segunda-feira, novembro 22, 2010

"As regras do amor"

Quão peculiar é viver numa época em que o amor tem "regras"... Mas admito que algumas são realmente sábias -- e já fizeram falta em pelo menos uma relação concreta. O texto integral está aqui.

  • Escolha um parceiro sabiamente. Somos atraídos pelas pessoas por todo tipo de razões. Elas nos lembram de alguém do nosso passado. Elas nos cobrem de presentes e nos fazem sentir importantes. Avalie um potencial parceiro como faria com um amigo; veja o seu caráter, personalidade, valores, generosidade de espírito, e a relação entre suas palavras e ações, bem como seus relacionamentos com as outras pessoas.
  • Conheça as crenças de seu parceiro a respeito de relacionamentos. Pessoas diferentes têm crenças diferentes e contraditórias sobre o assunto. Você não vai querer se apaixonar por alguém que espera muita desonestidade nas relações em que se envolve; ele(a) vai criá-la onde ela não existe.
  • Conheça suas próprias necessidades e mostre-as claramente. Um relacionamento não é um jogo de adivinhação. Muitas pessoas, homens e mulheres, têm medo de enunciar suas necessidades e, como resultado, camuflam-nos. O resultado é a decepção por não conseguir o que desejam e a raiva por o parceiro não atendido às suas necessidades (não declaradas). A intimidade não pode acontecer sem honestidade. O seu parceiro não lê pensamentos.

Polos da alma...


Ou o embate entre Apolo e Dionísio.


terça-feira, novembro 16, 2010

"Sou contra o aborto e sou intelectual, PhD. Vai encarar?"

Cruzei com um livro desse senhor, mas não dei muita importância. Depois, por curiosidade, lembrei-me dele e pesquisei em busca de amostras de suas ideias. Achei o texto a seguir, e gostei muito. É uma refutação contundente a uma ideia comum em meios mais educados, ainda que frequentemente apenas implícita, de que o aborto é uma mera controvérsia entre "retrógrados" e "progressistas".

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Vai encarar?

por Luiz Felipe Pondé para a Folha

Sou contra o aborto. Não preciso de religião para viver, não acredito em Papai Noel, sou da elite intelectual, sou PhD, pós-doc., falo línguas estrangeiras, escrevo livros "cabeça" e não tenho medo de cara feia.

Prefiro pensar que a vida pertence a Deus. Já vejo a baba escorrer pelo canto da boca do "habitué" de jantares inteligentes, mas detenha seu "apetite" porque não sou uma presa fácil.

Lembre-se: não sou um beato bobo e o niilismo é meu irmão gêmeo. Temo que você seja mais beato do que eu. Mas não se deve discutir teologia em jantares inteligentes, seria como jogar pérolas aos porcos.

Esse mesmo "habitué" que grita a favor do aborto chora por foquinhas fofinhas, estranha inversão...

Não preciso de argumentos teológicos para ser contra o aborto. Sou contra o aborto porque acho que o feto é uma criança. A prova de que meu argumento é sólido é que os que são a favor do aborto trabalham duro para desumanizar o feto humano e fazer com que não o vejamos como bebês. E não quero uma definição "científica" do início da vida porque, assim que a tivermos, compraremos cremes antirrugas "babyskin" com cartão Visa.

Agora o tema é o "retorno" do aborto. O aborto entrou na moda neste segundo turno. É claro que esse retorno é retórico. Desde Platão, sabe-se que a democracia é um regime para sofistas e retóricos.

A relação entre democracia e marketing já era sabida como essencial desde a Grécia Antiga. Por que o espanto quando os candidatos, sabendo que grande parte da população brasileira é contra o aborto (talvez por razões religiosas vagas, talvez por "afeto moral" vago), se lançam numa batalha pelo espólio do "direito à vida"?

