quinta-feira, novembro 27, 2008

Preciosidade

Coisas que se acham quando se está à toa na Internet...


sábado, novembro 22, 2008

Pequena inovação técnica

Pus umas novidades na barra lateral. Dêem uma olhada e vejam se valem a pena.

O advogado do diabo

Após ler uma entrevista tão longa e com um tema tão provocante, não pude deixar de perceber algumas coisas: primeiro, que os repórteres da Der Spiegel são dois idiotas que não estavam à altura da pauta que pegaram; segundo, que o entrevistado percebeu logo isso e brincou com o pobre diabo. Ainda assim, dado o tema em pauta e a frequente (que saudade da trema...) demonização de certas figuras históricas, o desafio proposto por Vergès é válido e deve ser encarado. De minha parte, como leigo na área, sempre me perguntei isso: como um advogado lida com clientes acusados, e por vezes comprovadamente culpados, de atrocidades? Eis algo que ainda pretendo compreender.

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22/11/2008
'Não existe essa coisa de mal absoluto', diz Jacques Vergès, o 'advogado do diabo'

Brita Sandberg e Eric Follath
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2008/11/22/ult2682u998.jhtm

Ele se encontrou com Mao Tsé-tung, Pol Pot e Che Guevara. Ele defendeu 'Carlos, o Chacal' e o criminoso de guerra nazista Klaus Barbie. Jacques Vergès, 83 anos, provavelmente é o advogado mais famoso do mundo. Seu mais recente cliente é Khieu Samphan, o ex-chefe de Estado do Camboja sob o Khmer Vermelho, que está sendo julgado por crimes de guerra.

Spiegel: Sr. Vergès, o senhor é atraído pelo mal?

Jacques Vergès:
A natureza é selvagem, imprevisível e terrivelmente sem sentido. O que distingue os seres humanos dos animais é sua capacidade de falar em prol do mal. O crime é um símbolo de nossa liberdade.

Spiegel: Esta é uma visão de mundo cínica.

Vergès:
Uma realista.

Spiegel: O senhor defendeu alguns dos piores assassinos em massa na história recente e foi chamado de "o advogado do diabo". Por que se sente atraído por clientes como Carlos e Klaus Barbie?

Vergès:
Eu acredito que qualquer um, independente do que possa ter feito, tem direito a um julgamento justo. O público é sempre rápido a atribuir o rótulo de "monstro". Mas monstros não existem, não existe essa coisa de mal absoluto. Meus clientes são seres humanos, pessoas com dois olhos, duas mãos, um gênero e emoções. Isso é o que os torna tão sinistros.

Spiegel: O que quer dizer?

Vergès:
O que era tão chocante a respeito de Hitler, o "monstro", é que ele amava muito a sua cadela e beijava as mãos de suas secretárias - como sabemos a partir da literatura do Terceiro Reich e do filme "Der Untergang" ("A Queda"). O interessante a respeito dos meus clientes é descobrir o que os leva a cometer estas coisas horríveis. Minha ambição é iluminar o caminho que os levou a cometer esses atos. Um bom julgamento é como uma peça de Shakespeare, uma obra de arte.

Spiegel: O senhor está atualmente no palco no Teatro Madeleine, em Paris, como o principal personagem de um monólogo que você escreveu.

Vergès:
É a respeito de mim, é claro, sobre a profissão de advogado e a natureza dos julgamentos. Em cada julgamento, um drama se desdobra diante do público, um duelo entre a defesa e a acusação. Ambas contam histórias que não são necessariamente verdadeiras, mas possíveis. No final uma é declarada a vitoriosa, mas isso não necessariamente tem algo a ver com justiça.

Spiegel: Existe alguém que o senhor não defenderia por princípio?

Vergès:
Um dos meus princípios é não ter princípios. Este é o motivo para eu não recusar ninguém.

Spiegel: Digamos, Adolf Hitler...

Vergès:
Eu teria defendido Hitler. Eu também aceitaria Osama Bin Laden como cliente, até mesmo (o presidente dos Estados Unidos) George W. Bush - desde que se declarasse culpado.

Spiegel: O senhor não pode mencionar seriamente Hitler, Bin Laden e Bush, e seus erros, na mesma frase.

Vergès:
Todo crime é único, assim como cada criminoso. Isso por si só torna as comparações impossíveis.

Spiegel: Seu mais recente cliente é Khieu Samphan, o ex-chefe de Estado do infame reino do Khmer Vermelho, um homem com o qual o senhor está ligado por um passado espantoso. O senhor o conheceu em Paris há mais de 55 anos, onde ambos pertenciam a um grupo comunista. Khieu Samphan deverá ser julgado em breve em Phnom Penh, onde enfrentará acusações de genocídio.

Vergès:
Não ocorreu genocídio no Camboja.

Spiegel: Sério? Cerca de 1,7 milhão de pessoas morreram em menos de quatro anos em conseqüência do reinado de terror do Khmer Vermelho.

