domingo, outubro 31, 2010

Após a eleição

Dia de eleição. Em poucas horas, o Brasil conhecerá seu futuro presidente, ou, mais provavelmente, confirmará o de sua primeira presidenta. Haverá festa, como sempre, mas de minha parte só haverá, no máximo, alívio pelo término de uma eleição decepcionante. Votei nulo, mas não com a consciência realmente tranquila. Mas não poderia ser de outra desta vez; racionalmente falando, não quis recompensar nenhuma das duas campanhas presidenciais com meu modesto e precioso voto. Desta vez, não aceitei a lógica do "menos ruim" e me recuso, por princípio, a tomar parte no discurso cretino que deu a uma disputa política de baixo nível, recheada de mentiras marqueteiras e incitação a paixões tribais, a aparência de uma luta épica entre o "Bem" e o "Mal".

Entendo quem optou pelas escolhas dadas. Como diz um colega, "É uma escolha estratégica". Que seja. Eu mesmo pendi de um lado para outro nos últimos dias, seguindo esse mesmo raciocínio. No fim, dei-me conta de que talvez acabasse optando com base em critérios não dos mais racionais, e de qualquer forma estaria recompensando campanhas condenáveis, fosse a do PSDB ou a do PT. Não quis fazer isso, e me sinto incomodado pela minhas abstenção. Ainda assim, acho que foi o melhor dadas as circunstâncias.

Posso prever as próximas horas. Receberei emails de amigos e conhecidos, ou verei suas mensagens no Orkut e no Facebook, celebrando a vitória previsível de sua candidata. Verei uma vez mais o discurso primitivo de que uma esquerda "que faz pelo social" derrotou uma "direita" malvada. Verei de novo comparações entre dados brutos descontextualizados sendo bradados como verdade absoluta. Verei gente louvando o passado de "luta" (armada e de extrema-esquerda) da agora ex-candidata -- como se ela fosse uma grande heroína desde sempre, e não somente uma burocrata escolhida a dedo pelo atual presidente para fazer o papel do proverbial "poste" que um bom caudilho deve ser capaz de eleger até poder se recandidatar. Pode ser que ela faça um bom governo -- torçamos para que sim -- mas isso é algo que ela terá de provar com o tempo. Por ora, a meu ver, seus méritos ainda estão por definir.

Haverá quem comemore o simbolismo de uma mulher sendo eleita. De fato, é uma novidade, como foi a eleição do ex-operário e sindicalista em 2002, que eu também comemorei. Mas isso não é justificativa, em si mesma, para votar em alguém. Eu abriria mão desse ganho simbólico pela vitória de um candidado que me parecesse mais confiável. Mas é minha opinião, apenas.

Talvez haja um lado bom nisso, afinal: a perda das ilusões. Em 2014, já não fará sentido -- a rigor, nem faz muito hoje, mas vá lá... -- comparar o governo que hoje se elege com o antecessor de seu antecessor. O PT só poderá se comparar consigo mesmo, sem poder abrir mão das responsabilidades de 12 anos de presidência, sem poder apelar a heranças malditas e que tais. Talvez seja a hora em que seus muitos adeptos, pelo menos entre formadores de opinião (e eu, como professor universitário, bem sei do que falo), poderão crescer para uma visão política um pouco mais humildade e menos maniqueísta. E, quem sabe, até lá, os próprios marqueteiros que ganham milhões para subestimar nossas inteligências (e o pior, com frequente sucesso ) percebam que propaganda negativa não é um meio eficiente de eleger candidatos ao cargo máximo do país.

Mas esperemos. Quem sabe não haverá novidades? Uma reforma política, talvez, do que eu duvido. Uma Lei da Ficha Limpa que não seja mais passível de celeuma, ou possa ser aprimorada. Partidos tendo mais cuidado com a alfabetização de seus candidatos a cargo público.
Não custa ser otimista, embora eu saiba que, na verdade, isso pode ser esperar demais. Ainda somos um pouco pouco instruído, no qual mesmo pessoas de nível universitário podem ter diplomas sem saber o que é o bem pensar; simpático ao estatismo sem nem bem saber por quê; em que ser funcionário público -- de qualquer área, de qualquer função -- é sonho de vida de muita gente, e onde é preciso uma intervenção judicial para impedir os Jáderes e os Malufs de se elegerem (e mesmo assim, com comentários como este vindos de um ministro do Supremo Tribunal).

Enfim, a vida segue.

Um comentário:

Gabrieli Martins disse...

Eu tava certa que iria votar nulo... mas com medo (sim, medo!!!) do PSDB fui convencida a votar no PT. Mas quando eu digitei o 13 e apareceu a cara daquela topetuda na urna eu lembrei da baixaria que foi essa campanha e de tudo que eu ouvi trabalhando na pesquisa eleitoral... enfim... não consegui apertar o confirma. Na hora eu anulei e pronto! Foi a melhor coisa que eu fiz.

bjs,
Gabi.