terça-feira, outubro 12, 2010

Angústia eleitoral

Tenho acompanhado as reações à eleição no mundo virtual. Manifestações espontâneas no Facebook, caixas de comentários de blogs, um ou outro email de conhecidos. Vi o último debate também e não deixo de prestar atenção no que tem saído na imprensa (ao menos, aquela que eu leio). O resultado não tem sido dos mais animadores, no que diz respeito à possível fé que eu poderia ter nos candidatos. Talvez o problema seja que o foco em estudos acadêmicos e religiosos, aliado a um temperamento menos confrontador, tenha me deixado mais sensível a certas coisas, mas o fato é que a paixão facciosa tem me causado certo mal-estar. São emails de "denúncia" -- umas aparentemente fundamentadas, muitas fruto da imaginação e da malícia --, são desenhos e textos atribuindo todo tipo de desgraça à eventual vitória de um dos dois candidatos, pessoas faltando bater no peito (quando não em cara alheia) por conta de seu partido... Isso sem falar no caráter maniqueísta do discurso, segundo a qual um candidato representa o "bem" e o outro, o 'mal". Não gosto disso.

Nenhum dos candidatos, que eu saiba, tem realmente um programa pronto. Os dois têm alianças pouco recomendáveis, política ou criminalmente. Os dois estão associados a governos que tiveram sua cota de escândalos. Os dois têm falhas e virtudes. E os dois prometem muito, e prometem coisas que eu, mero mortal, não sei bem avaliar o quão factíveis serão. Os dois são irritantemente "montados" por marqueteiros dispostos a vender a alma a qualquer capricho mais promissor do eleitorado.

O Governo Lula não é o paraíso da justiça social e idoneidade que seus adeptos lhe atribuem. O de FHC também não foi o cenário de pesadelo que alguns pretendem, mas lançou as diretrizes do que o seu sucessor fez. Em compensação, na minha área, a Educação, foi o segundo quem mais estimulou o ensino superior, enquanto o primeiro, ao que me parece, cometeu sérios deslizes nesse campo -- ao mesmo tempo que mexia numa casa de marimbondos ao instituir mecanismos de testagem dos cursos, apesar de muita resistência inclusive da oposição que hoje é situação. Dá para tratá-los como entidades radicalmente distintas?

Isso para citar apenas um exemplo. Eu tento me manter informado do que se passa, tenho curso superior, considero-me uma pessoa relativamente culta -- e certamente muito mais que a média brasileira. Mas neste momento não me senti capaz de realmente fazer uma escolha conscienciosa e informada. Optar por qualquer um dos dois seria apenas privilegiar um aspecto qualquer sobre todos os demais (Educação? Energia? Conduta política? Simpatia diante das câmeras? Alternância de poder?) e fazer o que mais me parece uma aposta. Não consigo acreditar na propaganda de ambos, identifico uma série de falácias em seus argumentos, e me sinto tratado como uma criança ao assisti-los falando na TV. Por outro lado, também não os odeio, e também desconstruo facilmente as críticas que lhes fazem no aspecto do caráter pessoal, pois quem ataca não está na melhor situação para atirar a primeira pedra.

Devo estar numa fase cética da democracia tal como é praticada. Como se resolve isso, não sei.

2 comentários:

Gabrieli Martins disse...

Anhh como eu sinto falta do Plínio dos debates :)

Enfim... não consigo ter o pensamento de votar no menos pior como muita gente faz. Votarei nulo, porque acho que nenhum dos dois me representa.

Bjs,
Gabi.

há palavra disse...

Rodrigo,

tuas postagens sobre esse tema tão "apaixonante" [quase sempre, no mau sentido...] têm sido, para mim, um oásis no qual bebo goles refrescantes de sensatez e equilíbrio.

Você já teve acesso a esse discurso do Obama sobre religião e secularismo/democracia?

http://www.youtube.com/watch?v=_IHQr4Cdx88&feature=player_embedded

Vale a pena uma olhada.

Abraços!