leve um roteiro como apoio. Algumas pessoas memorizam suas apresentações palavra por palavra imaginando que assim se sentirão mais confiantes. A experiência demonstra que, de maneira geral, o resultado acaba sendo muito diferente. Se você se esquecer de uma palavra importante na ligação de duas idéias, talvez se sinta desestabilizado e inseguro para continuar. O pior é que ao decorar uma apresentação você poderá não se preparar psicologicamente para falar de improviso e ao não encontrar a informação de que necessita, ficará sem saber como contornar o problema. Use um roteiro com as principais etapas da exposição, e frases que contenham idéias completas. Assim, diante da platéia, leia a frase e a seguir comente a informação, ampliando, criticando, comparando, discutindo, até que essa parte da mensagem se esgote. Se a sua apresentação for mais simples poderá recorrer a um cartão de notas, uma cartolina mais ou menos do tamanho da palma da mão, que deverá conter as palavras-chave, números, datas, cifras, e todas as informações que possam mostrar a seqüência das idéias. Com esse recurso você bate os olhos nas palavras que estão no cartão e vai se certificando que a seqüência planejada está sendo seguida.

4) Use uma linguagem correta. Uma escorregadinha na gramática aqui, outra ali, talvez não chegue a prejudicar sua apresentação. Entretanto, alguns erros grosseiros poderão ser fatais. Os mais graves que costumam ocorrer são: "fazem tantos anos", "menas", "a nível de", "somos em seis", "meia tola", entre outros. Mesmo que você tenha uma boa formação intelectual, sempre valerá a pena fazer uma revisão gramatical, principalmente quanto à conjugação verbal e às concordâncias.

5) Saiba quem são os ouvintes. Cada público possui características e expectativas próprias, e que precisam ser consideradas em uma apresentação. Procure saber qual é o nível intelectual das pessoas, até que ponto conhecem o assunto e a faixa etária predominante dos ouvintes. Assim, poderá se preparar de maneira mais conveniente e com maiores chances de se apresentar bem.

6) Tenha começo meio e fim. Anuncie o que vai falar, fale e conte sobre o que falou. Depois de cumprimentar os ouvintes e conquistá-los com elogios sinceros, ou mostrando os benefícios da mensagem, diga qual tema vai abordar. Assim, a platéia acompanhará seu raciocínio com mais facilidade, porque saberá aonde deseja chegar. Em seguida, transmita a mensagem, sempre facilitando o entendimento dos ouvintes. Se, por exemplo, deseja apresentar a solução para um problema, diga antes qual é o problema. Se pretende falar de uma informação atual, esclareça inicialmente como tudo ocorreu até que a informação nova surgisse.

7) Tenha uma postura correta. Evite apoiar-se apenas sobre uma das pernas e procure não deixá-las muito abertas ou fechadas. É importante que se movimente diante dos ouvintes para que realimentem a atenção, mas esteja certo de que o movimento tem algum objetivo, como por exemplo, destacar uma informação, reconquistar parcela do auditório que está desatenta, etc. Caso contrário é preferível que fique parado. Cuidado com a falta de gestos, mas seja mais cauteloso ainda com o excesso de gesticulação. Procure falar olhando para todas as pessoas da platéia, girando o tronco e a cabeça com calma, ora para a esquerda, ora para a direita, para valorizar e prestigiar a presença dos ouvintes, saber como se comportam diante da exposição e dar maleabilidade ao corpo, proporcionando, assim, uma postura mais natural. O semblante é um dos aspectos mais importantes da expressão corporal, por isso dê atenção especial a ele. Verifique se ele está expressivo e coerente com o sentimento transmitido pelas palavras. Por exemplo, não demonstre tristeza quando falar em alegria. Evite falar com as mãos nos bolsos, com os braços cruzados ou nas costas. Também não é recomendável ficar esfregando as mãos, principalmente no início, para não passar a idéia de que está inseguro ou hesitante.

