sábado, dezembro 29, 2012

sábado, dezembro 22, 2012

Orgulho


Acho que agora entendo um pouco melhor o seu pecado, Estrela da Manhã, e como ele é insidioso. Insinua-se em corações bondosos, esconde-se nos pequenos desdéns e no riso fácil, separa o que Deus um dia uniu. E como nos salões ciclópicos de Pandemônio, faz o infeliz danado esquecer que se está no inferno, absorto na beleza trevosa do degredo da alma. E o que é pior: alimenta-se dos tesouros do talento e corrompe o pecador pelo que ele tem de mais brilhante. Sim, eras mesmo grande, e por isso caíste tanto... E porque és grande, e te recusas a reconhecer-te também pequeno, continuas no Abismo. Rei no inferno antes que servo no céu... Rei, mas a que preço?

(John Martin - Satã em concílio, 1831.)



quarta-feira, novembro 07, 2012

O conservadorismo americano e a reeleição de Obama

Facilmente o melhor artigo em português que li até agora sobre o assunto:

http://www.dicta.com.br/a-vitoria-de-obama-e-o-fechamento-epistemico-de-certo-conservadorismo/

A VITÓRIA DE OBAMA E O FECHAMENTO EPISTÊMICO DO PARTIDO REPUBLICANO

Filed under: Sociedade incluído por Joel Pinheiro 
Data do post: 7 de novembro de 2012
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O grande assunto do dia é a reeleição de Obama. Difícil para um brasileiro se posicionar com furor, pois lá o debate é muito diferente do nosso. O primeiro fato que deveria chamar atenção é que, embora quase todos os partidários da esquerda brasileira louvem Obama, ele, e o Partido Democrata como um todo, são muito mais próximos da nossa “direita” (o PSDB) do que do PT. E assim como não há um equivalente do PT por lá, também não há, por aqui, um equivalente do Partido Republicano (mesmo o DEM toma explicitamente, como sua inspiração, o Partido Democrata).
Posso dizer que, se eu fosse americano, votaria no Romney, pois acredito que o que os EUA (e na verdade, todo o mundo) precisam é de um Estado menor e com orçamento sob controle, coisas que a candidatura do Romney supostamente simbolizavam. Falando como brasileiro, contudo, não deixo de reconhecer que a reeleição do Obama tem suas vantagens: entrar nos EUA deve ser mais fácil sob ele, e a politica anti-imigração bem menos pesada. Também parece que Obama é melhor no quesito política externa, sendo menos propenso a entrar em guerra com o Irã (e afinal, de que adianta controlar os gastos do governo em casa se se torra quantidades enormes de recursos comprando bombas e financiando ocupações?).
Não nos deixemos, contudo, levar pela propaganda que cria falsamente dois lados extremamente diferentes. O Obama de 2008, o messias da esquerda, não fechou Guantanamo (de fato, aumentou-a) e tem encabeçado uma guerraparticularmente brutal no Paquistão. Romney, por sua vez, não é nenhum gênio do capitalismo, e seu enriquecimento não se deveu tanto à sua habilidade no livre mercado quanto à astúcia em manipular um sistema - criado e mantido pelo governo – que premia artificialmente o mercado financeiro.
O que mais me intriga nas disputas americanas, contudo, é um outro aspecto. Um aspecto que, de si mesmo, tem tão pouco a ver com o trabalho efetivo dos políticos eleitos que é bizarro constatar que ele seja tão preponderante. Falo da chamada guerra cultural que se desenrola nos EUA, e que aos poucos vem sendo importada para cá. Digo desde já que vejo um grande mérito na existência dela: ao menos, em um país do mundo, alimenta-se uma cultura de debate e discussão em que tudo, ou quase tudo, pode ser questionado. É uma pena, então, que o nível dela seja tão baixo; e grande parte da culpa, parece-me, deve-se exatamente ao lado que, se eu fosse americano, provavelmente seria o meu: o dos Republicanos ou conservadores (cada vez mais sinônimos).
Ser conservador nos EUA envolve aparentemente a aceitação de todo um pacote cultural pré-moldado que determina toda a visão do indivíduo, dando-lhe opiniões prontas sobre todo e qualquer assunto: porte de armas, casamento gay, teoria da evolução (!), política fiscal, aborto, política externa, aquecimento global, religião, imigração, história do país, eutanásia e, nos piores momentos, até o local de nascimento do Obama. A atitude básica é a de que o mundo inteiro, todas as instituições outrora consideradas sérias, está envolvido em uma grande conspiração para abafar a verdade, possuída é claro por alguns luminares da direita.
Nas palavras de Rush Limbaugh, influente radialista da direita americana:
“We’re going to talk about Copenhagen. We really live, folks, in two worlds. There are two worlds. We live in two universes. One universe is a lie. One universe is an entire lie. Everything run, dominated, and controlled by the left here and around the world is a lie. The other universe is where we are, and that’s where reality reigns supreme and we deal with it. And seldom do these two universes ever overlap. A great illustration is what’s happening here with what is now incontrovertibly known as a hoax. ” [a farsa a que ele se refere é a teoria do aquecimento global.]
Romney teve que adotar essa postura durante as longas e embaraçosas primárias de seu partido, embora ele seja sabidamente moderado na vida real. Para ele e para a imensa maioria dos políticos, a polarização do discurso serve principalmente como via fácil para conseguir votos fáceis; dê ao eleitorado conservador alguns espelhinhos da vez (casamento gay, imigração, etc.) que eles te dão carta branca para fazer o que bem quiser. Essa estratégia machuca, contudo, seu apelo entre moderados e os diversos decepcionados com o governo Obama. Sua campanha em nada foi ajudada, também, pelas gafes ocasionais que, embora comuns no casulo do conservadorismo altamente ideologizado, provocam escândalo fora dele. A arte de se escandalizar facilmente com pequenas gafes dos adversários, um truque baixo para conseguir uma aura gratuita de moralidade superior, é aliás comum tanto à direita quanto à esquerda; mas comentários pseudocientíficos ridículos como o do candidato a senador republicano Todd Akin – embora não tenham nem o significado e nem a relevância política que a esquerda tentou dar a eles – são presentes perfeitamente evitáveis dados ao adversário.
Alguns articulistas, mesmo entre os republicanos, falam de um fechamento epistêmico do conservadorismo: os conservadores, cada vez mais, lêem apenas aquilo que confirma sua visão altamente particular do mundo. E passam, assim, a viver em um mundo paralelo. Para muitos, Obama não é apenas um candidato com ideias erradas e políticas desastrosas, mas um revolucionário que quer destruir os EUA e que, se reeleito, finalmente mostrará suas verdadeira face.
Vocês podem imaginar o que significaria para os EUA se, na vitória de hoje de Obama, Romney, ao invés de congratular o adversário como é de praxe, fosse à televisão denunciá-lo como um impostor muçulmano nascido fora do país, como insistem certas franjas do Partido Republicano? Isso seria rebaixar a cultura política e as instituições democráticas mais sérias do mundo ao nível abismal da esquerda, não digo nem brasileira – embora certos setores dela não morram de apreço pela solidez institucional – mas venezuelana ou argentina. Tendo em vista o caráter bipartidário da política americana, seria uma verdadeira calamidade. Em nada
E o pior é que nada disso – o moralismo estridente, o desprezo pela seriedade científica, a incapacidade de ouvir o outro lado – é necessário a uma opção conservadora ou liberal crítica do mainstream. É letal, contudo, a quaisquer pretensão dessas ou outras vertentes de constituir o mainstream.
Há mais ou menos um mês, na coluna Lexington da The Economist, comentava-se que a estratégia de ambos os partidos americanos é cada vez menos persuadir ao outro lado – ou mesmo aos indecisos – e cada vez mais apenas convencer seus próprios partidários a votar. Para esse fim, a propaganda mais exagerada e até mentirosa é preferível a argumentos sólidos.
No final das contas, as instituições e o bom senso americanos falaram mais alto (não por causa da escolha do candidato, e sim da serenidade do processo). A vitalidade da república segue sem grandes percalços. Mas é um tanto lamentável constatar que, justamente no país que poderia nos fornecer alternativas ao discurso já batido da centro-esquerda mundial, vigore cada vez mais o histrionismo e a demagogia fácil do Tea Party e do Occupy. É isso que estamos fadados a imitar?

