terça-feira, novembro 29, 2022
Thomas Paine e seu "Nosso Lar" de 1852
quinta-feira, novembro 17, 2022
Didaqué: o senso crítico dos primeiros cristãos
Reli a Didaqué de ontem para hoje, por conta da aula sobre Cristianismo em Introdução às Grandes Religiões. É breve, mas impactante. Como pude esquecer desse livreto tão rico de espiritualidade? Quase tudo ainda é perfeitamente válido, e foi difícil não lembrar do ideal de uma comunidade cristã baseada na simplicidade e na boa-vontade, sem todo o monturo teológico e ritualístico que se acumulou depois. Fiz até um miniculto no lar com os primeiros capítulos, e deixo aqui alguns destaques como lembrete para mim mesmo quanto à utilidade da obra.
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Didaqué (ou Instrução dos Doze Apóstolos, séc. I)
Cap. XI
4- Todo apóstolo que vem até vocês seja recebido como o Senhor.
5- Ele não deverá ficar mais que um dia ou, se for necessário, mais outro. Se ficar por três dias, é um falso profeta.
6- Ao partir, o apóstolo não deve levar nada, a não ser o pão necessário até o lugar em que for parar. Se pedir dinheiro, é um falso profeta.
8- Nem todo aquele que fala inspirado é profeta, a não ser que viva como o Senhor. é assim que vocês reconhecerão o falso e o verdadeiro profeta.
9- Todo profeta que, sob inspiração, manda preparar a mesa, não deve comer dela. Caso contrário, trata-se de um falso profeta.
10- Todo profeta que ensina a verdade, mas não pratica o que ensina, é um falso profeta.
[...]
12- Se alguém disser sob inspiração: “Dê-me dinheiro” ou qualquer outra coisa, não o escutem. Contudo, se ele pedir para dar a outros necessitados, então ninguém o julgue.
Cap. XII
1 - Acolham todo aquele que vier em nome do Senhor. Depois, examinem para conhecê-lo, pois vocês têm juízo para distinguir a esquerda da direita.
2- Se o hóspede estiver de passagem, deem-lhe ajuda no que puderem; entretanto, ele não permanecerá com vocês, a não ser por dois dias, ou três, se for necessário.
3- Se quiser estabelecer-se com vocês e tiver uma profissão, então trabalhe para se sustentar.
4- Se ele, porém, não tiver profissão, procedam conforme a prudência, para que um cristão não viva ociosamente entre vocês.
5- Se ele não quiser aceitar isso, é um comerciante de Cristo. Tenham cuidado com essa gente.
AA. VV.. Didaqué (Avulso) . Paulus Editora. Edição do Kindle.
domingo, novembro 06, 2022
Angulimala, o "serial killer" budista
Palestra na Congregação Espírita Francisco de Paula (CEFP), tema "A felicidade e a consciência tranquila", numa série chamada "Descobrindo Jesus". Deixei para planejar meio em cima, consultei livros sobre a filosofia da felicidade, e estava difícil achar uma linha argumentativa, um raciocínio que fluísse pela exposição. E aí, querendo aproveitar algo dos meus estudos sobre religião para a UFRJ, procurei sobre Taoísmo, depois Budismo e acabei achando a história de Angulimala, talvez o primeiro serial killer de que tenhamos registro. Entre Wikipedia e o livreto de Hellmut Hecker que linkei acima, fiquei impressionado com a história e suas implicações, a ponto de ter meu roteiro original quase engolido por ela. O que era para ser uma história mote acabou virando o coração da palestra. Cabia tudo nela: o ser vítima de uma injustiça inicial como indução ao crime, a violência, a culpa, a decisão de mudar de rumos, o respeito para com o criminoso. Uma história poderosa de redenção, que me comoveu quase às lágrimas, e que serviria não só para a palestra, como também para meus estudos sobre desobsessão.
A palestra foi ótima, acho que desenvolvi bem o assunto, pois a história é muito eloquente por si mesma. Na volta, voltei lendo The Buddha and the Terrorist, uma adaptação da história escrita pelo ativista Satish Kumar. É um livro curto, e até aqui interessante. Certamente pode ser um bom material para um curso sobre não violência também. (Aliás, o ensaio de Hecker é lindo, valeria a pena uma tradução.)