quinta-feira, setembro 29, 2005

Um mito que cai...ou melhor, afunda

Definitivamente, Hollywood não é uma boa fonte de informações científicas.

Para quem quiser saber mais sobre o que fazer quando Murphy tripudia de você em termos dignos de um filme -- mas, claro, não há ninguém por perto para filmar e sobretudo prestar socorro, uma boa dica é este livro.
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28/09/2005 20:48:49

Cientistas ensinam como sair de areia movediça

LONDRES (Reuters), 28 de setembro - A areia movediça não é bem como mostram os filmes de Hollywood, um poço sem fundo que engole vítimas desavisadas. É verdade que, quanto mais as pessoas tentam sair, mais elas afundam, mas é impossível que elas afundem completamente, disseram cientistas nesta quarta-feira.

"Graças ao cinema, todo mundo acha que é possível morrer afogado na areia movediça. Se se fizer um cálculo simples de flutuação, a força de Arquimedes, fica evidente que não dá para afundar completamente", disse Daniel Bonn, do Instituto Van der Waals-Zeeman, da Universidade de Amsterdã.

A areia movediça é feita de sal, água, areia e argila, e aparece perto de estuários, praias e rios. É a presença da água que a torna tão perigosa.

"Quando se pisa na areia movediça, ou se mexe dentro dela, ela passa de algo quase totalmente sólido para algo quase totalmente líquido", disse Bonn à Reuters.

Ele e sua equipe mediram a viscosidade, a resistência e a capacidade de afundamento da areia movediça e comprovaram que Hollywood está errada.

Eles também calcularam que a força necessária para retirar um pé preso na areia movediça é equivalente à necessária para levantar um carro médio. As conclusões estão descritas na revista científica Nature.

Quando alguém cai na areia movediça, começa a afundar, e a areia envolve firmemente o pé, formando uma espécie de armadilha. Nos filmes, as pessoas que afundam na areia movediça normalmente se agarram a um galho de árvore ou são puxadas quando já estão quase desaparecendo sob a lama.

Mas Bonn e a equipe disseram que, na vida real, a vítima teria metade do corpo afundado na areia movediça, mas não desapareceria.

Os cientistas aconselham as pessoas que ficarem presas na areia movediça a não entrar em pânico e a balançar o pé, para permitir a entrada de água em torno dele.

Por Patricia Reaney

domingo, setembro 25, 2005

A volúpia das imagens


A posse de uma câmara fotográfica pode inspirar algo semelhante ao desejo. E, como todas as formas de desejo, não se consegue satisfazê-lo.

Susan Sontag

quarta-feira, setembro 21, 2005

A morte de um justiceiro

20/09/2005 - 08h38m
Morre o caçador de nazistas Simon Wiesenthal

Agências Internacionais

VIENA - Simon Wiesenthal, o veterano caçador de nazistas que procurou criminosos de guerra incansavelmente por mais de seis décadas, morreu em Viena, na madrugada desta terça-feira, aos 96 anos. Sua campanha pessoal para impedir o mundo de esquecer os horrores do Terceiro Reich resultou no julgamento de 1.100 fugitivos nazistas. Entre eles, estava Adolf Eichmann, o homem a quem Adolf Hitler confiou a execução do programa de genocídio dos judeus. Sua história e empenho renderam a Wiesenthal a alcunha de "a consciência do Holocausto".

Judeu sobrevivente de campos de concentração, Wiesenthal fundou o Centro de Documentação Judaica na Áustria pós-guerra, em 1947. Ali, construiu uma rede de informações usada para descobrir e localizar indícios dos responsáveis pelas atrocidades da Segunda Guerra Mundial. Nas décadas que se seguiram, ele sempre sustentou que não era motivado por ressentimento.

- Eu busco justiça. Não vingança - dizia o Wiesenthal, que nascera na Ucrânia, em 1908.

Em suas memórias, publicadas em 1988, sob o título "Justiça e não vingança", deu uma idéia de como esperava que seu trabalho fosse lembrado: "Quando olharem para trás na História, quero que as pessoas saibam que os nazistas não puderam escapar sem castigo pelo assassinato de milhões de seres humanos".

Estima-se que os nazistas tenham massacrado 11 milhões de civis - entre eles, 6 milhões de judeus.

