Com ele, tive uma das primeiras noções, lá para os anos 80, do que seria lutar com honra, e de que a força, por si só, pode nada mais ser que fraqueza. Que um guerreiro habilidoso depende menos dos músculos que da paciência, da percepção acurada, da experiência, sobretudo da perseverança. Para toda uma geração de jovens ávidos de emoções, extasiados com os novos e agressivos heróis de Hollywood -- Rambo, Exterminador, e até Jason Voorhess e Freddy Krueger --, ele era um contraponto: pequeno, idoso, aparentemente frágil. Mas compensava bem isso encarnando o arquétipo da sabedoria, do homem que adquiriu o domínio de si e, por isso, podia fazer o mesmo com os outros -- e deixava de fazê-lo por sua livre escolha.
Quem nunca se identificou com o afobado Daniel-san? Quem prestava atenção em qualquer outro detalhe em tela quando o Sr. Miyagi entrava em cena? Sim, era só um filme, talvez nem dos melhores. Mas "Karate Kid" foi, para muitos de nós que vivemos os anos 80, uma fonte de inspiração , uma espécie de mito, e como tal um repositório de lições. Talvez para alguns hoje elas possam parecer óbvias -- mas, para mim, que as vi ainda criança, ver essa fábula do triunfo do fraco sobre o forte, ao som da inesquecível flauta oriental, conhecê-las foi uma parte da minha educação moral, envolta nas mais doces lembranças.
Agora, o mestre se foi. Que fique em paz.
Música do dia, em homenagem: A Thrust of the Hand - Spirit of Japan (E. Honda).
25/11/2005 18:19:11
Morre Pat Morita, o senhor Miyagi de ‘Karatê Kid’
LOS ANGELES (Reuters), 25 de novembro - Pat Morita, o ator nipo-americano que ganhou fama no papel do sábio sr. Miyagi nos filmes da série "Karatê Kid" e no programa de TV "Happy Days", morreu em Las Vegas, aos 73 anos.
O serviço funerário de Las Vegas disse que Morita morreu de causas naturais, na quinta-feira.
O ator, que nasceu na Califórnia e foi internado em um campo de nipo-americanos durante a Segunda Guerra Mundial, ganhou uma indicação ao Oscar por sua perfeita caracterização do mestre de caratê em "Karate Kid", de 1984.
Morita interpretou o sábio faz-tudo sr. Miyagi, que fez amizade com um garoto recém-chegado na cidade, interpretado por Ralph Macchio, e o ajudou a enfrentar valentões ao ensiná-lo a filosofia oriental e as artes marciais.
O filme foi um sucesso de bilheteria e rendeu a Morita a honra de tornar-se o primeiro ator descendente de asiáticos a ser indicado ao Oscar. Ele perdeu naquele ano para Haing S. Ngor, de "Os Gritos do Silêncio".
Morita participou de três edições de "Karate Kid", o último dos quais "Karate Kid 4 -- A Nova Aventura", de 1994, que representou a primeira grande oportunidade no cinema para a atriz Hilary Swank, hoje vencedora de dois Oscars.
O espirituoso Morita trabalhava como programador de computadores, mas perto dos 30 anos entrou no mundo do entretenimento como comediante.
Sua primeira chance veio no início dos anos 1960, quando foi apresentado a Sally Marr, mãe do comediante Lenny Bruce, que começou a gerenciar sua carreira e a fazer turnês com ele ao redor dos EUA. Durante aquela década, ele apareceu em shows de TV como "Laugh-In" e "The Smothers Brothers Comedy Hour".
Em uma entrevista à Reuters, em 1994, para promover "Karate Kid 4", Morita disse ter vivido uma vida feliz.
"Eu aprendi o que é engraçado, e a palavra-chave de engraçado é graça", ele disse.
Depois de anos fazendo papéis secundários e aparições especiais na TV, Morita ganhou fama e um papel importante ao interpretar Arnold, dono de um restaurante no sucesso dos anos 1970 "Happy Days."
Por algum tempo, estrelou uma série de TV, no papel do detetive Ohara, e apareceu em muitos filmes, como "Linha de Fogo" e "Lua-de-Mel a Três". Morita ainda emprestou sua voz ao personagem do imperador na animação da Disney "Mulan", de 1998.
Ele recebeu uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood, em 1994.
Morita deixa Evelyn, sua mulher há 12 anos, e três filhas do seu casamento anterior.