terça-feira, novembro 29, 2022

Thomas Paine e seu "Nosso Lar" de 1852

Mais uma descoberta "arqueológica" do Espiritualismo, a partir de uma leitura atenta do prólogo de Mark Lause, Free Spirits. Definitivamente, diminuir o fluxo de novas aquisições de livros e me concentrar em processar os que já tenho renderá frutos. Trata-se, claro, da psicografia intitulada Thomas Paine's Pilgrimage in the Spirit World, de 1852, ainda anterior às obras de Hudson Tuttle. O médium é o Rev. Charles Hammond, que tem mais um ou dois livros espiritualistas na sua conta (localizei dois, apenas um online, mas não sei se podem ser versões diferentes do mesmo texto).




Li até o capítulo II, e é bem escrito. Os diálogos podem ser floridos demais, mas nada terrível para quem já aguentou a prosa de Chico Xavier. Encaixa-se como uma luva no meu projeto de comparar narrativas do pós-morte, e a p. 50 já me rende um trecho que é forte candidato a epígrafe dos sonhos. Vou tentar conciliar sua leitura com a de Lause ao longo desta e da próxima semana, na esperança de criar alguma regularidade para as pesquisas necessárias ao meu ingresso no PPGHIS e ao artigo que preciso escrever ano que vem. 

quinta-feira, novembro 17, 2022

Didaqué: o senso crítico dos primeiros cristãos


 Reli a Didaqué de ontem para hoje, por conta da aula sobre Cristianismo em Introdução às Grandes Religiões. É breve, mas impactante. Como pude esquecer desse livreto tão rico de espiritualidade? Quase tudo ainda é perfeitamente válido, e foi difícil não lembrar do ideal de uma comunidade cristã baseada na simplicidade e na boa-vontade, sem todo o monturo teológico e ritualístico que se acumulou depois. Fiz até um miniculto no lar com os primeiros capítulos, e deixo aqui alguns destaques como lembrete para mim mesmo quanto à utilidade da obra. 

--------

Didaqué (ou Instrução dos Doze Apóstolos, séc. I)

Cap. XI


4- Todo apóstolo que vem até vocês seja recebido como o Senhor. 


5- Ele não deverá ficar mais que um dia ou, se for necessário, mais outro. Se ficar por três dias, é um falso profeta. 


6- Ao partir, o apóstolo não deve levar nada, a não ser o pão necessário até o lugar em que for parar. Se pedir dinheiro, é um falso profeta.


8- Nem todo aquele que fala inspirado é profeta, a não ser que viva como o Senhor. é assim que vocês reconhecerão o falso e o verdadeiro profeta.


9- Todo profeta que, sob inspiração, manda preparar a mesa, não deve comer dela. Caso contrário, trata-se de um falso profeta. 


10- Todo profeta que ensina a verdade, mas não pratica o que ensina, é um falso profeta.


[...]


12- Se alguém disser sob inspiração: “Dê-me dinheiro” ou qualquer outra coisa, não o escutem. Contudo, se ele pedir para dar a outros necessitados, então ninguém o julgue.




Cap. XII


1 - Acolham todo aquele que vier em nome do Senhor. Depois, examinem para conhecê-lo, pois vocês têm juízo para distinguir a esquerda da direita. 


2- Se o hóspede estiver de passagem, deem-lhe ajuda no que puderem; entretanto, ele não permanecerá com vocês, a não ser por dois dias, ou três, se for necessário. 


3- Se quiser estabelecer-se com vocês e tiver uma profissão, então trabalhe para se sustentar. 


4- Se ele, porém, não tiver profissão, procedam conforme a prudência, para que um cristão não viva ociosamente entre vocês. 


5- Se ele não quiser aceitar isso, é um comerciante de Cristo. Tenham cuidado com essa gente.


AA. VV.. Didaqué (Avulso) . Paulus Editora. Edição do Kindle. 

domingo, novembro 06, 2022

Angulimala, o "serial killer" budista

 Palestra na Congregação Espírita Francisco de Paula (CEFP), tema "A felicidade e a consciência tranquila", numa série chamada "Descobrindo Jesus". Deixei para planejar meio em cima, consultei livros sobre a filosofia da felicidade, e estava difícil achar uma linha argumentativa, um raciocínio que fluísse pela exposição. E aí, querendo aproveitar algo dos meus estudos sobre religião para a UFRJ, procurei sobre Taoísmo, depois Budismo e acabei achando a história de Angulimala, talvez o primeiro serial killer de que tenhamos registro. Entre Wikipedia e o livreto de Hellmut Hecker que linkei acima, fiquei impressionado com a história e suas implicações, a ponto de ter meu roteiro original quase engolido por ela. O que era para ser uma história mote acabou virando o coração da palestra. Cabia tudo nela: o ser vítima de uma injustiça inicial como indução ao crime, a violência, a culpa, a decisão de mudar de rumos, o respeito para com o criminoso. Uma história poderosa de redenção, que me comoveu quase às lágrimas, e que serviria não só para a palestra, como também para meus estudos sobre desobsessão.


A palestra foi ótima, acho que desenvolvi bem o assunto, pois a história é muito eloquente por si mesma. Na volta, voltei lendo The Buddha and the Terrorist, uma adaptação da história escrita pelo ativista Satish Kumar. É um livro curto, e até aqui interessante. Certamente pode ser um bom material para um curso sobre não violência também. (Aliás, o ensaio de Hecker é lindo, valeria a pena uma tradução.)