domingo, junho 28, 2009

Preocupações ociosas de fim de semana

31%

Eu sabia que devia ter feito bom um curso de tiro...

sábado, junho 27, 2009

As mais estranhas homenagens a Michael Jackson

Primeiro, a do megastar indiano Chirajeevi, "Goli Mar":


Depois, a mais tocante, dos prisioneiros filipinos de Cebu, que toda semana fazem várias coreografias como parte do programa de reabilitação. Impressionante.


Realmente, o mundo é cheio de surpresas.

quinta-feira, junho 25, 2009

Michael Jackson (1958-2009)



Depois de uma vida muito atribulada, que possivelmente lhe arrancou um pouco da sanidade, eis que o "rei do pop" se foi hoje, devido a uma parada cardíaca, aos 50 anos de idade. Uma prova viva do frequente divórcio entre riqueza e felicidade, Michael deixa como legado uma grande influência na cultura popular, que vai de seu clássico moonwalk até a revolução na qualidade dos videoclips, iniciada com o inigualável Thriller.

Eu nunca fui um grande fã seu, mas me lembro muito bem do fascínio e do medo que senti ao ver Thriller na antiga Rede Manchete, pela primeira vez. Devia ter uns 4 ou 5 anos, e minha mãe tinha comprado o LP, de modo que eu podia não apenas me impressionar com as cenas na TV, mas também ler a letra no encarte do disco. Agora me ocorre que provavelmente foi um dos primeiros textos em inglês que vi na vida. Mais uma, então, que devo a Michael, além da excelência de muitas das suas canções nos anos 1980.

Que ele possa ter na próxima vida um pouco da paz e do equilíbrio que não alcançou nesta. Fica aqui uma modesta homenagem: http://www.youtube.com/watch?v=AtyJbIOZjS8&feature=fvst.

domingo, junho 21, 2009

Prece pela Paz

Almighty and merciful God, Father of all men, Creator and ruler of the universe,

Lord of all history, whose designs are without blemish, whose compassion for
the errors of men is inexhaustible, in your will is our peace.

Mercifully hear this prayer which rises to you from the tumult and desperation
of a world in which you are forgotten, in which your name is not invoked,
your laws are derided and your presence is ignored. Because we do not
know you, we have no peace.

From the heart of an eternal silence, you have watched the rise of empires
and have seen the smoke of their downfall. You have witnessed the impious
fury of ten thousand fratricidal wars, in which great powers have torn whole
continents to shreds in the name of peace and justice.

A day of ominous decision has now dawned on this free nation. Save us then
from our obsessions! Open our eyes, dissipate our confusions, teach us
to understand ourselves and our adversary. Let us never forget that sins
against the law of love are punishable by loss of faith, and those
without faith stop at no crime to achieve their ends!

Help us to be masters of the weapons that threaten to master us.
Help us to use our science for peace and plenty, not for war and
destruction. Save us from the compulsion to follow our adversaries
in all that we most hate, confirming them in their hatred and
suspicion of us. Resolve our inner contradictions, which now
grow beyond belief and beyond bearing. They are at once a torment
and a blessing: for if you had not left us the light of conscience,
we would not have to endure them. Teach us to wait and trust.

Grant light, grant strength and patience to all who work for peace.
But grant us above all to see that our ways are not necessarily
your ways, that we cannot fully penetrate the mystery of your
designs and that the very storm of power now raging on this earth
reveals your hidden will and your inscrutable decision.

Grant us to see your face in the lightning of this cosmic storm,
O God of holiness, merciful to men. Grant us to seek peace where
it is truly found. In your will, O God, is our peace.

Amen.


Thomas Merton (1915-1968), Prayer for Peace

sábado, junho 20, 2009

Irã: entre o verde e o vermelho-sangue

Estou espantado e ao mesmo tempo emocionado. Espantado com a pouca cobertura que a guerra política, religiosa e cultural que começou no Irã tem recebido da nossa imprensa, sobretudo das redes de TV; e emocionado por estar ciente de que, seja qual for o desfecho imediato do que se passa nessa terra tão habitualmente vista como obscurantista e retrógrada, estou assistindo a algo que pode marcar um ponto de virada na posição do Oriente Médio no mundo -- e sob a égide principalmente da não-violência.