domingo, outubro 07, 2012

Educação político-eleitoral

O tipo da coisa que deveria ser disciplina obrigatória em escolas: como desconstruir mensagens publicitárias.

quarta-feira, setembro 05, 2012

A empolada linguagem acadêmica

Ando ocupado com a vida offline. Também não ajuda o fato de o Facebook permitir facilmente quase um boletim diário de compartilhamento sem muito esforço. Mas, quando vejo algo digno de nota, é aqui que quero guardá-lo. E este artigo de João Pereira Coutinho é algo que vale muito a pena:

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http://www1.folha.uol.com.br/colunas/joaopereiracoutinho/1147746-batalhas-verbais.shtml

04/09/2012 - 03h00

Batalhas verbais


No dia em que terminei de escrever a minha tese de doutorado, enviei o manuscrito para um colega. E pedi uma opinião sincera.
Três dias volvidos, ele respondeu: "Você vai ser fuzilado pela banca".
O problema estava na qualidade do texto. A tese estava bem escrita. Pior: bem escrita e totalmente compreensível.
Eu tinha cometido uma heresia nas ciências sociais: escrever uma tese de doutorado com o propósito honesto de ser lido e compreendido. Sugestão dele para evitar o desastre: reescrever o texto e transformar cada parágrafo em paralelepípedo.
Lembro essa história agora por dois motivos. Primeiro, porque Barton Swaim escreve na "Weekly Standard" sobre a qualidade da prosa acadêmica. Qualidade atroz, entenda-se. Por que motivo a fauna universitária faz um esforço tão tortuoso para ser tortuosa?
Swaim arrisca três hipóteses. Para começar, as humanidades vivem o complexo de inferioridade que as atormenta desde o século 18, quando as ciências naturais deram o seu salto cosmológico. A impenetrabilidade dos textos humanísticos é uma forma de simular "profundidade".
Depois, existe o problema das influências. Das más influências. O aluno escreve mal porque o supervisor e os seus pares escrevem pior. E porque as revistas da especialidade só publicam esses horrores.
Por fim, a hipótese mais provável: a obscuridade obscurece. Quando nada temos de relevante para dizer, só há uma forma de esconder o vazio: com a babugem das palavras.
Admito que essas hipóteses sejam válidas. Mas se lembro o meu calvário acadêmico é por outra razão: a Morgan Library de Nova York dedica exposição ao escritor Winston Churchill até 23 de setembro. E foi Churchill quem me infetou com o vírus da clareza e da legibilidade.
Sim, eu sei: quando falamos de Churchill, surge a imagem clichê do velho premiê inglês com o seu charuto. O prêmio Nobel da Literatura que ele recebeu em 1953 é visto apenas como prêmio político, uma homenagem ao herói da 2ª Guerra.
Lamento discordar. Churchill merece o Nobel da Literatura como ninguém. Ele é o único escritor do século 20 que mudou o século com a força das palavras. Basta ler os seus livros e discursos para entender a proeza. Uma proeza que, obviamente, começa por ser o resultado de uma vida inteira de leitura.
Primeira lição: não existem grandes escritores que não sejam grandes leitores também. E Churchill era um grande leitor. Biografias apressadas dirão que o rapaz foi aluno relapso e uma nulidade em francês ou matemática.
Essas biografias esquecem-se de acrescentar o resto: a paixão pela História. Ainda na juventude, e nas primeiras campanhas militares, foram os volumes de Macaulay sobre a história de Inglaterra ou a monumental obra de Edward Gibbon sobre a Roma Antiga que acompanharam e formaram o soldado (e jornalista) Winston.
Ler esses primeiros textos de Churchill é sentir, em cada frase, a cadência e a elegância dos mestres da língua inglesa.
Mas Macaulay ou Gibbon não lhe forneceram só os instrumentos técnicos do "métier". Legaram-lhe, sobretudo, uma visão poderosa e inspiradora sobre a grandeza da civilização ocidental --uma grandeza ancorada na liberdade individual e na dignidade da pessoa humana.
Armado com tais certezas, Churchill teve a oportunidade de as testar. Primeiro, na denúncia solitária da Alemanha nazista na década de 1930. E, depois, no confronto direto com Hitler, fazendo com que os ingleses acreditassem no inacreditável: a possibilidade de resistir --e vencer.
Hoje, quando olhamos para trás, dizemos que a Inglaterra ganhou a guerra com o apoio americano e o incomensurável sacrifício soviético. Verdade.
Mas os ingleses ganharam a guerra porque acreditaram também nas palavras de Churchill. Palavras simples sobre a importância da liberdade, da honra e do sacrifício.
Como disse Isaiah Berlin em retrato magistral, a proeza maior de Churchill não foi política ou militar. Foi ter recrutado a língua e a história inglesas para a frente de combate. Elas foram tão importantes como as armas. Brindo a ele.
E, mais modestamente, brindo a mim, que derrotei a banca sem mudar uma vírgula. Cada um trava as batalhas que merece.
João Pereira Coutinho
João Pereira Coutinho, escritor português, é doutor em Ciência Política. É colunista do "Correio da Manhã", o maior diário português. Reuniu seus artigos para o Brasil no livro "Avenida Paulista" (Record). Escreve às terças na versão impressa de "Ilustrada" e a cada duas semanas, às segundas, no site.

