quarta-feira, novembro 03, 2004

Four More Years...





E aconteceu. Apesar do esforço coordenado de milhões, das centenas de milhares de páginas virtuais e impressas, de todos os debates, do bombardeio permanente de inúmeros analistas ao redor do globo, e mesmo do documentário recordista de vendas de todos os tempos, prevaleceu o slogan, e, num chiste poético do destino, foi Arnold Schwarzenegger o seu profeta: “Four More Years!” com George W.

Os últimos quatro foram quase inacreditáveis. O republicano com fama de idiota, com aspirações de John Wayne, mestre no trocadilho involuntário e generoso fornecedor de gafes que fizeram a delícia da grande imprensa, viu-se repentinamente confrontado com uma catástrofe sem precedentes e jogado no posto de liderança do mundo “civilizado”. Podemos apenas imaginar o que se passou em sua cabeça quando percebeu o que estava acontecendo. Talvez uma pista seja o olhar vago no momento em que soube do ataque ao World Trade Center, quando em visita a uma escola infantil: por minutos que se recusavam a passar, vimos um homem hesitar diante do desconhecido. A experiência do papai não incluía aquilo. Já fora tão difícil chegar ao posto, numa eleição que abalou as bases de uma democracia orgulhosa; mas agora a Terceira Guerra Mundial tinha de explodir, “e logo no meu mandato?” Era o que ele parecia refletir naqueles minutos, enquanto folheava em silêncio um livro de histórias. Enquanto as torres queimavam e o mundo entrava em choque, um homem poderoso tomava consciência de seu destino em uma classe infantil. Nada mais apropriado.

E veio a vingança. O cowboy sacou de suas armas e partiu para o duelo pôr-do-sol. Chega de bobagens! Nada de dúvidas! Vamos combater o mal onde quer que esteja, quem quer que ele seja, sem frescuras legais ou diplomáticas. E ele soube fazê-lo como ninguém: era hora de tomar aquelas medidas que quase todo o mundo, protegidos em sua privacidade, diz serem necessárias, mas não tem coragem de admitir. Fora com os bárbaros talibãs! Fora com os opressores de mulheres e guardiões de terroristas! Fora com os idiotas que falam em direitos humanos enquanto as torres ainda fumegam! Fora com a Convenção de Genebra! Fora com o direito de defesa e a presunção de inocência! Para que um beduíno imundo e nômade precisa de um advogado, quando a liberdade e a democracia estão sob ataque? É preciso levar a liberdade aonde ela nunca existiu, exportar os valores que fizeram dos Estados Unidos da América a nação mais próspera da Terra! Como alguém poderia pensar em recusar essa oportunidade?

E assim pensando foram os novos cruzados, heróicos e galantes em sua busca de justiça, plenos de autoconfiança. Teriam derrotado qualquer um que os confrontasse cara a cara. Sua força e seu poder não conheciam igual. E, como se não bastasse, tinham Deus ao seu lado, como os fiéis de George W. jamais esqueciam. O resultado de tanta valentia e crença na própria retidão foi a queda do Talibã, a esperança fugaz de que tudo que faltava para uma democracia no Oriente Médio era alguém forte o bastante para instaurá-la e, um pouco depois, uma série ridícula de erros de cálculo. Com todo seu poder e suas supostas boas intenções, George W. e sua entourage se esqueceram de que é muito fácil para uma superpotência vencer um combate em que é tudo ou nada; mas que “reconstruir” um país exige um plano. Não basta afastar o vilão, é preciso ensinar seus súditos a serem “mocinhos”. Querer aprender já seria de grande ajuda, mas parece que George W. nem sempre é muito persuasivo. Que o digam os seus aliados europeus, que, mesmo quando mandaram homens para as desforras americanas, sempre foi numa proporção mínima: o país que mais tem tropas no Iraque, depois dos EUA, é a Grã-Bretanha; mas, enquanto os militares estadunidenses chegam a 138 mil, os britânicos têm pouco menos de 9 mil. Não é o que se pode chamar de um apoio muito sólido, convenhamos.

Mas nada disso importa agora. George W. ganhou “four more years” para corrigir seus erros e, Deus seja piedoso, cometer mais alguns. O déficit do país continua aumentando, a distância entre Igreja e Estado vem diminuindo, o sistema de saúde vem sendo privatizado e não faltam inimigos a quem levar a “democracia e a liberdade” com canhões e filiais da Halliburton. É verdade que poderá haver fatores positivos também. Quais, exatamente, é difícil dizer. Contudo, não é a esperança a última que morre? Mesmo que a democracia americana vá antes...

Um comentário:

Anônimo disse...

É meu amigo, o problema todo é que em alguns dias o Bush pode mudar a vida de milhões de pessoas dentro e fora dos E.U.A, imagine em mais 4 anos.Deus nos ajude ...
Bjos
Claudinha