sábado, maio 17, 2008

Adolescência: um mito?

Todas as épocas têm seus "clichês", idéias que são tidas como óbvias e auto-evidentes mas que, se observadas com um pouco de cuidado, podem se revelar ilusórias ou apenas verdades relativas. Seria o caso do status especial que damos aos adolescentes? Como sempre sou a favor da confrontação de opiniões, reproduzo aqui um "herege" no campo, cujo ataque a essa fase tão notória em nossos tempos dá o que pensar.

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Época - http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR77573-6014,00.html

COMPORTAMENTO

Abaixo a adolescência!

Psicólogo americano diz que os jovens não são problemáticos: os adultos é que têm medo de lhes dar responsabilidades desde cedo

Por Francine Lima

A tese dele é polêmica: a adolescência não deveria existir. Não, o psicólogo americano Robert Epstein não prega o extermínio dos jovens, e sim uma nova forma de encará-los. No livro The Case against Adolescence: rediscovering the Adult in Every Teen (algo como O Processo contra a Adolescência: redescobrindo o Adulto dentro de cada Adolescente), lançado nos Estados Unidos, Epstein atribui boa parte do comportamento problemático dos jovens à tendência dos adultos de não lhes dar confiança e responsabilidade. Indisciplina, agressividade, falta de autonomia, abuso de drogas e criminalidade poderiam ser problemas bem menos comuns, segundo ele, se parássemos de tratar os adolescentes como... adolescentes.

Robert Epstein
• QUEM É - Nasceu em 19 de junho de 1953 em Hartford, Connecticut, EUA. Tem quatro filhos: dois já foram adolescentes e dois ainda vão ser

• O QUE FAZ - Epstein é editor-colaborador da revista Scientific American Mind e foi editor-chefe da Psychology Today. É pesquisador visitante da Universidade da Califórnia em San Diego, e já publicou artigos em revistas como Science e Nature. Entre os temas que estuda, além da adolescência, estão sexualidade, criatividade, relações amorosas e motivação

ÉPOCA - Por que o senhor diz que a adolescência é uma ficção?
Robert Epstein -
A adolescência, tal como a conhecemos hoje, é uma invenção industrial. A primeira referência a ela surgiu em 1904, na obra de um psicólogo americano chamado Granville Stanley Hall, como uma transição supostamente necessária entre a infância e a idade adulta. Mas Hall nunca estudou outras culturas para avaliar sua teoria. Há mais de cem países onde não há qualquer vestígio desse tipo de mau comportamento juvenil - na maioria dos países muçulmanos e no Japão, por exemplo. Onde há vínculo com o mundo dos adultos não existe esse tipo de problema. Em sociedades pré-industriais, os adolescentes trabalhavam no campo, ajudavam em casa, preparavam a comida. Aprendiam a se tornar adultos convivendo com eles. Se tiverem oportunidade, os adolescentes vão querer e vão tentar.

ÉPOCA - Sua tese se baseia na própria experiência?
Epstein -
Tenho ótima relação com meus filhos. O mais velho se meteu em muita encrenca com professores, autoridades e amigos quando era adolescente. Chegou a mexer com drogas... Foi preso, mas não condenado. O segundo filho também se envolveu com drogas, e algumas vezes fiquei bem preocupado. Eu tinha me divorciado da mãe deles. Então, se um de nós não cedia aos pedidos do filho, o outro cedia. Isso ocorre muito entre pais separados. s

ÉPOCA - O divórcio, então, é prejudicial aos filhos?
Epstein -
Acredito que o verdadeiro motivo não seja o divórcio, mas o fato de os adolescentes viverem hoje em um mundinho próprio, isolado dos adultos. Eles passam 70 horas por semana com amigos da mesma idade. Não porque eles não queiram ficar com os adultos, mas porque os adultos não permitem que eles participem da vida adulta. Eles caem na armadilha da escola secundária e ficam isolados.

ÉPOCA - Qual é o problema com a escola secundária?
Epstein -
A forma como se concentra a educação é velha e errada. Os jovens são separados em classes por idade. Ensinamos a todos a mesma matéria, no mesmo ritmo. Tudo isso é ridículo. Cada criança tem um modo de aprender. Algumas das pessoas mais importantes do mundo abandonaram a escola. Bill Gates largou Harvard e nunca obteve um diploma. Thomas Edison, o maior inventor que conhecemos, foi educado em casa.

Nem sempre os adultos se saem melhor que os jovens. A taxa de divórcios é menor quando o homem se casa na adolescência

ÉPOCA - O que o senhor propõe?
Epstein -
A solução é simples: restabelecer o vínculo dos adolescentes com os adultos. Como? Dando a eles a opção de se tornar adultos tão logo queiram tentar. Não acho que as pessoas devam ser julgadas pela idade, pelo sexo ou pela etnia, e sim pelas habilidades. Nós poderíamos dar aos jovens diversas formas de participar do mundo adulto. Um grande teste dessa passagem da infância para a maturidade é o exame de motorista. Todos os jovens que fazem o teste passam. Não importa quão ruins sejam na escola, se cometeram algum delito ou se usam drogas. Se não passam na primeira tentativa, passam na segunda. Ou na terceira. Tentam até aprender e conseguir. Da mesma forma, se você permitir que eles façam testes para dar um passo adiante rumo à vida adulta, eles mostrarão que têm capacidade.

