E assim se completa a semana mais repleta de ritos de passagem de toda uma jovem vida. No entanto, apesar de títulos e funções novas, quase tudo continua igual. O autor destas linhas praticamente não difere de sua versão de quarta-feira, antes de tudo começar, e o entusiasmo intoxicante que poderia ser associado a essas estréias simplesmente esqueceu-se de comparecer. Não só ele, é verdade: a ansiedade que normalmente precede as grandes ocasiões também não deu sinal de vida. No fim das contas, foi melhor assim: uma calma sobrenatural antes de cada evento, uma alegria moderada depois. Curioso. Será que as conquistas profissionais passam a ter mesmo esse sabor tranqüilo depois de certo momento na vida, ou seguem a discrição dos amores maduros, em que os arrebatamentos devastadores vão dando lugar à constância serena? Tudo parece tão natural, embora, na verdade, não seja; e embora falte a experiência anterior, não há estremecimento ou angústia diante do que nunca antes foi vivido. É diferente da simples segurança, que costuma pressupor uma ponta de questionamento, um momento prévio de ansiedade, e também não chega a ter a qualidade fria da indiferença. A descrição mais próxima talvez seja a de se estar vivendo um roteiro predeterminado, seguido sem nervosismo (e também sem grande excitação) por já se saber o fim.
Dar aula em uma faculdade talvez seja a mais bizarra das experiências desta semana insólita. A sala em que leciono é ampla, repleta de carteiras confortáveis, com um leve toque familiar: há três anos, sentei ali em um curso de especialização. Existe uma considerável e incômoda distância entre a mesa do professor, posta em um nível mais alto, e as carteiras dos alunos. Talvez por ser a primeira vez, essa distância literal entre mestres e aprendizes me incomodou, parecendo forçada e inconveniente. Justamente no nível de ensino em que os dois sujeitos da educação deveriam estar mais próximos, vemo-nos separados dessa forma. Estar em um nível mais elevado que o resto da sala também aguça a sensação de ser observado; já acostumado a turmas de Ensino Fundamental, em que os alunos se posicionam muito perto dos professor, notei de imediato essa diferença.
Não é a única, certamente. Em uma turma pequena (cerca de 15 alunos, dispersos no mais variados pontos da sala), todos prestam uma atenção que poucos professores de quinta série, como eu, usufruem na sua rotina escolar. Olhares penetrantes, cada um ao seu modo. Ali, em particular, entendi que os desafios também eram muito diferentes daqueles propostos de uma escola comum. Em uma turma de crianças, conquistar a atenção delas é por si só um desafio; fazê-las ter curiosidade pelo assunto e entendê-lo, também. Mas, numa turma de faculdade, há outra tarefa adicional: ganhar a confiança daqueles olhos penetrantes que se fixam no professor, como se o tempo todo o avaliassem em busca de sua credibilidade ou da falta dela. Ciosos de seu senso crítico, eles não estão ali para engolir tudo que é dito, e muitos têm suas próprias idéias para testar na arena da sala de aula. Lecionar para eles não será, nem deve ser, simplesmente comentar e discutir textos, mas estar preparado para debater essas idéias prévias, enriquecê-las com dados novos ou derrotá-las com uma argumentação convincente e bem informada. Cada aula, cada encontro, exige, portanto, algo de preparação militar, de modo que o "mestre" crie as condições para o melhor dos combates: aquele que se trava no espírito de cada um.
Ainda não sei se sou um bom general para essa tropa. Mas a oportunidade apareceu, e é certamente com grande alegria que me aventuro a agarrá-la. Que seja, parafraseando Theodore Roosevelt, uma "boa guerrinha".
Dar aula em uma faculdade talvez seja a mais bizarra das experiências desta semana insólita. A sala em que leciono é ampla, repleta de carteiras confortáveis, com um leve toque familiar: há três anos, sentei ali em um curso de especialização. Existe uma considerável e incômoda distância entre a mesa do professor, posta em um nível mais alto, e as carteiras dos alunos. Talvez por ser a primeira vez, essa distância literal entre mestres e aprendizes me incomodou, parecendo forçada e inconveniente. Justamente no nível de ensino em que os dois sujeitos da educação deveriam estar mais próximos, vemo-nos separados dessa forma. Estar em um nível mais elevado que o resto da sala também aguça a sensação de ser observado; já acostumado a turmas de Ensino Fundamental, em que os alunos se posicionam muito perto dos professor, notei de imediato essa diferença.
Não é a única, certamente. Em uma turma pequena (cerca de 15 alunos, dispersos no mais variados pontos da sala), todos prestam uma atenção que poucos professores de quinta série, como eu, usufruem na sua rotina escolar. Olhares penetrantes, cada um ao seu modo. Ali, em particular, entendi que os desafios também eram muito diferentes daqueles propostos de uma escola comum. Em uma turma de crianças, conquistar a atenção delas é por si só um desafio; fazê-las ter curiosidade pelo assunto e entendê-lo, também. Mas, numa turma de faculdade, há outra tarefa adicional: ganhar a confiança daqueles olhos penetrantes que se fixam no professor, como se o tempo todo o avaliassem em busca de sua credibilidade ou da falta dela. Ciosos de seu senso crítico, eles não estão ali para engolir tudo que é dito, e muitos têm suas próprias idéias para testar na arena da sala de aula. Lecionar para eles não será, nem deve ser, simplesmente comentar e discutir textos, mas estar preparado para debater essas idéias prévias, enriquecê-las com dados novos ou derrotá-las com uma argumentação convincente e bem informada. Cada aula, cada encontro, exige, portanto, algo de preparação militar, de modo que o "mestre" crie as condições para o melhor dos combates: aquele que se trava no espírito de cada um.
Ainda não sei se sou um bom general para essa tropa. Mas a oportunidade apareceu, e é certamente com grande alegria que me aventuro a agarrá-la. Que seja, parafraseando Theodore Roosevelt, uma "boa guerrinha".
5 comentários:
Parabéns, mestre!
Gostei muito do seu texto...
mas sinto de fato falta de paixão e entusiasmo em suas conquistas!
Tudo parece para você tão normal... e acho isso uma pena.
Bele
Onde você está lecionando?
Parabéns, menino prodígio! Provavelmente é o professor mais jovem e mais condecorado dentre os colegas!
Beijos e visite meu blog também!
Cla
Querida Bele,
Vc não viu a felicidade deste jovem em saber que tinha sido convidado para ser professor universitário...eu estava perto e vi a empolgação.
Acho que quando o texto saiu ele ja tinha tomado o lexontan...por isso assim, meio sequinho.
Gosto quando escrever sobre o cotidiano. :) Algo tão simbólico o dia-a-dia, significâncias...
Fazes da prosa... a frase de Baudelaire.
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