Vergès:
Esses números são exagerados. Ocorreram muitos homicídios, e alguns deles são imperdoáveis, o que é algo que meu cliente também diz. E também ocorreu tortura, o que é indesculpável. Todavia, é errado definir isso como genocídio deliberado. A maioria das pessoas morreu em conseqüência de fome e doença.

Spiegel: Mas o regime é o único responsável por essas dificuldades.

Vergès:
Isto precisamente não é o caso. Foi conseqüência da política de embargo dos Estados Unidos. A história do Camboja não começou quando o Khmer Vermelho chegou ao poder em 1975. Houve um prólogo sangrento para este processo: os americanos, sob o presidente Richard Nixon e o conselheiro de segurança nacional, Henry Kissinger, sujeitaram a população civil do Camboja a um bombardeio brutal no início dos anos 70.

Spiegel: O senhor poderia convocar Henry Kissinger como testemunha no julgamento do Khmer Vermelho.

Vergès:
E me reservo o direito de fazê-lo, mas duvido que ele apareceria. Além disso, nem sei ao certo se o julgamento em Phnom Penh ocorrerá.

Spiegel: Como o senhor pode dizer isso? A ONU e o governo do Camboja já gastaram mais de US$ 50 milhões nos preparativos para o julgamento. O julgamento de Kaing Guek Eav, também conhecido como camarada Duch, que comandou a pior prisão de tortura do Khmer Vermelho, deverá começar em breve.

Vergès:
Pode ser que o julgamento do Duch comece em breve, mas não os julgamentos contra os outros quatro prisioneiros: o ex-segundo em comando do Khmer Vermelho, Nuon Chea, os ex-ministros Ieng Sary e Ieng Thirith, e o ex-chefe de Estado, Khieu Samphan. O caso nem chegará a julgamento, porque o tribunal em Phnom Penh já perdeu sua credibilidade e legitimidade.

Spiegel: Por quê?

Vergès:
Aqui estão dois exemplos do diletantismo dos promotores: Ieng Sary já foi sentenciado por um tribunal cambojano e perdoado por decreto real em 1996. Colocá-lo em julgamento uma segunda vez, pelos mesmos crimes, contradiz todos os padrões legais. E meu cliente deve ser solto, porque o tribunal ignorou regras básicas de defesa. Apesar de o tribunal reconhecer as três línguas do processo como sendo equivalentes, ele não considerou necessário traduzir para o francês mais que um fragmento dos documentos escritos em khmer. É impossível para mim defender meu cliente sem conhecimento desta evidência...

Spiegel: ...o que o senhor expressou de forma estridente no tribunal de Phnom Penh, antes de abandonar a audiência e bater a porta atrás de você.

Vergès:
E até mesmo tive que ouvir um juiz recomendar que meu cliente considerasse a contratação de um novo advogado. Um ultraje!

Spiegel: O senhor é fundamentalmente contrário a políticos serem julgados por assassinato em massa ou violação da lei internacional?

Vergès:
Este não é o problema principal. O julgamento, perante o Tribunal de Crimes de Guerra em Haia, de (Slobodan) Milosevic (o ex-presidente sérvio)...

Spiegel: ...criminoso de guerra sérvio, ao qual o senhor também prestou consultoria legal...

Vergès:
...era uma farsa. Este tipo de coisa sempre cheira a justiça do vitorioso. A mesma coisa se aplica aos Julgamentos de Nuremberg, mas pelo menos certas regras foram seguidas a risca lá. Por exemplo, Hjalmar Schacht, o ex-ministro da economia do Reich alemão, foi absolvido de todas as acusações. Meu cliente Khieu Samphan também era responsável pelos assuntos econômicos, mas em comparação a Nuremberg, nós nos vemos em um estado de total ilegalidade perante o tribunal em Phnom Penh. O que está acontecendo aqui beira um linchamento.

Spiegel: Sua grande simpatia visível pelo Khmer Vermelho teria algo a ver com sua história pessoal? O senhor conheceu (o líder do Khmer Vermelho) Pol Pot e Khieu Samphan em Paris, nos anos 50.

Vergès:
Eu fui um líder estudantil comunista na época, e estava em contato com muitos estudantes estrangeiros dentro do meio esquerdista. É verdade que também conheci Saloth Sar, que posteriormente passou a se chamar Pol Pot. Ele era um jovem que adorava Rimbaud e ficava profundamente comovido com seus poemas. Ele também tinha senso de humor.

Spiegel: Humor? Ele foi um assassino em massa. Fora Hitler, Mao e Stalin, provavelmente o pior do último século.

Vergès:
Uma coisa é clara, que Khieu Samphan era o mais intelectual dos estudantes khmer que estudavam em Paris com bolsas fornecidas pelo rei Sihanouk. Ele escreveu uma dissertação inteligente sobre o desenvolvimento econômico no Camboja. É verdade que eu contribuí, de certa forma, para sua politização. Saloth Sar e Khieu Samphan, como outros, estavam à procura de modelos para conduzir a luta anticolonial em seu país de origem. Khieu Samphan se tornou um marxista.