segunda-feira, setembro 03, 2012

Entendendo a direita americana

Estudioso que sou do conservadorismo americano -- a primeira década e meia de National Review é tema de minha tese --, gostei muito dessa resenha. Bill Rusher é um dos editores da NR a quem não pude dar atenção, e aqui Kabaservice relembra um dos pontos mais problemáticos da primeira geração de conservadores do pós-guerra: o racismo, ainda que disfarçado por camadas de antiestatismo e libertarianismo aparente. Ele também menciona um ponto importante: o fato de muitas obras sobre os líderes conservadores serem, na verdade, hagiografias para consumo interno do movimento, portanto muito pouco críticas e focadas no que o biografado tem de "melhor". Há dúzias delas, o que não é bom diante da escassez de obras mais isentas. Seja como for, é um assunto de grande interesse nestes tempos em que movimentos como o Tea Party saem dos jornais para se tornarem assunto de séries de TV como a excelente The Newsroom. Por estranhas que certas questões caras aos conservadores americanos possam parecer para um brasileiro, o fato é que eles têm ganhado cada vez mais influência mesmo aqui: basta ver a facilidade com que ideias libertárias e de outras vertentes da direita dos EUA circulam em fóruns políticos e redes sociais. Pode ser um modismo? Sem dúvida, mas, em tempos de globalização e Internet fácil, eu duvido.

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Fonte: http://www.tnr.com/book/review/william-rusher-national-review-david-frisk