O marketing é uma invenção contemporânea, mas a necessidade dele é intrínseca a qualquer técnica que passe pelo convencimento de uma maioria, desde a mais tenra assembleia de neandertais.

A democracia é, na sua face sombria, um regime da mentira de massa. Quando essa mentira de massa é contra nós, reclamamos.

Não há nada de evidentemente justo em termos morais ou de moralmente "avançado" na legalização do aborto. O que há de evidente em termos morais é a desumanização do feto como processo retórico (exemplo: "Feto não é gente") e a defesa de uma forma avançada de "safe sex": "Quero transar com a "reserva de comportamento legal" a meu favor. Se algo der errado, lavo".

E não me venham com "questão de saúde pública". Esgoto é questão de saúde pública. A defesa do aborto nessas bases é apenas porque o aborto legal é mais barato. Resumindo: "Safe sex, cheap babies". E não me digam que o feto "é da mulher". O feto "é dele mesmo". E não me digam que "todo o mundo avançado já legalizou o aborto", porque esse argumento só serve para quem "ama a moda" e teme a solidão.

Não pretendo desqualificar a angústia de quem vive esse drama. Longe de mim! Mas em vez de gastarmos tanta "energia social" na defesa do aborto, por que não usarmos essa energia para recebermos essas crianças indesejadas?

Vem-me à mente dois exemplos, aparentemente de campos "opostos".

Deveríamos aprender com a Igreja Católica e seu esforço de criar redes de recepção dessas crianças, aparando as mães em agonia e seus futuros filhos à beira da morte.

Por outro lado, são tantos os casais gays masculinos (os femininos sofrem menos porque dispõem de "útero próprio") que querem adotar crianças e continuamos a julgá-los, equivocadamente, penso eu, incapazes do exercício do amor familiar.

Sou contra a legalização do aborto porque o considero um homicídio. Muita gente não entende essa implicação lógica quando supõe que seriam razoáveis argumentos como: "A legalização do aborto permite a escolha livre. Se sou contra, não faço. Se minha vizinha for a favor, ela faz".

Agora, substitua a palavra "aborto" pela palavra "homicídio", como fica o argumento? Fica assim: "A legalização do homicídio permite a escolha livre. Se sou contra, não faço. Se minha vizinha for a favor, ela faz".

Quem é a favor do aborto não o é por razões "técnicas", mas por "gosto" ideológico.

segunda-feira, novembro 15, 2010

As pistas da personalidade

Não existe habilidade mais importante do que a de se relacionar com outras pessoas. Pode-se ter tudo, em termos materiais, mas sem essa habilidade em especial, estamos fadados à ruína. Naturalmente, o bem relacionar-se com outros implica também o saber lidar consigo mesmo, o que é menos óbvio. É muito fácil que nos iludamos a nosso próprio respeito, e não raro isso contamina a forma de lidar com os demais. Mas isso é assunto para divagações mais longas. Por ora, quero apenas compartilhar com vocês o artigo abaixo, com dicas para se observar melhor as pessoas com quem lidamos -- "lê-las" como um psiquiatra ou psicanalista faria. Embora eu não ponha a mão no fogo por todas as recomendações -- convém sempre um mínimo de cautela com essas coisas --, a grande maioria parece fazer muito sentido.

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Think Like a Shrink

domingo, novembro 14, 2010

sábado, novembro 13, 2010

A toda a gente solitária


O famoso crítico americano Roger Ebert, a quem já critiquei asperamente outrora por negar o status artístico do videogame, dedicou um texto comovente aos internautas solitários. Achei-o há pouco, nesta madrugada fria -- e hoje ele falou para mim também, como poderia falar a tantos dentre vocês. Assim, deixo-o aqui para vocês. Navegar é uma experiência profundamente solitária, muitas vezes, podendo ser quase uma forma curiosa de introspecção... E, no entanto, cá estamos nós, de alguma forma deixando mensagens, pensamentos, emoções, criando laços, desfazendo outros.

