“Impuro e desfigurante é o olhar do desejo. Só quando nada cobiçamos, só quando nosso olhar se torna pura contemplação, é que se abre a alma das coisas, a beleza. Quando observo um bosque que eu quero comprar, arrendar, desmatar, hipotecar, e onde quero caçar, então não vejo o bosque, mas apenas os aspectos que correspondem ao meu querer, meus planos e preocupações, à minha bolsa. Então, ele é constituído de madeira, é novo ou velho, sadio ou doente. Se nada quero dele, porém, olho-o apenas ‘despreocupado’ em sua profundeza verde; só então ele é bosque, é natureza e vegetação; só então é belo.
O mesmo acontece com os seres humanos e seus rostos. Aquele a quem olho com medo, esperança, cobiça, intenções, exigências, não é um ser humano, mas apenas o reflexo turvo de meu desejo. Olho-o, de modo consciente ou inconsciente, com perguntas nitidamente restritivas e adulteradoras. É acessível ou orgulhoso? Presta-me atenção? Posso pedir-lhe um empréstimo? Entenderá algo de arte? Com milhares dessas perguntas observamos a maioria das pessoas com as quais temos alguma coisa a ver, e passamos por conhecedores da humanidade e psicólogos quando conseguimos pressentir em sua aparência, aspecto e comportamento aquilo que serve ao nosso propósito ou a ele se opõe. Mas essa atitude é bem pobre e, nessa espécie de psicologia, o camponês, o vendedor ambulante, o advogado sem causas são superiores à maioria dos políticos e ou dos eruditos.
Um comentário:
"Com milhares dessas perguntas observamos a maioria das pessoas com as quais temos alguma coisa a ver, e passamos por conhecedores da humanidade e psicólogos quando conseguimos pressentir em sua aparência, aspecto e comportamento aquilo que serve ao nosso propósito ou a ele se opõe."
Difícil não fazer isso por vezes...
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