sábado, setembro 29, 2007

Arte "sonâmbula"

A falta que um conceito faz...
Fosse no Brasil, provavelmente este sujeito estaria expondo em locais bem diferentes.
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Britânico expõe arte produzida durante o sono
desenho de Lee Hadwin
"Arte noturna" inclui desenhos, retratos e pinturas
Os trabalhos de um britânico que vira artista enquanto dorme vão ser expostos numa cidade do País de Gales, na Grã-Bretanha.

Lee Hadwin, de 33 anos, afirma que tem feito o que denominou de "arte sonâmbula" há muitos anos e não sabe explicar por que seu talento artístico aflora só depois que ele adormece.

Hadwin conta que começou a ser sonâmbulo quando tinha 4 ou 5 anos "fazendo o que crianças normais fazem, como andar pela casa, nada sério".

"Há 12 ou 14 anos atrás eu dormi na casa de um amigo e quando sua mãe acordou viu desenhos na parede da cozinha. Mas ela achou que tivesse sido o filho sob efeito de bebida", relembra.

O artista só se deu conta de que o desenho na verdade era de sua autoria, quando percebeu, pouco tempo depois, que seus jornais começaram a amanhecer desenhados.

Lee Hadwin
Hadwin diz que não se lembra do que faz durante a noite

Enxaqueca

Os trabalhos de Lee, que não faz arte enquanto está acordado, vão desde desenhos, retratos de nus até pinturas.

Hadwin garante que só percebe o que fez durante a noite quando acorda no dia seguinte.

"Eu só sei que estive sonâmbulo durante a noite porque normalmente acordo com enxaqueca. De resto, eu não me lembro de absolutamente nada".

Ele admite que seu estranho hobby noturno já levou a alguns problemas em casa.

desenho de Lee Hadwin
Trabalhos de Lee Hadwin serão expostos

"Minha mãe não gosta quando eu pinto embaixo das escadas".

Quatro meses atrás, o britânico cortou uma de suas calças jeans preferidas e, sem saber, colocou um pedaço de tecido numa moldura.

Os trabalhoS serão expostos numa galeria da cidade de Denbigh, no País de Gales no início do mês que vem.

domingo, setembro 23, 2007

Uma sociedade de insanas aparências

Recebi por email e infelizmente não tenho a data dessa edição da IstoÉ. Mas gostei muitíssimo da entrevista, pois nos lembra do quanto a cultura em que vivemos nos predispõe para a frustração com seus padrões severos de eficácia e sucesso.
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O entrevistado é Roberto Shinyashiki, médico psiquiatra, com Pós-Graduação em administração de empresas pela USP, consultor organizacional e conferencista de renome nacional e internacional.

“Cuidado com os burros motivados”

Em “Heróis de Verdade”, o escritor combate a supervalorização da Aparência e diz que falta ao Brasil competência, e não auto-estima.

Observador contumaz das manias humanas, Roberto Shinyashiki está cansado dos jogos de aparência que tomaram conta das corporações e das famílias. Nas entrevistas de emprego, por exemplo, os candidatos repetem o que imaginam que deve ser dito. Num teatro constante, são todos felizes, motivados, corretos, embora muitas vezes pequem na competência. Dizem-se perfeccionistas: ninguém comete falhas, ninguém erra. Como Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) em Poema em linha reta, o psiquiatra não compartilha da síndrome de super-heróis. “Nunca conheci quem tivesse levado porrada na vida (...) Toda a gente que eu conheço e que fala comigo nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipe”, dizem os versos que o inspiraram a escrever “Heróis de verdade” (Editora Gente, 168 págs., R$ 25). Farto de semideuses, Roberto Shinyashiki faz soar seu alerta por uma mudança de atitude. “O mundo precisa de pessoas mais simples e verdadeiras”.

ISTOÉ—Quem são os heróis de verdade?

Roberto Shinyashiki—Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado, viajar de primeira classe. O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes.E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados. Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa. Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa possa se orgulhar da mãe. O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes. Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros. São pessoas que sabem pedir desculpas e admitir que erraram.

ISTOÉ—O sr. citaria exemplos?

