segunda-feira, março 26, 2007

Meu primeiro "super-herói"


Mais ágil que um graduando sedentário, mais erudito que um resenhista de periódico, mais corajoso que... que... Ah, não sou muito bom como propagandeador de quadrinhos. Mas o fato é que esse é o primeiro super-herói saído de meu mouse, o fantástico, inigualável, o campeão das bilbliotecas... Azel, o herói-historiador! (Feito numa tarde ociosa neste site.)

Obviamente, saiu levemente autobiográfico, mas um pouco de narcisismo pictórico não há de ser o mais grave dos pecados...

quinta-feira, março 22, 2007

De novo, a biologia e a moral

Folha de S. Paulo, 22 de março de 2007:

Cérebro tem área ligada à moral, aponta pesquisa

Lesão em zona que integra emoção à consciência prejudica julgamentos morais

Estudo reforça hipótese de que a evolução dotou os seres humanos de um tipo de órgão universal da ética, alojado no sistema nervoso

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para agir de maneira ética, basta pensar de maneira racional ou é preciso se deixar envolver também pelas emoções? De acordo com um estudo publicado ontem, julgamentos morais que as pessoas fazem quando estão diante de um dilema são mais emocionais do que se imaginava -sinal de que a moral não é baseada só na cultura e faz parte da natureza humana.

Para lidar com essa questão, um grupo liderado pelo psicólogo americano Marc Hauser, da Universidade Harvard, e pelo neurologista português António Damásio, da Universidade do Sul da Califórnia (ambas nos EUA), submeteu diversos voluntários a um questionário com situações imaginárias de deixar qualquer um arrepiado.

A maior parte delas envolvia decisões do tipo "escolha de Sofia", como sacrificar um filho para salvar um grupo de pessoas. Que mãe permitiria isso?

Para tentar inferir o peso da emoção em julgamentos morais, os cientistas incluíram entre os voluntários seis pessoas que haviam sofrido lesões numa área específica do cérebro, o córtex frontal ventromedial (veja o quadro à esquerda). Entre as diversas funções dessa estrutura está a integração de sentimentos à consciência.

O resultado do experimento foi que os portadores da lesão tiveram tendência a pensar de maneira mais "utilitária". Eles escolhiam, da maneira mais fria, a decisão que prejudicasse um número menor de pessoas.

"Em alguns casos -dilemas de grande conflito moral- a emoção parece ter papel significativo nos julgamentos", explicou a Folha Michael Koenigs, colaborador de Hauser e Damásio. "Como os pacientes com a lesão que estudamos presumivelmente carecem de emoções sociais/morais apropriadas, seus julgamentos são mais baseados em considerações utilitárias do que em fatores emocionais."

Uma das questões usadas pelos cientistas envolvia uma situação imaginária na qual famílias vivendo num porão se escondiam de soldados que procuravam civis para matar. Um bebê começa a chorar, e a única maneira de calá-lo para evitar que todos sejam encontrados é tapar a respiração da criança por tempo suficiente para matá-la. O que fazer?

Para os pacientes portadores da lesão estudada, a decisão correta era matar a criança.

Sem empatia
A resposta, de certa forma, era o que os pesquisadores esperavam. "Pacientes com essa lesão exibem menos empatia, compaixão, culpa, vergonha e arrependimento", disse Koenigs, que foi autor principal do artigo que descreve o experimento hoje no site da revista "Nature" (www.nature.com).

Ao contrário do que se podia imaginar, porém, essas características não tornaram essas pessoas "más" ou "cruéis". Para situações sem dilemas, as respostas dos pacientes lesionados foram bastante semelhantes às dos voluntários sadios.

Na opinião dos cientistas, o estudo é uma forte evidência de que pensar de maneira puramente utilitarista simplesmente vai contra a natureza humana. O córtex frontal ventromedial, afinal, seria um produto da evolução que ajudou a moldar a forma como as pessoas se relacionam.
"Ele parece ser uma "parte emocional" inata do cérebro, e parece ser crítico para certos aspectos da moralidade", diz Koenigs. O pesquisador afirma, porém, que não é possível separar a influência do ambiente na ética. "A reação da maquinaria emocional com respeito a questões morais é sem dúvida moldada por forças culturais."

terça-feira, março 20, 2007

As raízes da moral

The New York Times, 20/03/2007
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2007/03/20/ult574u7339.jhtm

Cientistas encontram os primórdios da moralidade no comportamento de primatas

Nicholas Wade

Alguns animais são surpreendentemente sensíveis ao sofrimento dos outros. Chimpanzés, que não sabem nadar, morreram afogados em piscinas de zoológico tentando salvar os outros. Quando podem só obter comida puxando uma corrente que também desfere um choque elétrico a um companheiro, macacos rhesus passam fome por vários dias.