Bem, não vou divagar hoje sobre isso. A agradável solidão de uma madrugada fria será hoje melhor apreciada offline, em recolhimento. Eis o texto dele: http://blogs.suntimes.com/ebert/2010/11/all_the_lonely_people.html.

sexta-feira, novembro 12, 2010

Quem és tu


Quem és tu que assim vens pela noite adiante,
Pisando o luar branco dos caminhos,
Sob o rumor das folhas inspiradas?
A perfeição nasce do eco dos teus passos,

E a tua presença acorda a plenitude
A que as coisas tinham sido destinadas.
A história da noite é o gesto dos teus braços,

O ardor do vento a tua juventude,
E o teu andar é a beleza das estradas.

Sophia de Mello Breyner Andresen

(Via: Obscured by Clouds)

O mito do pânico de massa


Assinei um site muito peculiar, Delancey Place. Todos os dias, eles mandam gratuitamente um trecho de algum texto sobre um assunto qualquer. Pode ser sobre esportes, pode ser sobre psicologia social, como agora, ou qualquer outra coisa. É uma agradável loteria. O de hoje me chamou particularmente a atenção, então divido com vocês.
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In today's excerpt - the myth of the mass panic. In disasters, rather than descending into disorder and a helpless state, people come together and give one another strength:

"The image of the panicked deeply ingrained in the popular imagination. Hardly any self-respecting Hollywood disaster movie would be complete without one scene of people running wildly in all directions and screaming hysterically. Television newscasters perpetuate this stereotype with reports that show shoppers competing for items in what is described as 'panic buying' and traders gesticulating frantically as 'panic' sweeps through the stock market.

"The idea of mass panic shapes how we plan for, and respond to, emergency events. In Pennsylvania, for example, the very term is inscribed in safety regulations known as the state's Fire and Panic Code. Many public officials assume that ordinary people will become highly emotional in an emergency, especially in a crowded situation and that providing information about the true nature of the danger is likely to make individuals panic even more. Emergency management plans and policies often intentionally conceal information: for ex- ample, event marshals may be instructed to inform one another of a fire using code words, to prevent people from overhearing the news - and overreacting.

"Mathematicians and engineers who model 'crowd dynamics' often rely on similar assumptions describing behaviors such as 'herding,' 'flocking' and, of course, 'panic.' As the late Jonathan Sime (an environmental psychologist formerly at the University of Surrey in England) pointed out, efforts to 'design out disaster' have typically treated people as unthinking or instinctive rather than as rational, social beings. Therefore, more emphasis is placed on the width of doorways than on communication technologies that might help people make informed decisions about their own safety.

"These ideas about crowd behavior permeate the academic world, too. For many years influential psychology textbooks have illustrated mass panic by citing supposed examples such as the Iroquois Theater fire of 1903 in Chicago in which some 600 people perished and the Cocoanut Grove Theater fire of 1942 in Boston in which 492 people died. In the textbook explanations, theatergoers burned to death as a result of their foolish overreaction to danger. But Jerome M. Chertkoff and Russell H. Kushigian of Indiana University, the first social psychologists to analyze the Cocoanut Grove fire in depth, found that the nightclub managers had jeopardized public safety in ways that are shocking today. In a 1999 book on the psychology of emergency egress and ingress, Chertkoff and Kushigian concluded that physical obstructions, not mass panic, were responsible for the loss of life in the infamous fire.

"A more recent example tells a similar story. Kathleen Tierney and her co-workers at the University of Colorado at Boulder investigated accusations of panicking, criminality, brutality and mayhem in the aftermath of Hurricane Ka- trina. They concluded that these tales were 'disaster myths.' What was branded as 'looting' was actually collective survival behavior: people took food for their families and neighbors when store payment systems were not working and rescue services were nowhere in sight. In fact, the population showed a surprising ability to self-organize in the absence of authorities, according to Tierney and her colleagues.