8) Seja bem-humorado. Nenhum estudo comprovou que o bom humor consegue convencer ou persuadir os ouvintes. Se isso ocorresse os humoristas seriam sempre irresistíveis. Entretanto, é óbvio que um orador bem-humorado consegue manter a atenção dos ouvintes com mais facilidade. Se o assunto permitir e o ambiente for favorável, use sua presença de espírito para tornar a apresentação mais leve, descontraída e interessante. Cuidado, entretanto, para não exagerar, pois o orador que fica o tempo todo fazendo gracinhas pode perder a credibilidade.

9) Use recursos audiovisuais. Esse estudo é impressionante: se apresentar a mensagem apenas verbalmente, depois de três dias os ouvintes vão se lembrar de 10% do que falou. Se, entretanto, expuser o assunto verbalmente, mas com auxílio de um recurso visual, depois do mesmo período, as pessoas se lembrarão de 65% do que foi transmitido. Mais uma vez, tome cuidado com os excessos. Nada de Power Point acompanhado de brecadinhas de carro, barulhinhos de máquina de escrever, e outros ruídos que deixaram de ser novidade há muito tempo e por isso podem vulgarizar a apresentação. Um bom visual deverá atender a três grandes objetivos: destacar as informações importantes, facilitar o acompanhamento do raciocínio e fazer com que os ouvintes se lembrem das informações por tempo mais prolongado. Portanto, não use o visual como "colinha", só porque é bonito, para impressionar, ou porque todo mundo usa. Observe sempre se o seu uso é mesmo necessário. Faça visuais com letras de um tamanho que todos possam ler. Projete apenas a essência da mensagem em poucas palavras. Apresente números em forma de gráficos. Use cores contrastantes, mas sem excesso. Posicione o aparelho de projeção e a tela em local que possibilite a visualização da platéia e facilite sua movimentação. Evite excesso de aparelhos. Quanto mais aparelhos e mais botões maiores as chances de aparecerem problemas.

10) Fale com emoção. Fale sempre com energia, entusiasmo, emoção. Se nós não demonstrarmos interesse e envolvimento pelo assunto que estamos abordando, como é que poderemos pretender que os ouvintes se interessem pela mensagem? A emoção do orador tem influência determinante no processo de conquista dos ouvintes.

Além do bem e do mal

Tendo lido uma parte de um dos livros mencionados (Human Smoke, lançado aqui como Fumaça Humana), devo dizer que fiquei contente de ter encontrado este artigo e, mais ainda, de poder recomendá-lo. É estimulante, e também algo perturbador, descobrir como o mais sangrento conflito da história humana pode ser visto de forma bem diferente da simples luta contra o Mal Absoluto que frequentemente vemos representada.

-------------
May 27, 2011

Is World War II Still ‘the Good War?’

In February, the last surviving American veteran of the First World War died. It is hard to imagine the day when we say goodbye to the last survivor of the Second World War, so large do the “good war” and the “greatest generation” still loom in the national imagination. But the calendar and the census do not lie. Some 16 million Americans served in the military during World War II. On the 60th anniversary of the attack on Pearl Harbor in 2001, about 5.5 million were still living. This year, as we prepare to mark the 70th anniversary, the number is closer to 1.5 million, and it drops by almost a thousand a day.

The passage of time doesn’t just turn life into history; it also changes the contours of history itself. Over the last several years, historians, philosophers and others have begun to think about the Second World War in challenging and sometimes disturbing new ways, reflecting the growing distance between the country that fought the war and the country that remembers it. As always when history is debated, the stakes are not just the past but the present and future as well. Even as the long wars in Iraq and Afghanistan have made Americans less confident about the ways we use our military power, the struggle with the Axis remains the classic example of American might deployed for virtuous ends. President Obama had that history in mind when he explained his decision to intervene in Libya’s civil war: “To brush aside America’s responsibility as a leader and — more profoundly — our responsibilities to our fellow human beings under such circumstances would have been a betrayal of who we are,” Obama said. “Some nations may be able to turn a blind eye to atrocities in other countries. The United States of America is different.” Even today, World War II helps underwrite our claim to that moral difference.