The New York Times
Cientistas dizem que certos comportamentos dos chipanzés fazem parte da herança humana

Biólogos argumentam que esses e outros comportamentos sociais são os precursores da moralidade humana. Eles também acreditam que, se a moralidade nasceu de regras de comportamento formuladas pela evolução, cabe aos biólogos, e não aos filósofos ou teólogos, dizer quais são essas regras.

Filósofos especialistas em moral não levam a sério a intenção dos biólogos de anexarem o assunto, mas interessam-se pelo que os biólogos têm a dizer e iniciou-se um diálogo acadêmico entre eles.

O primeiro grito de batalha foi do biólogo Edward O. Wilson, há mais de 30 anos, quando sugeriu em seu livro "Sociobiology" (sociobiologia) que chegara "a hora de a ética ser removida temporariamente das mãos dos filósofos" e passar aos biólogos. Talvez ele tenha corrido antes do tiro de largada, mas nas décadas que se passaram os biólogos fizeram um progresso considerável.

No ano passado, Marc Hauser, biólogo evolucionário de Harvard, propôs em seu livro "Moral Minds" (mentes morais) que o cérebro tem um mecanismo geneticamente determinado para adquirir regras morais, uma gramática moral universal. O mecanismo seria similar ao maquinário neural usado para aprender uma língua. Em outro livro recente, "Primates and Philosophers" (primatas e filósofos), o primatologista Frans de Waal defende, contra as críticas dos filósofos, a opinião que a raiz da moralidade pode ser vista no comportamento social de macacos e gorilas.

De Waal, que é diretor do Centro Living Links da Universidade Emory, argumenta que todos os animais sociais tiveram que restringir ou alterar seu comportamento de várias formas para a vida em grupo valer a pena. Essas restrições, evidentes em macacos e ainda mais em chimpanzés, também fazem parte da herança humana, e em sua opinião formam o conjunto de comportamentos do qual a moralidade humana foi formada.

Muitos filósofos acham difícil pensar em animais como seres morais. Waal de fato não alega que possuem moralidade, mas argumenta que a moralidade humana seria impossível sem certas bases emocionais que claramente estão em funcionamento em sociedades de chimpanzés e gorilas.

As opiniões de Waal baseiam-se em anos de observação de primatas não-humanos, começando com um trabalho sobre agressão nos anos 60. Ele observou que, depois de brigas entre dois combatentes, outros chimpanzés consolavam o perdedor. No entanto, batalhas com psicólogos o impediram de atribuir estados emocionais aos animais, e levou 20 anos para voltar ao assunto.

Ele descobriu que a consolação era universal entre os grandes primatas não-humanos, mas geralmente ausente em macacos menores - em algumas espécies as mães nem confortam um filhote ferido. Consolar o outro requer empatia e um grau de autoconsciência que apenas primatas parecem possuir, argumenta Waal. Ao perceber a empatia, o pesquisador passou a explorar as condições para a moralidade.

A moralidade humana poder envolver noções de direito e justiça e distinções éticas sofisticadas, mas começa com uma preocupação com os outros e a compreensão de regras sociais sobre como devem ser tratados, diz Waal. Neste nível inferior, há o que os primatólogos consideram uma sobreposição considerável entre o comportamento das pessoas e de outros primatas sociais.

A vida social requer empatia, que é especialmente evidente em chimpanzés, assim como formas de colocar fim a hostilidades internas. Toda espécie de macaco tem seu próprio protocolo de reconciliação após brigas, descobriu Waal. Se dois machos não fazem as pazes, as fêmeas freqüentemente aproximam os rivais, como se sentissem que a discórdia tornasse a comunidade pior e mais vulnerável a ataques de vizinhos. Ou então elas evitam uma briga tirando pedras das mãos dos machos.

Waal acredita que essas ações sejam tomadas para o bem maior da comunidade, de forma distinta das relações de pessoa a pessoa, e que são precursoras significativas da moralidade em sociedades humanas.

Macacos e chimpanzés têm um sentido de ordem social e regras sobre o comportamento esperado, a maior parte relacionada à natureza hierárquica de suas sociedades, na qual cada membro reconhece seu próprio lugar. Macacos rhesus jovens aprendem rapidamente a se comportar e ocasionalmente têm um dedo do pé ou da mão arrancados por uma mordida como punição.