"Such work builds on earlier research by two innovative sociologists in the 1950s. Enrico Quarantelli - who founded the Disaster Research Center at Ohio State University in 1985 and later moved with it to the University of Delaware - examined many instances of emergency evacuations and concluded that people often flee from dangerous events such as fires and bombings, because usually that is the sensible thing to do. A fleeing crowd is not necessarily a panicked, irrational crowd.

"The second pioneering sociologist, Charles Fritz, was influenced by his ex- periences as a soldier in the U.K. during the World War II bombings known as
the Blitz. 'The Blitz spirit' has become a cliché for communities pulling together in times of adversity. In the 1950s, as a researcher at the University of Chicago, Fritz made a comprehensive inventory of 144 peacetime disaster studies that confirmed the truth of the cliché. He concluded that rather than descending into disorder and a helpless state, human beings in disasters come together and give one another strength. Our research suggests that if there is such a thing as panic, it probably better describes the fear and helplessness of lone individuals than the responses of a crowd in the midst of an emergency."

Author: John Drury and Stephen D. Reicher
Title: "Crowd Control"
Publisher: Scientific America Mind
Date: November/December 2010
Pages: 60-61

quinta-feira, novembro 11, 2010

Sensibilidade x sentimentalismo

Ponderando isto:

"Deixe-me contar uma história. Buda estava numa cidade. Uma mulher chegou a ele, suplicando e chorando e berrando. Seu filho, seu único filho tinha morrido de repente. Como Buda estava na cidade, as pessoas disseram: "Não se lamente. Vá até esse homem. As pessoas dizem que ele é de infinita compaixão. Se ele quiser, seu filho pode reviver. Então, não chore, vá até Buda.". A mulher foi até ele com o filho morto nos braços, em prantos, se lamentando, e toda a cidade a seguiu - toda a cidade tinha sido afetada. Os discípulos de Buda também foram afetados; eles começaram a orar mentalmente para que Buda tivesse compaixão. Ele deve abençoar a criança, de modo que ela reviva, ressuscite.

Muitos discípulos de Buda começaram a chorar. A cena era muito tocante, profundamente mobilizadora. Todos estavam imóveis. Buda permaneceu silencioso. Ele olhou para a criança morta, depois, olhou para a mãe em prantos e disse à mulher: "Não se lamente; faça uma coisa e seu filho viverá novamente. Deixe esta criança morta aqui, volte à cidade, vá de casa em casa e pergunte a cada família se alguém já morreu na família, em sua casa. E, se você encontrar uma casa onde ninguém jamais tenha morrido, então, peça-lhes algo de comer... um pão, um arroz ou qualquer coisa - mas da casa onde ninguém tenha morrido. E esse pão, ou esse arroz, reviverá a criança imediatamente. Vá! Não perca tempo!".

A mulher ficou feliz. Ela sentiu que agora sim, o milagre ia mesmo acontecer. Ela tocou os pés de Buda e correu até a cidade, que não era uma cidade muito grande, poucas cabanas, poucas famílias. Ela foi de família em família, fazendo a pergunta. Mas toda família dizia: "Isso é impossível. Não há uma única casa - não só nesta vila, mas em toda a terra - não há uma única casa onde jamais ninguém tenha morrido, onde as pessoas nunca tenham sofrido a morte e o infortúnio e a dor e a angústia que vêm disso.".
Em pouco tempo, a mulher percebeu que Buda tinha lhe aplicado um truque. Aquilo era impossível. Mas, ainda assim, a esperança estava lá. Ela foi perguntando até rodar toda a cidade. Suas lágrimas secaram, sua esperança morreu, mas de repente ela sentiu uma nova tranqüilidade, uma serenidade chegando até ela. Agora ela percebera que seja o que for que nasça, terá de morrer. Uns morrerão mais cedo, outros mais tarde, mas a morte é inevitável. Ela voltou e tocou os pés de Buda novamente e disse a ele: "Como dizem as pessoas, você realmente tem uma profunda compaixão pelas pessoas.". Ninguém podia compreender o que tinha acontecido. Buda iniciou-a no sânias, ela tornou-se uma bhikkhuni, uma saniássin. Ela foi iniciada.