The Syndicate

If Not Us, Who? William Rusher, National Review, and the Conservative Movement

by David B. Frisk

ON APRIL 15, 1974, A DEBATE failed to take place at Yale University, even though the speakers were present and the auditorium was full. William Shockley, the Nobel laureate physicist turned eugenicist crank, faced William A. Rusher, the publisher of the leading conservative magazine,National Review. Shockley came to argue that, since black people were intellectually deficient for genetic reasons, the government should support their sterilization. Rusher did not have a problem with Shockley’s racism: “I have no objection to Shockley’s premise,” he wrote. He intended to criticize Shockley only for his misplaced (“liberal”) faith in government’s ability to cure the problem of racial IQ inferiority.
Predictably, the students in the audience shouted down both speakers. The university was overwhelmed by negative publicity, and criticized for blocking free speech. The media made much of the students’ rudeness toward Rusher—didn’t they realize that he was there to oppose the racist viewpoint? (The media reaction was evidence of the success of Rusher’s effort—and the laziness of the press.) The whole episode, in short, was a work of conservative-movement performance art that bore Rusher’s characteristic hallmarks: it was media-savvy, cynical, manipulative, embarrassing to the establishment, possessed of a nasty racial edge, and too clever by half.
The Shockley brouhaha isn’t mentioned in David B. Frisk’s new biography of Rusher. Like most books about the movement that are blurbed, reviewed, published, and read almost exclusively by conservatives, the biography is generally uncritical of its subject and skirts episodes that might discredit the cause. The book is instead concerned with presenting an engaging portrait of the man who spent most of his life known as “the other Bill,” overshadowed by National Review’s flamboyant editor-in-chief, William F. Buckley, Jr. It also makes the case that Rusher strengthened the conservative movement by providing political intelligence and perspective that Buckley lacked. Yet Frisk’s unwillingness to grapple with the grittier details of Rusher’s career curiously undervalues his subject, for in many ways it was Rusher, not Buckley, who was the founding father of the conservative movement as it currently exists. We have Rusher, not Buckley, to thank for the populist, operationally sophisticated, and occasionally extremist elements that characterize the contemporary movement.
Rusher was born in Chicago in 1923, and although he grew up in the New York City area he remained skeptical of the East Coast and its liberal ways for all of his life. Rusher’s parents argued viciously before they divorced, perhaps ruining him for marriage, while also—according to Frisk—teaching him how to win debates by taking advantage of opponents’ weak spots. Rusher mastered his debating skills as an undergraduate at Princeton in the early 1940s, where he acquired another lifelong trait: his resentment of the establishment. Aristocratic swells at pre-war Princeton deemed him an un-clubbable middle-class striver (“black shoe,” in the terminology of the day), instilling a lifelong hatred of liberal elites.
Rusher’s introduction to practical politics began in the early 1950s, not long after his graduation from Harvard Law School, when his involvement in the national Young Republican (YR) federation connected him with the strategic genius F. Clifton White. Rusher and White went on to create a political machine that held the YRs in thrall for decades to come. The Syndicate, as the White-Rusher nation-wide network of low-level Republican operatives became known, allowed the two men to extend their influence beyond the YRs to the broader Republican Party—imitating the structure of New York governor Thomas Dewey’s tightly run national Republican network, which helped to deliver the 1952 and 1956 presidential elections to Dewey’s favored candidate, Dwight D. Eisenhower.
As Rusher’s anti-Communist feelings intensified and he became increasingly aligned with National Review (which he joined as publisher in 1957), the Syndicate began to siphon off power from the Dewey organization and to turn the party away from Dewey-Eisenhower moderation. White and Rusher masterminded the delegate-hunting operation that led to Barry Goldwater’s seizure of the GOP presidential nomination in 1964, and Syndicate alumni went on to high positions in Republican administrations. Many are still active in party politics today.
Scholars, including Frisk, have yet to analyze the Syndicate adequately, mostly because its activities were necessarily sub rosa and directed against moderates inside the GOP rather than Democrats. (Conservatives, by and large, do not write about the movement as impartial scholars, and the internal developments of the Republican Party were out of academic vogue until quite recently.) But the Syndicate provided much of the conservative movement’s ideological content and personnel, as well as its tactics and tone. Many of those tactics were borrowed directly from the Communist Party: manipulation of elections, the creation of front groups, intimidation, slander, agit-prop techniques, and an ends-justify-the-means approach. Rusher was rather proud of his mastery of what he called “the black art of winning conventions” and other political contests, but the darker side of the Syndicate’s influence is still felt today: it provided a template for a movement that knows very much about how to incite resentments and oppose establishments, but very little about how to govern.
Frisk averts his gaze from the Syndicate’s unsavory activities and focuses on more pleasant and often quite fascinating matters, such as Rusher’s relations with Buckley, his debates with other National Review colleagues, his extensive travels to anti-Communist bastions, and his connoisseurship in food and wine. Frisk describes Rusher’s generous mentorship of generations of right-wing activists and his indefatigable correspondence with movement participants. Though Rusher achieved some public prominence through his nationally syndicated column “The Conservative Advocate” (published from 1973 to 2009), his speeches, and his appearances on the PBS television show The Advocates during the ’70s, Frisk’s account suggests that his more significant role may have been as a movement nexus and motivator, a sort of Allard Lowenstein of the right.
In fact, Rusher was something of a sage, outlining the conservative future in 1963 in his essay “Crossroads for the GOP,” which called for the joining of white Southern populists with traditional-minded economic conservatives—a prophetic glimpse of the Southern Strategy that began under Richard Nixon and has continued to the present day. But he had little confidence in his vision. He was quite skeptical that the Republican Party could ever be converted, and devoted much of his energies to a quixotic quest for a conservative third party. As late as 1979, he called the Republican Party “that putrefying corpse,” and asked a friend, “Do you see the slightest evidence that the GOP is really going anywhere?” Ironically, it is Rusher’s polarizing caricature of an America divided into “producers” and “non-producers” that has lived on in the Tea Partiers today.
But Frisk makes a strong case that Rusher was not a mere populist propagandist. Though he was passionately opposed to abortion, for example, he warned pro-lifers that American democracy “requires constant compromise among people who differ passionately.” Still, Rusher was, as he put it (paraphrasing Napoleon), “not very fond of women or games. ... 100 percent a political animal.” Partisan politics colored his whole life, and he apparently had only a single Democratic friend. And he was, ultimately, a hard-shelled conservative warrior.
Frisk has contributed a useful but incomplete biography of an important and neglected figure. Rusher’s significance was not his participation in philosophical debates with Buckley and other conservatives so much as his tireless, decades-long work behind the scenes to build the organizational infrastructure that enabled the ideological takeover of the GOP. We still need a book that can shed more light on how that infrastructure was created, why it succeeded, and how it has affected American politics. Buckley was the creator of the conservative movement we might like to have, but Rusher arguably was the creator of the conservative movement we do have. It would behoove even liberals to learn more about him.

quinta-feira, agosto 30, 2012

Estudos sobre a Paz e a Não-Violência em Berkeley

É um tema fascinante e complexo, a que já me referi em algumas postagens anteriores. Eis aqui, de graça, uma série de palestras que compõem um curso de graduação na Universidade da Califórnia, em Berkeley, que trata do assunto. Infelizmente só a primeira aula foi legendada em português, mas com um pouco de concentração, uma pessoa com inglês intermediário pode entender: http://www.veduca.com.br/play?c=105&a=1.


quarta-feira, agosto 08, 2012

segunda-feira, julho 16, 2012

Começo

Toda história tem seus pontos de virada: portas que abrem (ou fecham), ciclos que começam ou terminam, reviravoltas, ganchos... Hoje foi um primeiro clímax e também um início. Hora de deixar um ninho e começar outro, agora próprio; deixar a família consanguínea e ao mesmo tempo continuá-la com a companheira do coração. Enfim, um novo capítulo que se esboça -- e hão de ser linhas felizes.


quinta-feira, maio 17, 2012

terça-feira, maio 15, 2012

Aterrissagens de três pontos

Tese para escrever, vida para levar, tem sobrado pouco tempo para o Divagações. E o hábito de compartilhar links e atualizar status no Facebook curiosamente acaba dando uma sensação parecida com a de ter blogado, dando vazão a boa parte do impulso de postar. Naturalmente, é um processo um tanto perverso, pois se obtém satisfação similar com menos esforço e provavelmente menos permanência. É como uma droga: sentir grande prazer sem ter feito quase nada que o justifique. Mas minha concentração é limitada, e é possível que a minha rede de contatos no Facebook, longe de gigantesca, seja maior que a audiência deste blog. Mas não importa, o fato é que o afastamento deve muito mais a ocupações outras. Seja como for, o Divagações é meu recanto favorito, mesmo estando silencioso por mais tempo que o desejável. Para romper esse gelo, nada melhor que um pequeno clipe que me provocou a sempre fascinante desnaturalização de um clichê:

quarta-feira, maio 02, 2012

sexta-feira, abril 06, 2012

Quão realista é "Guerra de Tronos"?