Americans’ favorite World War II stories have always been about the democratic heroism of ordinary soldiers; this kind of popular history has never disappeared, and probably never will. Laura Hillenbrand’s “Unbroken” (2010), which has resided for months near the top of the best-seller list, tells the story of Louis Zamperini, an ex-track star turned airman, who was shot down over the Pacific and survived weeks adrift on a raft and even worse ordeals in a Japanese prison camp. As the title suggests, Zamperini is an untroubling kind of war hero, because his greatness was his refusal to break, not his ability to break others — a part of the soldier’s job that is far less comfortable to read about. Zamperini was a bombardier on a B-24, and at the very time he was being tortured by the Japanese, other bomber crews, made up of men no better or worse than he, carried out “Operation Gomorrah” — the weeklong raid on Hamburg, Germany, that in July 1943 killed some 40,000 civilians and destroyed virtually the entire city. Can we make room for that story, and others like it, in our memory of World War II? And if we do, can we still keep our pride in a “good war”?

Those are the questions being asked by the new wave of World War II histories. These books are not “revisionist,” in the pejorative sense: they don’t suggest a moral equivalence between the Axis and the Allies, or minimize Nazi crimes, or deny the Holocaust. Rather, they are thoughtful works by professional historians, who are less interested in rewriting the facts of the war than in reconsidering their moral implications. Americans who learn about the war in Europe from a book like Stephen Ambrose’s “Band of Brothers” (1992), for instance, could be forgiven for thinking of the defeat of Germany as the work of doughty G.I.’s. Yet in “No Simple Victory: World War II in Europe, 1939-1945” (2007), the British historian Norman Davies begins from the premise that “the war effort of the Western powers” was “something of a sideshow.” America lost 143,000 soldiers in the fight against Germany, Davies points out, while the Soviet Union lost 11 million.

And if the main show was a war between Hitler and Stalin, he wonders, wasn’t World War II a clash of nearly equivalent evils? “Anyone genuinely committed to freedom, justice and democracy is duty-bound to condemn both of the great totalitarian systems without fear or favor,” he concludes. As a historian of Poland, Davies is especially aware of what few Americans remember: that World War II began with a joint Nazi-Soviet invasion of that country. For the first two years of the war, Hitler and Stalin were allies; the fact that they then turned against each other, when Hitler invaded the Soviet Union in June 1941, doesn’t change the moral equation. “If one finds two gangsters fighting each other, it is no valid approach at all to round on one and to lay off the other. The only valid test is whether or not they deserve the label of gangsters.”

Davies’s deliberately provocative book had a mixed reception, in part because of the way his account of the war in Eastern Europe seemed determined to minimize the importance of the Holocaust. No such objection can be made to Timothy Snyder’s morally scrupulous book “Bloodlands: Europe Between Hitler and Stalin” (2010), which also spotlights Eastern Europe — in particular the region comprising the Baltics, Ukraine, Belarus, Western Russia and Poland that Snyder calls “the bloodlands,” because they were the greatest killing field of the Second World War. This was the site of the titanic battles between the Wehrmacht and the Red Army: it was also the scene of 14 million noncombatant deaths between 1933 and 1945. This figure encompasses 10 million civilians and prisoners of war killed by the Nazis — including six million Jews murdered in the Holocaust—and four million civilians and P.O.W.’s killed by the Soviets.

By grouping German and Soviet casualties together, Snyder is making an implicit point. The Soviet Union was America’s ally, Germany our enemy; but both regimes were guilty of killing millions of people for ideological reasons. Weren’t the three million Ukrainians starved by Stalin in 1932-33 deliberate victims of state aggression and ideological terror, no less than the three million Soviet P.O.W.’s starved by Hitler in 1941-42? “Only an unabashed acceptance of the similarities between the Nazi and Soviet systems permits an understanding of their differences,” Snyder maintains.

If Stalin stands in our memory as a tyrant equal to Hitler, Winston Churchill is possibly the foreign statesman most beloved by Americans. For this very reason, however, Churchill has been the subject of some of the most impassioned attempts to revise our understanding of the Second World War. The subtext of this debate, and perhaps the main reason for its vehemence, has to do with the outsize symbolic role Churchill came to play in American foreign-policy debates after Sept. 11. When President Bush alluded to Churchill’s wartime rhetoric in his address to Congress after the attacks, Norman Podhoretz wrote in “World War IV” (2007) that he “unmistakably and unambiguously placed the war against the ‘global terrorist network’ in the direct succession to World War II.” It was widely reported that Bush kept a bust of Churchill in the Oval Office — and that Obama had it removed.