Spiegel: Quando o senhor o viu de novo?

Vergès:
Apenas após 2004. Ele me disse, na época, que esperava enfrentar as acusações. Então fui ao Camboja e nos sentamos por quatro dias em sua casa, próxima da fronteira tailandesa, para chegarmos a uma estratégia de defesa.

Spiegel: E que linha ela segue?

Vergès:
Simplesmente, meu cliente nunca ocupou uma posição de autoridade na polícia ou forças de segurança do país. Seu papel era meramente técnico. Como chefe de Estado, ele representava o país, mas não foi responsável pela repressão. Ele é uma pessoa gentil. Ele é inocente.

Spiegel: O senhor realmente acredita nisso?

Vergès:
Sim, é claro. Tudo o que ele queria fazer era abolir uma casta política, não os cidadãos que faziam parte dela. Ele era um idealista que buscava idéias revolucionárias. Você sabe, o Ocidente está constantemente tentando censurar a todos, mas deveria fazê-lo quando, como no caso dos Estados Unidos, matou milhares de civis em guerras com a suposta meta de disseminar a democracia, e quando é responsável por coisas como Guantánamo e Abu Ghraib? Ou quando um país como a França está envolvido em tamanha sujeira como na Argélia?

Spiegel: Em 1957, o senhor defendeu muitos membros da Frente Nacional de Libertação (FNL) argelina, ganhando renome como advogado. Seus clientes usavam métodos de terror e revolta contra seus mestres coloniais franceses. O senhor declarou sua solidariedade a eles.

Vergès:
Sim, eu lhes disse na época: eu entendo sua raiva, eu entendo sua luta, e apóio o que estão fazendo. Eu também endossei a violência que empregaram. Eu via a FNL como uma agente de resistência.

Spiegel: O senhor sofreu tanto em sua vida a ponto de demonstrar tamanho entendimento dos atos de violência?

Vergès:
Sabe, parece estar na moda usar a própria condição de vítima como justificativa para as ações de alguém. Eu abomino isso! É verdade que meu pai teve que renunciar ao seu posto de cônsul na Indochina colonial por ter se casado com uma mulher vietnamita. Ele então nos levou a Reunião, a um departamento de ultramar francês além da costa africana, onde trabalhou como médico. Eu sou uma criatura de origem dual, mas não tive uma existência torturada. Eu não nasci com raiva nas minhas entranhas. Eu apenas adquiri essa raiva sozinho.

Spiegel: Todavia, os filhos protegidos das famílias de Paris provavelmente tiveram experiências diferentes.

Vergès:
É claro. Eu conheço discriminação desde minha infância. Certa vez, em Madagascar, eu vi um casal europeu incrivelmente gordo sendo puxado em um riquixá por um homem esquelético local. Quando queriam parar, eles simplesmente chutavam o homem. Eles não tratariam uma mula daquela forma. Eu experimentei o significado do colonialismo desde a infância. E desprezo ele desde pequeno.

Spiegel: O senhor embarcou em um navio com destino à Europa em 1942 e se juntou à resistência francesa contra os nazistas. Por quê?

Vergès:
Aos 17 anos, em 1942, eu lutei com as Forças Francesas Livres de Charles de Gaulle contra a ocupação nazista. Porque eu queria defender a França que, fora a França que eu desprezo como potência colonial, eu passei a valorizar e amar: a França de Montaigne, Diderot, Robespierre e da Revolução. E gostei muito de servir sob De Gaulle, sob alguém que tinha sido sentenciado à morte pelo governo francês. Nós fomos treinados na Inglaterra e na Argélia, e lutamos na Itália e na França.

Spiegel: Não foi algo extremamente perigoso?

Vergès:
Sim, no princípio foi. Mas eu sofri apenas um único ferimento naquela época, um corte profundo na mão, bem aqui, que aconteceu enquanto eu estava abrindo ostras além da Ile d'Oléron.

Spiegel: O senhor aparentemente tinha um anjo da guarda.

Vergès:
Eu sou imune a balas, vamos colocar desta forma.

'Eu transfiro eventos para fora da sala do tribunal'
Spiegel: Em seu primeiro grande julgamento como advogado, o senhor assumiu um caso perdido em 1957: a defesa da combatente da resistência argelina Djamila Bouhired, que foi acusada de realizar atentados a bomba que também mataram civis.

Vergès:
Eu estava completamente do lado dela. Ela era uma patriota. Ela foi brutalmente torturada na prisão.

Spiegel: No julgamento, o senhor introduziu, pela primeira vez, sua agora famosa estratégia de ruptura, ou "defesa de ruptura", o princípio de lançar uma defesa com um contra-ataque político. Por quê?