Game of Thrones as History

It's Not as Realistic As It Seems--and That's Good


Tyrion Lannister (Peter Dinklage) in the HBO Series 
Game of Thrones (Courtesy HBO).
For half a century, fantasy has essentially been a series of footnotes to Tolkien. Until George R.R. Martin, that is. Martin's epic A Song of Ice and Fire series -- now five novels and counting, with the first two dramatized by David Benioff and D.B. Weiss on HBO as Game of Thrones -- ventures boldly outside the Tolkien box and has revitalized the entire genre in the process. Gone are hobbits, elves, orcs, non-human dwarves, ents, balrogs, and most magical items (although not all magic or magical creatures). Gone too are the Manichaean simplicities of a world in which most characters can be quickly identified as good or evil. Martin's saga has few one-dimensional heroes but many fully fleshed out people.
A Song of Ice and Fire is set in a world modeled after medieval England, and many claim that the series' genius and popularity stems from its accurate and sensitive portrayal of medieval life. Millions of readers and viewers have formed a passionate bond with Martin's creation, this argument runs, precisely because it is not simply made up but, rather, rooted in actual human experience. Martin himself has encouraged this line of thinking, claiming he reads "everything I can get my hands on" about medieval history and even including a bibliography on his Web site for those interested in his source materials. But is the argument correct? Just how realistic is A Song of Ice and Fire?
The short answer is "not very." Before hordes of angry fans launch their trebuchets in my direction, however, let me hasten to add that this is a good thing, not a bad one. As a historian of the period, I can assure you that the real Middle Ages were very boring -- and if Martin's epic were truly historically accurate, it would be very boring too. I'm glad Martin takes all the liberties he does, because I prefer my literature exciting. Medieval people did also, which is why their own most popular literary creations were nearly as fantastic as Martin's.
Noble traitors were usually beheaded, while non-noble ones were executed in more creative ways.
No Geat named Beowulf ripped the arm off a monster named Grendel and then fought the monster's mother in a cave. It is conceivable that there was an actual early medieval Scandinavian warrior-chief named Beowulf, but if so his life was likely spent farming, herding, hunting, fishing, and perhaps judging a few minor local disputes or doing some raiding. There probably was a warlord named something like Arthur living in post-Roman Celtic Britain, but at most he might have led a short, unsuccessful defensive campaign against Saxon invaders. Merlin, Excalibur, the Lady of the Lake, the Grail, Lancelot, Guinevere, Galahad, and all the rest were sketched in by Geoffrey of Monmouth in the twelfth century and his various successors later on. St. George did not slay a dragon; Robin Hood didn't rob from the rich or fight the Sheriff of Nottingham. Just like Martin, the authors of those tales made things up rather than taking their cues from actual life, because the reality around them was so dull and drab.
During the Middle Ages, most peasants and townspeople led a pretty static life. They worked as children, worked as adolescents, and worked as adults; they got married, had children themselves, and died, either quite young or possibly after living to the grand old age of 55. Not much violence interrupted their existence. They could not read, went on no adventures, and had little entertainment except for church services and holy days.
A medieval peasant working in the fields or a laborer toiling in the towns certainly had a more onerous life than a farmer or blue-collar worker today, but the degree of misery should not be overstated. Mundane and boring does not necessarily mean harsh, and harsh does not necessarily mean unhappy. Contemporaneous literary depictions such as Chaucer's Canterbury Tales do not portray the daily existence or mindset of the lower classes as terrible, and the merciless brutality regularly suffered by the lower orders in fantasy works such as Martin's does not reflect reality -- not least because it would have been economically ludicrous for nobles to so abuse the people on whose productivity their own livelihoods depended.
As for the nobles themselves, they had it a bit better. They ate a more varied diet, had more possessions, and met a broader range of acquaintances; they might also have had more education and entertainment. But their lives were still boring. Most men of noble birth would train in military arts that they would never use, and most women would train in domestic arts they would use, repeatedly (although only after their fathers or brothers had bartered them to the most politically well-connected suitor). Violence may have been more diverse at this level of society, but it was unlikely to have been more frequent. There was no incest (at least none recorded), no dwarves, few assassinations.
[Spoiler Alert] Some of the incidents and characters in A Song of Ice and Fire are indeed drawn from actual medieval history. Dragons, for example, were all over the place, especially in England and Scandinavia. They were not real dragons, naturally, but metaphors of evil. Religious icons often depict Saints George and Michael defeating dragons, by lance and feet, respectively. Scandinavian gods and heroes such as Beowulf often slew them in the course of their duties protecting weaker people. And in 1388 the generally trustworthy chronicler Henry Knighton even noted that a "fiery dragon" was seen flying around the north of England.
Cersei Lannister's walk of shame in A Dance with Dragons has both medieval and ancient precedents. Capital punishment was permissible in the Middle Ages really only for one crime: treason. Noble traitors were usually beheaded -- as Ned Stark was -- while non-noble ones were executed in more creative ways. (In 1305, William Wallace was hung until almost dead, then emasculated, ripped open, and, finally, beheaded, after having his intestines wrapped around a pole.) For adultery, humiliation was a standard punishment, and walks of shame were used for noble women. After her capture, Joan of Arc was taken throughout English-occupied France on a very lengthy walk of shame before her trial and burning at the stake for treason (to the Church). Martin has said that he based Cersei's walk on that of Jane Shore, mistress of Edward IV, in the late fifteenth century (although his treatment seems to owe more to William Blake's later representation of it than to the actual penance Jane was forced to endure).
Martin gives Vargo Hoat, the sadistic leader of the Bloody Mummers, the trademark gesture of chopping off his victims' hands and feet. King John of England did that to wounded rebels during his siege of Rochester Castle in 1215, and John of Worcester says that Harold Godwinson did it to Alfred Aetheling and his companions in 1036.
As Martin notes, swords were important. They were the weapons of leadership, both ceremonial objects and effective military tools. A sword could be given to a boy as a gift at birth or naming, and he would grow up playing with it and with other, lighter swords until it became a weapon he could wield with strength and agility. A sword could also be presented when a man proved himself worthy of it, just as Longclaw is given to Jon Snow by the commander of the Night's Watch in A Game of Thrones. And like Longclaw, swords could be named and could have their pommels replaced as necessary or desired.
At the Battle of the Blackwater in A Clash of Kings, Stannis Baratheon's fleet is defeated by canisters of "wildfire" and a massive chain stretched across the river. Here Martin probably has in mind Constantinople, the capital of the Eastern Roman Empire. The Byzantines had in their arsenal Greek fire, a petroleum substance that could be pumped over open fires to create a flame-thrower. The natural beds that produced Greek fire seem to have dried up by the early thirteenth century, but later Muslim armies managed to produce a synthetic version and put it in canisters that could then be thrown by hand or catapult. Such incendiaries were rarely effective and rarely used.
Chains across rivers or harbors, on the other hand, were very effective. A long chain crossed the Golden Horn, protecting Constantinople. How early it was placed there is unknown, but Icelandic sagas record it as a hindrance that had to be overcome when Harald Hardrada, later king of Norway, escaped from the city in the mid-eleventh century: his ship managed to make it over the chain with difficulty, although a companion vessel sank trying to do the same. Other chains protected the harbor on Rhodes, the city of York, the Golubac Fortress on the Danube, and even, centuries later, West Point, on the Hudson.
Martin's depiction of medieval warfare certainly has some accurate points, but, like his description of medieval life more generally, it is far more action-packed than its historical counterpart. The desired result of medieval warfare was usually not death but flight. Trying to kill the enemy was costly and potentially risky; it was easier just to get him to run away. Battles often turned on chance factors such as a leader's death or heroism or the combatants' relative enthusiasm. Good strategy involved finding a way to challenge perceived weaker forces, causing them to panic and rout, and then quickly claiming victory. Often medieval battles took no more time than 20 or 30 minutes from start to finish; longer fights were unusual.
The battle of Courtrai, fought between the French army and rebellious Flemish townspeople on July 11, 1302, was one of the bloodiest of all medieval battles, in part because the townspeople knew that if they lost they might well be massacred. The Flemish army prepared the field for expected French cavalry charges, digging ditches that were often flooded or concealed, and established their lines along a bend in a river to make their own soldiers' desertion difficult. Flemish soldiers did not break and run when the French charged and the battle took several hours to fight. Flemish forces were armed with spears and spike-tipped staves; these were used to knock French cavalry from their mounts, after which a coup de grace could be administered with a dagger. Hundreds of men were killed, perhaps as many as a thousand.
But for every Courtrai there were several Patays (1429), with English troops lying in ambush but being revealed and flushed quickly from the field by the French, and Towtons (1461), with a brief archery exchange followed by a single Yorkist charge that routed the Lancastrians. Neither Patay nor Towton -- nor the endless routine campaigning that involved little violence but lots of boredom, logistical troubles, and dysentery -- makes for good fantasy literature. Martin knows this -- which is why he treats the highly unusual Courtrai level of violence as his norm.
At times, Martin clearly invokes the Wars of the Roses, what with the house of Lannister (Lancaster) locked in a rivalry with the house of Stark (York), and there are parallels to Mongol invasions (the Dothraki), the Hanseatic League (the Free Cities), and so forth. But searching too intensely for the "real" elements beneath the text is pointless, since what is truly captivating about Martin's world -- the detailed descriptions, the strong dialogue, the multifaceted characters, the intricate plots and subplots -- stems from not from his source material but from his own imagination. That turns out to be the true magic.

