quinta-feira, julho 22, 2010

Em meu ofício ou arte taciturna


Em meu ofício ou arte taciturna
Exercido na noite silenciosa
Quando somente a lua se enfurece
E os amantes jazem no leito
Com todas as suas mágoas nos braços,
Trabalho junto à luz que canta
Não por glória ou por pão
Nem por pompa ou tráfico de encantos
Nos palcos de marfim
Mas pelo mínimo salário
De seu mais secreto coração.
Escrevo estas páginas de espuma
Não para o homem orgulhoso
Que se afasta da lua enfurecida
Nem para os mortos de alta estirpe
Com seus salmos e rouxinóis,
Mas para os amantes, seus braços
Que enlaçam as dores dos séculos,
Que não me pagam nem me elogiam
E ignoram meu ofício ou minha arte.

Dylan Thomas

sábado, julho 17, 2010

Leitura para a madrugada

The Phantom World: History and Philosophy of Spirits, Apparitions &c., &c., do Pe. Augustin Calmet (1746). Simplesmente a mais citada obra canônica católica sobre o sobrenatural, com relatos variados de fenômenos como poltergeist (chamado de "elfos"), aparição espectral de vivos e, delícia das delícias, casos de vampirismo. Praticamente todo autor de não-ficção que trata deste último assunto o menciona, e lembro de alusões a ele nos livros de "realismo fantástico" que lia na infância. E agora encontro a obra inteira online. Antes tarde do que nunca, eis que me deleito com ela nesta semana gótica.

O mais interessante é que Calmet insiste e relata vários casos de exumação de cadáveres de vampiros -- reconhecidos pela preservação desproporcional ao tempo da morte e a presença de sangue fresco, bem como a ausência dos tradicionais sinais cadavéricos -- promovidos e assistidos por oficiais do governo austríaco. Há dois casos famosos disso, o de Arnold Paole e o de Peter Plogojowitz, mas eu me pergunto se há fontes remanescentes desses outros. Calmet dá a entender que era um procedimento um tanto frequente. Fiquei curioso.

sexta-feira, julho 16, 2010

Companheiros de férias

Nada como o trabalho para nos fazer sentir úteis... e ansiosos para que ele termine. Ok, é verdade que não tenho que não tenho um horário fixo das 9h às 18h todo santo dia e faço parte da minoria privilegiada que ainda tem horas livres enquanto o sol brilha no céu e pode se dar ao luxo de acordar em horários decentes pelo menos algumas vezes por semana. Por outro lado, não tenho um expediente demarcado e os trabalhos que faço envolvem, de uma forma ou de outra, criação: de textos, de aulas, de atividades. Isso também gera sua cota de tensão, e é com alívio que me vejo livre de pelo menos uma das minhas obrigações: duas disciplinas a menos para administrar, menos provas para corrigir, menos textos obrigatórios para ler. Resultado? Retomei um velho hobby e troquei Roosevelt, Lincoln, Kardec e similares por três dias de histórias de terror. Do vitoriano ao mais moderno, passeei por gêneros e autores, feliz da vida (ou da morte...) em poder ler por puro deleite outra vez.

O primeiro foi World War Z: An Oral History of the Zombie War, que deverá ser traduzido em breve por aqui. Faz algum tempo que comprei o exemplar, mas é irônico que só agora o esteja lendo para valer, pois o faço justamente depois de descobrir o autor que o inspirou. Afinal, o que Max Brooks fez foi recriar o estilo do historiador e radialista Studs Terkel, autor de livros como The Good War, e aplicá-lo ao cenário romeriano de uma pandemia de cadáveres canibais reanimados. Em vez de um único narrador, temos depoimentos em forma de entrevista dos mais diferentes tipos de pessoa, desde políticos a seguranças de celebridades. Mais que os zumbis em si, interessa mais a desagregação de uma sociedade desesperada -- e o autor não se exime de muito sutilmente fazer uma certa crítica política e cultural nas entrelinhas de alguns de seus "entrevistados" (note-se a fala de um certo ex-vice-presidente americano, por exemplo). O livro aborda as diferentes fases da maior catástrofe necrofílica da história, desde os primeiros incidentes até os anos pós-guerra (sim, sobrou alguém, do contrário o formato não faria sentido...), e merece alguma consideração pelos apreciadores do gênero.