It is not surprising, then, that historians would start to view Churchill, for good or ill, through the prism of current politics. The conservative historian Paul Johnson, to take one example, wrote a short biography, “Churchill” (2009), whose premise is that “of all the towering figures of the 20th century, both good and evil, Winston Churchill was the most valuable to humanity.” At the same time, highly critical accounts of Churchill have proliferated: “Churchill’s Folly: How Winston Churchill Created Modern Iraq”(2004), “Blood, Sweat and Arrogance: And the Myths of Churchill’s War” (2006). Nonhistorians with political agendas also piled on. The novelist Nicholson Baker wrote a revisionist account of World War II, “Human Smoke: The Beginnings of World War II, the End of Civilization” (2008), in which Churchill comes across as rather more responsible for the war than Hitler. Meanwhile, Pat Buchanan wrote “Churchill, Hitler, and ‘The Unnecessary War’: How Britain Lost Its Empire and the West Lost the World” (2008), blaming Churchill for taking Britain to war against Germany in the first place. This isolationist lesson was directed, Buchanan explicitly said, at “the Churchill cult” that convinced Bush, “an untutored president,” that liberating Iraq from Saddam Hussein was akin to liberating Europe from Hitler.

In a period that saw historians like Niall Ferguson recommend the British Empire as a model for the exercise of American power abroad, the connection between Churchill’s imperialism and his racial prejudice became another major problem. It was most thoroughly addressed by Richard Toye in “Churchill’s Empire” (2010), which fair-mindedly explored the reasons Churchill’s “humanitarianism did not imply a belief in racial equality.” Toye often writes admiringly of Churchill, but does not shy away from the ugliness of some of his views — like his confession that “I hate people with slit-eyes and pig-tails,” or his nostalgia for the empire’s “jolly little wars against barbarous peoples.”

More serious than racist remarks is the charge leveled at Churchill in a book by Madhusree Mukerjee, Churchill’s Secret War: The British Empire and the Ravaging of India During World War II (Basic Books, $28.95). Mukerjee lays responsibility for the Bengal famine of 1943, which resulted in the deaths of some three million people, right at Churchill’s doorstep. She sharpens her point by drawing provocative analogies between the English and the Nazis. At the height of the famine, she writes, some relief kitchens in Bengal were offering the dying just 400 calories’ worth of rice a day, “at the low end of the scale on which, at much the same time, inmates at Buchenwald were being fed.”

Critics have challenged Mukerjee’s conclusions about the relative shares of culpability for the famine borne by the British, the threat of Japanese invasion, bad weather in Bengal, and hoarding. But “Churchill’s Secret War” is convincing on one fundamental point. Churchill refused to divert resources from feeding Britain to feeding India because, true to the logic of imperialism, he placed a far higher value on British lives than on Indian ones. The number of Bengalis who died in 1943 rivals the number of Ukrainians who, as Timothy Snyder shows, were deliberately starved by Stalin in 1932-33. Does this mean that a comparable atrocity must be placed against the moral account of Britain and its Allies in World War II?

Or was the Allies’ worst atrocity committed in Europe itself? The horrors of the British and American air raids on German cities have never been a secret; Kurt Vonnegut’s “Slaughterhouse-Five” (1969), with its nightmare evocation of the bombing of Dresden, remains one of the most popular American war novels. But American debates on the morality of bombing have traditionally centered on the atomic bomb, a unique weapon that raises unique questions.

What makes new writing about the bombing of Germany especially significant is that it has been driven by the memories of those on the receiving end. In a landmark essay, “Air War and Literature” (published in English in 2003 as a part of “On the Natural History of Destruction”), the German novelist W. G. Sebald wondered why the Allied bombing — which killed half a million civilians and devastated most German cities — “seems to have left scarcely a trace of pain behind in the collective consciousness.” A few years later, as if in response, the German historian Jörg Friedrich published “The Fire: The Bombing of Germany, 1940-1945” (2006). Friedrich describes the kinds of scenes that took place on German streets in the aftermath of bombing raids: for instance, “a man dragging a sack with five or six bulges in it as if he were carrying heads of cabbage. It was the heads of his family, a whole family, that he had found in the cellar.”

