A sociedade brasileira acaba de ser ver às voltas com mais um dilema. Porém, um que não parece permitir o adiamento, o "longo prazo" implícito no discurso de sociólogos, planejadores e outros especialistas que quase sempre repetem os mesmos apelos vagos na mídia, entremeados de jargões e títulos acadêmicos. Podemos ter chegado ao ponto em que o conceito de "bem maior" se constituirá de um conjunto de "males menores" que certamente serão marcados pela brutalidade e o derramamento excessivo de sangue. Outros países já alcançaram essa encruzilhada, talvez tenhamos atravessado o limiar que conduz a ela.
Vale a pena ler o artigo de Guilherme Fiúza e os comentários que despertou: http://politicaecia.nominimo.com.br/?p=339.
As perguntas que me vêm no momento é: teremos fibra para evitar a via da brutalidade como resposta imediata a uma onda de terror que só tende a crescer? Teremos, como coletividade, a serenidade de aguardar mudanças institucionais? Ou simplesmente reagiremos com dúzias de Carandirus, pagando na mesma moeda a ousadia de um crime que parece ter deixado sua natureza de busca inescrupulosa e sub-reptícia de lucro em prol de uma confrontação direta com o Estado?
Leio nas manchetes que os candidatos à presidência evitaram o tema da segurança em seus programas eleitorais. Duvido que possam fazê-lo por muito tempo. Mas também duvido que tenham idéia de como administrar a situação que ora se apresenta. É bem possível que a repetição do cenário paulista, e seu previsível alastramento por outros estados à medida que a eficiência do terrorismo ficar demonstrada, force-os a uma tomada de posição. Contudo, dado o histórico recente de promessas não cumpridas e falta de persistência em medidas já aprovadas, além da notória capacidade de alguns juristas em declarar inconstitucionalidades em horas impróprias, é difícil que haja propostas concretas. Teremos mais jargão, mais promessas, mais vacuidade --tudo temperado com ônibus queimados, execuções de familiares de agentes policiais, boatos aterrorizantes e, agora, jornalistas seqüestrados. E uma vez que aceitemos oficialmente a noção muito difundida de que estamos em guerra, quanto tempo vai levar para nos tornarmos tão sedentos de sangue quanto os inimigos que pretendemos vencer? Aliás, quanto tempo vai levar, se ainda precisaremos de algum, para igualar a vitória à mera eliminação física do maior número possível de presidiários? Afinal, se se reconhece que a punição máxima prevista em lei -- o envio do criminoso à prisão -- é ineficaz, o que mais resta senão a pena de morte, de preferência imediata e sem julgamento? Se não se pode confinar aquele que nos ameaça...
Seja qual for o resultado dessa mudança na relação entre criminosos (terroristas?) e a sociedade em geral, parece-me que já sofremos ao menos uma grande derrota moral. Pois do medo à raiva, e desta à legitimação do vale-tudo contra a figura do inimigo, é preciso muito pouco.
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