quarta-feira, dezembro 08, 2004

Acerto de contas no Chile

Relatório abre nova era na democracia chilena, diz Lagos

CUZCO, Peru (Reuters) - A democracia no Chile entrou em uma nova era quando o governo do país aceitou publicamente que a tortura era uma política de Estado usada durante o regime militar (1973-90), disse o presidente Ricardo Lagos na terça-feira.

"Isso abre uma nova era para o sistema democrático do Chile. De um lado, reconhecemos a responsabilidade de uma instituição e, de outro, mostramos que papel a sociedade civil deve desempenhar", afirmou o presidente a jornalistas antes de participar de uma cúpula sul-americana na cidade de Cuzco, Peru.

Um relatório encomendado pela presidência, que inspirou pedidos de desculpa inéditos da parte dos militares ao ser publicado no mês passado, disse que 28 mil pessoas foram torturadas, a maior parte delas nos anos imediatamente posteriores ao golpe que colocou o general Augusto Pinochet no poder.

O documento conclui que a tortura era uma política de Estado, declarando oficialmente o que muitos esquerdistas já suspeitavam e o que muitas pessoas da direita chilena há muito tempo negavam.

Durante anos, a maior parte dos simpatizantes de Pinochet acreditou que as denúncias de tortura eram uma mentira de militantes da esquerda. Mas, mesmo os mais fiéis desses simpatizantes mostraram-se horrorizados com o relatório, que atesta oficialmente fatos conhecidos desde muito tempo.

Vários dirigentes das Forças Armadas pediram desculpas publicamente pouco antes e pouco depois de o relatório sobre a tortura ter sido divulgado, rompendo com a postura tradicional de negar os abusos.

"Como resultado desse doloroso documento... abrimos um grande debate sobre os direitos humanos... Precisamos olhar para a gravidade desses fatos a fim de que nunca se repitam", disse Lagos, o terceiro presidente de centro-esquerda a assumir o poder no Chile desde o retorno da democracia, em 1990.

(Reportagem de Marco Aquino)

http://br.news.yahoo.com//041208/5/psx6.html

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