Outros primatas também têm um sentido de reciprocidade e justiça. Eles se lembram de quem lhes fez favores e quem lhes fez mal. Chimpanzés têm maior probabilidade de dividir a comida com os que limparam os pelos deles. Macacos-prego mostram seu desprazer ao receberem recompensa menor do que um parceiro por alguma tarefa, como um pedaço de pepino em vez de uma uva.

Esses quatro tipos de comportamento - empatia, capacidade de aprender e seguir regras sociais, reciprocidade e fazer as pazes - são a base da sociabilidade. Waal acredita que a moralidade humana nasceu da sociabilidade primata, mas com dois níveis extra de sofisticação. As pessoas impõem seus códigos morais com muito mais rigor, pelo uso de recompensas, punições e fama. Elas também aplicam um grau de julgamento e razão, para o qual não há paralelos nos animais.

A religião pode ser vista como outro ingrediente especial das sociedades humanas, apesar de ter emergido milhares de anos após a moral, na opinião de Waal. Há precursores claros de moralidade em primatas não-humanos, mas não há precursores da religião. Então parece razoável assumir que, quando os humanos evoluíram a partir dos chimpanzés, a moralidade emergiu primeiro, seguida pela religião. "Vejo as religiões como adições recentes", diz ele. "Sua função pode estar relacionada com a vida social e a imposição de regras com narrativas, que é o que as religiões de fato fazem."

Waal acredita que a moral humana pode ser severamente limitada pelo fato de ter evoluído como forma de união contra adversários, com as restrições morais sendo observadas somente para o grupo interno, não para os de fora. "A ironia profunda é que nossa conquista mais nobre - a moral - tem laços evolucionários com nosso comportamento mais básico - a guerra", escreve. "O sentido de comunidade requerido pela primeira foi fornecido pela última."

Waal enfrentou muitos críticos na biologia evolucionária e na psicologia. O biólogo evolucionário George Williams negou a moralidade como um mero subproduto acidental da evolução, e os psicólogos fizeram objeções à atribuição de estados emocionais aos animais. Waal convenceu seus colegas, depois de muitos anos, que proibir a inferência de estados emocionais era pouco razoável pela continuidade evolucionária esperada entre humanos e outros primatas.

Seu público mais recente são os filósofos morais, muitos interessados em seu trabalho e de outros biólogos. "Nos departamentos de filosofia, um número crescente de pessoas são influenciadas pelo que têm a dizer", disse Gilbert Harman, filósofo de Princeton.

Philip Kitcher, filósofo de Columbia, gosta da abordagem empírica de Waal. "Não tenho dúvidas de que há padrões de comportamento que compartilhamos com nossos parentes primatas e que são relevantes às nossas decisões éticas", disse ele. "Os filósofos sempre foram seduzidos pelo sonho de um sistema de ética completo e acabado, como a matemática. Não acredito que seja assim, de forma alguma."

Mas a ética humana é consideravelmente mais complicada do que a empatia que Waal descreveu nos chimpanzés. "Empatia é a matéria prima da qual um conjunto ético mais complicado pode ser formulado", disse ele. "No mundo, somos confrontados com diferentes pessoas que podem ser alvos de nossa empatia. Ética é decidir quem ajudar, por que e quando."

Muitos filósofos acreditam que o raciocínio consciente tem grande papel no controle do comportamento ético e, portanto, não acreditam que tudo nasça das emoções, como a empatia, evidente nos chimpanzés. O elemento imparcial da moralidade vem da capacidade de raciocinar, escreve Peter Singer, filósofo de Princeton, em "Primates and Philosophers" (primatas e filósofos). Ele diz: "A razão é como uma escada rolante - quando entramos, não podemos descer até que tenhamos chegado aonde nos leva."

Era essa a opinião de Immanuel Kant, observou Singer, que acreditava que a moral deve ser baseada na razão, enquanto o filósofo escocês David Hume seguido de Waal, argumentou que os julgamentos morais nascem das emoções.

Biólogos como Waal acreditam que a razão é usada apenas depois de se chegar a uma decisão moral. Eles argumentam que a moral evoluiu em uma época em que as pessoas viviam em pequenas sociedades e freqüentemente tinham que tomar decisões instantâneas de vida ou morte, sem tempo para uma avaliação consciente de escolhas morais. O raciocínio vinha depois, como justificativa post hoc. "O comportamento humano deriva, acima de tudo, de julgamentos rápidos, automatizados e emocionais e apenas secundariamente de processos conscientes mais lentos", escreve Waal.

Por mais que celebremos a racionalidade, as emoções são nosso compasso, provavelmente porque foram moldadas pela evolução, na opinião de Waal. Por exemplo, diz ele: "As pessoas são contra soluções morais que envolvem fazer dano ao outro com as mãos. Isso pode ser porque a violência feita com a mão foi sujeita à seleção natural, enquanto deliberações utilitárias não."

