terça-feira, setembro 28, 2010

O adeus de uma saudade


Há saudades que morrem. O trágico é que o fazem discretamente e, quando se nota, só restam tênues vestígios -- memórias de sentimentos finalmente passados, leves manchas a sinalizar que ali havia a poderosa vitalidade do luto, da dor da ternura a distância. A primeira analogia é a dos fósseis, que gravam na rocha apenas o contorno do que um dia foi o esplendor colorido de uma vida. Mas há uma consolação: a de que as saudades falecidas nunca têm morte súbita. Pelo contrário, é longa e previsível a sua agonia -- às vezes sutil, mas constante. A cada dia, é um pouco de seu fôlego que se esvai, é um pensamento a menos que ocupa, até que, finalmente , damo-nos conta de que ela não existe mais. Foi-se quieta para o Além do coração, juntar-se aos amores, tristezas, decepções, entusiasmos, alegrias, incertezas, expectativas e os muitos desejos que um dia a antecederam e prepararam. Em seu lugar, agora um campo livre a se regenerar, como após um incêndio. Passadas as chamas e a fase estéril das cinzas, logo brotam as primeiras ervas e a vida retoma o que é seu.

2 comentários:

Anônimo disse...

que divagação legal!

Thais, The Wanderer disse...

Um certo vazio continua, mas ele jamais será tocado. O que realmente muda é a percepção da dor: Enquanto recente, é terrivelmente latente... E após toda a agonia, a saudade nostálgica é o que fica.