Anand disse a Buda: "Você poderia ter feito o garoto reviver. Era uma criança tão linda e a mãe estava tão angustiada...". Buda, então, disse: "Mesmo que o filho ressuscitasse, ele teria de morrer. A morte é inevitável.". Anand replicou: "Mas você não parece ser muito sensível com as pessoas, com seu sofrimento e angústia.". Buda Respondeu: "Eu sou sensível; você é sentimental. Só porque você começa a lamentar, você pensa que você é sensível? Você é infantil. Você não compreende a vida. Você não percebe o fenômeno.".

Esta é a diferença entre o cristianismo e o budismo. Cristo é mostrado como tendo feito muitos milagres de reviver pessoas. Quando Lázaro estava morto, Jesus toucou nele e ele voltou à vida. Nós no Oriente não podemos conceber Buda tocando um cadáver e trazendo-o de volta à vida. Para gente comum, para a mente comum, Jesus pareceria mais amoroso e compassivo do que Buda. Mas eu lhes digo que Buda é mais sensível, mas compassivo, porque mesmo que Lázaro tenha revivido, não fez nenhuma diferença. Ele ainda teria de morrer. Finalmente, Lázaro teria de morrer. Então, esse milagre foi inútil, de nenhum valor supremo. Não se pode conceber Buda fazendo tal coisa.

Jesus teve de fazer aquilo, porque ele estava trazendo algo novo, uma nova mensagem para Israel. E a mensagem era tão profunda que as pessoas não a compreenderiam, então, ele tinha de criar milagres ao redor da mensagem - porque as pessoas podem compreender milagres, mas não podem compreender a mensagem profunda, a mensagem esotérica. Elas podem compreender milagres, então, através de milagres, elas talvez se tornassem abertas e capazes de receber a mensagem. Jesus estava carregando a mensagem budista para uma terra que não era budista; uma mensagem oriental para um país que não tinha tradição de iluminação, de muitos budas.

Nós podemos conceber que Buda era mais sensível do que seus discípulos que estavam lamentando e chorando. Eles eram sentimentais.

Não confunda sua sentimentalidade com sensibilidade. A sentimentalidade é comum; a sensibilidade é extraordinária. Ela acontece através do esforço. Ela é uma aquisição. Você a tem de ganhá-la. A sentimentalidade não é algo a ser adquirido: você nasce com ela. Ela é uma herança animal que você já tem nas células do seu corpo e de sua mente. A sensibilidade é uma possibilidade. Você ainda não a tem. Você pode criá-la, você pode trabalhar para isso - então, ela lhe acontecerá. E sempre que acontecer, você estará desapegado."


O visitante inevitável

Sabemos que ele vem, mas comumente não nos preparamos para ele. Alguns de nós fazem até questão de nem pensar a respeito dele. Mas escaremos o fato: quase todos os que vivem -- e nem falo de uma vida longa -- conhecerão o luto, cedo ou tarde. Então, é vital que aprendamos algo sobre ele.



Dossiê Luto
A vida de quem fica
A morte desorganiza, deprime. Mas o luto tem começo, meio e fim. Nesse processo, a dor da perda se transforma em saudade, e a vida continua, com outro sentido. Por Rosane Queiroz

Uma mulher vai até Buda com o filho morto nos braços e suplica que o faça reviver. Buda diz a ela que vá a uma casa e consiga alguns grãos de mostarda. Mas, para trazer de volta a vida do menino, esses grãos devem ser de uma casa onde nunca morreu ninguém. A mãe vai de casa em casa, mas não encontra nenhuma livre da perda.