- Simon Wiesenthal agiu trazendo justiça aos que escaparam da justiça. Fazendo isso, ele foi a voz de 6 milhões - disse o porta-voz do ministério de Relações Exteriores de Israel, Mark Regev.

Na nota em que anunciou o falecimento, o Centro de Documentação Judaica disse que seu fundador assumiu uma tarefa indesejada e preterida na época por outros interesses políticos.

"Sua nomeação não foi anunciada numa entrevista coletiva, nem por algum presidente ou primeiro-ministro. Simplesmente assumiu esse trabalho. Foi um trabalho que ninguém quis. A missão era impressionante. O objetivo tinha poucos amigos. Os aliados já se concentravam na Guerra Fria, os sobreviventes tratavam de recompor suas vidas destroçadas, e Simon Wiesenthal estava sozinho em seu papel como perseguidor e detetive."

Wiesenthal retirou-se há dois anos e meio da vida pública, depois de dar por encerrada sua missão. Ele considerava que, apesar de ainda haver criminosos nazistas foragidos, estes seriam tão idosos que dificilmente poderiam ser levados a um tribunal.

- Os assassinos em massa que persegui, encontrei; e sobrevivi a todos - disse Wiesenthal na ocasião.

Wiesenthal morreu de causas naturais, enquanto dormia, por volta das 4h (23h de segunda-feira em Brasília). Ele será sepultado em Israel, na sexta-feira. Antes, será longamente homenageado na Áustria.

terça-feira, setembro 20, 2005

Cinema, cinema, cinema

Vai começar o Festival do Rio, um maremoto cinematográfico. A chance de ver filmes das mais variadas partes do mundo, conhecer linguagens cinematográficas fora do padrão Made in Hollywood, assistir a clássicos obscuros e documentários raríssimos. É verdade que quase tudo ainda muito concentrado na Zona Sul, com certos horários ingratos para suburbanos sem carro. Mas são ossos do ofício. Há de valer a pena!




sábado, setembro 17, 2005

O porquê de lecionar

“O que eu quero lembrar a vocês é algo que me disseram quando comecei a lecionar em uma universidade. ‘As pessoas em função das quais você está lá’, disse meu próprio professor, ‘não são estudantes brilhantes como você. São estudantes comuns com opiniões maçantes, que obtêm graus medíocres na faixa inferior das nota baixas, e cujas respostas no exames são quase iguais. Os que obtêm as melhores notas cuidarão de si mesmos, ainda que seja para eles que você gostará de lecionar. Os outros são os únicos que precisam de você.’”

Eric Hobsbawm, Sobre História, p. 21.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Pílula filosófica

Já pensou sobre seus pensamentos hoje?


Música para acompanhar: Dança Eslava nº 2, de Dvorak.

quarta-feira, setembro 14, 2005

De novo o Orkut

13/09/2005 - 11h25

Orkut surpreende internautas e pede cadastro no Google

JULIANA CARPANEZ
da Folha Online

Os usuários do Orkut foram surpreendidos nesta semana por uma iniciativa do Google que tem como objetivo relacionar os serviços oferecidos pela empresa. Teoricamente, somente aqueles que tiverem uma conta do Google podem agora acessar o popular site de relacionamentos --alguns membros, no entanto, continuam entrando normalmente.

Esta conta não é a mesma do serviço de e-mail Gmail, ainda restrito a convidados. Ela pode ser aberta por qualquer internauta no site www.google.com/accounts/NewAccount.

Ao criá-la, o internauta ganha acesso a vários serviços do Google. Entre eles estão notícias, lista de compras do Froogle, resultados de pesquisas e buscas personalizadas. O cadastro também dá acesso à ferramenta Google Web APIs, para desenvolvedores de software, e ensina como colaborar voluntariamente para traduzir os serviços do Google.

Para iniciar a conta não é preciso ter um e-mail com a extensão ".gmail.com". Usuários do Hotmail e Yahoo!, entre outros, podem se cadastrar. Aqueles que já usam o Gmail têm a vantagem de não precisarem fazer o cadastro; eles devem apenas clicar no link "associe minha senha do Orkut à minha conta do Google", para acessar o site. Em alguns casos, nem isso é necessário.