ÉPOCA - Dirigir é uma tarefa complexa?
Epstein -
É extremamente complexa. Especialmente quando comparada com as habilidades necessárias para assinar um contrato ou para se casar. Essas, sim, são atividades bem simples. Permanecer casado é complexo, mas se casar é muito simples. Nisso, muitos adultos não se dão melhor que os adolescentes. A taxa de divórcios entre homens que se casaram na adolescência aqui é mais baixa que a taxa de homens que se casaram na faixa dos 20 anos.

ÉPOCA - São raros os adolescentes que sustentam a si próprios.
Epstein -
São raros porque não permitimos. Não deixamos que os adolescentes adquiram propriedades ou abram empresas. Milhares de adolescentes abriram negócios na internet. Só não fazem mais porque não têm o próprio dinheiro. George Washington, primeiro presidente dos Estados Unidos, chefiava várias pessoas aos 16 anos, quando trabalhava como agrimensor. Jimmy Carter, outro ex-presidente, vendia amendoins aos 7 anos e dirigia aos 14. Os dois aderiram ao mundo adulto desde muito cedo. A cultura adolescente não existia naquele tempo. E, como resultado, eles se tornaram adultos maravilhosos.

ÉPOCA - Será que é isso que os adolescentes querem?
Epstein -
Os jovens são mais saudáveis e mais determinados. No entanto, o trabalho mais comum para eles aqui são atividades estúpidas como varrer o chão ou assumir o caixa de uma lanchonete. Estudos mostram que jovens envolvidos com drogas largam o hábito quando finalmente começam a trabalhar. Mais de 10 milhões de adolescentes americanos bebem regularmente. Mais de 1 milhão deles precisam de tratamento contra o alcoolismo e abuso de drogas. Se tivessem oportunidade de trabalhar - não no caixa do McDonald's, mas numa atividade de verdadeira responsabilidade - e fazer parte do mundo adulto, iriam parar com isso.

ÉPOCA - E no sexo? Os adolescentes também devem ser responsabilizados?
Epstein -
Eles vão fazer sexo cedo ou tarde, mas os pais podem se certificar de que os filhos estão prontos para essa nova etapa. O mesmo pode ser dito sobre a decisão de fazer um aborto. O que acontece agora é que os jovens fazem tudo o que querem, mas em conflito com os pais, por baixo do pano. Estamos tornando o amadurecimento deles uma fase escondida.

ÉPOCA - No Brasil, discute-se a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. O que o senhor pensa da prisão de jovens criminosos?
Epstein -
A lei deve proteger pessoas porque são incapazes, e não porque são jovens. Não é possível um jovem de 13 anos cometer um crime e ter total capacidade de entender o que fez? É claro que é.

ÉPOCA - Estudos mostram que o cérebro dos adolescentes é menos desenvolvido que o dos adultos. Não é natural, portanto, que eles sejam de alguma forma problemáticos?
Epstein -
Não existe um só estudo que demonstre a existência de um "cérebro adolescente" que seja responsável pelos problemas causados pelos jovens. O cérebro muda ao longo da vida; é claro que o cérebro dos adolescentes tem um aspecto um pouco diferente do cérebro de alguns adultos. Isso não explica o comportamento. Não podemos culpar a idade do cérebro pela irresponsabilidade dos jovens.

3 comentários:

Anônimo disse...

Responsabilizar e sentir-se responsabilizado são coisas diferentes. Não existem só adolescentes problemáticos, os adultos são, e muito. Enfim, é claro que existe uma cultura de senso comum que quer estereotipar tudo - inclusive o comportamento de nós adolescentes. Não entendi muito bem o que esse cara quer, mas ainda bem que meu pai não pensa assim...rs. Problemáticos ou não, responsáveis ou irresponsáveis... a verdade é que nós somos o futuro da humanidade.Hahahaha!!!!


beijos estrelados;*

Rafaela Abreu disse...

Gostei do blog. Volto aqui...

Abraço

Anônimo disse...

acho que este blog nao podia estar mais completo. tenho 1 irmão e os meus pais compabilizam me de tudo.Tenho 12 anos mas penso como se tivesse 16 a mim ninguem me compreende.Sei quando erro, e sei quando nao erro e levo as culpas. Posso pensar muito além ma ssou irresponsável e me atiram isso a cara. mas ja estou abituada. estabeleceram uma barreira de sentimentos, e quando nao souberam lidar comigo meteram me na psicologa. please, helpe me.