Friedrich was accused, in Germany and abroad, of using language that implicitly equated Allied bombing with Nazi war crimes. But his conclusion about the lesson of the Second World War — “civilians do not show mercy to civilians. . . . Total war consumes the people totally, and their sense of humanity is the first thing to go” — challenges the Anglo-American memory of the war in ways that are impossible to ignore. In “Among the Dead Cities: The History and Moral Legacy of the WWII Bombing of Civilians in Germany and Japan” (2006), the English philosopher A. C. Grayling extends that challenge, asking: “What should we, the descendants of the Allies who won the victory in the Second World War, reply to the moral challenge of the descendants of those whose cities were targeted by Allied bombers?”

Grayling is clear that he, like almost everyone in England and America (and in today’s Germany, too), regards World War II as “a just war against morally criminal enemies.” Still, he concludes that the practice of area bombing — in which the Royal Air Force’s Bomber Command, in particular, indiscriminately bombed urban areas, in the hope of inflicting damage on Germany’s economy and morale — was “a moral crime”: “What is the moral difference between bombing women and children and shooting them with a pistol? . . . The anonymity of the act of killing from 20,000 feet?” In the end, Grayling is carried by the force of his own argument to an outrageous verdict: “There comes to seem very little difference in principle between the R.A.F.’s Operation Gomorrah, or the U.S.A.A.F.’s atom bomb attacks on Hiroshima and Nagasaki, and the destruction of the World Trade Center in New York by terrorists. . . . All these terrorist attacks are atrocities.”

The Allies as Al Qaeda: is this the conclusion to which a re-evaluation of the Second World War must lead us? If so, it’s no wonder that some historians are growing impatient with the whole project. The title of the English historian Michael Burleigh’s Moral Combat: Good and Evil in World War II (Harper/HarperCollins, $29.99), which was published last month, summarizes its response to the doubters: yes, this really was a moral combat. In his introduction, Burleigh is at least willing to grant that there were moral ambiguities involved, even saying that he does not “seek to excuse Allied war crimes.” Yet when he discusses Allied bombing, it is under the chapter heading “The King’s Thunderbolts Are Righteous” — the motto of the R.A.F.’s 44th Bomber Squadron. And while Burleigh acknowledges that Arthur Harris, the head of Bomber Command, was “obsessed with wrecking German cities,” he is far more angered by those who would second-guess Harris after the fact. With an eye on Grayling, perhaps, Burleigh fulminates, “Wars are not conducted according to the desiccated deliberations of a philosophy seminar full of purse-lipped old maids.”

This is crude and bad-tempered, but Burleigh’s defensive impulse is understandable. If we lose our ability to take pride in the victory over Hitler, we will be deprived of one of our surest moral compass points. Yet the patriotism, sacrifice and bravery we read about in a book like “Band of Brothers” cannot be nullified by knowing more about the war in which they flourished. Indeed, the best of the new World War II histories can be seen as attempts to give us, in the year 2011, a more authentic and complete sense of what the war was actually like to those fighting it.

After all, the present is always lived in ambiguity. To those who fought World War II, it was plain enough that Allied bombs were killing huge numbers of German civilians, that Churchill was fighting to preserve imperialism as well as democracy, and that the bulk of the dying in Europe was being done by the Red Army at the service of Stalin. It is only in retrospect that we begin to simplify experience into myth — because we need stories to live by, because we want to honor our ancestors and our country instead of doubting them. In this way, a necessary but terrible war is simplified into a “good war,” and we start to feel shy or guilty at any reminder of the moral compromises and outright betrayals that are inseparable from every combat.

