domingo, julho 19, 2009

Inteligência artificial

Eu tendo a desconfiar da futurologia. Primeiro, porque, de Nostradamus a Stanley Kubrick, elas quase sempre estão erradas; depois, porque elas inevitavelmente são constituídas de projeções das tendências de agora em um prazo mais longo, o que pressupõe uma continuidade impossível de garantir; e, finalmente, porque elas levam tempo demais para serem provadas. No entanto, de algum tempo para cá, uma corrente de futurologia vem ganhando força em torno de um mesmo tema: a modificação da natureza humana. Não vou discutir aqui as sutilezas desse conceito, referindo-me apenas ao seu sentido mais elementar: o conjunto de características e capacidades potenciais de um ser humano típico. Décadas depois de Aldous Huxley tratar do assunto em seu distópico Admirável Mundo Novo, Francis Fukuyama, os trans-humanistas e os bons e velhos escritores de ficção-científica têm trazido o assunto à baila com crescente insistência, não mais como uma fantasia apenas, e sim como uma possibilidade bastante concreta. Na era da biotecnologia e do (relativo) fácil acesso à informação, trata-se de uma preocupação muito sensata.

Teremos maturidade coletiva para lidar com mudanças permanentes no funcionamento de nosso organismo. Já fazemos isso com próteses, transplantes, cirurgias etc., e até com psicoterapia, mas estaríamos preparados para fazer o mesmo com o desempenho cognitivo? Supondo que estejamos perto de criar "pílulas/chips/seja-lá-o-que-for da inteligência", teremos noção das consequências éticas, políticas e sociais de seu uso? É fácil ver o quão conveniente seria um tal recurso para um vestibulando, por exemplo, ou um engenheiro envolvido em um projeto, mas é quase certo que dificilmente alguém iria querer parar aí.

É verdade que, de certa maneira, já temos diferenças gritantes entre povos e nações a partir do momento, por exemplo, que alguns têm acesso a três refeições por dia e outros, não. Mas, injustiças-colossais-mas-tão-presentes-que-se-tornam-quase-invisíveis à parte, vale a pena pensar um pouco sobre o que pode ser a próxima "onda". Eis aqui um artigo de um entusiasta do assunto: http://www.theatlantic.com/doc/print/200907/intelligence.


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