domingo, maio 16, 2010

O outro lado

Você sabe quem é este bebê?



Eu olho para ele e me acomete certa melancolia. Aparentemente aturdido com o que deve ser a primeira vez que vê uma câmera, daqueles enormes modelos antigos de lambe-lambe, ele me passa a vontade de lhe dar colo, de tomá-lo nos braços e anacronicamente desviá-lo de uma vida de decepções, rancores e batalhas. Vendo-o assim, tão pequeno e frágil, como não pensar que isso seria possível? Que se tal evento tivesse sido diferente, que se determinada coisa pudesse ter acontecido... Mas a história desconhece o se. Para ela, quando muito, só existe o "Foi assim". E apesar disso, eu me recordo de um texto ouvido há muito tempo em um centro espírita, que dizia mais ou menos isso: que todos tinham um outro lado, e que mesmo aquele que para nós é o pior criminoso, é ou foi o amigo, filho, esposo ou pai de alguém; que há sempre um outro lado pelo qual se pode vê-lo, e que nossa perspectiva acusatória, por mais justa que nos pareça dentro de nossas circunstâncias pessoais, nem por isso é absoluta. Coisa óbvia, mas da qual esquecemos com muita frequência em um mundo a todo tempo clamando por vinganças e punições exemplares.

Hoje, vendo essa foto e lendo um pouco da biografia desse bebê, compadeci-me dele. É bem provável que, se tivéssemos compartilhado a mesma época e sobretudo a mesma região, isso fosse bem mais difícil. Mas aí entra a questão da circunstância mais uma vez: a posição de oponente ou vítima não nos dá necessariamente maior claridade moral para julgar alguém, apenas cria ênfase nos aspectos negativos. Isso é normal, é humano, mas não deve ser a única possibilidade. Porque, afinal de contas, uma perspectiva mais alta é sempre possível e desejável. E como dizia Buda no Dhammapada: "Jamais se extingue o ódio com o ódio. O ódio só se extingue com o amor, esta é a lei eterna".

Sim, somos responsáveis pelas escolhas que fizemos e arcamos com as consequências delas. Mas não é da natureza da compaixão que seja proporcional à necessidade dos que a recebem? E como negá-la àqueles que, neste mundo tão confuso e onde não raro há mais sombras que luzes, justamente mais dela precisam?

Enfim, nesta manhã de domingo, dediquei uma prece a esse menino, que um dia deve ter sido a luz de sua família, feito a alegria de sua mãe e encarnado as esperanças de seu pai. Que engatinhou por uma casa, encantou-se com as pequenas e inúmeras descobertas infantis, e todas essas coisas normais da infância... Hoje, enfim, eu lhe dediquei um pouco de minha simpatia naquilo que todos temos em comum, que é a condição básica de ser humano.

Seu nome era Adolf.

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