A parábola budista explora a lição mais óbvia e mais difícil da vida. A dificuldade de encarar o fim como parte da existência é o que faz do luto uma experiên-cia tão assustadora. "A morte é sempre vista como um acidente de percurso ou um castigo divino", diz a psicóloga Clarice Pierre, especializada no atendimento de doentes terminais. Desde a infância o ser humano não é treinado para perder, mas para ter, acumular. "Os pais protegem os filhos das frustrações, e perder é essencial para entender que nada é permanente. E me refiro a perder desde jogos, até objetos e pessoas", diz Clarice.

(Clique no link para ler a matéria completa.)


terça-feira, novembro 09, 2010

O oásis de um momento

Agrilhoado a textos de economia para uma aula. Não que o tema seja em si desagradável, mas a forma de exposição, árida e densamente informativa, cansa. O bom foi ter a motivação para revisitar um velho amigo, que me fez lembrar um dos motivos pelo qual dedico a vida a aprender: a capacidade de injetar graça nos assuntos aparentemente mais obscuros. Queria ter conhecido pessoalmente Mr. Galbraith, e me dói pensar que sua biografia repousa impávida e quase intocada na minha biblioteca. Foi um grande intelecto e o pouco contato que tive com seu legado já lhe garantiu minha admiração. Quem mais, em uma entrevista sobre economia, lembraria de citar William Buckley como "grande conservador e humorista"? Ou defender enfaticamente a assessoria prestada por Milton Friedman e os Chicago Boys ao Chile pinochetista com o argumento de que a melhor maneira de acabar com uma ditadura era deixá-la seguir os conselhos do monetarista? E isso em meio a explicações sobre o padrão-ouro e que tais...

Seja como for, dei uma pausa na economia -- e fui à poesia. Ontem, eu a encontrei na melancólica foto de Cedric Martin, no post anterior; hoje, contudo, ela estava nas palavras mesmo. eis o achado de hoje:

O Resto é Silêncio

E então ficamos os dois em silêncio, tão quietos
como dois pássaros na sombra, recolhidos
ao mesmo ninho,
como dois caminhos na noite, dois caminhos
que se juntam
num mesmo caminho…
.
Já não ouso… já não coras…
E o silêncio é tão nosso, e a quietude tamanha
que qualquer palavra bateria estranha
como um viajante, altas horas…
Nada há mais a dizer, depois que as próprias mãos
silenciaram seus carinhos…
Estamos um no outro
como se estivéssemos sozinhos…


J. G. de Araújo Jorge

segunda-feira, novembro 08, 2010

domingo, novembro 07, 2010

Prevenir é melhor que remediar...

07/11/2010 - 16h02

"Vamos esperar os cadáveres para agir contra o celular?", questiona pesquisadora


DÉBORA MISMETTI
EDITORA ASSISTENTE DE SAÚDE

A epidemiologista Devra Davis lidera uma cruzada para fazer as pessoas deixarem o celular longe de suas cabeças. Convencida de que a radiação emitida pelo aparelho lesa a saúde, ela escreveu "Disconnect" (sem edição no Brasil), cuja base são pesquisas que começam a mostrar os efeitos dessa radiação no organismo. Nesta entrevista, ela também perguntou: "Vamos esperar as mortes começarem antes de mudar a relação com o celular?".

Pesquisa liga proximidade de antena a maior risco de câncer
Aparelho celular é só uma das fontes de ondas nocivas, lembra médico
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Divulgação
A epidemiologista Devra Davis
A epidemiologista Devra Davis, 64

Folha - Quais os riscos para a saúde de quem usa celular?
Devra Davis - Se você segurá-lo perto da cabeça ou do corpo, há muitos riscos de danos. Todos os celulares têm alertas sobre isso. As fabricantes sabem que não é seguro. Os limites [de radiação] definidos pelo FCC [que controla as comunicações nos EUA] são excedidos se você deixa o celular no bolso.