A iniciativa surpreendeu os internautas, que não esperavam esse tipo de restrição sem qualquer aviso. Há meses, no entanto, especula-se mudanças no Orkut para reverter sua popularidade em benefícios para o Google. Alguns boatos, espalhados pelos próprios usuários via e-mail, davam conta de que a página passaria a cobrar por seus serviços.

Aqueles que não têm conta no Gmail estão sendo "barrados" sem qualquer explicação --a única diferença apresentada no site é um logotipo do "Google Conta", sem link para este serviço. Já alguns usuários do Gmail tiveram acesso a um texto explicativo. "Todos os usuários do Orkut devem agora utilizar a conta do Google para fazer o login", diz um trecho da mensagem.

A reportagem da Folha Online entrou em contato com o Google, mas ainda não obteve resposta.

terça-feira, setembro 13, 2005

Mudanças no Orkut

O Google parece mesmo disposto a dominar o mundo e desferiu um forte golpe no Hotmail, pertencente à Microsoft. Desde ontem, após uma inédita tela de "O Orkut está em construção", os usuários do mais badalado site de relacionamentos devem se tornar também usuários do Gmail, o correio eletrônico gratuito do Google que oferece muito mais espaço e também, que eu saiba, funciona segundo o sistema de convites. Isso significa que os próximos dias serão de contratempo para os orkutianos sem Gmail, e a Internet será tomada por levas de convites. Afinal, cada usuário com cadastro no Gmail quererá "resgatar" seus contatos que não têm a mesma sorte. Será interessante como esse processo se dará.

De minha parte, já montei uma lista de salvamento. Pena que o máximo permitido de convites é de 50 pessoas... Terei de brincar de Deus e escolher quem vai ou não para o Paraíso. Uma boa hora para enxugar a lista de contatos, quem sabe.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Um bom exemplo

A cartilha da Amarribo

Marcos Sá Corrêa




11.09.2005 | Cansado das mesmas CPIs? Visite a Amarribo É o nome de guerra da Amigos Associados de Ribeirão Bonito. A cidade fica no interior de São Paulo. Tem 11 mil habitantes. A ONG está na internet. Já passaram por sua página mais de 56 mil pessoas. Dá cinco vezes a cidade. Dois anos atrás a Amarribo publicou um livro chamado “O combate à corrupção nas prefeituras do Brasil”. Custa R$ 10 e está em terceira edição. Ou seja, espalhado pelo país, com 120 mil exemplares. Dá quase um Zuenir Ventura.

Ele não poderia ser mais prático e oportuno. Trata-se de uma cartilha que ensina didaticamente a atazanar prefeitos, vereadores e outros próceres municipais flagrados em roubalheira. Baseia-se na experiência própria. A Amarribo patenteou a fórmula três anos atrás, ao botar na cadeia o prefeito de Ribeirão Bonito. Na época era uma ONG com poucos anos de vida. Tinha então, em seu currículo, pouco mais do que a restauração dos jardins no Morro do Bom Jesus.

Havia ali um mirante abandonado. Um comitê de cidadãos restaurou-o. E, depois de devolvê-lo à população, virou ONG, em nome do “crescimento humano” da cidade. Tinha aprendido que não adianta esperar que as coisas caiam do céu e muito menos do poder público. Instituída, passou a dar palpites na administração municipal. O prefeito se esquivou dela e com isso fez mau negócio. A Amarribo, empurrada para a oposição, passou a juntar denúncias contra ele.

Começou pelos sinais notórios de enriquecimento ilícito. “Antes mesmo da posse, prefeito e parentes passaram a circular com carros novos e fazer viagens internacionais”, conta o site da associação. Os carros estavam em “nome do proprietário de uma casa de carnes de São Carlos”, que lesara o comércio local num contrato com a prefeitura, obtido através de fraude na licitação. A concorrência tinha cláusulas feitas sob medida para ele.

Daí ao dossiê foi um pulo. A ONG passou a juntar “notas fiscais de aquisição de combustível de cidades distantes, cujo produto não havia dado entrada na prefeitura municipal, e cópias de notas fiscais de aluguel de roçadeiras, tratores, de cidades distantes, que ninguém na cidade havia visto”. As “empresas de aluguel de máquinas não existiam”. O “combustível não dava entrada na prefeitura”. Os pagamentos “eram depositados na conta de um vereador”. Etc.