Filósofos têm outro argumento para justificar por que os biólogos não podem, em sua opinião, chegar ao cerne da moralidade: é que as análises biológicas não conseguem cruzar o vão entre o que "é" e o que "deveria ser", entre a descrição dos comportamentos e a questão de porque são certos ou errados. "Talvez você identifique algum valor e conte uma história evolucionária para explicar porque o mantemos, mas sempre há aquela questão radicalmente diferente: se deveríamos mantê-lo", diz Sharon Street, filósofa da Universidade de Nova York. "Isso não é para minimizar a importância do que fazem os biólogos, mas mostra por que séculos de filosofia moral são também incrivelmente relevantes."

Jessé Prinz, filósofo da Universidade da Carolina do Norte, dá aos biólogos ainda menos campo. Ele acredita que a moralidade foi desenvolvida após o término da evolução humana e que os sentimentos morais são moldados pela cultura, não pela genética. "Seria uma falácia assumir que uma verdadeira moralidade seria um comportamento instintivo e não guiado pelo que devemos fazer", disse ele. "Um dos princípios que podem guiar a moralidade pode ser o reconhecimento de igual dignidade para todos os seres humanos, e isso parece não ter precedentes no mundo animal."

Waal não aceita a opinião dos filósofos que biólogos não podem passar do que "é" para o que "deve ser". "Não tenho certeza de quão realista é essa distinção", disse ele. "Animais têm aquilo que 'deve ser' feito. Se uma jovem entra em uma briga, a mãe deve se levantar e defendê-la. No compartilhamento de comida, animais pressionam os outros - o primeiro tipo de situação de qual é o comportamento 'devido'."

A definição de moralidade de Waal é ainda mais terrena do que a de Prinz. Moralidade, escreve, é "um sentido de certo e errado, nascido de sistemas grupais para administração de conflitos, baseado em valores compartilhados." As bases da moralidade não são bons comportamentos, mas capacidades mentais e sociais para construir sociedades "nas quais valores compartilhados restringem o comportamento individual, por um sistema de aprovação e reprovação".

Por essa definição, os chimpanzés, em sua opinião, realmente possuem algumas capacidades de comportamento inseridas em nossos sistemas morais. "A moral é tão firmemente enraizada na neurobiologia quanto tudo o mais que fazemos ou somos", escreveu Waal em seu livro de 1996 "Good Natured" (de boa natureza). Biólogos ignoraram essa possibilidade por muitos anos, acreditando que, como a seleção natural é cruel e sem misericórdia, somente poderia produzir pessoas com as mesmas qualidades. Mas essa é uma falácia, na opinião de Waal. A seleção natural favorece organismos que sobrevivem e reproduzem-se, por qualquer meio. E deu às pessoas um "compasso que leva em consideração os interesses de toda a comunidade, que é a essência da moralidade humana", escreve em "Primates and Philosophers".

Tradução: Deborah Weinberg

domingo, março 18, 2007

Que super-herói você é?

Mais adequado ainda. Oh, dor!


Your results:
You are Spider-Man
























Spider-Man
85%
Superman
55%
Robin
55%
The Flash
50%
Iron Man
45%
Batman
35%
Catwoman
30%
Green Lantern
30%
Supergirl
25%
Wonder Woman
20%
Hulk
15%
You are intelligent, witty,
a bit geeky and have great
power and responsibility.


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Que supervilão você é?

De http://www.thesuperheroquiz.com/villain. Realmente adequado...


Your results:
You are Apocalypse


































Apocalypse
71%
Dr. Doom
69%
Magneto
63%
Mr. Freeze
50%
Lex Luthor
48%
Dark Phoenix
33%
Mystique
32%
Two-Face
32%
Green Goblin
28%
Juggernaut
28%
Poison Ivy
28%
The Joker
27%
Venom
27%
Riddler
26%
Kingpin
20%
Catwoman
3%
You believe in survival of the fittest and you believe that you are the fittest.


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sábado, março 17, 2007

Os limites da compaixão

Li em algum livro de psicologia há muito tempo que uma das formas mais seguras de tornar uma agressão socialmente aceitável -- e por "agressão" entenda-se todo o espectro que vai de um murro ao genocídio -- é fazer com que as pessoas objetifiquem as vítimas. Em outras palavras, que não as vejam como seres humanos, mas como representantes de qualquer outra categoria desprezada: negro, branco, judeu, armênio, nordestino, gay ou, muito freqüentemente, monstro criminoso. A partir do momento em que essa imagem é construída e incorporada à visão de mundo de quem se deseja convencer, diminui-se consideravelmente qualquer possibilidade de que o sofrimento das vítimas, real ou potencial, desperte o mecanismo da empatia, isto é, o colocar-se no lugar delas e se identificar com seu sofrimento. Se passamos a ver no outro um indivíduo em quem podemos nos reconhecer, dificilmente toleraremos que qualquer dano lhe seja feito, pois nesse caso estaremos emocionalmente envolvidos com ele -- ou, dito de outro modo, estaremos no processo da compaixão.