Vergès:
Os outros advogados franceses que estavam encarregados da defesa em Argel tentaram abrir um diálogo com os juízes militares de lá. Os juízes viam a FNL como um grupo criminoso. Mas os réus argelinos viam seus ataques como um ato necessário de resistência. Em outras palavras, não havia consenso em torno dos princípios que deviam ser aplicados para se chegar a um veredicto. Para mim, significava que eu tinha que transferir os eventos para fora da sala do tribunal e conquistar a opinião pública para os réus.

Spiegel: Funcionou. Após uma campanha internacional que o senhor ajudou a organizar, Bouhired, que foi sentenciada à morte, foi solta, e posteriormente se tornou sua esposa. Em março de 1963, o senhor foi à China acompanhado dela para beber chá com Mao Tsé-tung. Como o senhor conseguiu uma audiência com o Grande Timoneiro?

Vergès:
Na época eu dirigia um jornal na Argélia, o "Révolution Africaine", que era apoiado pela FNL. Os chineses convidaram membros da equipe editorial para irem a Pequim. Nós tivemos muitas discussões políticas sérias. Mas o lado humano de Mao me surpreendeu. Havia algo tocando nele. Ele me perguntou, com toda a seriedade, se pretendia me casar com Djamila. Eu disse que sim, e ele respondeu: "Faça isso. Certamente será um relacionamento difícil, mas o amor é uma força subversiva".

Spiegel: O senhor ainda se sente tão positivo em relação a Mao, dado o conhecimento que temos hoje, o conhecimento das 30 milhões de mortes por fome pelas quais ele já era responsável na época, em conseqüência de seu "Grande Salto à Frente"?

Vergès:
Eu acredito que todo mundo tem qualidades e fraquezas. Eu tive a sorte de conhecer apenas o lado positivo de Mao.

Spiegel: O senhor também conheceu Che Guevara.

Vergès:
Sim, em Paris. Ele estava retornando de uma viagem à Suíça. A primeira esposa dele trabalhava em nossa redação. Ele era impressionante, um homem com um carisma incrível.

Spiegel: O senhor posteriormente foi suspeito de ter ajudado pessoalmente terroristas. Isso foi verdade? O senhor já pensou em se juntar às causas de seus clientes?

Vergès:
Eu tenho respeito pelo que muitos deles fizeram, mas não o faria pessoalmente.

Spiegel: Respeito por terroristas? Como é possível conciliar isso com sua consciência, com sua percepção da lei?

Vergès:
Magdalena Kopp, por exemplo, a parceira de vida de Carlos por muitos anos, era uma jovem alemã que estudou fotografia e queria se tornar jornalista. Então ela abandonou tudo e foi ao Oriente Médio lutar ao lado dos palestinos oprimidos. Aquele foi um ato extremamente abnegado, pelo qual só posso sentir simpatia.

Spiegel: Mas, como advogado, o senhor não está cruzando uma linha vermelha com esses sentimentos?

Vergès:
O que exatamente essa linha vermelha significa? É minha obrigação, como advogado, defender qualquer um, especialmente aqueles com as acusações mais sérias contra eles. Segundo, eu não posso me identificar com esses atos. Se meu cliente Klaus Barbie me pedisse para defender a superioridade da raça ariana em meus argumentos finais, eu teria dito a ele: sinto muito, não posso fazer isso. Eu sou Maître Vergès, um advogado com licença para praticar em Paris, não um Obersturmführer.

Spiegel: O senhor hesitou bastante antes de aceitar a defesa de Klaus Barbie, o ex-chefe da Gestapo, o "Açougueiro de Lyon"?

Vergès:
Nem um segundo. No julgamento de Barbie em Lyon, em 1987, eu enfrentei 39 advogados no lado oposto e o juiz. Isso por si só era motivo suficiente para assumir a defesa de Barbie.

Spiegel: O senhor precisou de proteção policial após apontar um espelho para a França na sala do tribunal e acusar muitos franceses de terem colaborado com os nazistas.

Vergès:
A beleza de um julgamento pode ser medida pelo rastro que deixa para trás, muito após a sentença ter sido pronunciada.

Spiegel: E qual foi sua impressão de Barbie?

Vergès:
Ele era um homem surpreendentemente comum, sem personalidade notável. Mas, é claro, é preciso não esquecer que se passaram mais de 40 anos entre os crimes que ele cometeu e o julgamento. Ele não era mais o mesmo homem.

Spiegel: O senhor deve saber, já que também desapareceu sem deixar traço nos anos 70. Sem nem mesmo avisar sua família, o senhor sumiu por oito anos. Até hoje, ninguém sabe onde o senhor esteve naquela época.

Vergès:
André Malraux já disse que a verdade sobre um homem está principalmente naquilo que ele não diz...

Spiegel: ...em outras palavras, o senhor não tem intenção de algum dia esclarecer este mistério?

Vergès:
E por que deveria? É extremamente divertido o fato de ninguém, em nosso moderno Estado policial, não conseguir saber onde estive por quase 10 anos. Já foi conjeturado que passei algum tempo com o Khmer Vermelho no Camboja, na Palestina, na China e na França. Eu adorei ler meus obituários. Eles falavam de um jovem altamente dotado que tinha partido deste mundo.