The best history writing reverses this process, restoring complexity to our sense of the past. Indeed, its most important lesson may be that the awareness of ambiguity must not lead to detachment and paralysis — or to pacifism and isolationism, as Nicholson Baker and Pat Buchanan would have it. On the contrary, the more we learn about the history of World War II, the stronger the case becomes that it was the irresolution and military weakness of the democracies that allowed Nazi Germany to provoke a world war, with all the ensuing horrors and moral compromises that these recent books expose. The fact that we can still be instructed by the war, that we are still proud of our forefathers’ virtues and pained by their sufferings and sins, is the best proof that World War II is still living history — just as the Civil War is still alive, long after the last veteran was laid to rest.

Adam Kirsch is a senior editor at The New Republic and a columnist for Tablet magazine. His book “Why Trilling Matters” will be published this fall.


domingo, maio 15, 2011

Alfabeto heroico

Achei curioso...
---------

Super-heróis viram letras de alfabeto criado por designer

O designer gráfico Fabian Gonzalez colocou em sua página do Flickr uma ilustração baseada nos heróis dos quadrinhos da DC Comics e da Marvel Comics. Gonzalez desenhou as letras do alfabeto personalizadas de acordo como nome e a aparência de cada herói. A imagem acima é uma das três ilustraçoes do alfabeto que o artista divulgou. Ele ainda fez um inspirado no desenho Os Simpsons e outro em personagens de vídeo-games. Clique na imagem acima para ampliar e confira o que cada letra significa:

A – Aquaman
B - Batman
C – Cyclops (Ciclope)
D – Daredevil (Demolidor)
E - Elektra
F - Flash
G - Green Lantern (Lanterna Verde)
H - Hulk
I - Iron Man (Homem de Ferro)
J - Justice
K - Kick-Ass
L - Lion-O
M - Mandrake
N - Nightcrawler (Noturno)
O - Orion
P - Punisher (Justiceiro)
Q - Quicksilver (Mercúrio)
R - Rorschach (Watchmen)
S - Superman
T - Thing (Coisa)
U - Ultra Boy
V - Vision (Visão)
X - Xavier
W - Wolverine
Y - Yukk!
Z - Zorro

quarta-feira, maio 11, 2011

Paz e "paz"

É só mais uma notícia entre muitas, mas ilustra bem uma preocupação recente minha. Enquanto houver Estados, ou antes, pessoas achando esse tipo de coisa admissível de ser feita com os outros, nunca teremos uma paz real. Chega a ser ridículo ver tanta falação sobre paz, quando práticas como essa -- e lembro que se deve olhá-las em conjunto com outras -- são implementadas. Da mesma forma como o suicida palestino que se explode numa pizzaria está praticamente implorando para que a opressão e a suspeita sobre o povo que ele acha que representa continue e até aumente, políticas como essa só podem ter o efeito óbvio de intensificar rancores e inseguranças no lado palestino, reforçando o apelo terrorista. Quando é que vamos aprender, afinal, que fogo se apaga com água, e não com gasolina?

------------

11/05/2011 - 10h50

Israel admite ter cassado direito de residência de 140 mil palestinos

GUILA FLINT
DA BBC BRASIL

O governo israelense admitiu ter cassado o direito de residência de 140 mil palestinos da Cisjordânia desde a ocupação do território, em 1967, até 1994.

Israel confirmou dados divulgados nesta quarta-feira pelo jornal "Haaretz" e pela ONG israelense de direitos humanos Centro de Defesa do Indivíduo, que tinha entrado com um processo contra o governo exigindo que a prática da cassação do direito fosse esclarecida.

Adel Hana/Associated Press
Mulheres palestinas seguram bandeiras durante protesto contra fechamento da faixa de Gaza
Palestinas seguram bandeiras durante ato contra fechamento de Gaza; Israel cassou direito de residência de 140 mil

Em um documento enviado aos tribunais, o Ministério da Justiça de Israel confirmou a prática. Em resposta à admissão, o Centro de Defesa do Indivíduo exigiu que o governo israelense restaure os direitos de residência a todos os palestinos prejudicados por essa prática e que permita a retorno deles e de suas famílias à Cisjordânia.

De acordo com a ONG, "a anulação em massa de direitos de residência de dezenas de milhares de habitantes da Cisjordânia os condena a um exílio permanente de sua pátria e constitui uma política demográfica ilegítima e uma grave violação da lei internacional".

