quinta-feira, outubro 07, 2010

Vida obscura




Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste num silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém Te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!

Cruz e Souza

2 comentários:

Thais, The Wanderer disse...

Diga-me o porquê que tantos bons poetas foram vencidos pela tuberculose? Assim como o Cisne Negro... Mestre do simbolismo brasileiro.

Não preciso dizer que foi uma escolha sensacional.

Rodrigo disse...

Minha cara Errante,

Fiz a mesma pergunta um dia à minha antiga professora de Literatura, e a resposta que tive faz sentido: eram geralmente boêmios de vida desregrada. Numa época de medicina atrasada, isso podia ser fatal.

De fato, não sei de filósofos que fossem capaz de se expressar com tanta energia e lirismo. Talvez a intensidade apaixonada desses artistas realmente precisasse de algum desequilíbrio, de uma chaga aberta, para nos marcar tanto. Numa permuta injusta, é como se o Universo usasse as desgraças deles alimentam o nosso deleite espiritual.

Isso rende um post, aliás.

Um beijo,
R.