Spiegel: O senhor assume muitos de seus casos sem pagamento. O senhor defendeu prostitutas e crianças pobres. Como o senhor financia seu escritório de advocacia?

Vergès:
Não se preocupe. Eu também represento algumas empresas industriais e elas me pagam muito bem, então certamente há algum dinheiro sobrando.

Spiegel: Também há rumores de que o senhor está na folha de pagamento de potentados africanos ou lhes prestando consultoria. O político congolês Moise Tshombé, que esteve envolvido no assassinato de (Patrice) Lumumba (o ex-primeiro-ministro congolês), seria um deles, e que o senhor teria processado a Anistia Internacional em nome do violento ex-presidente de Togo, Gnassingbé Eyadéma?

Vergès:
...porque ela alegou coisas que não eram verdadeiras. Mesmo boas organizações devem respeitar certos limites.

Spiegel: Eyadéma, Tschombé e sua laia... não são pessoas sobre as quais o senhor poderia dizer: eu não quero ter nada a ver com elas?

Vergès:
Sim, eu poderia fazer isso, mas seria a mesma coisa que um médico dizer ao seu paciente: "Sabe de uma coisa, você tem Aids, mas não gosto de negros. Eu acho que são criminosos e isso me enoja, então não vou tratar você".

Spiegel: Um médico deve fornecer ajuda, mas como advogado, o senhor não é obrigado a aceitar todo cliente.

Vergès:
Se você encontrar um médico que não consegue ver sangue, pus ou ferimentos abertos, ele está na profissão errada. Se você encontrar um advogado que não goste de criminosos ou ditadores, é a mesma coisa.

Spiegel: "Minha moral e estar contra toda moral, porque ela busca amarrar a vida", o senhor escreveu certa vez.

Vergès:
Sim, em um livro autobiográfico ao qual batizei como um jornalista certa vez me chamou, "Le Salaud lumineux", ou "O Bastardo Brilhante".

Spiegel: Pode ser que o senhor use sua profissão principalmente como uma permanente provocação intelectual.

Vergès:
Eu a uso principalmente para permanente enriquecimento intelectual. Nossa visão de mundo muda com o tempo, porque o vemos sob diferentes pontos de vista. Graças à minha profissão, eu agora estou familiarizado com a visão de mundo do ponto de vista do terrorista e do policial, do criminoso e do idiota, do virgem e do ninfomaníaco. E posso lhe dizer que isso aprimora a visão própria de uma pessoa.

Spiegel: Maître Vergès, obrigado por esta entrevista.

Tradução: George El Khouri Andolfato

sexta-feira, novembro 21, 2008

De flautas e ratos


Convenhamos que uma desratização que vale por mais de sete séculos é um serviço excelente. Mas como tudo tem um fim...

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De http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u469943.shtml
20/11/2008 - 19h08

725 anos depois do "flautista", Hamelin é infestada por ratos

da BBC Brasil

A cidade de Hamelin, no norte da Alemanha, poderá precisar novamente dos serviços do lendário flautista para afastar uma nova infestação de ratos.

O problema agora se concentra em um lote de terra abandonado nos limites da cidade que se transformou no foco da infestação, com ratos passeando por alimentos jogados fora e pelo lixo que está no local.

Ao invés de atrair os ratos para o rio da cidade com música, como o flautista teria feito segundo a lenda, as autoridades municipais pretendem colocar armadilhas em volta do lote abandonado.

Segundo a lenda, em 1284 a cidade de Hamelin foi invadida por ratos, mas um flautista os atraiu com sua música para o rio. O flautista também teria atraído para o rio as crianças da cidade, pois a cidade não pagou pelo serviço.

Em 2009 a cidade planeja marcar o 725º aniversário da lenda do flautista de Hamelin com vários eventos, incluindo um grande desfile de crianças pelas ruas da cidade.

Ameaça

Um porta-voz das autoridades municipais de Hamelin, Thomas Wahmes, afirmou que o problema ainda é restrito aos limites da cidade, mas existe a ameaça de que os ratos possam invadir um conjunto habitacional vizinho.

Segundo Wahmes a população de ratos "explodiu" no terreno, mas a prefeitura não pôde exterminar os roedores, pois ainda não se sabe quem é o dono do local e as autoridades não podem invadir uma propriedade particular.

"Precisamos enfrentar os ratos diretamente no local", disse Wahmes à BBC na quarta-feira. O porta-voz afirmou que a área infestada é do tamanho de um campo de futebol.

A história da "nova" infestação de ratos em Hamelin foi muito divulgada pela imprensa alemã e as ofertas de ajuda à cidade vieram de todo o país.