Com a Amarribo puxando a opinião pública, a cidade virou. A política, como sempre, veio atrás. O prefeito controlava 11 dos 13 vereadores. Acabou em minoria. A Amarribo pediu à Câmara uma Comissão Especial de Investigação. Ela saiu por unanimidade. Apurados dos fatos, veio o processo de cassação. Outra unanimidade. Também, pudera. No dia da votação, havia 1,2 mil pessoas na porta da Câmara. Era mais ou menos um terço da população total de Ribeirão Bonito.

O prefeito renunciou em abril de 2002. Foi preso em Rondônia quatro meses depois. E a Amarribo nunca mais largou os calcanhares dos administradores, não só em Ribeirão Bonito, como em todos os municípios onde a corrupção é endêmica. Todo mundo sabe que eles são muitos. Mas nem todo mundo sabe o que fazer com isso. Parece simples. Fernanda Verillo, a diretora de Combate à Corrupção da Amarribo, fala dessas coisas como se fosse uma dona de casa ensinando receita de bolo. O manual da ONG ensina a reconhecer notas fiscais frias, farejar o excesso de contas abaixo de R$ 8 mil, valor que dispensa licitação, desconfiar de muitas compras feitas em outras praças e do excesso de festas públicas, que costumam ser produzidas por empresas especializadas antes de mais nada na promoção do superfaturamento.

De repente, a Amarribo parrece estar em toda parte, a serviço de qualquer cidade onde haja qualquer coisa de podre. "Nossos esforços pelo uso correto das verbas públicas não se reduz à nossa cidade. Queremos contribuir para criar um modelo de gestão que impeça desvios de verbas e que possa se tornar referência para outras prefeituras", diz o site. Ela faz campanhas e conferências em outros municípios. Já inspirou mártires. Em Diamantina, semanas atrás, durante um seminário da ONG, um vereador fez discurso, abjurando o nepotismo. Apareceu morto, em circunstâncias mal explicadas, poucos dias depois. Pelo visto, está crescendo no país o número de pessoas que prefere uma Amarribo na mão do que duas CPIs voando.

A Amarribo já tem até hino, que também se pode ouvir pela internet. A letra de Paulo Basque Celestino diz coisas assim: “Amarribo, com você/Eu irei por onde for/E seu nome honrarei/Com orgulho e com amor”. Gosto não se discute. Mas é melhor ouvir um hino desses do que reprise de discursos do presidente Lula.

domingo, setembro 11, 2005

Mais um teste

Mais um teste, desta vez para saber em que tipo de figura estranha me enquadro -- na taxonomia americana, se nerd, dork ou geek. Aliás, o site é http://www.okcupid.com/tests/take, e tem coisas bem engraçadinhas.




Pure Nerd
73 % Nerd, 21% Geek, 30% Dork
For The Record:



A Nerd is someone who is passionate about learning/being smart/academia.

A Geek is someone who is passionate about some particular area or subject, often an obscure or difficult one.

A Dork is someone who has difficulty with common social expectations/interactions.



You scored better than half in Nerd, earning you the title of: Pure Nerd.



The times, they are a-changing. It used to be that being exceptionally
smart led to being unpopular, which would ultimately lead to picking up
all of the traits and tendences associated with the "dork." No-longer.
Being smart isn't as socially crippling as it once was, and even more
so as you get older: eventually being a Pure Nerd will likely be
replaced with the following label: Purely Successful.



Congratulations!





My test tracked 3 variables How you compared to other people your age and gender:
free online datingfree online dating
You scored higher than 82% on nerdiness
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You scored higher than 19% on geekosity
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You scored higher than 50% on dork points
Link: The Nerd? Geek? or Dork? Test written by donathos on Ok Cupid

Um teste para distrair

Nada como bom teste de Internet para descontrair. Acabo de descobrir que seria um ladrão sutil, infelizmente (?) ainda muito individualista para atingir a perfeição. Que pena, como sou perfeccionista, acho que terei de escolher outra carreira no caso de enjoar de História...




Prowler
You scored 91% Subtlety, 5% Leadership, and 70% Forethought!

My personal congrats on choosing the path of subtlety, but you've got a
long way to go. Just because you don't like working with others,
doesn't mean you can make it on your own completely. Trust may be for
the naive, but until you show enough independance, it's what you're
going to have to do. That in mind, don't get too reliant on someone.
The world is a mean and nasty place.