6a00d83451c45669e201157039128a970c-500wi

Não sei se o que está se passando é o começo de uma revolução dentro da revolução iraniana, ou um arroubo efêmero que será sileciado a balas, bombas e terror. Tenho plena consciência de que, por trás de todo enfrentamento, os dois lados veneram e recorrem ao legado -- a meu ver, detestável -- do aiatolá Khomeini, um homem que não recuou ante a possibilidade de esmagar vários dos seus aliados na derrubada do também autoritário xá Reza Pahlevi, em 1979. Um homem que, com toda a admiração que lhe era dedicada por uma esquerda ocidental estúpida nos anos 1970, que o tomou por líder espiritual sábio, renegou todos os valores que seus admiradores ingênuos projetavam nele e mostrou qual era a sua concepção de liberdade. Um homem, enfim, que destruiu dissidências, condenou Salman Rushdie à morte e consolidou seu poder com base no medo, na paranóia e na repressão à discordância. São a sua foto e suas palavras que são tomadas como inspiração por parte das multidões de verde que lutam por democracia e, a partir de hoje, também por suas vidas nas ruas de Teerã, Shiraz e outras cidades de que nunca tínhamos ouvido falar até esta semana. Gente que procura uma vida melhor, que não quer baixar a cabeça ante uma mentira clara e, aparentemente, não aceita mais a desculpa de que a hostilidade ocidental serve de pretexto para calar suas insatisfações -- e que provavelmente não teria como fazer o que faz hoje enquanto seu herói teocrático estava vivo. E, ainda assim, hoje, essa gente toda, por mais ingênua que possa nos parecer à distância para confiar a tal patrono seu amor e sua lealdade, hoje concentra as mais concretas esperanças do que pode vir a ser um Oriente Médio capaz de romper o beco-sem-saída que tem dominado a maior parte dos países muçulmanos: a dualidade entre o atraso fundamentalista ou uma relativa modernidade ditatorial, entre a desconfiança acirrada do fanático e a corrupção e a brutalidade dos "líderes" cuja legitimidade vem da força e do comodismo de populações que não sabem ou podem ainda se organizar.

Há 30 anos, o Irã assombrou o mundo com uma revolução teocrática nunca antes vista. Nos anos seguintes, associou-se ao medo da expansão desse movimento nos outros países -- o Hezbollah, por exemplo, é fruto desse desejo -- e ao fomento da violência. Foi também uma ameaça simbólica, quando não de fato, aos regimes seculares e ditatoriais de seus vizinhos. Mas hoje, quando os ocidentais se arrepiam ou balançam a cabeça com uma superioridade condescendente ao olharem a pobreza reinante no Oriente Médio, o Irã representa outra coisa: é o levante popular, é a população marchando unida, é a cantoria cada vez mais alta das ruas a repetir "Alá é grande!". O Irã é hoje um grande "NÃO" ao fechamento da sociedade, ao uso da religião para negar às pessoas a escolha de seus rumos, à corrupção dos que confiam demais no próprio poder, à retórica dos que pretendem "proteger o povo de si mesmo". Independentemente do que o homem em torno do qual esse movimento se criou venha a fazer -- ele que foi braço-direito de Khomeini nos anos mais negros da Revolução --, ou de alguns de seus apoiadores mais poderosos venham a conquistar (como o milionário mulá Rafsanjani, cuja idoneidade, até onde sei, não é exatamente consensual), é o movimento em si que importa. É o clamor das manifestações que prova o que deveria ser óbvio a toda gente: que nenhuma repressão dura para sempre, e que o ímpeto pela liberdade, que não pode ser imposto pelas armas (vide Iraque), uma vez desperto, só tende a crescer. Enganaram-se os que outrora julgaram que revolucionário é aquele que precisa de um bando armado pronto a tudo para abrir um sanguinolento caminho até o poder; esse, mesmo que bem intencionado quanto aos fins, só perpetua erros milenares quanto aos meios. O verdadeiro revolucionário é aquele que catalisa os anseios dos seus semelhantes e age, não pelo terror, não se tornando igual ao inimigo que combate, mas que quebra o círculo vicioso da violência e demonstra, de uma vez por todas, que nenhuma arma, nenhuma tropa, é mais poderosa que uma multidão unida pronta a se fazer ouvir. E hoje, como tem provado a guerrilha virtual que os partidários do "mar verde" iraniano tem demonstrado, isso é mais demonstrável do que nunca.

