sexta-feira, dezembro 02, 2011

O dilema de Sócrates


Penso agora em Sócrates. Pergunto-me se, às vezes, ele não se sentia muito só. Afinal, vagava pelas ruas interpelando homens comuns e respeitados, supostos tolos e pretensos sábios, fazendo perguntas que ninguém mais se lembrava de fazer e, no entanto, sem achar uma resposta definitiva. Sim, Sócrates buscava a Verdade, mas não chegava jamais a ela. Ao contrário de Buda, ele nunca chegou à "iluminação"... A realidade suprema não o agraciou com uma revelação, não desvendou seus segredos para seus olhos... Nisso, Sócrates era igual a todos os outros homens e mulheres. Porém, e aí talvez residisse sua dor, nem por isso ele deixou de desenvolver uma mente afiada demais, perspicaz demais, que, se não chegava à Verdade, também já não era capaz de se contentar com os engodos do dia a dia. Dura condição a sua: incapaz de alcançar o ápice, mas elevado demais para voltar à vala comum. Que espetáculo seria ver o mundo por tais olhos, nem santos nem mortais, mas pairando num estranho e fascinante meio-termo... Quem poderia entendê-lo realmente? Com quem dividir todas as ideias, reflexões e insights que deviam a toda hora lampejar por sua mente dividida? E que fazia ele nas horas de cansaço, quando a miopia dos outros parecia um muro inexpugnável? Como falar da busca da Verdade com quem já a julgava possuí-la, pobre e mesquinha?

Para Sócrates, a sabedoria é um peso. Mas pior que ela, que abre os olhos para a dor silenciosa do mundo, é não tê-la. Ai do que busca ser sábio! Mas que os deuses se apiedem dos que nem mesmo lembram que são ignorantes!


4 comentários:

Priscila disse...

Um outro exercício de leitura e escrita:

"Ser ou não ser, eis a questão?"
Dividir as minhas dores, ou não?
Serei entendido se dividir?
Será que me darão razão?
Será que me dirão exatamente o que eu quero ouvir?

A solidão da busca...

Tá tudo errado! Preste atenção! Isso é um aviso com letras garrafais:
Não, não é essa resposta que eu busco!
Não, não é esse tom que eu quero!
Não, não é essa "A Verdade"!
Você não entendeu o que eu quis dizer...Não, você não alcança!

***
Um afago, um olhar:
Que "Verdade", Sócrates? O que é "A" Verdade, Sócrates?

Respira fundo. Acalma seu coração.

Releia, Sócrates:
"Conhece-te a TI MESMO."

Complemente com Jesus:
"...a Verdade te libertará."

Qualquer outro tipo de sabedoria é infinitamente menor...

Um dia seremos capazes de reconhecer que as disputas de pontos de vista são efêmeras e desviam o nosso foco da "Verdade" maior: o amor.

Assim,
"...ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria." (1 Coríntios 13:2)

Releia 1 Coríntios 13...

Perdoe a miopia com amor.

Rodrigo disse...

Para um post meio enevoado, uma clarão suave de espiritualidade.

Obrigado, Priscila.

Priscila disse...

Fico feliz e lembre-se:estou aqui.
Para ler,
Para aprender,
Para pedir desculpas,
Para amar.
=)

***

Por causa do seu texto passei o dia lendo o Evangelho: "fora da caridade/amor não há salvação."

Fernanda Rodrigues disse...

Esse dilema não sei por que me fez pensar na situação de indivíduos que tem uma condição moral elevada no mundo que vivemos hoje. Há um desconforto, uma sensação de se estar fora do contexto, de não saber como agir, na condição de se estar no mundo, mas sem ser do mundo...