Qual é o sentido maior da vida? Ela é uma tragédia ou uma comédia? O mais recente filme de Woody Allen, "Melinda e Melinda", explora as duas possibilidades de forma muito original: a partir da uma premissa da chegada inesperada de uma visitante a um jantar de amigos, o filme se alterna entre duas variações, uma trágica e outra cômica. Na primeira, Melinda é uma mulher com sérios problemas pessoais e à beira do colapso emocional, que tenta obter um mínimo de equilíbrio para voltar a "querer viver"; na segunda, é a vizinha de um hilário casal em crise, que acaba se tornando a nova paixão do marido desempregado. Nesse jogo de claro-escuro emocional, Allen vai apresentando personagens que prometem, cada um deles, um universo à parte, enquanto desfia alguns de seus diálogos mais inspirados. A cena em que um dos protagonistas negocia uma noite de sexo com preferências políticas é antológica.
Um filme delicioso. E ainda valeu pelo adicional de ter no elenco Chloë Sevigny, que ficou mais famosa recentemente por conta de uma cena para lá de controversa no sonolento The Brown Bunny. Vendo-a como a professora de música em crise matrimonial, contida, mas que diz tanto com os olhos, como se guardasse um turbilhão de sentimentos e frustrações pronto a eclodir, ninguém diz que ela estaria em um filme como o road movie de Vincent Gallo. Se se trata de uma cena histórica que anuncia a queda de mais um tabu no cinema americano, ou simplesmente uma apelação vulgar sem maiores conseqüências, deixo ao leitor decidir.
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