Dois anos... Não, não dois, mas três. Três anos. E agora que a tenho diante de mim, a sensação é de anticlímax. Talvez como o amante que, finda a euforia do primeiro momento, se vê ao lado de uma estranha que nada mais lhe diz. Uma indiferença esquisita, que ainda tem vestígios da forte emoção que a precedeu — como um cansaço. Sim, é essa a palavra: cansaço. Corpo e mente parecem dizer, “Chega!”, mesmo sabendo que isso ainda não é possível. Sinto-os esfriando, esvaziando-se de uma obsessão de semanas, até meses, querendo se convencer de que tudo acabou, que chegamos ao fim. Mas uma razão inabalável insiste que ainda não é a hora, não estamos no fim. Verdade que chegamos perto, que cruzamos um ponto sem retorno... Mas ainda há mais pela frente.
Olho-a, entre exausto e enternecido, quase surpreso por ela e por mim. Não é propriamente que ela tenha perdido o encanto, mas neste momento tudo que a sua lembrança me desperta é o vazio. Vejo-me querendo fugir para longe, para outras memórias, outros momentos. Não que isso realmente fosse me deixar mais feliz... Certas coisas, longe ou perto, continuam conosco, presas não se sabe por que grilhão. Parecem se entranhar em nossa alma por mais que tentemos nos afastar delas. Mas, mesmo que pudesse, eu não seria capaz de fugir. Simplesmente não encontro forças.
Por três anos ela obcecou meu pensamento. Em meus parcos planos de futuro, lá estava ela como uma sombra, primeiro como ambição e depois como uma sentença. E eis que agora ela me contempla, impassível, serena, como se nem tomasse conhecimento das incontáveis horas de frenesi que despertou. Como um ídolo acostumado à adoração, eis que parece esperar, ciumenta, que eu a busque e retome sem delongas, com a dedicação absoluta dos maníacos e a energia dos quase desesperados.
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