O fato de que dezenas de milhares de palestinos da Cisjordânia tiveram seus direitos de residência cassados pelas autoridades israelenses era conhecido, porém não se sabia o número exato das pessoas prejudicadas, nem detalhes sobre como o mecanismo era posto em prática.

TRÊS ANOS

A cassação atingiu principalmente palestinos da Cisjordânia que viajaram para o exterior e se ausentaram da região por mais de três anos.

Residentes da Cisjordânia que não retornavam dentro desse prazo tinham seus nomes automaticamente registrados na categoria de "deixou de ser residente", sem que qualquer aviso sobre o novo status fosse enviado às pessoas afetadas.

Quando tentavam voltar, descobriam que tinham perdido o direito de residência e só podiam entrar no território palestino caso conseguissem um visto de turista outorgado pela autoridades israelenses que controlam as fronteiras da região. Esse visto tinha que ser renovado a cada três meses.

Nessas circunstâncias, muitos palestinos nascidos na Cisjordânia, cujos vistos de turista expiraram, passaram a viver clandestinamente na região, sob risco constante de deportação.

Muitos deles têm medo de sair da região, pois não têm certeza de que poderão voltar. Entre eles se encontram palestinos que são cidadãos brasileiros.

Segundo o diplomata brasileiro Ricardo José Justosa Leal, ministro-conselheiro do Escritório de Representação do Brasil junto à Autoridade Palestina, "o Escritório tem notícia informal de casos de brasileiros palestinos que receiam se ausentar da Cisjordânia".

"O receio decorre da possibilidade de lhes ser negada a reentrada, depois de tomar conhecimento de casos semelhantes", disse o diplomata à BBC Brasil.

Um dos prejudicados pelas práticas das autoridades israelenses é o irmão de Saeb Erekat, principal negociador palestino.

Erekat disse ao jornal "Haaretz" que seu irmão, nascido na cidade de Jericó, na Cisjordânia, teve sua residência cassada pois foi estudar em uma universidade americana e desde então não obteve autorização para voltar.

JERUSALÉM ORIENTAL

Israel implementou esse tipo de procedimento de 1967 até a criação da Autoridade Palestina (AP) em 1994. Ele continua sendo aplicado até hoje a palestinos de Jerusalém Oriental --área que foi anexada por Israel. Palestinos de Jerusalém Oriental perdem seu direito de residência se se ausentarem da cidade por mais de sete anos.

Munther Fahmi, palestino nascido em Jerusalém Oriental, morou 20 anos nos Estados Unidos e teve seu direito de residência anulado pelas autoridades israelenses.

Fahmi, figura conhecida em Israel e nos territórios palestinos por dirigir uma famosa livraria em Jerusalém Oriental, está lutando contra uma ordem de deportação.

Intelectuais israelenses de peso, como os escritores Amos Oz e David Grossman, enviaram mensagens de protesto ao Ministério do Interior, exigindo que anule a deportação.

+ CANAIS

domingo, maio 08, 2011

"Estrela"




Mãezinha Querida,
Enquanto a música festiva celebra a passagem do teu dia na Terra,
venho falar-te a sós.

Sei que te ocultas na humildade, como se não fosses a nossa heroína de cada dia, entretanto, estás escondida entre nós,
qual estrela brilhante na escuridão!...

Ante os poemas de louvor com que te honram a bênção, entro no santuário da memória para lembrar-te. E recolho, na concha da saudade,
as canções com que me guardaste o berço, as palavras de ternura com que me deste apoio aos primeiros passos, o aconchego de teu colo
e o veludo de tuas mãos...

Mas revejo, igualmente, o olhar agoniado com que recebias o golpe de nossos erros e o teu silêncio misturado de lágrimas,
quando nosso gesto impensado te buscava ferir.
Nunca falaste em perdão, porque nunca te detiveste nas nossas faltas, para seres em nossa estrada somente amor.
Sei agora, contudo, quantas cruzes invisíveis de sofrimento
te algemamos no coração...

Os dias passaram, ensinando-me o alfabeto da experiência no livro de tua própria renúncia e eis-me aqui, de alma renovada,
para exaltar-te a glória desconhecida.