Please rate this well.



My test tracked 3 variables How you compared to other people your age and gender:
free online datingfree online dating
You scored higher than 93% on Subtlety
free online datingfree online dating
You scored higher than 14% on Leadership
free online datingfree online dating
You scored higher than 26% on Forethought
Link: The Thief Type Test written by Ragman on Ok Cupid

quinta-feira, setembro 08, 2005

MBA budista na era da globalização

Já não se fazem mais monges budistas como antigamente. Onde está você, Lobsang Rampa?


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O GLOBO
Rio, 08 de setembro de 2005



Monges aprendem em MBA a divulgar templo

Gilberto Scofield Jr.
Correspondente

PEQUIM. Chang Chun é um monge budista e uma espécie de gerente-geral do Templo do Buda de Jade em Xangai. Além dos mantras que ele estuda todos os dias na sua rotina religiosa, Chang agora está lendo o lendário “A arte da guerra”, de Sun Tzu, um livro de estratégia que virou manual de nove entre dez executivos que querem saber como vencer no competitivo mundo dos negócios. Além disso, prepara com afinco um projeto de marketing que vai ajudar a vender melhor o templo onde trabalha para a multidão de turistas e estrangeiros que chegam a Xangai todos os anos.

Parece um contra-senso tanta preocupação material de um líder religioso que deveria estar mais atento ao lado espiritual de seu templo, correto? Errado. Pelo menos no entender de 18 monges budistas chineses de Xangai que formam a primeira turma de MBA (sigla em inglês para Master of Business Administration, um curso de mestrado que ensina como gerenciar um negócio) da Jiaotong University, na China.

— Pretendo descobrir como o mundo secular é administrado e melhorar o nível de gerência do nosso templo — disse ele em rede nacional na estatal chinesa CCTV.

A Jiaotong University, de Xangai, preparou com exclusividade o conteúdo do curso, que dura um semestre e está voltado para monges ou administradores. Segundo a agência estatal de notícias Xinhua, o MBA inclui as disciplinas administração de templos, ferramentas de marketing e produtos religiosos e até contabilidade básica.

O Partido Comunista da China continua exigindo de seus filiados que abdiquem de qualquer orientação religiosa se quiserem entrar no partido e fazer carreira no mundo político chinês. Mas os tempos da loucura coletiva da Revolução Cultural — quando militantes e estudantes decidiram destruir tudo o que não representava o comunismo puro, inclusive templos budistas e mesquitas pela China — ficaram para trás. O governo vem investindo pesado na recuperação dos templos do país com a certeza de que eles são poderosos ímãs para turistas. E seus dólares.

Para se ter uma idéia desta mudança, basta observar que, no início do ano, pela primeira vez na História, o governo de Pequim realizou um leilão de direitos de exploração de pequenos negócios e estacionamento nas imediações do Templo Shaolin, conhecido pelo Kung Fu praticado por seus monges e uma das maiores atrações turísticas da China, localizado na montanha Songshan, na província de Henan.

O governo arrecadou cerca de US$ 400 mil com o leilão e a renda será dividida entre o templo e os moradores da área próxima ao monastério que serão transferidos para outros locais por conta dos empreendimentos: são 2.350 metros quadrados de lojas e 60 mil metros quadrados de estacionamento para 1.500 carros na entrada do templo, que já possui um resort.

quarta-feira, setembro 07, 2005

Ainda o ordálio de Nova Orléans

A blogosfera brasileira tem acompanhado de perto a catástrofe no sul dos Estados Unidos. Idelber Avelar praticamente transformou seu blog numa central de informações a respeito da tragédia: http://www.idelberavelar.com. Já Alex Castro, do Liberal Libertário Libertino, que estava lá e lamentava a perda de seu cão, também dá um relato de primeira mão dos eventos ligados à passagem do Katrina: http://liberallibertariolibertino.blogspot.com. Para uma análise mais panorâmica dos aspectos políticos e ambientais, é sempre bom ver o indispensável Smart Shade of Blue: http://smartshadeofblue.brblog.com. Finalmente, para uma reação completamente fora de propósito (não digo esquizofrênica, pois a esquizofrenia é uma doença muito grave cujos portadores merecem respeito), a última pá de cal na dignidade um pretenso guru: conservador:http://www.olavodecarvalho.org/semana/050905dc.htm, devidamente comentada, no tom que merece, por Marcus Pessoa: http://velhodofarol.blogspot.com/2005/09/o-furaco-e-insensatez.html.