"Não existe um problema com ratos no centro da cidade e esperamos que dentro de algumas semanas tenhamos removido esta ameaça", afirmou Wahmes.

domingo, novembro 16, 2008

Nós e os clássicos

O que faz um clássico? Será sua qualidade, a originalidade de suas idéias, sua antiguidade ou o fato de haver um consenso das pessoas "certas" em torno do seu valor? Seja lá o que for, a idéia sempre nos acompanha. Nos meios educados ou acadêmicos, é bem possível que se torça o nariz quando dizemos algo como "Adorei o último livro de Stephen King/Paulo Coelho/Tom Clancy/Eduardo Bueno!", mas dificilmente o mesmo se dará se mencionarmos Tolstói, Balzac, Machado ou Shakespeare. Afinal, estes fazem parte do "cânone", aquele conjunto de livros venerados como portadores de uma carga dificilmente igualável de apuro de linguagem ou, pelo menos, de idéias.



Para mim, a idéia do cânone sempre pareceu natural. No colégio, tive a sorte de descobrir na biblioteca as coleções de clássicos da filosofia e da literatura da Abril Cultural, ainda hoje encontráveis nos sebos: "Os Pensadores", de capa dura azul, e "Grandes Nomes da Literatura Universal", de capa vermelha. Ali os nomes impressionantes que eu via nos catálogos da Ediouro (que eu recebia bimestralmente pelo correio) ou nos livros didáticos se materializavam, e muitas obras cujo título e autoria eu já sabia de cor finalmente ganhavam vida. Foi um momento crucial de minha educação, quando entei em contato direto e regular com idéias e estilos de linguagem que atravessaram séculos. Ao mesmo tempo que devorava a redação erudita e didática de um Allan Kardec, por exemplo, passava tardes divertidas com a ironia de Montaigne e os incontáveis aforismos clássicos que recheiam seus "Ensaios"; com a mordacidade de Voltaire; os diálogos por vezes difíceis, mas sempre impressionantes, de Diderot; a sensualidade revitalizante de Lawrence; os terrores e angústias de Poe, e tantos outros. Lembro-me de que muitas vezes era o único em décadas a pegar emprestado certos livros, um testemunho, pensava então, da mediocridade de meus colegas, para quem "clássico" fosse antes uma tendência particular para roupas do que qualquer outra coisa.

O tempo foi passando, e muitos dos volumes que encantaram minha adolescência hoje repousam em minhas prateleiras. Posso vê-los daqui, imponentes, a me lembrarem com suas lombadas esmaecidas pelo tempo da primeira vez em que nos encontramos. Hoje é raro que os revisite como merecem, dividido que estou entre as muitas tarefas do presente. Mas não me culpo por isso, pois sinto que, de certa forma, eles vivem em mim. Nosso encontro nunca terminou de fato, e sei que posso encontrar neles um tesouro para todas as épocas da vida. Se há algo a lamentar, é que não tenhamos nos conhecido antes, ou que o número de autores não tenha sido maior. No entanto, a cada autor que acrescento a eles, reforça-se a intenção de um dia retornar às suas páginas, mergulhar uma vez mais nas suas reflexões, e deixar-me levar pela prosa nem sempre fácil das eras de que cada um é testemunha. Talvez um dia eu os deixe de herança para alguém, materialmente falando; no que diz respeito ao lado espiritual, porém, posso dizer sem medo que os lego a cada aula mais elaborada, a cada dissertação, e mesmo nas vezes em que sou convidado a falar em público. Esses "homens brancos mortos" que têm sido tão questionados por alguns militantes, às vezes com certa razão, são meus mestres mais queridos, e bem gostaria que fossem melhor conhecidos aqui no Brasil. Será sonhar demais?

Bem, a reportagem abaixo me inspirou essa divagação. Afinal, as duas coleções a que me referi nada mais são que derivações dos Great Books (alguns dos quais também posso ver daqui). Admito que fiquei surpreso ao ver o tom irreverente do autor -- nunca atribuí a esses tomos o adjetivo "ilegíveis", e tal soa um tanto herético aos meus ouvidos. Por outro lado, não há como negar que colecionar clássicos é muito mais fácil que lê-los, quanto mais de estudá-los. Inspirado pelo programa de um dos idealizadores dos Great Books, Mortimer Adler, cheguei a contactar o Saint John's College, cujo programa impresso eu tenho. Mas, de fato, mesmo para um diletante dedicado, o que infelizmente estou longe de poder ser, a digestão plena de todas essas obras consumiria mais do que o tempo de uma vida. Limitações de tempo e energia nos forçam a ser seletivos, e só posso sonhar com a idéia de passar os quatro anos de graduação do Saint John's dedicado ao cânone ocidental. Ainda assim, é um ideal que prezo e vale e pena cultivar. Embora seja inegável que nunca daremos conta de tudo que merece ser conhecido, a mera tentativa já nos enriquece.

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The New York Times
November 16, 2008

Heavy Reading

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A GREAT IDEA AT THE TIME

The Rise, Fall, and Curious Afterlife of the Great Books

By Alex Beam

Illustrated. 245 pp. PublicAffairs. $24.95

The humble book has survived many attacks on its integrity over the centuries, whether from tyrannical clerics or fearful governments or the new electronic wizard that promises a peculiarly modern “pleasure of the text” via limitless accessibility. Nevertheless, publishers continue to produce books, while countless numbers of people read them and — a word that crops up frequently in relation to books — love them.

