quinta-feira, novembro 10, 2005

Amores intelectuais

Uma novidade interessante na enevoada ilha de Shakespeare. Tomara que a moda pegue por aqui...


Londrinos buscam alma gêmea em programa-cabeça

Por Paul Majendie

LONDRES (Reuters) - Como encontros rápidos e danceterias já não parecem preencher o vazio de muitos corações solitários, a moda em Londres agora é o "romance inteligente".


Sociedades de debates, aulas de arte e saraus de poesia são eventos que proliferam na capital britânica nesta onda dos namoros-cabeça. A tendência já foi notada por diversos comentaristas sociais e levou até a prestigiosa revista The Economist a decretar que "a seriedade está em alta".


Sebastian Shakespeare escreveu no jornal Evening Standard que "os debates e saraus estão rapidamente se tornando as noitadas mais românticas de Londres".


Quem vem se dando bem com isso é Ginny Greenwood, criadora do clube Futures Squared, voltado para solteiros com muito dinheiro e pouco tempo. "Você não está se concentrando no que acontece entre o umbigo e o joelho -- está se conectando à massa cinzenta", disse ela à Reuters.


"Eles têm renda e inteligência. Só precisam de alguém para organizar suas agendas sociais. Acho que 'intellidating' (expressão que funde as palavras 'inteligência' e 'namoro') é uma grande frase. Tenho certeza de que acabará no dicionário. Se você é uma pessoa inteligente numa posição profissional importante, não vai ficar perambulando pelos bares nem recorrer a um encontro-relâmpago (organizado por agências especializadas)."


Se a música é o alimento do amor, a poesia enche a alma, como descobriu a escritora Josephine Hart ao organizar a sua concorrida Hora da Poesia na Biblioteca Britânica.


"Isso tem mesmo um efeito importante sobre as pessoas", disse Hart, em cujo evento Bob Geldof leu Yeats, Ralph Fiennes se debruçou sobre Auden e Roger Moore recitou Kipling.


"A mente fica expandida. Teve gente que chorou em algumas noites", contou ela. "Espero que o namoro inteligente entre na consciência das pessoas. Há uma enorme falta de qualquer coisa que seja profunda. Os jovens têm fome de algo que tenha profundidade e importância."


John Gordon e Jeremy O'Grady criaram a Intelligence Squared porque queriam tornar os debates mais atraentes. Até agora, todos os eventos que organizaram, na sede da Real Sociedade Geográfica, lotaram antecipadamente.


"Acho que há uma fome por essas coisas num mundo que está mais complexo ao mesmo tempo em que também fica mais bobo", disse O'Grady. "Há uma enorme lacuna nas necessidades emocionais das pessoas."


Nesse clima, os don juans intelectuais enfrentam debates desafiadores, com títulos como "Melhor a justiça bruta que outro 11 de setembro" ou "A ascensão da China prenuncia o declínio do Ocidente".


"É discutível se isso é namoro ou debate, mas representa uma oportunidade para as pessoas que querem o namoro inteligente", disse O'Grady. "Há uma enorme carência de fóruns institucionais além da pista de dança e dos clubes para que eles se encontrem."

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