Ambas nos fazem sentir estáveis, porém a paz é plena de promessas, não nos nega possibilidades e quiçá mudanças de rota; a estagnação é uma renúncia permanente, um eterno deixar passar de coisas que nos roçam de leve o desejo e logo são esquecidas sem recurso.
Para a paz, é sempre tempo; para a estagnação, sempre o tempo se perdeu.
A paz nos conduz, e se deixa conduzir; a estagnação nos emperra. Uma é o sopro de frescor nas horas de dificuldade; a outra não passa de uma falta de brisa.
A paz não exclui a esperança e a novidade, antes adapta-se ao seu movimento como numa dança; a estagnação não olha para o dia de amanhã, pois ele nada mais é que um novo ontem.
A paz acalenta e repousa; a estagnação prostra e exaure. Pois os pacíficos se recolhem para a renovação, e os estagnados se atolam num infindável presente.
A paz acalma os pensamentos, ordena-os, amplia-os por lhes abrir a opção da profundidade; a estagnação é sempre rasa, pois o tédio a tudo amortece.
A paz se permite algumas lágrimas de comoção pelas dádivas que encontra pelo caminho; a estagnação também chora, mas pelas dádivas que a encontraram e ela não as reconheceu.
A paz flui na harmonia; a estagnação bóia na recorrência.
A paz se transmite, se irradia aos que a contemplam; a estagnação, egoísta, não se partilha.
A paz cresce; a estagnação incha.
A paz é certeza; a estagnação é a dúvida sufocada.
A paz ama; a estagnação acomoda-se.
A paz evolui; a estagnação se detém.
A paz nem de longe se confunde com a mesmice, como o mar não se confunde com um charco; a estagnação jamais será inteiramente tranqüila, como uma poça não pode ser um lago, por sempre destinada a secar.
A paz é um sonho bom que nos consola e acarinha ao longo de todo o dia; a estagnação não tem sonhos — apaga-se a cada noite e continua opaca ao longo de todo o dia, quando não de toda a vida.
Um comentário:
Excelente para ser lido em uma bela madrugada, como eu fiz. Muito verdadeiro. Gostei da analogia com a âncora, muito apropriada e original.
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