sexta-feira, março 16, 2012

Nas escadarias da universidade

Quase duas da tarde, dia quente. Saio do campus da UFRJ onde lecionei nos últimos dois anos, e onde tinha passado somente pela banalidade de escovar os dentes após almoçar ali perto. Na saída, vejo no alto da escadaria um rosto levemente familiar, mas passo direto. Já quase no portão, ouço uma voz atrás de mim:

"Professor! Professor!"

Eu me viro. Era a dona do rosto levemente familiar. Entendi na hora que devia ter sido minha aluna, mas não lembrava de quando.

"Você não deve lembrar de mim."

"O rosto é familiar, mas me desculpe, não lembro."

"Eu sou a aluna que disse na sua aula que era comunista."

Lembrei na hora. Segundo semestre de 2011, "Os EUA no século XX", minha última eletiva e playground intelectual. Quase quarenta alunos, uns já meus veteranos de outras disciplinas, a maioria novos para mim. Na primeira ou na segunda aula, lembro de uma garota ter se declarado comunista, o que me chamou a atenção, mas sem maiores elaborações. No resto do curso, era daqueles alunos que mantêm um perfil mais discreto, que tendem a se mesclar no mar de rostos da turma. Ao revê-la, não posso dizer que realmente "lembrei" ter sido ela. (Tem algo de triste em lembrar do fato sem lembrar da pessoa...)

"O senhor vai dar aula de novo?"

"Não, infelizmente meu período aqui acabou. Não volto a dar aula tão cedo aqui. Mas você precisa de ajuda em alguma coisa? Você quer orientação?"

"Não, eu queria aula."

Quando se é professor, é o tipo de coisa boa (e não tão frequente) de ouvir.

