quarta-feira, julho 25, 2007

A nossa natureza "imoral"

Já falei antes aqui sobre a sociobiologia -- a idéia de que muitos dos comportamentos humanos podem ser explicados por uma abordagem darwinista. Dado o papel que o impulso reprodutivo tem nela, em seus aspectos fundamentais, não é tão diferente assim da psicanálise freudiana: por trás de muito do que fazemos estaria, simplesmente, o sexo, ainda que a linguagem da sociobiologia enfatize os genes e não um mecanismo psíquico. De qualquer forma, como era de se esperar, a visão de mundo sociobiológica, surgida da zoologia, previsivelmente tornou-se uma corrente psicológica chamada "evolucionista".

Uma das maiores dificuldades da perspectiva sociobiológica é o determinismo nela implícito. Acostumados que estamos a nos ver como seres especiais, é difícil, uma vez que se aceite a análise sociobiológica, resistir à idéia de que somos apenas animais mais imaginativos que, não obstante, mantêm-se escravizados à sua programação genética. Nossas preferências, gostos, motivações, e até algumas de nossas ideologias e religiões, seriam no fundo apenas estratégias sofisticadas ligadas à obsessão de passar nossos genes adiantes. E o pior é que, da maneira como são apresentadas, essas explicações parecem tão abrangentes e lógicas que é difícil resistir a elas sem um certo grau de informação e pesquisa. É sempre muito tentador retomar a idéia de natureza humana como chave explicativa de tudo que fazemos, sentimos e desejamos. Como demonstraram os darwinistas sociais do século XIX e início do XX, de chave explicativa para tese legitimadora do status quo, ou coisa pior, bastam poucos passos.

De minha parte, considero-me um moralista. Não, isso não significa que eu use o preto severo dos velhos pregadores puritanos e saia por aí brandindo maldições contra a corrupção dos costumes; nem tampouco que eu siga um código estrito e "ultrapassado" de conduta. Longe disso. Meu moralismo se refere ao sentido mais antigo dessa palavra, de alguém que se preocupa com noções de certo e errado, que reflete (ou tenta refletir) sobre as ações humanas e procura referenciá-las a algum padrão ético. No meu caso, um padrão transcendente que não se reduz a instintos e programação genética, e nada tem a ver com estratégias reprodutivas. Embora reconheça tais forças como relevantes, de forma alguma admitiria que elas devam ser a nossa meta, ou a única fonte de nossos atos.

Entretanto, o quão relevantes elas são? De que formas somos influenciados por elas? Eis o tipo de coisa em que a sociobiologia, com todas as suas controvérsias, pode ser útil. Afinal de contas, até para cultivar o espírito é preciso conhecer também o animal que também vive em nós.

O artigo parcialmente reproduzido abaixo ilustra o quanto a perspectiva sociobiológica vem avançando nas ciências humanas, mas seus autores felizmente não chegam a ser radicais como Richard Dawkins. O texto apresenta alguns dados empíricos muito interesantes, e sua versão integral está disponível neste endereço. Vale a pena a leitura.

-------
Ten Politically Incorrect Truths About Human Nature
Why most suicide bombers are Muslim, beautiful people have more daughters, humans are naturally polygamous, sexual harassment isn't sexist, and blonds are more attractive.


Human nature is one of those things that everybody talks about but no one can define precisely. Every time we fall in love, fight with our spouse, get upset about the influx of immigrants into our country, or go to church, we are, in part, behaving as a human animal with our own unique evolved nature—human nature.

This means two things. First, our thoughts, feelings, and behavior are produced not only by our individual experiences and environment in our own lifetime but also by what happened to our ancestors millions of years ago. Second, our thoughts, feelings, and behavior are shared, to a large extent, by all men or women, despite seemingly large cultural differences.

Human behavior is a product both of our innate human nature and of our individual experience and environment. In this article, however, we emphasize biological influences on human behavior, because most social scientists explain human behavior as if evolution stops at the neck and as if our behavior is a product almost entirely of environment and socialization. In contrast, evolutionary psychologists see human nature as a collection of psychological adaptations that often operate beneath conscious thinking to solve problems of survival and reproduction by predisposing us to think or feel in certain ways. Our preference for sweets and fats is an evolved psychological mechanism. We do not consciously choose to like sweets and fats; they just taste good to us.

The implications of some of the ideas in this article may seem immoral, contrary to our ideals, or offensive. We state them because they are true, supported by documented scientific evidence. Like it or not, human nature is simply not politically correct.

Adapted from Why Beautiful People Have More Daughters, by Alan S. Miller and Satoshi Kanazawa, to be published by Perigee in September 2007.

  1. Men like blond bombshells (and women want to look like them)

    Long before TV—in 15th- and 16th- century Italy, and possibly two millennia ago—women were dying their hair blond. A recent study shows that in Iran, where exposure to Western media and culture is limited, women are actually more concerned with their body image, and want to lose more weight, than their American counterparts. It is difficult to ascribe the preferences and desires of women in 15th-century Italy and 21st-century Iran to socialization by media.

    Women's desire to look like Barbie—young with small waist, large breasts, long blond hair, and blue eyes—is a direct, realistic, and sensible response to the desire of men to mate with women who look like her. There is evolutionary logic behind each of these features.

    Men prefer young women in part because they tend to be healthier than older women. One accurate indicator of health is physical attractiveness; another is hair. Healthy women have lustrous, shiny hair, whereas the hair of sickly people loses its luster. Because hair grows slowly, shoulder-length hair reveals several years of a woman's health status.

(Continua...)





Um comentário:

clabrazil disse...

Adorei o artigo. Vou checar o link. Beijos,
Cla