Mesmo que o pior aconteça, o Irã não será mais o mesmo. Khamenei, Ahmadinejad e sua cáfila nunca mais terão a mesma tranquilidade, a mesma segurança, a mesma legitimidade. Seu poder, derivado de uma justificativa teocrática, foi deslegitimado aos olhos de milhões, e no fim das contas vêm se comportando como qualquer regime autoritário secular. Eles não são o Islã, mas somente pecadores como outros quaisquer, falíveis e por vezes renitentes no erro, como está evidente a quem testemunhe o que se passa. Mesmo que Moussavi seja preso ou morto, e o seu movimento se disperse, seu exemplo ficará -- até o próximo estopim, a próxima onda. E assim, quem sabe, a despeito de si mesmo, a Revolução Iraniana acabe finalmente sofrendo uma reforma por dentro.

Abaixo, algumas imagens coletadas na melhor fonte até o momento sobre os eventos no Irã, o blog de Andrew Sullivan.




Greenmask

Bloodgirl

Green-stream

0618MASKS:Getty

Crowd-wall

Uma estatística assustadora


20/06/2009 - 08h55

Mais de 27% dos homens sul-africanos já estupraram

PUBLICIDADE

da Folha de S.Paulo

Uma sondagem realizada pelo Conselho de Pesquisa Médica (CPM) da África do Sul revelou que 27,6% dos homens do país admitem já ter cometido estupro. A prática é considerada um dos principais motivos para o alto índice de infecção pelo vírus HIV entre os sul-africanos --12% de 47 milhões.

Foram entrevistados na pesquisa do CPM 1.738 homens em áreas rurais e urbanas das Províncias (Estados) do Cabo Ocidental e de KwaZulu-Natal.

A pesquisa aponta que 74% dos sul-africanos que admitem ter cometido estupro o fizeram pela primeira vez antes dos 20 anos de idade --e 10% antes dos dez anos de idade. Cerca de 5% dos entrevistados admitiram já ter violentado outros homens.

O estupro chamado "íntimo", de atuais ou ex-parceiras, foi cometido por 14%. É nesse grupo que, segundo os pesquisadores, foi verificada a maior relação entre a prática do estupro e a infecção por HIV. Já entre o total de homens que dizem ter cometido o crime e o total dos que dizem não tê-lo cometido a diferença não é significativa.

Quase a metade dos homens que já estupraram o fizeram duas ou mais vezes -7,7% estupraram mais de dez mulheres. E 1 em cada 10 deles afirmou tê-lo feito na companhia de "gangues" de estupradores.

"O estupro é um problema que vem das ideias de masculinidade na África do Sul. A posição do homem é superior à da mulher na sociedade e legitima esse tipo de comportamento", disse a diretora do setor de gênero do CPM, Rachel Jewkes.

Para os pesquisadores, a alta incidência entre os mais jovens aponta para o risco de reversão de avanços obtidos nos últimos anos em relação à desigualdade de gênero e para a necessidade de uma abordagem não apenas repressiva em relação ao tema.

"Uma mudança precisa estar ligada à existência de modelos alternativos sobre como ser homem, o que exige melhorias no sistema educacional e maiores oportunidades de emprego para os mais jovens", diz Jewkes.

O perfil dos homens que disseram ter estuprado não aponta, no entanto, relação direta com a pobreza. Segundo o relatório, eles se encontram geralmente em camadas intermediárias de renda e escolaridade.

Estupro e Aids são temas sensíveis na África do Sul. Além da alta incidência de ambos, posições públicas de autoridades como o atual presidente, Jacob Zuma, e o seu antecessor, Thabo Mbeki, têm gerado revolta nos últimos anos entre ativistas de combate à Aids.

Em 2006, Zuma enfrentou uma acusação de estupro e foi inocentado. No processo, o político, que preserva a tradição de poligamia, justificou o sexo sem proteção pelo fato de tomar uma ducha após o ato.

Com agências internacionais

domingo, junho 07, 2009

O homem no mundo

Uma questão que me intriga é da espiritualidade na vida prática. Naturalmente, todos temos uma ideia disso, especialmente no quesito moral. Mas não é disso do que falo, do certo ou do errado, do bem e do mal. Sempre me fascinou a tensão entre a visão de mundo religiosa, portanto voltada para o Transcendente, e a ação humana no mundo e suas demandas não raro urgentes e pouco espirituais -- em seus extremos, entre o asceta e o pragmatista. Tendo já encontrado radicais de um lado e de outro, os que procuram viver só para o espírito e os que negam a validade deste, a busca de um caminho do meio sempre foi uma questão das mais envolventes para mim. Como viver ambos os mundos sem violentá-los? Como usufruir da singularidade de seus ensinos e de suas vivências, sem cair no proverbial sujeição a dois senhores e que corrói, tantas vezes, as religiões organizadas, tanto para o bem quanto para o mal?

