domingo, dezembro 26, 2004

Desejo

"Cada desejo enriqueceu-me mais do que a posse sempre falsa do objeto do meu desejo. "

André Gide


Viver o desejo sem consumir-se pela sua satisfação, mas também sem desprezá-lo. Permitir-se fincar o pé no presente sem antecipar demasiado o futuro, e deixar-se surpreender pelo próximo minuto, tal como ele é, sem um imaginário “como deveria ser” com o qual ele possa se chocar. Apagar por um pouco toda expectativa, e volver para elas olhos mais livres e penetrantes, não mais embaraçados pelas lentes parciais do desejo. Sentir o apelo delas, mas de fora, ao longe, sem que suas garras toquem o coração. Desprender-se de si mesmo para contemplar o espetáculo caótico de sentimentos, esperanças, esforços e princípios, sem tolher-se pelos “dever” ou pelo querer. Provar com certa alegria o sabor amargo da frustração, quando ela vem, e as dores de crescimento que ela impõe. Gozar com gratidão o prazer disponível, sabendo-o fugaz. Discernir a melancolia das horas alegres, e o consolo oculto nas tristes. E abandonar-se por um pouco à corrente dos acontecimentos, ora gentis, ora cruéis, mas sempre conosco. E jamais esquecer que a vida é um moinho a girar de acordo com nossas ações, e só a negligência enfermiça poderia reduzi-la a uma “ventura” entediada ou uma “tristeza” que não se vai.


Enquanto houver desejo, haverá vontade. Esta é a própria vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Carpe diem... e o Grande Chico em seu Roda Viva...Roda mundo, roda gigante/Roda moinho, roda pião/O tempo rodou num instante /Nas voltas do meu coração... ou desejos do meu lobo frontal. :)