M.R. James

Saindo do presente para o passado mais glamouroso, descobri no site da Livraria Cultura um bom acervo da coleção Contos de Mistério e Sobrenatural da Wordsworth Editions. São brochuras muito baratas (R$ 11,30 cada uma) de autores em sua maioria vitorianos, mas que incluem desde o patriarca do Gótico Horace Walpole até o maior e mais erudito de todos os autores de histórias de fantasmas, M. R. James. Deste último fiquei com An Episode of Cathedral History, que foge aos clichês do bestiário sobrenatural que o cinema consagrou. Não é o mais medonho de todos os contos de James -- Number 13 chega a ser perturbador --, mas traz todo o seu estilo característico: a erudição coloquial do antiquário, o fraseado elegante, o cenário interiorano, a sutil introdução do extraordinário no cotidiano até então demasiado tranquilo. Não é para menos: não é sempre que um medievalista bem-sucedido se dedica a escrever contos sobrenaturais -- e ninguém melhor que um para dar veracidade àquilo que escreve.


Outro amigo de férias foi W. F. Harvey. Nunca ouviu falar? Não se preocupe, a grande maioria também não. Porém, é dele um dos mais originais e estranhos conceitos de vilão sobrenatural, do qual a primeira representação de massa tenha sido o filme The Beast with Five Fingers, de 1946, exibido no Brasil como Os Dedos da Morte. Esse filme impressionante traz uma atuação de Peter Lorre que, nalgumas cenas, mostra do que o cinema em preto e branco é capaz, mesmo nestes dias de CG e 3D. O filme é apenas levemente baseado na história de Harvey, que nos anos 80 teve uma adaptação em quadrinhos no Brasil -- jamais esqueci o que li numa daquelas Histórias Reais de Drácula, publicação mensal da Bloch Editores. O conto em si tem suas imperfeições, mas o conceito... O que posso dizer é que vale a pena. Pode-se lê-lo gratuitamente aqui.

Ilustração de Varney, the Vampyre:
exemplo de vampiro à moda antiga.

Ainda na mesma leva, uma "história real" de ataque vampírico na Inglaterra. Digo "real" porque sua proveniência não é tão fácil de determinar, e ela contém elementos confirmados de verdade -- não à toa se tornou famosa não nos famosos pulps em que tais histórias eram comuns, mas numa autobiografia do escritor Augustus Hare. Mais interessante ainda é que sua história nos permite ver o quão pouco a atual versão do vampiro hollywoodiano tem a ver com o monstro que povoa lendas e relatos mais antigos. Uma extensa discussão a respeito pode ser encontrada aqui, e uma concisa avaliação cética e desdenhosa, aqui. Já o relato propriamente dito pode ser lido neste link.

quarta-feira, julho 14, 2010

Os caprichos da Fortuna

Isso diz alguma coisa sobre estatísticas, algo que já foi dito uma vez numa cena da novela "Guerra dos Sexos" (1983) e que eu nunca mais esqueci: "Praticamente impossível não é impossível".

Por outro lado, é duro não pensar em predestinação quando se ouve um caso assim. Não sei bem para que lado pendo, e na dúvida me abstenho sobre a metafísica de tamanha "sorte".

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14/07/2010 09h23 - Atualizado em 14/07/2010 10h11

Mulher chama atenção após ganhar 4 prêmios

máximos na loteria do Texas

Misteriosa Joan Ginther levou equivalente a R$ 36,8 milhões desde 1993.
Chance de isso ocorrer é de 1 em 18 septiliões, segundo matemáticos.