Cada um desses blogs tem uma lista de links muito boa para quem quiser conhecer a perspectiva americana -- uma demonstração, aliás, da seriedade que a blogosfera adquiriu como veículo informativo.

segunda-feira, setembro 05, 2005

Oráculos modernos

Do blog de Gabbi Mendes, repasso a sugestão: http://www.bne.com.br/cores/default.asp. Impressiona.

sábado, setembro 03, 2005

As faces da maldade

Na ficção, o grande vilão tem lá sua dignidade. Apesar de atos abomináveis e um abismo no lugar do coração, ele costuma certa majestade, não raro um código de honra todo peculiar. Dependendo da habilidade do autor, pode-se até mesmo encontrar razões para admirá-lo e, quem sabe, preferi-lo ao herói, essa figura que é tantas vezes insípida. O vilão fascina, seja por transgredir, seja por ter uma trajetória com que nos identificamos -- ele se permite sentimentos e atitudes que todos têm, mas que não caem bem no protagonista --, ou, simplesmente, porque em várias vezes ele é o detentor do poder, que faz girar em torno de si toda a trama, com suas intrigas, seus crimes e suas ambições.

Na vida real, contudo, isso é muito mais raro. Os vilões concretos tendem a ser não figuras trágicas, de um heroísmo torto, que se lançam a empreendimentos colossais com uma entrega maior que qualquer ética. Não. Pelo contrário, quase sempre são figuras desprezíveis, medíocres, cuja imaturidade ou miséria interior não apenas se traduz em seus atos, como até os leva a cometê-los. Eles não têm imponência, ou a têm apenas por empréstimo -- de um cargo, um uniforme ou qualquer outra muleta sem a qual se mostram tão-somente como vermes, criaturas desagradáveis e sem maiores méritos estéticos e literários. Para usar uma expressão de Arendt, a face do Mal pode ser apenas a da mais absoluta banalidade. Não há muitos Darth Vaders, M. Bisons e Sarumans na vida cotidiana; porém abundam malandros, covardes e aproveitadores, meros duendes sem grandeza.

Esta resenha de O GLOBO, publicada no caderno Prosa e Verso de ontem, ilustra bem o quero dizer.

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Um pastiche grotesco do império nazista


As entrevistas de Nuremberg, de Leon Goldensohn. Tradução de Ivo Korytowski. Ed. Companhia das Letras, 552 pgs. R$ 68
Carlos Haag




É banal falar, hoje, da banalidade do mal. O conceito de Hannah Arendt parece não dar conta da totalidade do fenômeno nazista, bem mais insidioso do que a redução dos criminosos a burocratas ou a mera demonização deles. Nem patetas, nem demônios (isso seria tão confortável, pois nos afastaria deles), foram humanos, demasiado humanos. Essa é sensação após a leitura de “As entrevistas de Nuremberg”, de Leon Goldensohn. Tão despretensioso quanto precioso, é o destaque da atual “nazimania” editorial provocada pelo filme “A queda”, que mostra um Hitler “humanizado”.

Goldensohn era um psiquiatra judeu de 34 anos que, em 1946, passou sete meses entrevistando 21 líderes nazistas no Julgamento de Nuremberg. Entre eles, Goering, Doenitz, Hans Frank, Julius Streicher, Ernst Kaltenbrunner Alfred Rosenberg e, entre outros, Hoess, o comandante de Auschwitz. A “nata” do Terceiro Reich. Goldensohn teve a simpatia de boa parte deles, que falaram (e mentiram) sobre o passado, o Führer e o Holocausto.

O analista os visitava diariamente e sua função era checar seu estado mental. Goldensohn aproveitou para tentar entender a psique dos assassinos e, para sua surpresa, descobriu homens normais, pais de família e, no geral, donos de Q.I.s elevados. O americano anotou o que ouvia, pois pensava em publicar um livro, mas morreu em 1961 sem o fazer. Seu irmão, Eli, entregou o material ao historiador Robert Gellately e, graças a ele, temos esse tesouro histórico que fala mais sobre os seres humanos sem escrúpulos do que sobre nazistas dementes.