“É, você mudou a maneira como eu via os EUA. Até pensei em pesquisar o assunto, mas, mesmo depois de decidir que não, queria conhecer mais.”

“Que bom, é sinal de que o curso cumpriu sua função. A ideia é essa mesmo. Muita gente tem um ranço contra eles. É compreensível, eu mesmo teria, se fosse iraquiano, por exemplo...”

“Então eu queria agradecer.”

Olhei para ela. Já recebi agradecimentos de alunos, geralmente no último dia de aula, quando as despedidas são costumeiras. Mas deve ter sido a primeira vez que um me agradece já no ano seguinte. E ela parecia genuinamente contente ao falar sobre a mudança de perspectiva sobre esse país que tanto nos influencia e é tão vilipendiado.

Não lembro bem o que respondi, só que falei de um outro professor, meu amigo e agora quadro permanente da faculdade, também americanista, que também provavelmente oferecerá disciplinas na área. E agradeci também, pois o que ela me disse servia de estímulo. Professores também gostam de ouvir essas coisas, elas nos propelem a continuar, a dar nosso melhor.

Despedimo-nos e cada um foi para um lado. Mas fui embora agradecido. Se ela tivesse dito simplesmente que as aulas foram boas, confesso, eu não teria ficado muito comovido. Feedback positivo é ótimo, claro, mas pode-se dizer que uma aula é boa sem que tenha representado nada de muito significativo. “Boa” pode ser simplesmente “correta”, o mínimo que toda aula deve ser. Mas mudar a visão de alguém, isso é diferente. É dizer que, pelo menos para uma pessoa, você fez a diferença — que todos aqueles textos, slides e horas de pesquisa, estudo e planejamento valeram a pena. É, enfim, o Santo Graal do educador.

Então, deixo meu muito obrigado a você, Isadora. Não por ter gostado das aulas, mas por me ter tido a generosidade de me fazer lembrar, uma vez mais, que o magistério vale a pena e proporciona algumas alegrias que, como diz o clichê, não têm preço.

Até algum dia.

domingo, fevereiro 26, 2012

sábado, fevereiro 25, 2012

A morte e a esperança


Gosto de ler a Revista Espírita, não só pelos ensinamentos que contém e as hipóteses que apresenta (nem todas incluídas nos livros regulares de Allan Kardec, seu editor), mas também por razões estéticas. Tem-se ali uma variedade de temas, controvérsias e alusões que nenhum tomo doutrinário permitiria. Hoje, preparando-me para uma palestra, eis que me deparei com esta bela oração fúnebre de Victor Hugo, um autor que infelizmente li pouco, mas que desde as primeiras páginas tenho como um dos meus favoritos. E, como se tratava de uma publicação espírita, afinal, foi um dos raros casos em que tal discurso teve uma réplica.
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Revista Espírita, fevereiro de 1865:

Discurso de Victor Hugo junto ao

Túmulo de uma Jovem

“Em algumas semanas ocupamo-nos de duas irmãs: casamos uma e sepultamos a outra. Eis o perpétuo tremor da vida. Inclinemo-nos, meus irmãos, ante o severo destino.

“Inclinemo-nos com esperança. Nossos olhos não foram feitos para chorar, mas para ver; nosso coração não foi feito para sofrer, mas para crer. A fé numa outra existência nasce da faculdade de amar. Não o esqueçamos: nesta vida inquieta e apaziguada pelo amor, é o coração quem crê. O filho conta encontrar a seu pai; a mãe não consente em perder para sempre o filho. Esta recusa do nada é a grandeza do homem.

“O coração não pode errar. A carne é um sonho; ela se dissipa. Se esse desaparecimento fosse o fim do homem, tiraria à nossa existência toda sanção. Não nos contentamos com esta fumaça que é a matéria; precisamos de uma certeza. Quem quer que ame, sabe e sente que nenhum dos pontos de apoio do homem está na Terra. Amar é viver além da vida. Sem esta fé, nenhum dom perfeito do coração seria possível; amar, que é o objetivo do homem, seria o seu suplício. O paraíso seria o inferno. Não! digamos bem alto, a criatura amante exige a criatura imortal. O coração necessita da alma.

“Há um coração neste féretro, e esse coração está vivo. Neste momento ele escuta minhas palavras.

“Emily de Putron era o doce orgulho de uma família respeitável e patriarcal. Seus amigos e parentes tinham por deleite sua graça e por festa seu sorriso. Ela era como uma flor de alegria a desabrochar na casa. Desde o berço era cercada de todas as ternuras; cresceu feliz e, recebendo felicidade, dava felicidade; amada, amava. Ela acaba de partir.

“Para onde foi? Para a sombra? Não.

“Nós é que estamos na sombra. Ela está na aurora.

“Ela está na glória, na verdade, na realidade, na recompensa. Essas jovens mortas, que não fizeram nenhum mal na vida, são bem-vindas do túmulo, e sua cabeça se ergue suavemente fora da sepultura, para uma coroa misteriosa. Emily de Putron foi buscar no céu a serenidade suprema, complemento das existências inocentes. Ela se foi: juventude, para a eternidade; beleza, para o ideal; esperança, para a certeza; amor, para o infinito; pérola, para o oceano; Espírito, para Deus.

“Vai, alma!

“O prodígio desta grande partida celeste, que chamam morte, é que os que partem não se afastam. Estão num mundo de claridade, mas assistem, como testemunhas enternecidas, ao nosso mundo de trevas. Estão no alto, e muito perto. Ó, quem quer que sejais, que vistes desaparecer na tumba um ente querido, não vos julgueis abandonados por ele. Está sempre lá. Está ao vosso lado mais que nunca. A beleza da morte é a presença. Presença inexprimível das almas amadas, sorrindo aos nossos olhos em lágrimas. O ser chorado desapareceu, mas não partiu. Não mais percebemos o seu rosto suave... Os mortos são os invisíveis, mas não estão ausentes.

