terça-feira, novembro 16, 2010

"Sou contra o aborto e sou intelectual, PhD. Vai encarar?"

Cruzei com um livro desse senhor, mas não dei muita importância. Depois, por curiosidade, lembrei-me dele e pesquisei em busca de amostras de suas ideias. Achei o texto a seguir, e gostei muito. É uma refutação contundente a uma ideia comum em meios mais educados, ainda que frequentemente apenas implícita, de que o aborto é uma mera controvérsia entre "retrógrados" e "progressistas".

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Vai encarar?

por Luiz Felipe Pondé para a Folha

Sou contra o aborto. Não preciso de religião para viver, não acredito em Papai Noel, sou da elite intelectual, sou PhD, pós-doc., falo línguas estrangeiras, escrevo livros "cabeça" e não tenho medo de cara feia.

Prefiro pensar que a vida pertence a Deus. Já vejo a baba escorrer pelo canto da boca do "habitué" de jantares inteligentes, mas detenha seu "apetite" porque não sou uma presa fácil.

Lembre-se: não sou um beato bobo e o niilismo é meu irmão gêmeo. Temo que você seja mais beato do que eu. Mas não se deve discutir teologia em jantares inteligentes, seria como jogar pérolas aos porcos.

Esse mesmo "habitué" que grita a favor do aborto chora por foquinhas fofinhas, estranha inversão...

Não preciso de argumentos teológicos para ser contra o aborto. Sou contra o aborto porque acho que o feto é uma criança. A prova de que meu argumento é sólido é que os que são a favor do aborto trabalham duro para desumanizar o feto humano e fazer com que não o vejamos como bebês. E não quero uma definição "científica" do início da vida porque, assim que a tivermos, compraremos cremes antirrugas "babyskin" com cartão Visa.

Agora o tema é o "retorno" do aborto. O aborto entrou na moda neste segundo turno. É claro que esse retorno é retórico. Desde Platão, sabe-se que a democracia é um regime para sofistas e retóricos.

A relação entre democracia e marketing já era sabida como essencial desde a Grécia Antiga. Por que o espanto quando os candidatos, sabendo que grande parte da população brasileira é contra o aborto (talvez por razões religiosas vagas, talvez por "afeto moral" vago), se lançam numa batalha pelo espólio do "direito à vida"?

O marketing é uma invenção contemporânea, mas a necessidade dele é intrínseca a qualquer técnica que passe pelo convencimento de uma maioria, desde a mais tenra assembleia de neandertais.

A democracia é, na sua face sombria, um regime da mentira de massa. Quando essa mentira de massa é contra nós, reclamamos.

Não há nada de evidentemente justo em termos morais ou de moralmente "avançado" na legalização do aborto. O que há de evidente em termos morais é a desumanização do feto como processo retórico (exemplo: "Feto não é gente") e a defesa de uma forma avançada de "safe sex": "Quero transar com a "reserva de comportamento legal" a meu favor. Se algo der errado, lavo".

E não me venham com "questão de saúde pública". Esgoto é questão de saúde pública. A defesa do aborto nessas bases é apenas porque o aborto legal é mais barato. Resumindo: "Safe sex, cheap babies". E não me digam que o feto "é da mulher". O feto "é dele mesmo". E não me digam que "todo o mundo avançado já legalizou o aborto", porque esse argumento só serve para quem "ama a moda" e teme a solidão.

Não pretendo desqualificar a angústia de quem vive esse drama. Longe de mim! Mas em vez de gastarmos tanta "energia social" na defesa do aborto, por que não usarmos essa energia para recebermos essas crianças indesejadas?

Vem-me à mente dois exemplos, aparentemente de campos "opostos".

Deveríamos aprender com a Igreja Católica e seu esforço de criar redes de recepção dessas crianças, aparando as mães em agonia e seus futuros filhos à beira da morte.

Por outro lado, são tantos os casais gays masculinos (os femininos sofrem menos porque dispõem de "útero próprio") que querem adotar crianças e continuamos a julgá-los, equivocadamente, penso eu, incapazes do exercício do amor familiar.

Sou contra a legalização do aborto porque o considero um homicídio. Muita gente não entende essa implicação lógica quando supõe que seriam razoáveis argumentos como: "A legalização do aborto permite a escolha livre. Se sou contra, não faço. Se minha vizinha for a favor, ela faz".

Agora, substitua a palavra "aborto" pela palavra "homicídio", como fica o argumento? Fica assim: "A legalização do homicídio permite a escolha livre. Se sou contra, não faço. Se minha vizinha for a favor, ela faz".

Quem é a favor do aborto não o é por razões "técnicas", mas por "gosto" ideológico.

2 comentários:

Gabrieli Martins disse...

De uma forma generalizada (tirando é claro aquelas bizarrices como foi a criança de 9 anos grávida de gêmeos, os estupros, etc) acho que não se deve "previnir" um filho quando ele já esta a caminho e sim antes! A discussão da legalização do aborto é válida e com certeza tem muito pano pra manga, e apesar de concordar com alguns argumentos de quem é a favor, acho que não pode ser usado como método de controle de natalidade. Não quer filho? Tem os métodos anticoncepcionais. Não quer filho? Faz aborto. Qual dessas opções o Estado tem que tomar partido? É fato: os abortos acontecerão independente da legalização ou não (assim como o consumo de drogas), mas pra mim, o Estado tem que defender a vida e isso significa dar condições para as famílias criarem seus filhos com o mínimo de dignidade: educação de qualidade, creche, moradia, etc. e não pensar que a criança não tem que nascer porque não terá acesso a isso.

ezel final disse...

Thank you