Nas entrelinhas dos depoimentos, tentam renegar a condição de réus, renegar que um dia tiveram importância e juram ignorar tudo o que se passava. A distância é abissal, mas tudo parece um dejà vu dos mais recentes. Só que, naquele tempo, a culpa foi jogada sobre Hitler, Himmler, Goebbels e Bormann, convenientemente mortos. Nada da antiga arrogância e poucos se vangloriaram dos ideais nazistas. Não há remorsos, culpas ou o mínimo sentido de responsabilidade. Ao ser perguntado como podia matar inocentes e voltar para a família, tranqüilo, Hoess se defende: “Mas eu não matei ninguém. Eu fui apenas o comandante do programa de extermínio de Auschwitz.”

Goering, vaidoso, solta “pérolas”: “Acho um horror essa coisa de matar crianças e mulheres, uma notável falta de espírito esportivo.” Mesmo negando ódio aos judeus, o discurso de muitos é pontuado de anti-semitismo. “Eu era contra o extermínio de judeus e preferia que fossem realocados na Palestina ou em Madagascar. Agora, só porque mataram quatro milhões deles, os judeus viraram mártires. Por causa das mortes, o anti-semitismo, que ia tão bem em vários países, está comprometido por um bom tempo”, lamentou Streicher. O resto do bando se justifica dizendo que Hitler os mandava “cuidar dos próprios negócios”. Aparentemente, estavam muito ocupados para perceber o que se passava nos campos ou intervir. “Colocar algumas pessoas com idéias estrangeiras em campos de concentração significou poupar sangue alemão. Teria sido melhor uma guerra civil?”, pergunta Doenitz.

É também curioso ouvi-los afirmar que mal se conheceram e que viviam em constantes disputas de poder. Essa parece uma das chaves do mal nazista. Mais que vampiros sedentos por sangue, parecem homens sedentos por poder. Se isso implicava exterminar milhões, não importava. Há poucas juras de amor pela causa e muita reclamação comezinha da conduta dos colegas de fascismo. Fanáticos racistas, sim, mas, também e, acima de tudo, oportunistas.

Daí, o mal ser humano, demasiado humano. Os ex-líderes não são banais, mas próximos de muitos de nós na subserviência a tudo o que os aproximava da boa vida do poder. O império de Hitler se reduz a um pastiche grotesco, apesar do incalculável sofrimento que provocou. “Os nazistas vivam falando de um Reich de mil anos, mas não conseguiam planejar nem para cinco minutos”, resume Paul Schmidt, o intérprete do Führer. A banalidade do banal.

CARLOS HAAG é jornalista

O ordálio de Nova Orléans

A terra do carnaval, do vodu e da comida cajun. Durante décadas, Nova Orléans representou uma curiosa mistura de libertinagem, exotismo e religião na cultura popular americana. Um enclave de outro mundo no país do dólar e do protestante anglo-saxão branco. E agora, como a lendária Atlântida, ela agoniza sob as águas, transformando-se em um pântano gigantesco em que o desespero e a tragédia libertam o que há de pior no ser humano. Enquanto cadáveres bóiam pelas ruas alagadas, junto com répteis, o caos trazido pelo furacão Katrina foi a justificativa perfeita para alguns recorrerem à velha lei do mais forte. A nós, de fora, talvez caiba recordar o quão frágil o senso de civilização pode ser.

O GLOBO
03/09/2005 - 21h53m

Abrigos em Nova Orleans: inferno marcado por estupros e assassinatos

Reuters

NOVA ORLEANS - As pessoas que ficaram sem casa devido ao furacão Katrina contaram terríveis histórias sobre estupros, assassinatos e guardas com o dedo no gatilho nos dois centros que foram preparados como abrigos, mas que se tornaram lugares de violência e terror.

A polícia e a Guarda Nacional fecharam este sábado os dois centros de refugiados - o Superdome e o Centro de Convenções da cidade - mas eles obrigaram os refugiados a penar sob o sol escaldante para impedí-los de tentar sair da cidade por meios próprios.

Helicópteros militares e ônibus iniciaram uma maciça evacuação, retirando da cidade milhares de pessoas que a essa altura aguardavam em filas organizadas sob o calor massacrante do lado de fora do inundado Centro de Convenções.