Sempre me intrigou por que as pessoas em cidades pequenas mostram-se mais sensíveis ao sofrimento público alheio -- por exemplo, alguém caído numa calçada -- do que as das cidades grandes. É um fato muito conhecido, e lembro-me de já ter visto experiências desse tipo em programas de TV. Enquanto para os habitantes de uma metrópole é banal ver mendigos, bêbados, crianças de rua e pessoas inconscientes na rua, para os das cidades menores, não é. E, por isso, eles tendem a parar para descobrir o que está havendo com aquela pessoa em dificuldades.

As explicações usuais não são difíceis de levantar, é claro. Mas também sempre me pareceu que, para além de questões como insegurança pública e pressa (comuns nos grandes centros urbanos), havia um exemplo claro de desumanização. Essas pessoas na sarjeta não são indivíduos, com nome, rosto e uma personalidade; são elementos de paisagem. Neles pouco pensamos até mesmo quando lhe damos alguma moeda extra que nos sobre no bolso, muitas vezes sem nem mesmo um olhar direto. E eles são sempre tão numerosos que nossa eventual generosidade se dissipa após a primeira esmola, ou se sente desencorajada de pronto. Quem anda de ônibus e já viu quatro ou cinco camelôs consecutivos embarcarem, vendendo balas com o discurso de que estão desempregados há muito tempo e têm filhos para criar, sabe do que estou falando.

Nossa compaixão é limitada pela capacidade de individualizar o outro. Isso é mais difícil que não se tem contato direto com ele, e, segundo informa a matéria transcrita abaixo da revista Foreign Policy, mais ainda quando se trata de uma pessoa perdida numa massa de outros tão necessitados quanto ela. Isso me faz pensar sobre o ideal de amor universal preconizado por tantos mestres espirituais ao longo do tempo. É possível harmonizá-lo com esse tipo de limitação humana? Talvez uma possibilidade seja procurar agir como se o sentíssemos, mesmo que a chama amorosa real só possa ser sentida em alguns poucos momentos especiais. Mas essa é uma questão que merece mais do que um simples post de blogueiro pouco inspirado. Quanto à matéria, ela fala por si.
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Numbed by Numbers
By Paul Slovic

http://www.foreignpolicy.com/story/cms.php?story_id=3751

Page 1 of 1
Posted March 2007
People don’t ignore mass killings because they lack compassion. Rather, it’s the horrific statistics of genocide and mass murder that may paralyze us into inaction. Those hoping that grim numbers alone will spur us to action in places like Darfur have no hope at all.


If I look at the mass I will never act. If I look at the one, I will.” This statement uttered by Mother Teresa captures a powerful and deeply unsettling insight into human nature: Most people are caring and will exert great effort to rescue “the one” whose plight comes to their attention. But these same people often become numbly indifferent to the plight of “the one” who is “one of many” in a much greater problem. It’s happening right now in regards to Darfur, where over 200,000 innocent civilians have been killed in the past four years and at least another 2.5 million have been driven from their homes. Why aren’t these horrific statistics sparking us to action? Why do good people ignore mass murder and genocide?

The answer may lie in human psychology. Specifically, it is our inability to comprehend numbers and relate them to mass human tragedy that stifles our ability to act. It’s not that we are insensitive to the suffering of our fellow human beings. In fact, the opposite is true. Just look at the extraordinary efforts people expend to rescue someone in distress, such as an injured mountain climber. It’s not that we only care about victims we identify with—those of similar skin color, or those who live near us: Witness the outpouring of aid to victims of the December 2004 tsunami. Yet, despite many brief episodes of generosity and compassion, the catalogue of genocide—the Holocaust, Bosnia, Rwanda, Darfur—continues to grow. The repeated failure to respond to such atrocities raises the question of whether there is a fundamental deficiency in our humanity: a deficiency that—once identified—could be overcome.