Quais os riscos, exatamente?
O risco de câncer é muito real, e as provas disso vão se avolumar se as pessoas não mudarem a maneira como usam os telefones. Trabalhei nas pesquisas sobre fumo passivo e amianto. Fiquei horrorizada ao perceber que só tomamos atitude depois de provas incontestáveis de que danificavam a saúde.
Reconheço que não temos provas conclusivas nesse momento. Escrevi o livro na esperança de que meu status como cientista tenha peso, e as pessoas entendam que há ameaça grave à saúde e podemos fazer algo a respeito.

Mas há estudo em humanos que dê provas categóricas?
Quando você diz "provas", você quer dizer cadáveres? Você acha que só devemos agir quando já tivermos prova? Terei que discordar. Hoje temos uma epidemia mundial de doenças ligadas ao fumo. O Brasil também tem uma epidemia de doenças relacionadas ao amianto. Só recentemente vocês agiram para controlar o amianto no Brasil, apesar de ele ainda ser usado. Ninguém vai dizer que nós esperamos o tempo certo para agir contra o tabaco ou o amianto. Estou colocando minha reputação científica em risco, dizendo: temos evidências fortes em pesquisas feitas em laboratório mostrando que essa radiação danifica células vivas.

Qual a maior evidência disso?
A radiação enfraquece o esperma. Sabemos por pesquisas com humanos. As amostras de esperma foram dividas ao meio. Uma metade foi mantida sozinha, morrendo naturalmente. A outra foi exposta a radiação de celulares e morreu três vezes mais rápido. Homens que usam celulares por quatro horas ao dia têm a metade da contagem de esperma em relação aos demais.

Crianças correm mais perigo?
O crânio das crianças é mais fino, seus cérebros estão se desenvolvendo. A radiação do celular penetra duas vezes mais. E a medula óssea de uma criança absorve dez vezes mais radiação das micro-ondas do celular. É uma bomba-relógio. A França tornou ilegal vender celular voltado às crianças. Nos EUA, temos comerciais encorajando celular para crianças. É terrível. Fico horrorizada com a tendência de as pessoas darem celulares para bebês e crianças brincarem. Sabemos que pode haver um vício no estímulo causado pela radiação de micro-ondas. Ela estimula receptores de opioides no cérebro.

Jovens usam muitos gadgets que emitem radiação.
Sim, e eles não estão a par dos alertas que vêm com esses aparelhos. Não é para manter um notebook ligado perto do corpo. As empresas colocam os avisos em letras miúdas para reduzir sua responsabilidade quando as pessoas ficarem doentes.

É possível comparar a radiação de celular à fumaça?
Sim. O tabaco é um risco maior. Mas nunca tivemos 100% da população fumando. Agora, temos 100% das pessoas usando celular. Então, ainda que o risco relativo não seja tão grande, o impacto pode ser devastador.

Nos maços de cigarro, há aquelas fotos horríveis. Esse é o caminho para o celular?
Isso é o que foi proposto no Estado do Maine (EUA). Está se formando um grande movimento para alertar as pessoas a respeito dos celulares. Isso é o que aconteceu com o fumo passivo. Vamos começar a ver limites para a maneira e os locais onde as pessoas usam celular. A maioria não sabe que, se você está tentado conversar num celular em um elevador, a radiação está rebatendo nas paredes e fica mais intensa em você e em quem estiver perto.

Além de usar fones, o que é possível fazer para prevenir?
Enviar mensagens de texto é mais seguro do que falar. Ficar com o celular nas mãos, longe do corpo, é bom, e mantê-lo desligado também.

Mas celular é um vício!
Sim. Temos que usá-lo de forma mais inteligente.

