Entre passado e futuro: os 40 anos de 1968*
As comemorações dos quarenta anos de 1968, em termos históricos, ainda se referem a acontecimentos e a processos relativamente recentes. Para os que participaram de algum modo da aventura de 1968, no entanto, já decorreu um tempo considerável. Em qualquer caso, há uma certa distância, o que, em princípio, não garante coisa alguma, salvo poder meditar e discutir sobre versões diferenciadas e controversas que não deixaram de se acumular ao longo das décadas.
De alguns anos para cá, menos ou mais, segundo as sociedades, as datas redondas têm quase obrigado a um esforço de reflexão sobre certos marcos, considerados importantes, ou decisivos, na história. Alguns têm mesmo feito uma crítica contundente à febre das comemorações. Elas estariam se banalizando a tal ponto, e invadindo de tal forma os debates, que, a continuar assim, as margens para novas ações e acontecimentos se veriam reduzidas já que os atores sociais capazes de empreendê-las estariam sempre ocupados em... comemorar alguma coisa já acontecida!
Entretanto, a opção de evitar, ou fugir dos debates associados às comemorações pode não ser boa conselheira, eis que as batalhas de memória, não raro, são tão, ou mais, importantes que os objetos a que se referem, porque têm a capacidade de reconstruí-los ou remodelá-los, confirmando-se o velho aforismo de que a versão vale mais do que o fato, sobretudo quando não se tem consenso sobre o fato/os fatos em questão. Alguns inclusive pretendem, na vertigem dos relativismos cada vez mais dominantes, que a versão é o próprio fato, na medida em que a ele se sobrepõe, modificando os contornos e conferindo sentido às ações empreendidas no passado. Segundo esta orientação, os fatos dependeriam das versões e não travar os debates sobre elas seria abandonar os fatos à própria sorte ou ao controle dos que imaginam deles se apropriar como bem entendam.
Trata-se portanto de considerar e assumir os riscos inerentes ao exercício das comemorações, sobretudo quando se tem em vista a tendência a comemorar no sentido mais usual que, infelizmente, é pior sentido da palavra, ou seja, no sentido de celebrar acriticamente uma data, ou um processo, ou um conjunto de acontecimentos. Nas celebrações, como se sabe, tendem a desaparecer as contradições e as disputas, e a história é recuperada, ou narrada, segundo as conveniências das circunstâncias, e/ou dos celebrantes, ou dos valores dominantes, ou que passaram a dominar. Pode acontecer com os chamados veteranos que, com o passar do tempo, queiram ou não, vão se convertendo em ex-combatentes, obrigados a conviver com os avatares inevitáveis deste tipo de situação. Mas pode acontecer também, em chave negativa, aos que desejam se livrar deles, ou dos acontecimentos a eles associados. Estes dedicam-se a celebrar, exaltados, não a vigência de algo, mas o seu desaparecimento ou enterro. E isto se aplica a processos mais recentes ou mais remotos.
Sustento a possibilidade de comemorar (relembrar juntos) sem celebrar, o que, de modo algum, significa, como se verá, que pretenda entrar no debate sem premissas ou pontos de vista determinados.
O que impressiona no ano de 1968, e muitos já o têm sublinhado, é...
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Um comentário:
Eu praticamente "respirei" 68 na escola esse ano. Os professores tomaram o cuidado de não escrever nos cartazes de divulgação do evento que teve sobre os 40 anos de 1698 "comemoração" e sim "rememoração".Foi amplamente discutido a importância da construção de memória - não da forma que a tv ou os livros didáticos sempre nos apresenta, mas através do pensamento crítico que nós criamos a partir de nossas impressões nas pesquisas feitas, nos debates em que participamos, nas discussões em sala de aula, em materiais alternativos, etc.
É, foi um ano interessante e deve cair nos vestibulares.
Beijos estrelados ;*
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