The psychological mechanism that may play a role in many, if not all, episodes in which mass murder is neglected involves what’s known as the “dance of affect and reason” in decision-making. Affect is our ability to sense immediately whether something is good or bad. But the problem of numbing arises when these positive and negative feelings combine with reasoned analysis to guide our judgments, decisions, and actions. Psychologists have found that the statistics of mass murder or genocide—no matter how large the numbers—do not convey the true meaning of such atrocities. The numbers fail to trigger the affective emotion or feeling required to motivate action. In other words, we know that genocide in Darfur is real, but we do not “feel” that reality. In fact, not only do we fail to grasp the gravity of the statistics, but the numbers themselves may actually hinder the psychological processes required to prompt action.

A recent study I conducted with Deborah Small of the University of Pennsylvania and George Loewenstein of Carnegie Mellon University found that donations to aid a starving 7-year-old child in Africa declined sharply when her image was accompanied by a statistical summary of the millions of needy children like her in other African countries. The numbers appeared to interfere with people’s feelings of compassion toward the young victim.

Other recent research shows similar results. Two Israeli psychologists asked people to contribute to a costly life-saving treatment. They could offer that contribution to a group of eight sick children, or to an individual child selected from the group. The target amount needed to save the child (or children) was the same in both cases. Contributions to individual group members far outweighed the contributions to the entire group. A follow-up study by Daniel Västfjäll, Ellen Peters, and me found that feelings of compassion and donations of aid were smaller for a pair of victims than for either individual alone. The higher the number of people involved in a crisis, other research indicates, the less likely we are to “feel” for each additional death.

When writer Annie Dillard was struggling to comprehend the mass human tragedies that the world ignores, she asked, “At what number do other individuals blur for me?” In other words, when does “compassion fatigue” set in? Our research suggests that the “blurring” of individuals may begin as early as the number two.

If this is true, it’s no wonder compassion is absent when deaths number in the hundreds of thousands. But there is a difference between merely being aware of this diminishing sensitivity and appreciating its broader implications. This is especially true when you consider how difficult it is to create, let alone sustain, the emotional responses needed to spark action.

In light of our historical and psychological deficiencies, it is time to re-examine this human failure. Because if we are waiting for a tipping point to spur action against genocide, we could be waiting forever.

Paul Slovic is president of Decision Research and professor of psychology at the University of Oregon. He studies risk and decision-making.

segunda-feira, março 12, 2007

Uma semana emocionante - 4


Upgrade número 4: estudante de francês - OK. Segundo a avaliadora, pelo menos o sotaque eu já tenho...

domingo, março 11, 2007

Uma semana emocionante - 3

Upgrade número 3: palestrante - OK.

E assim se completa a semana mais repleta de ritos de passagem de toda uma jovem vida. No entanto, apesar de títulos e funções novas, quase tudo continua igual. O autor destas linhas praticamente não difere de sua versão de quarta-feira, antes de tudo começar, e o entusiasmo intoxicante que poderia ser associado a essas estréias simplesmente esqueceu-se de comparecer. Não só ele, é verdade: a ansiedade que normalmente precede as grandes ocasiões também não deu sinal de vida. No fim das contas, foi melhor assim: uma calma sobrenatural antes de cada evento, uma alegria moderada depois. Curioso. Será que as conquistas profissionais passam a ter mesmo esse sabor tranqüilo depois de certo momento na vida, ou seguem a discrição dos amores maduros, em que os arrebatamentos devastadores vão dando lugar à constância serena? Tudo parece tão natural, embora, na verdade, não seja; e embora falte a experiência anterior, não há estremecimento ou angústia diante do que nunca antes foi vivido. É diferente da simples segurança, que costuma pressupor uma ponta de questionamento, um momento prévio de ansiedade, e também não chega a ter a qualidade fria da indiferença. A descrição mais próxima talvez seja a de se estar vivendo um roteiro predeterminado, seguido sem nervosismo (e também sem grande excitação) por já se saber o fim.

Dar aula em uma faculdade talvez seja a mais bizarra das experiências desta semana insólita. A sala em que leciono é ampla, repleta de carteiras confortáveis, com um leve toque familiar: há três anos, sentei ali em um curso de especialização. Existe uma considerável e incômoda distância entre a mesa do professor, posta em um nível mais alto, e as carteiras dos alunos. Talvez por ser a primeira vez, essa distância literal entre mestres e aprendizes me incomodou, parecendo forçada e inconveniente. Justamente no nível de ensino em que os dois sujeitos da educação deveriam estar mais próximos, vemo-nos separados dessa forma. Estar em um nível mais elevado que o resto da sala também aguça a sensação de ser observado; já acostumado a turmas de Ensino Fundamental, em que os alunos se posicionam muito perto dos professor, notei de imediato essa diferença.

