Estou de férias. Bem, férias de doutorando, o que significa que tenho pelo menos um trabalho para fazer, sem mencionar minha própria pesquisa, devidamente parada no primeiro semestre de curso. Mas ainda não entrei em um ritmo produtivo, tendo me limitado a ver filmes, navegar até tarde e coisas do gênero (as férias começaram na sexta, apenas). De lá para cá, tenho descoberto algumas coisas interessantes, boa parte em blogs.
Acima de tudo, The Teaching Company. Trata-se de uma empresa que vende cursos em CD, não raro com material visual complementar em DVD, sobre uam infinidade de temas fascinantes. Só para se ter uma ideia, na parte de História, tem-se: a história geral chinesa, a tradição conservadora nos EUA, gregos e romanos famosos, a história do pensamento ocidental, o Jesus histórico, mitologia do Oriente Próximo, as grandes religiões, questões econômicas contemporâneas, entre muitos outros temas. Também há cursos em várias outras áreas, de Matemática a Ciências Sociais e Artes. O problema é o preço: só o de tradição conservadora, por exemplo, custava quase 400 dólares na última vez que eu vi (hoje entrou em liquidação, com a versão apenas em CD caindo para 70 dólares) -- um dos prováveis motivos de tantos cursos terem caído na rede de compartilhamento de arquivos. Em todo caso, se você tem uma boa compreensão do inglês, vale a pena conhecer essa referência.
Falando em inglês, este texto me fez reconsiderar a maneira como dou aulas na graduação. Nunca fiz um podcast, o equivalente internético do que um dia se chamou "gravação de voz", mas penso que pode ser um bom recurso complementar às aulas convencionais, desde, claro, que todos os alunos tenham acesso à rede e condições de escutar o arquivo. Vai dar um trabalho bem grande, se resolver adotá-lo, mas pode ser uma experiência gradual. Quando penso na quantidade de vezes em que meus diletos estudantes, candidatos à elite intelectual da nação, me olharam com a expressão vazia dos catatônicos quando lhes perguntava se haviam feito as leituras indicadas para a aula, sinto o entusiasmo de um radialista que acaba de ganhar seu próprio programa. Mas é algo para pensar com cuidado.
Saindo da área educacional para a de atualidades, encontrei no blog do Hermenauta este artigo da revista alemã Der Spiegel sobre a mania da depilação que tem se espalhado pela Alemanha. Ao que parece, um número crescente de cidadãos teutônicos tem se convencido de que pelos pubianos são uma manifestação de falta de higiene ou uma deficiência estética (uma "moda" que eu já supunha existir ao visitar este site). Bem, ao que parece, atores pornôs e as modelos das maiores revistas masculinas já tinham chegado a essa conclusão há muito tempo, mas, no caso deles, até há uma lógica em querer o máximo de exposição da epiderme. Afinal, sexo explícito não leva esse adjetivo à toa. Mas curiosamente homens, mulheres e adolescentes estão levando isso a sério demais na Alemanha, por motivações que não passam exatamente pela racionalidade -- ao mesmo tempo que seus medos recém-adquiridos nutrem uma indústria estética pujante. A tendência, parece-me, é que isso leve a um círculo vicioso: pessoas inseguras começam a se depilar, geram uma indústria, que depois retroalimenta essa insegurança pela publicidade. Um processo que lembra o de um famoso grupo de macacos, com a diferença, contudo, de ser muito mais perverso, já que cada vez mais os padrões estéticos se tornam mais restritos: primeiro temos de ser magros (no caso feminino, muito magros), depois malhados, e agora completamente pelados, para não citar as inumeráveis variações que fazem a alegria dos cirurgiões plásticos .
Em O Biscoito Fino e a Massa, de Idelber Avelar, encontro um post muito bom sobre os truísmos comuns na linguagem cotidiana. Eu nem sempre concordo com o Idelber no que diz respeito à política, e ultimamente acho que ele tem projetado no Brasil uma questão cultural que é muito mais grave nos EUA, onde, se não me engano, ele reside e leciona. No entanto, Idelber é uma pessoa muito inteligente, e muitas vezes saio de seu blog enriquecido de análises argutas sobre todo tipo de assunto. Também digna de atenção é sua caixa de comentários, que costuma atrair visitantes às centenas, um fórum de debates nada desprezível. Para quem ainda não conhece, fica a sugestão.
Acrescentado um pouco mais de dissenso, um post do Rafael Galvão sobre o funeral de Michael Jackson, e um reflexão justa de Daniel Piza sobre o que é ter "cultura" hoje. Eu ainda vou blogar assim. :-)
4 comentários:
Prezado Rodrigo,
não queira blogar como o Daniel Piza, aspire a coisas mais profundas... Dele, não conheço nada de fôlego, me parecendo um daqueles "intelectuais comentadores", que talvez se saiam melhor escrevendo "sobre" do que propriamente escrevendo...
Não sei se é teu caso, mas acompanho futebol, inclusive os cronistas. O Piza tem uma colunna semanal no Estadão e, sempre que a leio, fico me perguntando: porque, afinal, ele escreve sobre futebol se não tem nenhuma contribuição especial a dar sobre o assunto? O Ugo Giorgetti, que é cineasta, p.ex., também tem uma coluna no mesmo jornal - e a diferença é gritante [a favor do Giorgetti...]! Não vou nem me remeter ao Nelson Rodrigues, porque seria covardia...
Enfim, parece que ele lançou um livro sobre Machado de Assis - quem sabe?
Abraços, bons caminhos...
Olá, Raul.
Conheci o Piza um pouco antes de compor o post, e a primeira impressão foi boa. Eu me referia apenas ao estilo,de que gostei, mas é só.
Um grande abraço,
Rodrigo.
Olá, Rodrigo:
Eu me referia ao estilo, também...
Então, temos opiniões distintas - nos dois sentidos! - sobre o Piza.
Abraço grande, bons caminhos!
Raul
P.S.: “A menor distância entre dois pontos é sempre um ponto de vista.” [Manuel Bandeira]
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