-

Arte
Celular

RAIO-X

FORMAÇÃO
Doutora em estudos científicos pela Universidade de Chicago e mestre em saúde pública pela Johns Hopkins

ATIVISMO
É fundadora da ONG Environmental Health Trust, que faz campanhas sobre riscos do tabaco, amianto e dos celulares para a saúde

LIVROS
"When Smoke Ran Like Water" (2002), sobre poluição, "The Secret History of the War on Cancer" (2007), sobre as causas ambientais do câncer, e "Disconnect" (2010)

sexta-feira, novembro 05, 2010

Do not stand at my grave and weep

Do not stand at my grave and weep
I am not there; I do not sleep.
I am a thousand winds that blow,
I am the diamond glints on snow,
I am the sun on ripened grain,
I am the gentle autumn rain.
When you awaken in the morning’s hush
I am the swift uplifting rush
Of quiet birds in circled flight.
I am the soft stars that shine at night.
Do not stand at my grave and cry,
I am not there; I did not die.

Mary Frye

terça-feira, novembro 02, 2010

Estudo diz por que orientais são "iguais"

São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2010



Ocidentais têm essa impressão porque o cérebro humano "dá bug" ao tentar reconhecer faces de outra etnia


Para orientais, difícil é diferenciar os europeus; as bases biológicas dessa dificuldade ainda eram desconhecidas

RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO

Não, os japoneses não são todos iguais. O que acontece, mostraram agora os cientistas, é que o "software" de reconhecimento facial do cérebro tem as suas limitações, e uma delas é patinar sempre que se depara com um rosto de uma etnia diferente.
Os pesquisadores selecionaram mais de 20 voluntários, metade de Europa e metade da Ásia. Mostraram a eles faces genéricas de orientais e ocidentais. Enquanto isso, observavam a sua atividade cerebral.
Perceberam que os voluntários decoravam com facilidade rostos de gente da mesma etnia que eles. Mas quando um europeu começava a observar faces orientais, logo se perdia e já não sabia dizer se um novo rosto era inédito ou não -e vice-versa.
Ao observar o que estava acontecendo no cérebro do coitado do europeu, perdido tentando lembrar se aquele chinês não era o mesmo que já tinha aparecido lá no começo, os cientistas notaram um significativo aumento na sua atividade neural.
É como se o cérebro do voluntário estivesse exigindo mais do "processador", sendo forçado a trabalhar mais para tentar encontrar alguma forma de conseguir reconhecer aquele sujeito na tela. Fosse um computador, o cérebro estaria esquentando. Com frequência, o esfoço extra acaba sendo em vão.
Esse fenômeno é perceptível especialmente em algumas áreas do cérebro ligadas ao reconhecimento facial, como o córtex extra-estriado.
Assim, um japonês que nunca saiu do seu país, ao desembarcar, digamos, na Alemanha, vai achar todos aqueles loiros muito parecidos e se questionar como é que eles conseguem saber quem é quem no dia-a-dia.
A explicação evolutiva mais simples para esse bug cerebral passa pelo fato de que passear pelo mundo fazendo amigos é coisa recente. Por dezenas de milhares de anos, encontros com etnias diferentes eram muito raros. Só era necessário identificar gente parecida, e o cérebro se moldou para isso.

CHINATOWN
Roberto Caldara, neurocientista italiano-da Universidade de Glasgow (Escócia) e autor do trabalho publicado na revista científica "PNAS", diz que é interessante notar como esse cérebro limitado se adapta às grandes cidades cosmopolitas do presente, com gente de todo tipo nas ruas.
"Se você for europeu, mas morar, digamos, em um bairro com muitos chineses, você vai ver muitos rostos orientais todos os dias. Mas, exceto se você tiver treinado seu cérebro para reconhecê-los no nível individual, tendo vários amigos chineses e sabendo diferenciá-los, você vai continuar achando todos muito parecidos."
Isso vale, então, diz, para São Paulo: para parar de confundir orientais (e irritá-los chamando, por exemplo, coreano de japonês), é necessário se entrosar socialmente- só passear no bairro da Liberdade não adianta.