Não é a única, certamente. Em uma turma pequena (cerca de 15 alunos, dispersos no mais variados pontos da sala), todos prestam uma atenção que poucos professores de quinta série, como eu, usufruem na sua rotina escolar. Olhares penetrantes, cada um ao seu modo. Ali, em particular, entendi que os desafios também eram muito diferentes daqueles propostos de uma escola comum. Em uma turma de crianças, conquistar a atenção delas é por si só um desafio; fazê-las ter curiosidade pelo assunto e entendê-lo, também. Mas, numa turma de faculdade, há outra tarefa adicional: ganhar a confiança daqueles olhos penetrantes que se fixam no professor, como se o tempo todo o avaliassem em busca de sua credibilidade ou da falta dela. Ciosos de seu senso crítico, eles não estão ali para engolir tudo que é dito, e muitos têm suas próprias idéias para testar na arena da sala de aula. Lecionar para eles não será, nem deve ser, simplesmente comentar e discutir textos, mas estar preparado para debater essas idéias prévias, enriquecê-las com dados novos ou derrotá-las com uma argumentação convincente e bem informada. Cada aula, cada encontro, exige, portanto, algo de preparação militar, de modo que o "mestre" crie as condições para o melhor dos combates: aquele que se trava no espírito de cada um.

Ainda não sei se sou um bom general para essa tropa. Mas a oportunidade apareceu, e é certamente com grande alegria que me aventuro a agarrá-la. Que seja, parafraseando Theodore Roosevelt, uma "boa guerrinha".


sábado, março 10, 2007

Uma semana emocionante - 2

Upgrade número 2: mestre no melhor curso do país - OK

quinta-feira, março 08, 2007

Uma semana emocionante - 1

Upgrade número 1: professor universitário - Ok.

Morre uma lenda

07/03/2007 - 16h31

Capitão América morre aos 89 anos

Divulgação/Marvel Comics

Depois de mais de 65 anos lutando contra o crime, o Capitão América foi morto por um franco atirador

Depois de mais de 65 anos lutando contra o crime, o Capitão América foi morto por um franco atirador

NOVA YORK, 7 mar (AFP) - O Capitão América, o herói das histórias em quadrinhos com uma predileção por roupas justas nas cores vermelha, branca e azul - as mesmas da bandeira americana - morreu aos 89 anos, baleado em Nova York.

As cópias contando o trágico destino do super-herói da Marvel chegaram às bancas de jornal nesta quarta-feira. Depois de mais de 65 anos lutando contra bandidos, o Capitão América foi derrubado por um franco atirador na escadaria de uma corte de Manhattan.

"Urgente: poucos detalhes são claros no momento, mas a cena em frente à Corte Federal de Manhattan é um retrato do caos e da confusão depois que um ex-super-herói foi baleado", anuncia a Marvel em seu site na internet.

O Capitão América era, na verdade, Steve Rogers, nascido em 4 de julho de 1917, no Dia da Independência americana. Ele foi criado em 1941, mas sem ter superpoderes, parecia pouco equipado para lutar contra o mal em comparação com outros super-heróis como o Super-homem.

Vestido nas cores da bandeira americana, com um enorme "A" na máscara e um escudo que também servia de disco, o Capitão América era parte do esforço de guerra americano, criado apenas meses antes do ataque japonês a Pearl Harbor.

A primeira capa da revista dedicada às aventuras do personagem o mostrou acertando um soco no rosto de Adolf Hitler. Ele "viveu" seu período áureo depois que os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, mas perdeu popularidade depois da guerra e foi aposentado nos anos 1950, retornando nos anos 1960.

No entanto, assim como a volta do Super-homem, depois de ter sido morto em 1993, nada impede que o Capitão América volte à cena.

Um de seus criadores, Joe Simon, de 93 anos, disse ao jornal New York Daily News ter ficado triste com o falecimento do personagem. "É um momento péssimo para que vá embora. Nós realmente precisamos dele agora", afirmou.

terça-feira, março 06, 2007

Provação

Já não tens pai, patrão, nem rei, herói, guru ou deus.
Ninguém de fora ou dentro que te dê certeza
e te ordene ou diga o que fazer.
Perdeste o útero materno, o lar, a taba, a igreja
e a nação, urbi et orbe, no universo,
não há lugar em que te possas abrigar - ou esconder.

Nem uma corda ou prancha, cabide ou salva-vidas
resta: nenhuma fé, rumo, ou cruzada
a que te possas agarrar para sobreviver.
Solto no espaço, rolando pelo tempo
é esta agora a humana condição:
és livre e só, sem opção.

Então, não tens escolha:
tens de encontrar teu próprio jeito de viver ou encontrar
a corda e o poste a que te possas suspender.


