sexta-feira, dezembro 05, 2008

Livro de Hitler ganha versão em mangá no Japão


Mangá
Editora japonesa é especializada em adaptar clássicos da literatura
Dois polêmicos e famosos livros ganharam os traços do mangá no Japão. Mein Kampf (em português, Minha Luta), escrito na prisão por Adolf Hitler, chegou às livrarias japonesas em novembro. Agora, em dezembro, é a vez de O Capital, de Karl Marx.

A iniciativa foi da editora japonesa East Press, que resolveu incluir estas duas obras na sua coleção Clássicos da Literatura em Mangá.

“A idéia é oferecer ao leitor a possibilidade de ler um clássico e entender os conceitos em apenas uma hora”, explicou o editor-chefe Kosuke Maruo à BBC Brasil.

Mein Kampf é um livro polêmico, pois contém as sementes da ideologia anti-semita e nacionalista que marcou o nazismo. “A idéia não é apresentar Hitler como vilão ou herói, mas apenas mostrar quem era e o que ele pensava. Não estamos preocupados com polêmicas”, disse Maruo.

O editor lembra também que o livro, cuja publicação e venda são proibidas em alguns países, já foi editado no Japão. “Além disso, todo mundo já conhece a história inteira e como os nazistas pensavam”, reforça ele, que diz não ter recebido até agora nenhuma reclamação de leitor.

O mangá conta a história do líder nazista, desde a infância, até culminar na Segunda Guerra Mundial. Fala também do ódio que ele sentia pelos judeus. “Vendo a história de vida dele, não dá para achar que era uma pessoa totalmente ruim. Ele era apenas uma pessoa triste”, defendeu o editor-chefe.

Entre as obras conhecidas da literatura e da filosofia que viraram mangá pela East Press estão Crime e Castigo, de Dostoiévski, Fausto, de Goethe, Rei Lear, de Shakespeare, e Guerra e Paz, de Tólstoi.

No total são 27 títulos lançados até agora, sendo 13 de autores estrangeiros.

Outros dois – Os Miseráveis, de Victor Hugo, e O Desespero Humano -
Doença até a Morte
, do teólogo e filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard – já estão no forno e devem chegar às livrarias no começo de 2009.

Kosuke Maruo
Para o editor-chefe Kosuke Maruo, livros dão oportunidade para se ler clássicos e entender conceitos

O campeão de vendas é Kanikousen, inspirado na obra do escritor japonês Takiji Kobayashi. Na seqüência vem Os Irmãos Karamasov, de Dostoiévski. “Os títulos da série são obras que as pessoas conhecem, mas não têm muita paciência para ler até o fim”, justificou o editor-chefe. Daí o sucesso de vendas.

Ao todo, segundo Maruo, já foram impressos 1,2 milhão de exemplares da série toda. Marx e o recém lançado mangá de Hitler chegam ao mercado com 30 mil cópias cada.

Teorias complexas

O lançamento de O Capital em mangá não poderia vir em um momento mais apropriado.

Muitos no Japão culpam o capitalismo - principal alvo de crítica na obra de Marx - pela atual crise financeira global.

Entre os principais conceitos da obra de Marx levados para a história do mangá estão a exploração do trabalhador, as diferenças de classes sociais e o surgimento da moeda geradora do lucro. “Com a recessão econômica que o país enfrenta agora, esperamos uma boa saída de O Capital”, disse Maruo.

Mangá
A editora East Press tem uma série de mangá baseada em clássicos da literatura e filosofia

O editor-chefe garante, porém, que não foi proposital o lançamento da obra neste atual momento de crise. “Já estava nos planos da editora”, disse ele, ao lembrar que um mangá, para ficar pronto, demora até cinco meses.

Diversidade de temas

Apesar da East Press ser uma das poucas no mercado a trabalhar com clássicos da literatura mundial, o segmento de mangás no Japão já vem usando há anos os traços orientais dos desenhos para explicar diversos temas.

Relações diplomáticas com a China, degustação avançada de vinhos, epidemia da gripe aviária, parábolas da Bíblia e até a nossa capoeira já viraram mangá no país. O formato compacto, o baixo custo e a linguagem popular ajudam a transformar este tipo de publicação em sucesso de vendas.

Um comentário:

Anônimo disse...

OLá Rodrigo, vi o comentário que você fez sobre o Sujeito oculto. Muito obrigada, fico feliz que tenha "vivido" como Francisco e Jussara. Por enquanto ainda não tenho planos para novos livros... fico, por ora, em contos e crônicas. Mais para frente, quem sabe...
Abraço,
Luciana Pinsky