“Rendamos justiça à morte. Não sejamos ingratos para com ela. Ela não é, como se diz, um aniquilamento, uma cilada. É um erro acreditar que tudo se perde na obscuridade desta fossa aberta. Aqui tudo reaparece. O túmulo é um lugar de restituição. Aqui a alma retoma o infinito; aqui ela readquire a sua plenitude; aqui entra na posse de sua misteriosa natureza; liberta-se do corpo, liberta-se da necessidade, liberta-se do fardo, liberta-se da fatalidade. A morte é a maior das liberdades. É, também, o maior dos progressos. A morte é a ascensão de tudo o que viveu em grau supremo. Ascensão fascinante e sagrada. Cada um recebe o seu aumento. Tudo se transfigura na luz e pela luz. Aquele que na Terra só foi honesto torna-se belo; o que foi apenas belo torna-se sublime; o que só foi sublime torna-se bom.

“E agora, eu que falo, por que estou aqui? o que é que trago a esta fossa? com que direito venho dirigir a palavra à morte? Quem sou eu? Nada. Engano-me, sou alguma coisa. Sou um proscrito. Exilado pela força ontem, exilado voluntário hoje. Um proscrito é um vencido, um caluniado, um perseguido, um ferido do destino, um deserdado da pátria. Um proscrito é um inocente sob o peso de uma maldição. Sua bênção deve ser boa. Eu abençoo este túmulo.

“Abençôo o ser nobre e gracioso que está nesta fossa. No deserto encontram-se oásis; no exílio encontram-se almas. Emily de Putron foi uma dessas encantadoras almas encontradas. Venho pagar-lhe a dívida do exílio consolado. Eu a abençôo na profundeza da sombra. Em nome das aflições sobre as quais ela resplandeceu docemente, em nome das provações do destino, para ela acabadas, para nós continuadas; em nome de tudo o que ela esperou outrora e de tudo o que obtém hoje, em nome de tudo o que ela amou, abençôo esta morte, abençôo-a na sua grandeza, na sua juventude, na sua ternura, na sua vida e na sua morte; abençôoa na sua branca túnica sepulcral, na sua missão que deixa desolada, no seu caixão, que sua mãe encheu de flores e que Deus vai encher de estrelas!”

Tendo sido lido o discurso acima na Sociedade de Paris, na sessão de 27 de janeiro de 1865, o Espírito da jovem Emily de Putron, que, por certo, o escutava e partilhava da emoção da assistência, manifestou-se espontaneamente pela Sra. Costel e ditou as seguintes palavras:

“As palavras do poeta correram como um sopro sonoro sobre esta assembléia; fizeram estremecer os vossos Espíritos; evocaram minha alma, que ainda flutua incerta no éter infinito!

“Ó, poeta, revelador da vida, bem conheces a morte, pois não coroas com ciprestes aqueles a quem choras, mas prendes às suas frontes as frágeis violetas da esperança! Passei rápida e ligeira, apenas aflorando as comoventes alegrias da vida; ao final do dia fui arrebatada sobre o trêmulo raio que morria no seio das ondas.

“Ó minha mãe, minha irmã, minhas amigas, grande poeta! não choreis mais; ficai atentos! O murmúrio que roça os vossos ouvidos é o meu; o perfume da flor pendente é o meu suspiro. Misturo-me à grande vida para melhor penetrar o vosso amor. Somos eternos; o que não teve começo não pode acabar, e o teu gênio, ó poeta, semelhante ao rio que corre para o mar, encherá a eternidade com o poder que é força e amor!

Emily”

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Relatos de viagem na América Latina

Para quem gosta de história, esta é imperdível: relatos de viagem em várias línguas e de várias épocas, tudo grátis: http://library.brown.edu/cds/travelogues/browse.html.

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Obsolescência programada

Um filme sobre um assunto de interesse geral: por que nossos aparelhos e utensílios duram tão pouco?


sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Na era dourada do rádio americano

Ouvir Vincent Price narrando uma história de terror e o Padre Coughlin fazendo críticas às federações sindicais no tempo do New Deal não tem preço. Para todos que gostam de um inglês bem impostado e querem sentir um pouco do "sabor" de uma era em que "multimídia" era cinema falado: http://www.otrcat.com.

terça-feira, fevereiro 07, 2012

sábado, janeiro 28, 2012

Bolívia homenageia "Chaves"

Uma homenagem merecida.

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8/01/2012 - 19h03

Bolívia faz homenagem a ator de "Chaves" por seus 40 anos de carreira

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DA EFE, EM LA PAZ

Atualizado às 20h19.

Mais de 2.000 bolivianos homenagearam neste sábado o comediante mexicano Roberto Gómez Bolaños, o "Chespirito", intérprete do Chaves e do Chapolin, com um festival de dança dedicado a seus 40 anos de carreira como parte dos tributos que acontecerão em vários países da América Latina.

Veja galeria de fotos da homenagem

Crianças, jovens e inclusive adultos disfarçados com os populares personagens do humorista fizeram durante várias horas uma coreografia em massa na praça San Francisco em La Paz, em um ato organizado pelo canal "Bolivisión".

O local ficou lotado de imitadores do "Chaves", "Chapolin", "Quico", "Chiquinha", "Dona Florinda", "Professor Girafales", "Doutor Chapatin" e "Bruxa do 71", entre outros.

A chefe de Marketing da emissora, Paola Jordán, disse à Agência Efe que a Bolívia é o primeiro país onde é feita a coreografia em para devolver a "Chespirito" o carinho que ele concedeu aos latino-americanos durante 40 anos de televisão.

A homenagem, denominada "América celebra Chespirito", será realizada em 17 países, entre eles Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Equador, Estados Unidos, México, Peru e Nicarágua.

As celebrações na Bolívia incluem concursos para escolher os melhores imitadores do Chaves e descobrir histórias reais parecidas com as do personagem televisivo.