Shinyashiki—Dona Zilda Arns, que não vai a determinados programas de tevê nem aparece de Cartier, mas está salvando milhões de pessoas. Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia. Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida. Eles são meus heróis. Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem. Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito “100% Jardim Irene”. É pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população americana. Em países como Japão, Suécia e Noruega, há mais suicídio do que homicídio. Por que tanta gente se mata? Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher que, embora não ame mais o marido,mantém o casamento, ou o homem que passa décadas em um emprego que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir seguro.

ISTOÉ—Qual o resultado disso?

Shinyashiki—Paranóia e depressão cada vez mais precoces. O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece. A única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança. Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas. Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.

ISTOÉ - Por quê?

Shinyashiki—O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência. Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras. Disse que ela não parecia demonstrar interesse. Ela me respondeu estar muito interessada, mas, como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa. Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Contratei-a na hora. Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.

ISTOÉ—Há um script estabelecido?

Shinyashiki—Sim. Quer ver uma pergunta estúpida feita por um Presidente de multinacional no programa O aprendiz? “Qual é seu defeito?” Todos respondem que o defeito é não pensar na vida pessoal: “Eu mergulho de cabeça na empresa. Preciso aprender a relaxar”. É exatamente o que o Chefe quer escutar. Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado ou esquecido? É contratado quem é bom em conversar, em fingir. Da mesma forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder. O vice-presidente de uma das maiores empresas do planeta me disse: “Sabe, Roberto, ninguém chega à vice-presidência sem mentir”. Isso significa que quem fala a verdade não chega a diretor?

ISTOÉ—Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?

Shinyashiki—Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o conhecimento. Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é competência. Cuidado com os burros motivados. Há muita gente motivada fazendo besteira. Não adianta você assumir uma função para a qual não está preparado. Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão. Mas tenho a humildade de reconhecer Que isso nunca aconteceu graças a meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso para o qual eu não estava preparado. Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia. O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.

ISTOÉ—Está sobrando auto-estima?

Shinyashiki—Falta às pessoas a verdadeira auto-estima. Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto-estima está baixa. Antes, o ter conseguia substituir o ser. O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom. Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o objetivo de vida se tornou parecer. As pessoas parece que sabem, parece que fazem, parece que acreditam. E poucos são humildes para confessar que não sabem. Há muitas mulheres solitárias no Brasil que preferem dizer que é melhor assim. Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.

ISTOÉ—Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?

Shinyashiki—Isso vem do vazio que sentimos. A gente continua valorizando os heróis. Quem vai salvar o Brasil? O Lula. Quem vai salvar o time? O técnico. Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta. O problema é que eles não vão salvar nada! Tive um professor de filosofia que dizia: “Quando você quiser entender a essência do ser humano,imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um jantar no Palácio de Buckingham”. Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth também tem diarréia. Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza,já fez coisas que não deram certo. A gente tem de parar de procurar super-heróis. Porque se o super-herói não segura a onda, todo mundo o considera um fracassado.

ISTOÉ—O conceito muda quando a expectativa não se comprova?

Shinyashiki—Exatamente. A gente não é super-herói nem superfracassado. A gente acerta, erra, tem dias de alegria e dias de tristeza. Não há nada de errado nisso. Hoje, as pessoas estão questionando o Lula em parte porque acreditavam que ele fosse mudar suas vidas e se decepcionaram. A crise será positiva se elas entenderem que a responsabilidade pela própria vida é delas.

ISTOÉ—Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?

Shinyashiki—Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz minha vida fluir facilmente. Há várias coisas que eu queria e não consegui. Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos. Com uma criança especial, eu aprendi que ou eu a amo do jeito que ela é ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse. Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo. O resto foram apostas e erros.

Dia desses apostei na edição de um livro que não deu certo. Um amigão me perguntou: “Quem decidiu publicar esse livro?” Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.

ISTOÉ - Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?

Shinyashiki—O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las. São três fraquezas. A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a terceira é buscar segurança. Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram. Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno. Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards. Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem covers do Bill Gates. O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas próprias potencialidades.

ISTOÉ—Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?