Da AP, em Bishop

Uma mulher chamou a atenção depois de ter ganhou quatro vezes o prêmio máximo da Loteria do Texas, levando uma bolada total de US$ 21 milhões (R$ 36,8 milhões). Segundo os matemáticos, as chances de isso acontecer são de uma em 18 septiliões (18 seguido de 24 zeros).

A felizarda é a professora de matemática Joan Ginther, de 63 anos, que morava na comunidade rural de Bishop, de 3.300 habitantes.

Ela ganhou seu primeiro prêmio, de US$ 11 milhões, em uma raspadinha, em 1993. Depois, ganhou mais duas raspadinhas e um sorteio de números.

Ray Cruz, um ex-vizinho, diz que ela apareceu pouco desde então. Segundo outra amiga, Cris Carmona, ela quer "manter a privacidade".

Muitos apostadores vão ao local em que Joan comprou seus últimos dois bilhetes, o Times Market, mas não conseguem repetir a mesma sorte.

A dona do mercado, Sun Bae, descreve Joan como uma pessoa "generosa", que ajudou muita gente com o dinheiro de seus prêmios.

Homem compra bilhete de loteria no Times Market, na cidade texana de Bishop. Homem compra bilhete de loteria no Times Market, na cidade texana de Bishop. (Foto: AP)

A comissão da Loteria do Texas afirma que já houve casos anteriores de vencedores repetidos, mas não na escala do de Joan.

Sun Bae, a dona do mercado.Sun Bae, a dona do mercado. (Foto: AP)

Bobby Heith, porta-voz da comissão, disse que o caso nunca foi investigado. Ele descartou, no entanto, a possibilidade de fraude.

Joan nunca falou publicamente sobre o prêmio. Ela mudou-se de Bishop para Las Vegas recentemente, e não atende ao telefone.

Ela também pediu a seus próximos que não concedam entrevistas.

segunda-feira, julho 05, 2010

Os ingredientes do psicopata

Há uns 4 ou 5 anos, eu fiz um post sobre o que a ciência diz sobre a psicopatia. Comprei um livro a respeito e, de lá para cá, o assunto aparece em revistas de divulgação científica ou em livros de sucesso. Até aqui eu pensava que a relação entre as peculiaridades do psicopata e certas anormalidades cerebrais era explicação suficiente para o fenômeno. Mas agora encontro um artigo que sugere outras possiblidades. Afinal, se você tem o cérebro de um psicopata e os marcadores genéticos de um psicopata, você não deveria ser um psicopata? Segundo este artigo, parece que não. No entanto, uma coisa que me ocorre agora, dois minutos após a leitura: dá para confiar numa pesquisa chefiada por alguém com o perfil orgânico de um psicopata?

Vai saber...

Seja como for, o artigo sugere que ter sofrido abusos na infância (violência ou a ameaça dela) seria um componente fundamental para ativar a psicopatia. Bem, eu não me lembro de ter lido nada sobre isso. É bem verdade que o sofrimento infantil pode alterar as respostas emocionais de um indivíduo para sempre, mas daí a fazer um psicopata, isso para mim é novidade. Terei me esquecido de um detalhe tão importante? Estará a matéria recheada de wishful thinking? Não sei, mas fica registrada a referência. E vale a pena ler os comentários dos leitores.


domingo, julho 04, 2010

O massacre após a derrota

OK, eu não costumo falar de esportes, e este blog já sobreviveu a uma Copa do Mundo mantendo uma distância olímpica de tais assuntos (sem trocadilho). Mas não posso deixar de fazer um registro sobre um movimento que tem me incomodado nestes últimos dias: o massacre moral que vem sendo promovido contra o técnico Dunga na seleção. Eu não acompanho essas coisas fora da Copa, mas, embora compreensível, eu esperava um pouco menos de acidez por parte da imprensa. É de se esperar que se critique veementemente um técnico e seu time após uma derrota, especialmente uma inesperada como foi. Mas, pelo que se informou, o homem vinha de uma longa série de vitórias, com bem poucas derrotas no currículo. O que se fez disso? Agora atribuem a uma boa dose de "sorte". Em outras palavras, se o time ganha, é o acaso; mas se perde, a culpa é toda do técnico.

