quinta-feira, setembro 08, 2005

MBA budista na era da globalização

Já não se fazem mais monges budistas como antigamente. Onde está você, Lobsang Rampa?


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O GLOBO
Rio, 08 de setembro de 2005



Monges aprendem em MBA a divulgar templo

Gilberto Scofield Jr.
Correspondente

PEQUIM. Chang Chun é um monge budista e uma espécie de gerente-geral do Templo do Buda de Jade em Xangai. Além dos mantras que ele estuda todos os dias na sua rotina religiosa, Chang agora está lendo o lendário “A arte da guerra”, de Sun Tzu, um livro de estratégia que virou manual de nove entre dez executivos que querem saber como vencer no competitivo mundo dos negócios. Além disso, prepara com afinco um projeto de marketing que vai ajudar a vender melhor o templo onde trabalha para a multidão de turistas e estrangeiros que chegam a Xangai todos os anos.

Parece um contra-senso tanta preocupação material de um líder religioso que deveria estar mais atento ao lado espiritual de seu templo, correto? Errado. Pelo menos no entender de 18 monges budistas chineses de Xangai que formam a primeira turma de MBA (sigla em inglês para Master of Business Administration, um curso de mestrado que ensina como gerenciar um negócio) da Jiaotong University, na China.

— Pretendo descobrir como o mundo secular é administrado e melhorar o nível de gerência do nosso templo — disse ele em rede nacional na estatal chinesa CCTV.

A Jiaotong University, de Xangai, preparou com exclusividade o conteúdo do curso, que dura um semestre e está voltado para monges ou administradores. Segundo a agência estatal de notícias Xinhua, o MBA inclui as disciplinas administração de templos, ferramentas de marketing e produtos religiosos e até contabilidade básica.

O Partido Comunista da China continua exigindo de seus filiados que abdiquem de qualquer orientação religiosa se quiserem entrar no partido e fazer carreira no mundo político chinês. Mas os tempos da loucura coletiva da Revolução Cultural — quando militantes e estudantes decidiram destruir tudo o que não representava o comunismo puro, inclusive templos budistas e mesquitas pela China — ficaram para trás. O governo vem investindo pesado na recuperação dos templos do país com a certeza de que eles são poderosos ímãs para turistas. E seus dólares.

Para se ter uma idéia desta mudança, basta observar que, no início do ano, pela primeira vez na História, o governo de Pequim realizou um leilão de direitos de exploração de pequenos negócios e estacionamento nas imediações do Templo Shaolin, conhecido pelo Kung Fu praticado por seus monges e uma das maiores atrações turísticas da China, localizado na montanha Songshan, na província de Henan.

O governo arrecadou cerca de US$ 400 mil com o leilão e a renda será dividida entre o templo e os moradores da área próxima ao monastério que serão transferidos para outros locais por conta dos empreendimentos: são 2.350 metros quadrados de lojas e 60 mil metros quadrados de estacionamento para 1.500 carros na entrada do templo, que já possui um resort.

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