sábado, dezembro 31, 2011

Ano Novo



E lá vem 2012. Haverá crises internacionais, algumas tragédias humanitárias. Haverá invenções "revolucionárias", algumas das quais ainda serão lembradas depois de seis meses. Haverá novos gadgets sendo lançados e procurados pelos "descolados" que acham que o mundo começou com o iPhone. A natureza vai dar uns soluços aqui e ali. Cidades sofrerão com as chuvas de verão no Brasil. Haverá eleições nos EUA. A medicina fará avanços notáveis. Livros "bomba" farão sucesso. Hollywood lançará algum megasucesso adolescente com 3 continuações já previstas. Estourarão protestos por todas as causas e por toda parte. Você conhecerá pessoas novas, notará que outras sumiram. Muitos conquistarão o sonhado diploma, outros passarão no vestibular. E mais uma novela lançará um novo bordão.

Isso não é tão importante. É tudo cíclico. 2012 virá, como 2011, 2005, 2000... Todos têm seus marcos, com alguns destaques neste ou naquele campo. O importante é o que une todos eles: você. Você foi testemunha de todas essas coisas, e ainda será outras vezes. O que fez com isso? O que ainda fará? O que quererá fazer -- ou quererá querer fazer?

Hoje é ótimo dia de balanço. Mas amanhã será um dia comum. Você ainda será você. Mas que "você" você terá de ser para que o ano seja realmente novo?

Feliz 2012.

segunda-feira, dezembro 19, 2011

sexta-feira, dezembro 16, 2011

Adeus, Hitch...

Conheci-o muito recentemente, graça à insistência de um amigo que é seu fã. Sou grato pela insistência, pois Hitchens realmente vale ser lido. Mas justamente agora que o descobri, ele se foi. Sempre o contrarian, deve ter ido por pura teimosia: mais conhecido nos últimos anos por conta de seus ataques à religião, deve ter ido fazer a demonstração final de que Deus não existe. É uma pena que não leremos o ensaio que escreveria com suas conclusões -- eu, que sou espírita, adoraria ler Hitchens se retratando numa questão que então já não seria nem abstrata nem filosófica.

Gostaria de terminar com o clássico Requiescat in pacem, mas sinceramente não acredito em descanso póstumo, e tampouco para as mentes ágeis como a de Hitch. Hão de lhe dar o que fazer no Grande Além tão logo se recupere. E também não é difícil antever, depois de alguns anos de ateísmo militante e críticas ácidas, que parte de seu futuro terá a ver justamente com as convicções que difundiu. Mas divago. Hitchens foi herói para uns e a proverbial pedra no sapato para outros (de Henry Kissinger a Madre Teresa), mas o fato que ajudou a tornar nossas vidas um pouco mais informadas e reflexivas. Por trás de muitos textos seus, nota-se o candente questionamento moral, a inconformação com os clichês, as perguntas que nem todos se atreviam a fazer. Nisso, ele me lembra o velho Sócrates. Então, de certa forma, pode-se bem defender que Hitchens foi daqueles que contribuíram para deixar seus leitores um pouco mais atentos e inteligentes. Fico feliz de tê-lo descoberto e, por isso, egoísta como quase todos somos nesses momentos, lamento sua partida. Mas é próprio dos grandes homens que sobrevivam ao seu próprio fim corporal. Um mestre das atualidades, não sei se a obra de Hitchens ainda será lembrada daqui a 50 ou 100 anos; mas, hoje, ela é preciosa e é por ela que, talvez a despeito do que ele próprio preferiria, dedico-lhe uma prece respeitosa.

Até logo, Hitch.
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Christopher Hitchens is Dead at 62


Iconoclast and public intellectual passes away at a Houston hospital after battle with cancer.

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Christopher Hitchens passed away at the age of 62.

Christopher Hitchens is dead.

The prolific journalist, well-known public intellectual and noted contrarian, who is perhaps most famous in the eyes of many Americans for his best-selling exegesis against religion, passed away Thursday at the MD Anderson Cancer Center in Houston, Texas. He was 62.

Hitchens, a contributing editor at Vanity Fair and The Atlantic, and a regular columnist at Slate, discovered in June 2010 that he had Stage 4 esophageal cancer, a diagnosis that forced the iconoclast to curtail what had once been a full schedule of public appearances but that did little to slow his prodigious output of essays, columns and book reviews up until the very end.