Os refugiados, que esperavam ser levados para estádios esportivos e outros grandes abrigos no Texas e no norte de Louisiana, descreveram como o Centro de Convenção e o Superdome se tornaram buracos infernais marcados por estupros e assassinatos.

Muitos dos moradores desta espécie de favela instantânea contaram dois horríveis incidentes em que aqueles que deveriam cuidar da segurança dos desabrigados os mataram ao invés disso. Em um deles, um jovem corria e foi morto por um policial de Nova Orleans. Em outro, um homem em busca de ajuda foi morto a tiros por um soldado da Guarda Nacional, testemunhas afirmaram.

A polícia se recusa a discutir ou conversar os incidentes. O porta-voz da Guarda Nacional, tenente-coronel Pete Schneider, disse "não ter qualquer informação sobre uma arma ter sido disparada."

- Eles mataram um homem aqui na noite passada - disse Steve Banka, de 28 anos - Uma jovem estava sendo estuprada e esfaqueada. Os sons dos seus gritos podiam ser ouvidos por esse homem. Ele correu até a rua para pedir ajuda das tropas para tentar fazer parar um caminhão militar que passava. Ele pulou sobre o pára-brisa do caminhão e eles atiraram para matar.

Wade Batiste, de 48 anos, contou outra história de horror:

- Na noite passada, às 20h, eles balearam um garoto de apenas 16 anos. Ele estava apenas atravessando a rua. Eles o atropelaram, a polícia de Nova Orleans e, então, desceram do carro e atiraram na cabeça dele.

O corpo do adolescente ainda jazia na rua próxima à entrada do Centro de Convenções, coberto por um cobertor preto. Um rio de sangue coagulado manchava a rua ao seu redor. Próxima do corpo, sua família estava sentada, em estado de choque. Uma integrante da família, Africa Brumfield, de 32 anos, confirmou o incidente e falou também das condições gerais do local.

- Há estupros acontecendo aqui. Mulheres não podem ir ao banheiro sem um homem por perto. Eles as estão estuprando e cortando suas gargantas. Eles continuam dizendo que os ônibus estão chegando, mas eles nunca aparecem - disse ela, chorando.

Os desabrigados afirmaram que há no momento 22 corpos de crianças e adultos dentro do Centro de Convenções, mas os soldados que guardam o prédio se recusam a confirmar a informação e ameaçam agredir repórteres em busca de acesso ao local para confirmar a informação.

Pessoas que tentam deixar o local são forçadas a voltar para a fila sob a mira de armas - alguns soldados disseram que a medida é para a própria segurança das vítimas da tragédia.

- Eles nos mantém aqui como animais - disse Wvonnette Grace-Jordan, que estava no local com cinco crianças, a mais nova de apenas seis anos de idade - Nós só tivemos duas refeições até agora, não temos remédios e agora há milhares de pessoas defecando nas ruas. Isto é errado. Isto é os Estados Unidos da América.

Um soldado da Guarda Nacional que pediu para não ser identificado por temer represálias de seus comandantes, falou da falta de cuidados médicos para os desabrigados:

- Eles (o governo Bush) se importam mais com o Iraque e o Afeganistão do que com o povo daqui - disse ele, que é lotado na Louisiana - Estamos fazendo o nosso melhor com os recursos que temos, mas quase todos os nossos homens estão no Iraque.

Do outro lado da cidade, no Superdome, onde mais de 38 mil refugiados se amontoavam até a noite de quarta-feira, quando começou a evacuação do local, quatro mil pessoas ainda eram mantidas encurraladas, agora do lado de fora, esperando vaga num dos quatro ônibus disponíveis para retirá-los, com lugar apenas para 200 pessoas.

A cena no estádio esportivo era degradante. Apertadas num espaço pequeno depois que o prédio foi fechado na noite anterior, os remanescentes sentavam sobre montes de lixo, cujas pilhas batiam na cintura das pessoas. Dentro do estádio vazio, o cheiro de resíduos humanos dominava o ambiente.

Um oficial da polícia disse que cem pessoas estão dentro de um necrotério improvisado no estádio, a maioria morta por insolação. De outro lado, seis bebês nasceram no local desde sábado passado.

Na arena, há também relatos de cenas de horror.

- Encontramos uma adolescente estuprada e morta no banheiro - disse um soldado da Guarda Nacional - Depois a multidão pegou o homem e bateu nele até a morte.