domingo, julho 04, 2010

O massacre após a derrota

OK, eu não costumo falar de esportes, e este blog já sobreviveu a uma Copa do Mundo mantendo uma distância olímpica de tais assuntos (sem trocadilho). Mas não posso deixar de fazer um registro sobre um movimento que tem me incomodado nestes últimos dias: o massacre moral que vem sendo promovido contra o técnico Dunga na seleção. Eu não acompanho essas coisas fora da Copa, mas, embora compreensível, eu esperava um pouco menos de acidez por parte da imprensa. É de se esperar que se critique veementemente um técnico e seu time após uma derrota, especialmente uma inesperada como foi. Mas, pelo que se informou, o homem vinha de uma longa série de vitórias, com bem poucas derrotas no currículo. O que se fez disso? Agora atribuem a uma boa dose de "sorte". Em outras palavras, se o time ganha, é o acaso; mas se perde, a culpa é toda do técnico.

Críticas devem ser feitas, e talvez seja verdade que a imprensa deve procurar ser imparcial, o que significa não "pôr panos quentes" indevidos. Cabe aos leitores, em tese, decidirem o que pensar sobre o que leram. No entanto, há limites, e eu me pergunto se todo esse massacre não advém, ao menos em parte, mais da hostilidade de Dunga à imprensa. A imprensa pode ser muito corporativa quando lhe convém, e minha dúvida parece bem razoável. Dunga não só "perdeu" a Copa, ele perdeu a Copa xingando jornalistas. Por lamentável que isso seja, ainda assim não justifica a execração pública no nível que vi nos jornais e colunas desde sexta passada. Que a gente comum das ruas fizesse isso, com a superficialidade descompromissada de sempre, compreende-se; mas de pessoas que trabalham com informação, eu esperaria um pouco mais de decência e menos paixão. Afinal de contas, o que pode uma pessoa, que já sofre a rejeição popular, contra essa onde pejorativa?

Pode-se objetar que isso é ressaca da derrota, e que logo vai passar. Espero que sim. Mas demonstra alguma coisa sobre aqueles que fazem o papel de serem nossos olhos e ouvidos nos assuntos de interesse público. E ouso dizer que não é um visão muito bonita.

2 comentários:

Clara disse...

Tb acho lamentável essa postura da imprensa!
O histórico de vitórias do Dunga simplesmente foi apagado, ignorado ou considerado como "sorte".
Essa postura da imprensa é no mínimo preocupante...

Anônimo disse...

Complicado falar de futebol principalmente aqui por vários motivos, mas isso é clichê.
O que pesou pra mim foi a reação dele aos profissionais responsáveis, não dando entrevistas oficiais para a Fifa, isolando todos do time e tratando mal até jornalistas brasileiros. Por mais chateado que ele estivesse, não justifica o descontrole, pois não é essa a atitude desejada de um representante de seleção.
E no fim nunca entendi a função de imprensa imparcial. Acho uma ilusão pensar dessa maneira, pois qualquer tipo de expressão realizada por nós é carregada de opiniões, emoções, entre várias coisas que no fim resultam em diversas versões de uma mesma questão por mais imparcial que tente ser.
A diferença entre os que formam a imprensa e não acaba sendo a quantidade de pessoas que podem atingir, no mais somos todos "iguais".