In the middle of the last century, a committee of commercially minded academics came up with its own strategy to undermine the enjoyment of reading. With the backing of the University of Chicago, Robert Maynard Hutchins, Mortimer Adler and a few others whittled the literary, scientific and philosophical canon down to 443 exemplary works. They had them bound in 54 black leatherette volumes, with the overall designation Great Books of the Western World, then hired genial salesmen to knock on suburban doors and make promises of fulfilment through knowledge. In a postwar world in which educational self-improvement seemed within everyone’s reach, the Great Books could be presented as an item of intellectual furniture, rather like their prototype, the Encyclopedia Britannica (which also backed the project). Whereas the Britannica justified its hulking presence in the home as a reference tool, however, the Great Books made a more strident demand — they wanted to be read. Unfortunately, once opened, the volumes were forbidding. Each was a small library in its own right, with slabs of text arranged in monumental double columns. The Great Books of the Western World were what books should not be: an antidote to pleasure.

The great minds behind the Great Books were Hutchins and Adler. Hutchins was a precocious academic administrator — dean of Yale Law School at age 28, president of the University of Chicago at 30 — Adler a philosopher of ideas, author of works like “How to Read a Book” and a man who, in the words of Joseph Epstein, a colleague in the 1960s, “did not suffer subtlety gladly.” The Great Books project was many years in the making and was intertwined with Hutchins’s desire to reform the humanities curriculum at Chicago, but in 1952, after years of planning and bargaining with fellow members of the Great Books team — “If Dickens goes, Melville goes” (Dickens did; Melville didn’t) — he and Adler saw their dream become a well-upholstered reality.

In “A Great Idea at the Time,” Alex Beam presents Hutchins and Adler as a double act: Hutchins the tall, suave one with a gift for leadership; Adler “a troll next to the godlike Hutchins,” with a talent for putting students to sleep. Making the acquaintance of Hutchins through his works was, to Beam, “like falling in love.” By contrast, “to be reading Mortimer Adler’s two autobiographies and watching his endless, self-promotional television appearances was a nightmare from which I am still struggling to awake.” As an appendix to the Great Books, Adler insisted on compiling a two-volume index of essential ideas, the easily misspelled Syntopicon. A photograph in “A Great Idea at the Time” shows Adler surrounded by ­filing-cabinet drawers, each packed with index cards pertaining to a separate “idea”: Aristocracy, Chance, Cause, Form, Induction, Language, Life and so on. The cards registered the expression of those ideas — Adler arrived at the figure of 102 — in the Great Books of the Western World.

Hutchins and Adler’s Great Books were a mixture of books you wouldn’t dream of reading; books you think you ought to read but know you never will; and many books that, if you haven’t read them already, you would admire and possibly enjoy. The last category included the “Iliad,” works by Chaucer and Shakespeare, “The Decline and Fall of the Roman Empire,” a few novels — “Tom Jones,” “War and Peace” — and various works of philosophy. The commercial aspect played on the common desire to harbor all of knowledge — Euclid, Kepler, Bacon, Descartes, Hume, Adam Smith, to name but a few — under one roof.

The texts were presented, however, without annotation, which would prove a hindrance even in the case of relatively accessible works, like Shakespeare’s sonnets. The 54 volumes contained practically nothing written in English in the previous 100 years (two works by Charles Darwin, one by William James), but heaps of Plato and Aristotle, some alarming medical remedies of Hippocrates — “Make the irons red-hot, and burn the pile until it be dried up” — and column after column of ancient science, of little interest to anyone but specialists, who would have equipped themselves with more advanced texts anyway. When asked for his views on which classic works to include among the Great Books, the science historian George Sarton pronounced the exercise futile: “Newton’s achievement and personality are immortal; his book is dead except from the archaeological point of view.”

Hoping to offer the reader what many of the Great Books fail to provide — entertainment — Beam falls over himself in the effort to be breezy and upbeat. No Mortimer Adler, he. “It is hard to resist poking fun,” he writes, and resistance is easily overcome. “From the culture’s point of view, Adler was a dead white male who had the bad luck to still be alive.” When reporting that “War and Peace” was among the selections of Hutchins and Adler, Beam fails to resist adding “no ‘Anna Karenina’; too readable!” His plain-man slangy style, which will be appreciated by fans of his column in The Boston Globe, is just as likely to be off-putting to others. Hutchins and his colleagues, Beam writes, “signed a pact with the devil of commerce” and “hawked their books” the way their ad man, William Benton, sold Crest toothpaste. “Forget that it cleans your teeth; you’ll be popular! Wisdom of the ages, schmisdom of the ages. Forget about learning — your boss will be impressed, women will seek you out (‘Oh! You’re reading Fourier’s “Theory of Heat.” . . . How fascinating!’), your kids will get into college, and so on. . . . Soon enough the Great Books were synonymous with boosterism, Babbittry, and H. L. Mencken’s benighted boobocracy. They were everything that was wrong, unchic and middlebrow about middle America.”