Shinyashiki—A sociedade quer definir o que é certo. São quatro Loucuras da sociedade. A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados individuais. A segunda loucura é: Você tem de estar feliz todos os dias. A terceira é: Você tem que comprar tudo o que puder. O resultado é esse consumismo absurdo. Por fim, a quarta loucura: Você tem de fazer as coisas do jeito certo. Jeito certo não existe. Não há um caminho único para se fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento. Você pode ser feliz tomando sorvete, ficando em casa com a família ou amigos verdadeiros, levando os filhos para brincar ou indo a praia ou ao cinema. Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes. Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o médico pela camisa e diz: “Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero aproveitá-la e ser feliz”. Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas. Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis ou ações, mas sim de ter esperado muito tempo ou perdido várias oportunidades para aproveitar a vida.

Balanço da Bienal

Duas tardes de garimpagem, contenção de despesas e muita caminhada. O resultado? Eis o saldo recorde desta Bienal (para lembrar aos incautos que perdição é a combinação de salário com megafeira de livros):

  • Os doze volumes encadernados da Revista Espírita -- Jornal de Estudos Psicológicos, da Sociedade Espírita de Paris, editada por Allan Kardec.
  • Religião, de Carlos Imbassahy (o pai), verdadeiro sobre a bizarra e interminável discussão sobre ser ou não o Espiritismo uma religião.
  • Eça de Queirós, Póstumo, coletânea de psicografias de Fernando Lacerda atribuídas ao literato português (digam o que quiserem sobre a autenticidade ou não dos escritos, a leitura é uma delícia).
  • A Doutrina de Buda e o Tao-te-king (este comentado por Huberto Rohden).
  • Ficções, de Jorge Luís Borges, a ridículos doze reais.
  • Em Silêncio: Por que rezamos, de Donald Spoto, sobre o hábito da prece nas mais diversas tradições religiosas.
  • A História da Família, de James Casey.
  • A Voz do Fogo, o primeiro romance do virtuoso dos quadrinhos Alan Moore, também autor de V de Vingança, Watchmen e, last but not least, o recém-lançado em português Lost Girls.
  • Salambô, de Flaubert, uma incursão do autor de Madame Bovary pelo romance histórico, trocando a charmosa Paris pela exótica Cartago.
  • Homens Representativos, de Ralph Waldo Emerson, com pequenos ensaios biográficos de grandes homens, de Platão a Montaigne e Shakespeare.
  • Contando Vantagem, de John Kenneth Galbraith, em que o célebre e espirituoso economista narra suas experiências com os diferentes governos americanos de Roosevelt a Lyndon Johnson.
Pena o dinheiro ter acabado antes de eu voltar à seção de neurociência da Companhia das Letras... Mas exercitei meu impulso biblioconsumista pelo equivalente a meses. Só falta agora levar minhas aquisições para uma ilha deserta por alguns anos e pôr a leitura em dia.

(Não custa sonhar...)


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sábado, setembro 22, 2007

Meditações de fim de semana


A última encarnação da inocência sobre a Terra deixou de sê-lo ao se descobrir inocente.

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Quando naturalizamos a tal ponto a malícia que ficamos chocados com a inocência?

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Ou estará a malícia tão cansada de si própria que não teve outro recurso senão o de se refugiar na forma da inocência?


sábado, setembro 08, 2007

As leis da física hollywoodiana


Você já reparou que nos filmes de ação, basta um tiro no tanque de gasolina para explodir um carro?

Que as explosões espaciais têm som?

Que ninguém se machuca ao estilhaçar uma vidraça com o próprio corpo?

Finalmente, os especialistas dão seu parecer sobre esse fenômenos tão comuns na tela que nem nos perguntamos se eles são possíveis: http://www.intuitor.com/moviephysics. Um site divertidíssimo, instrutivo e com indicações de algo raro no Brasil: livros de física para leigos e sem aquelas "assustadoras" (?) fórmulas matemáticas.

(Devo a informação ao meu prezado Hermenauta, um dos blogueiros mais versáteis da Internet brasileira.)

sexta-feira, setembro 07, 2007

A Voz: 1935-2007


Ciao, Luciano!