sexta-feira, setembro 08, 2006

Réquiem para um mote

À procura de um tema, pensei em escrever algo sobre o não-dito, o silêncio e a perigosa aventura de ler nas entrelinhas; sobre o buscar sentidos, talvez confirmar esperanças, na penumbra das ambigüidades, na precariedade de palavras avaras de clareza. Mergulhados no oceano da linguagem, não é surpreendente o quão pouco ela pode nos dizer, tantas vezes, e quantos sentidos infindáveis podem se ocultar por trás de uma única frase trivial?

Era esse o meu mote. Se verso ou prosa, não cheguei a determinar... Sei apenas que topei com estas linhas de Rabindranath Tagore e pela enésima vez confirmei a teoria de que qualquer idéia que tenhamos, por boa que nos pareça, em algum momento já foi pensada por alguém. Para meu azar, neste caso o "alguém" foi um mestre da poesia, que soube combinar a dúvida e a esperança de uma forma que nenhum diletante igualaria. Assim, curvo-me ao poeta indiano que tantas vezes me embalou os sonhos nos dias em que estava faminto de significado -- essa iguaria deliciosa, terrível e fugaz.
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Se não Falas

Se não falas, vou encher o meu coração
Com o teu silêncio, e agüentá-lo.
Ficarei quieto, esperando, como a noite
Em sua vigília estrelada,
Com a cabeça pacientemente inclinada.

A manhã certamente virá,
A escuridão se dissipará, e a tua voz
Se derramará em torrentes douradas por todo o céu.

Então as tuas palavras voarão
Em canções de cada ninho dos meus pássaros,
E as tuas melodias brotarão
Em flores por todos os recantos da minha floresta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Esperar e aguardar... um tema de eterno devir a ti, a quem não?