Chimpanzés, ferramentas e fêmeas engenhosas

http://science.howstuffworks.com/chimp.htm

Are chimpanzees evolving in the wild?

March 6, 2007
If you were to put a sample of chimpanzee DNA next to a sample of human DNA -- and if you had any idea what you were looking at -- you would see that the samples are nearly identical. Chimps and humans share 96 percent of their DNA, and some new research suggests that chimps and humans may have split off from a common ancestor just 4 million years ago, which is a more recent estimate than the generally accepted timeframe of 5 to 7 million years. This would mean that it took about 4 million years for humans and chimpanzees to become completely separate species. The two are so close on the evolutionary ladder that observing chimps offers real glimpses into the way humans may have evolved. And a new, pretty major observation of chimp behavior may provide scientific evidence of a long-suspected theory about human evolution.

Chimpanzees are known to use tools. Many scientific studies, including Jane Goodall's famous work with chimpanzees in Gombe, Tanzania, have documented chimps using tools to complete or simplify tasks like cracking nuts open and getting termites out of logs. They've been observed using a stick to make an opening in a tree trunk big enough to where they get get an arm in to pull out some bugs or honey or other delicacy. But not many researchers have been able to effectively observe chimps outside of Gombe -- it's hard to get them accustomed enough to human presence to catch them acting naturally for long periods of time. And until now, no one has documented a definite case of chimpanzees using tools to hunt in the traditional sense.

Jill Pruetz of Iowa State University and Paco Bertolani from the University of Cambridge successfully observed chimpanzees in Fongoli, Senegal, from March 2005 to July 2006. Their work, published online in the journal Current Biology on February 22, 2007, reveals documentation of chimpanzees using tools to kill animals for food.

What they saw was a fairly methodical, step-by-step process of fashioning what most of us would recognize as a spear. The chimps would first break off a live tree branch, usually about 2 feet (0.6 meters) long; then pull off any leaves and twigs; then, in many cases, scrape off some of the bark at one end of the stick; and then, in many cases, create a point at that end of the stick by gnawing away at the tip with their incisors.

The sharp-point part is a big deal, because no one has seen a chimp sharpen a stick in order to use it to enlarge a hole in a log. This element supports the case that the chimps are creating a spear.

The chimps would then jab the stick into a hollow tree branch or a hole in a tree trunk, which are places where a lemur-related animal called a bushbaby (Galago senegalensis) sleeps during the day. The jabbing was in the motion humans typically think of as "spearing." Of 22 observed cases of this type of action, Pruetz and Bertolani saw only one in which the spear actually pulled a bushbaby out of a tree. But in some cases, the chimps would jab wildly with the stick and then pry open the hole from a bit of a distance in order to get to the bushbaby. Pruetz explains that this seems to indicate the chimps are in fact trying to kill or immobilize the animal with their jabbing, because bushbabies are quick -- if the animal were unharmed when the chimp pried open the hole, it would easily scurry away and evade capture. Also, the chimps would usually sniff or lick the spear after pulling it out of the hole, and the researchers found discarded spears with bushbaby fur stuck to them.

The study makes a case for this type of hunting as a localized adaptation -- in other words, an evolutionary survival trait. Typically, chimpanzees hunt red colobus monkeys for protein. In the overall chimpanzee population, that's the most common prey. But there are no red colobus monkeys in Fongoli. The Fongoli chimpanzee community had to adapt to a different protein source, and spear-based hunting seems to be one way in which the population has adapted. An interesting part of the revelation is Pruetz and Bertolani observed females and adolescent chimps doing most of the hunting with spears, not the adult males who are typically thought of as the hunters in chimpanzee populations. They surmise that the females and young ones may have come up with spear hunting as a way to compete with adult males for protein sources -- to catch a type of animal the males haven't been able to hunt successfully with their arms, legs and teeth. It is this latter observation that may provide insight not only into the behavior of chimpanzees, but also into the process of human evolution.

There is a common belief in the scientific community that females played a key role the evolution of human tool use. As observed in the chimpanzee community, the adult males are typically the last to pick up a new method of accomplishing a task. The adolescent males and females seem to be far more open to adaptation. And since adolescents spend most of their time with the females of the community, biologists have theorized that females are the primary innovators in tool use. The females use tools to adapt to changing conditions and pass along the adaptations to the young of the group, who easily pick up the new tool use. The adolescents eventually become the alpha males and the offspring-rearing females, solidifying the new tool in the daily life of the group. With 96 percent of human DNA matching chimpanzee DNA, the latest observations of female-dominant tool innovation in a chimpanzee community could provide fuel for the theory of female-driven tool innovation in human evolution.