Steve Jobs morreu. Ok, era previsível, empresário famoso e bem-sucedido com câncer deixa o mundo pós uma batalha contra o câncer. Mas eis que, no dia seguinte, vejo dezenas de contatos meus no Facebook com imagens de luto -- gente que nunca imaginei que fosse do tipo de que faz fila em lojas da Apple para obter a nova versão de uma bugiganga eletrônica. Vou ler os jornais e sites de sempre, e, nas palavras de um amigo, foi como se Gandhi ou Mandela tivessem morrido. Da vida pessoal à maneira como será o sepultamento (cremação, pois era budista), tudo que diz respeito a Jobs invadiu a grande imprensa. De repente fui informado de que Steve Jobs era o homem mais importante da nossa época, que revolucionou nossas vidas, que marcou o nosso tempo de forma indelével, era um grande sábio a dar conselhos a formandos em palestras reproduzidas aos milhões nos YouTubes da vida, etc., etc.
Mas espere aí -- o que foi que ele criou mesmo?
A resposta que primeiro vem à mente inclui palavras com 'i": iPod, iPad, iPhone. Bem, eu não tenho nenhum, nem me consta que MP3 players, tablets (um palmtop sem teclado?) e celular com acesso à Internet e joguinhos bonitos tenham sido inventados pela Apple. "Ah, mas o iTunes revolucionou o mercado de música!" Hein? Lembro de comprar música online desde antes dessa onda toda. O simples fato de se poder fazer isso de um celular não muda grande coisa.
Jobs fez uma grande contribuição, inegável, mas já faz quase 30 anos, com a popularização do computador pessoal e a interface gráfica, hoje obrigatória em qualquer aparelho que se preze. Não sei se ele realmente inventou a interface, mas OK, suponhamos que sim. É uma grande coisa, e que seja honrado por isso. E mesmo as outras coisas, se ele teve visão para torná-las mais populares, também não são desprezíveis.
Mas cada coisa no seu lugar. Que se respeite seu legado sem o oba-oba publicitário que se tem visto. Foi um empresário criativo que ganhou rios de dinheiro com o que fez, teve seus fracassos também, e ganhou fama com seu trabalho. Mas não era um semideus nem um Yoda da computação. Era um sujeito talentoso, mas com um ótimo departamento de marketing a seu serviço -- como tantos outros.
E antes que alguém reclame, o mundo não mudou radicalmente por causa das últimas invenções da Apple.
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