Críticas devem ser feitas, e talvez seja verdade que a imprensa deve procurar ser imparcial, o que significa não "pôr panos quentes" indevidos. Cabe aos leitores, em tese, decidirem o que pensar sobre o que leram. No entanto, há limites, e eu me pergunto se todo esse massacre não advém, ao menos em parte, mais da hostilidade de Dunga à imprensa. A imprensa pode ser muito corporativa quando lhe convém, e minha dúvida parece bem razoável. Dunga não só "perdeu" a Copa, ele perdeu a Copa xingando jornalistas. Por lamentável que isso seja, ainda assim não justifica a execração pública no nível que vi nos jornais e colunas desde sexta passada. Que a gente comum das ruas fizesse isso, com a superficialidade descompromissada de sempre, compreende-se; mas de pessoas que trabalham com informação, eu esperaria um pouco mais de decência e menos paixão. Afinal de contas, o que pode uma pessoa, que já sofre a rejeição popular, contra essa onde pejorativa?

Pode-se objetar que isso é ressaca da derrota, e que logo vai passar. Espero que sim. Mas demonstra alguma coisa sobre aqueles que fazem o papel de serem nossos olhos e ouvidos nos assuntos de interesse público. E ouso dizer que não é um visão muito bonita.

quinta-feira, julho 01, 2010

A teoria das Relações Internacionais em um apocalipse zumbi



Sim, a ascensão ao poder dos nerds está mesmo deixando o mundo mais interessante: http://www.foreignpolicy.com/articles/2010/06/21/night_of_the_living_wonks?page=full

E aqui o blog do autor, que, surpreendentemente, é mesmo um especialista da área... de Relações Internacionais, bem entendido: http://drezner.foreignpolicy.com/posts/2010/06/21/oh_right_the_zombies

Documentos secretos na Internet

Uma das coisas desagradáveis sobre ter muito o que fazer é que nos tornamos distraídos para aquilo que não envolve nossos interesses imediatos. Depois de um caso rumoroso que chegou à grande imprensa, como eu pude ignorar a existência deste site? Realmente, o mundo é grande, muito grande...

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Introduction

... could become as important a journalistic tool
as the Freedom of Information Act.
— Time Magazine

WikiLeaks is a multi-jurisdictional public service designed to protect whistleblowers, journalists and activists who have sensitive materials to communicate to the public. Since July 2007, we have worked across the globe to obtain, publish and defend such materials, and, also, to fight in the legal and political spheres for the broader principles on which our work is based: the integrity of our common historical record and the rights of all peoples to create new history.

We believe that transparency in government activities leads to reduced corruption, better government and stronger democracies. All governments can benefit from increased scrutiny by the world community, as well as their own people. We believe this scrutiny requires information. Historically that information has been costly - in terms of human life and human rights. But with technological advances - the internet, and cryptography - the risks of conveying important information can be lowered.

In its landmark ruling on the Pentagon Papers, the US Supreme Court ruled that "only a free and unrestrained press can effectively expose deception in government." We agree.

We believe that it is not only the people of one country that keep their government honest, but also the people of other countries who are watching that government. That is why the time has come for an anonymous global avenue for disseminating documents the public should see.

Extravasando a raiva

Finalmente alguém usou o Twitter para algo...hã...útil: http://movie.uol.com.br//conteudo.php?id=2036

"Era uma noite escura e tempestuosa..."



Nada como um talento que não se leva a sério. Será que vingaria uma versão brasileira deste concurso dedicado a um velho conhecido deste blog: http://www.bulwer-lytton.com ?