At a rare public appearance in his final months, Hitchens conceded that his time was running short, but said that he had no plans to give up his life's work in the face of his deteriorating health. "I'm not going to quit until I absolutely have to," he said then, drawing an ovation from the crowd.

Hitchens lived up to that promise, authoring articles for a number of publications during his final weeks on everything from American politics to his own mortality. Writing for Vanity Fair in a piece that was published only days before he died, Hitchens reaffirmed that he hoped to be fully conscious and awake as he passed away, "in order to 'do' death in the active and not the passive sense," much as he had previously explained to his readers was his wish even before he learned of his cancer and prognosis.

"I do, still, try to nurture that little flame of curiosity and defiance: willing to play out the string to the end and wishing to be spared nothing that properly belongs to a life span," he wrote.

Born in Portsmouth, England, in 1949, Hitchens studied at Oxford before launching his journalism career in the 1970s with the magazines International Socialism and the New Statesman. In the early 1980s, he emigrated to the United States, where he was a regular columnist at The Nation for two decades before parting ways with the liberal magazine after proudly disagreeing with its editors about the Iraq war.

Hitchens won the National Magazine Award for commentary in 2007, the same year that he became an American citizen on his 58th birthday. Foreign Policy named him to its list of the top 100 public intellectuals the following year, and Forbes magazine labeled him one of the 25 most influential liberals in the U.S. media in 2009, a distinction that took some by surprise given Hitchens's vocal support of George W. Bush's war on terror.

He was a frequent guest on news programs and at public debates, and rarely passed up the opportunity to defend his positions when given the opportunity to do so. He was the author of nearly 20 books, including God is Not Great: How Religion Poisons Everything, The Trial of Henry Kissinger, Hitch-22: A Memoir, and Arguably, a collection of his more recent essays that was published earlier this year.

Hitchens remained steadfast in his criticism of religion even in the face of his grim prognosis. In an August 2010 interview with Jeffrey Goldberg, his colleague at The Atlantic, Hitchens made it known that even if he were to somehow recant his devout atheism on his deathbed, any apparent conversion would be a hollow gesture. "The entity making such a remark might be a raving, terrified person whose cancer has spread to the brain," he said. "I can't guarantee that such an entity wouldn't make such a ridiculous remark. But no one recognizable as myself would ever make such a ridiculous remark."

You can find his Slate columns here, his Vanity Fair pieces here, and his Atlantic work here.

Slate friends and family will have more on Hitchens, his work and his legacy in the coming hours and days. Follow The Slatest on Twitter for updates when new Hitchens-related content is published.


sexta-feira, dezembro 02, 2011

O dilema de Sócrates


Penso agora em Sócrates. Pergunto-me se, às vezes, ele não se sentia muito só. Afinal, vagava pelas ruas interpelando homens comuns e respeitados, supostos tolos e pretensos sábios, fazendo perguntas que ninguém mais se lembrava de fazer e, no entanto, sem achar uma resposta definitiva. Sim, Sócrates buscava a Verdade, mas não chegava jamais a ela. Ao contrário de Buda, ele nunca chegou à "iluminação"... A realidade suprema não o agraciou com uma revelação, não desvendou seus segredos para seus olhos... Nisso, Sócrates era igual a todos os outros homens e mulheres. Porém, e aí talvez residisse sua dor, nem por isso ele deixou de desenvolver uma mente afiada demais, perspicaz demais, que, se não chegava à Verdade, também já não era capaz de se contentar com os engodos do dia a dia. Dura condição a sua: incapaz de alcançar o ápice, mas elevado demais para voltar à vala comum. Que espetáculo seria ver o mundo por tais olhos, nem santos nem mortais, mas pairando num estranho e fascinante meio-termo... Quem poderia entendê-lo realmente? Com quem dividir todas as ideias, reflexões e insights que deviam a toda hora lampejar por sua mente dividida? E que fazia ele nas horas de cansaço, quando a miopia dos outros parecia um muro inexpugnável? Como falar da busca da Verdade com quem já a julgava possuí-la, pobre e mesquinha?

Para Sócrates, a sabedoria é um peso. Mas pior que ela, que abre os olhos para a dor silenciosa do mundo, é não tê-la. Ai do que busca ser sábio! Mas que os deuses se apiedem dos que nem mesmo lembram que são ignorantes!