If not a great book, “A Great Idea at the Time” acts as a good guide to the rise and fall of the project. For a brief period, the Great Books were at the heart of the curriculum at Chicago, and continue to feature strongly elsewhere. In one of the reportorial chapters toward the end of his account, Beam visits St. John’s College in Annapolis (it also has a campus in Santa Fe), which still operates a teaching program based on “all Great Books, all the time.” In 70 years, little has changed at St John’s. “If a boy or girl wants to attend medical school,” Beam writes, “that means an additional year . . . of memorizing facts in conventional biology and chemistry classes, not learning the ‘truth’ behind the science, Great Books-style.”

Hutchins and Adler foresaw many obstacles on the way to ushering the Great Books into classrooms and living rooms, overcoming them by persistence, financing — the compilation of the Syntopicon alone took eight years — and a not always likable self-belief. But not even the distilled wisdom of the 54 volumes could have helped them predict that by the 1980s students on campuses throughout the United States would be forming groups and chanting, “Hey, hey! Ho, ho! Western culture’s got to go!” sometimes with support of politicians. By then, the Great Books notion had fallen from its commercial and academic high point to being the focus of readings groups. Beam relates his own adventures in one of the “850 active chapters” of the Great Books Foundation, discussing Elizabeth Bishop, Robert Frost and other writers overlooked even in the updated edition of 1990. The Great Books of the Western World are not what they were. But the world’s great books, in some mysterious, muddled way, endure.

James Campbell’s collection of essays, “Syncopations: Beats, New Yorkers and Writers in the Dark,” was recently published. He writes a weekly column in The Times Literary Supplement.


sábado, novembro 15, 2008

A canção perfeita para um funeral...




...na voz de Vincent Price, sob os auspícios da Disney.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Um dia para entrar na história...




The New York Times
November 5, 2008
Editorial

The Next President

This is one of those moments in history when it is worth pausing to reflect on the basic facts:

An American with the name Barack Hussein Obama, the son of a white woman and a black man he barely knew, raised by his grandparents far outside the stream of American power and wealth, has been elected the 44th president of the United States.

Showing extraordinary focus and quiet certainty, Mr. Obama swept away one political presumption after another to defeat first Hillary Clinton, who wanted to be president so badly that she lost her bearings, and then John McCain, who forsook his principles for a campaign built on anger and fear.

His triumph was decisive and sweeping, because he saw what is wrong with this country: the utter failure of government to protect its citizens. He offered a government that does not try to solve every problem but will do those things beyond the power of individual citizens: to regulate the economy fairly, keep the air clean and the food safe, ensure that the sick have access to health care, and educate children to compete in a globalized world.

Mr. Obama spoke candidly of the failure of Republican economic policies that promised to lift all Americans but left so many millions far behind. He committed himself to ending a bloody and pointless war. He promised to restore Americans’ civil liberties and their tattered reputation around the world.

With a message of hope and competence, he drew in legions of voters who had been disengaged and voiceless. The scenes Tuesday night of young men and women, black and white, weeping and cheering in Chicago and New York and in Atlanta’s storied Ebenezer Baptist Church were powerful and deeply moving.

Mr. Obama inherits a terrible legacy. The nation is embroiled in two wars — one of necessity in Afghanistan and one of folly in Iraq. Mr. Obama’s challenge will be to manage an orderly withdrawal from Iraq without igniting new conflicts so the Pentagon can focus its resources on the real front in the war on terror, Afghanistan.

The campaign began with the war as its central focus. By Election Day, Americans were deeply anguished about their futures and the government’s failure to prevent an economic collapse fed by greed and an orgy of deregulation. Mr. Obama will have to move quickly to impose control, coherence, transparency and fairness on the Bush administration’s jumbled bailout plan.

His administration will also have to identify all of the ways that Americans’ basic rights and fundamental values have been violated and rein that dark work back in. Climate change is a global threat, and after years of denial and inaction, this country must take the lead on addressing it. The nation must develop new, cleaner energy technologies, to reduce greenhouse gases and its dependence on foreign oil.

Mr. Obama also will have to rally sensible people to come up with immigration reform consistent with the values of a nation built by immigrants and refugees.

There are many other urgent problems that must be addressed. Tens of millions of Americans lack health insurance, including some of the country’s most vulnerable citizens — children of the working poor. Other Americans can barely pay for their insurance or are in danger of losing it along with their jobs. They must be protected.

Mr. Obama will now need the support of all Americans. Mr. McCain made an elegant concession speech Tuesday night in which he called on his followers not just to honor the vote, but to stand behind Mr. Obama. After a nasty, dispiriting campaign, he seemed on that stage to be the senator we long respected for his service to this country and his willingness to compromise.

That is a start. The nation’s many challenges are beyond the reach of any one man, or any one political party.