Por isso mesmo, este se tornou um dos meus textos favoritos. À parte a linguagem fortemente cristã, sua essência é aplicável, penso eu, a qualquer um que procure vivenciar sua fé sem abrir mão do mundo à sua volta. E embora eu saiba que sua abordagem não seja plenamente compatível com todo e qualquer credo -- e como isso poderia ser possível? --, ainda assim é dele que me lembro nos dilemas do dia-a-dia.

Divido-o com vocês.
--------------------------

UM ESPÍRITO PROTETOR

Bordeaux, 1863

            10 – Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração daqueles que se reúnem sob o olhar do Senhor, implorando a assistência dos Bons Espíritos. Purificai, portanto, os vossos corações.Não deixeis que pensamentos fúteis ou mundanos os perturbem. Elevai o  vosso espírito para aqueles a quem chamais, a fim de que eles possam, encontrando em vós as disposições favoráveis, lançar em profusão as sementes que devem germinar os vossos corações, para neles produzir os frutos da caridade e da justiça.

            Não penseis, porém, que aos vos exortar incessantemente à prece e à evocação mental, queiramos levar-vos a viver uma vida mística, que vos mantenha fora das leis da sociedade em que estais condenados a viver. Não. Vivei com os homens do vosso tempo, como devem viver os homens; sacrificai-vos às necessidades, e até mesmo às frivolidades de cada dia, mas fazei-o com um sentimento de pureza que as possa santificar.

            Fostes chamados ao contato de espíritos de naturezas diversas, de caracteres antagônicos: não melindreis a nenhum daqueles com quem vos encontrardes. Estai sempre alegres e contentes, mas com a alegria de uma boa consciência e a ventura do herdeiro do céu, que conta os dias que o aproximam de sua herança.

            A virtude não consiste numa aparência severa e lúgubre, ou em repelir os prazeres que a condição humana permite. Basta referir todos os vossos atos ao Criador, que vos deu a vida. Basta, ao começar ou acabar uma tarefa, que eleveis o pensamento ao Criador, pedindo-lhe, num impulso da alma, a sua proteção para executá-la ou a sua benção para a obra acabada. Ao fazer qualquer coisa, voltai vosso pensamento à fonte suprema; nada façais sem que a lembrança de Deus venta purificar e santificar os vossos atos.

            A perfeição, como disse o Cristo, encontra-se inteiramente na prática da caridade sem limites, pois os deveres da caridade abrangem todas as posições sociais, desde a mais íntima até a mais elevada. O homem que vivesse isolado não teria como exercer a caridade. Somente no contato com os semelhantes, nas lutas mais penosas, ele encontra a ocasião de praticá-la. Aquele que se isola, portanto, priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de perfeição: só tendo de pensar em si, sua vida é a de um egoísta. (Ver cap. V. nº 26)

            Não imagineis, portanto, que para viver em constante comunicação conosco, para viver sob o olhar do Senhor, seja preciso entregar-se ao cilício e cobrir-se de cinzas. Não, não, ainda uma vez: não! Sede felizes no quadro das necessidades humanas, mas que na vossa felicidade não entre jamais um pensamento ou um ato que possa ofender a Deus, ou fazer que se vele a face dos que vos amam e vos dirigem.





quinta-feira, junho 04, 2009

História da Não-Violência - parte 1

Se este mundo quiser deixar de ser tão rico de miséria e incompreensão, vai ter de recorrer a exemplos como estes abaixo. Sempre achei o assunto fascinante, e tenho uma pequena mas bem selecionada bibliografia sobre o assunto. Infelizmente, compromissos acadêmicos e profissionais têm me forçado a dirigir minha atenção a outros assuntos, de modo que a não-violência -- que não é a mera passividade do pacifista radical -- ficou em segundo ou terceiro plano. No entanto, o assunto me apaixona, pela oportunidade que representa de combinar uma espiritualidade genuína (mesmo que em forma laica) com a ação política e social. 

Este é só o primeiro trecho; os demais, que são quatro, podem ser encontrados no YouTube. Vale a pena conhecer. E quem quiser saber mais sobre o assunto, pode começar por aqui e por aqui