Quisera ofertar-te os mais belos tesouros do mundo, no entanto, Mãezinha, o ouro da terra é simples metal duro e frio, quando se trata de brindar uma estrela... Trago-te, assim, as flores do meu afeto,
para que o perfume da minha oração de enternecimento e alegria desfaleça de amor aos teus pés, no trono de sacrifício em que
Deus te coloca. E estendendo os meus braços,
sequiosos de teu carinho, repito, de novo, em preces
– Estrela divina, envolve-me em tua luz!...

MEIMEI
(Do livro "Os Dois Maiores Amores", de Chico Xavier)

segunda-feira, maio 02, 2011

Game Over?


Obama anunciou que Osama bin Laden, o legendário terrorista que arquitetou o 11 de Setembro, foi morto no Paquistão. "Justice has been done", disse ele, e várias outras pessoas têm concordado. O próprio Andrew Sullivan, blogueiro católico mezzo conservador e mezzo liberal, comemorou a morte de Osama. Eu, no entanto, não comemoro; acho mesmo incômoda tanta alegria pela morte de uma pessoa -- uma morte que, sabidamente, não resolve o problema do terror ou das muitas mazelas que a luta contra ele causou à própria alma dos Estados Unidos. Entendo Obama, é um político em um mundo que ainda vê com naturalidade a pena de morte ou assassinatos seletivos. Entendo os americanos, feridos por um atentado horrível que marcou época. Entendo todos os que pensaram "Bem feito!" ao saber da notícia. Entender, entendo. Mas acho que podemos ir além, podemos fazer mais. Preferiria ver bin Laden julgado, contestado em público, em toda a crueza de sua visão primitiva do mundo. Mas não foi o que houve; o que se deu foi uma celebração da vingança. Não houve julgamento, não houve processo legal. Do opnto de vista utiliátio, uma morte assim o faz mártir dos que o seguem, e dá uma ilusão de solução para os que o combatem. Ainda é uma forma de culto da morte, e isso me incomoda. Num país que se gaba da fé nas leis e instituições, bem como nos direitos individuais, essa exceção em nome da vingançaa coletiva realmente me incomoda. Até Eichmann foi julgado (justo ou não, confesso não saber), e Göering e outros altos nazistas. Seria verdadeiramente um triunfo se bin Laden tivesse o mesmo destino.

Parece que a morte foi num tiroteio, e pode bem ser que não tenha mesmo sido possível capturá-lo com vida. Não entro nesse mérito. Mas ainda assim, deixo aqui um registro de dissidência. Enquanto acharmos que matar pessoas elimina problemas amplos como fanatismo religioso ou ódios coletivos, estaremos longe da verdadeira solução. E embora eu entenda que um chefe de Estado como Obama diga o contrário, ainda estou por ver uma postura que vá além disso, que consiga conciliar minimamente as responsabilidades de um líder com uma ética mais elevada que o toma-lá-dá-cá da guerra.

Mas, enfim, Estados lutam por poder, e refletem o estado moral de seu povo. Ainda estamos longe de uma cultura de não-violência, de maior reverência pela vida, de busca de alternativas. Um líder desse gênero provavelmente estaria se suicidando politicamente. Ou será que não? é possível um novo Gandhi, alguém que atue na política mas sabendo manipular outras referências de conduta, outros princípios? Não sei, não tenho mais que perguntas na cabeça. É, porém, algo que importa considerar, pois o status quo moral de nosso tempo é péssimo. Algo deve ser feito, e comemorar mortes não é parte disso.
-------
P.S.: Um comentário de Lawrence Wright sobre o caso, na The New Yorker: http://www.newyorker.com/online/blogs/newsdesk/2011/05/bin-laden-hey-hey-goodbye.html. E mais um, que reconhece os problemas morais do caso (embora não exatamente como eu): http://www.frontporchrepublic.com/2011/05/he-deserved-it/. Outro, de um autor que sugetivamente assina "Thoreau", aqui: http://highclearing.com/index.php/archives/2011/05/01/12861.

P.P.S.: Uma reflexão católica, que pega bem o aspecto moral do evento: http://catholicmoraltheology.com/justice-mercy-and-solidarity/.