Gosto de ler intelectuais conservadores. Comecei com Olavo de Carvalho, ainda nos anos 1990 (como é bom já ter idade para falar assim de décadas passadas...), época áurea de
O Imbecil Coletivo -- uma obra-prima de mau-humor inteligente, o tipo de livro "politicamente incorreto" que dá vazão a tudo o que se gostaria de dizer em sociedade mas as sensibilidades da época não permitem. Mais ou menos na mesma época, descobri o historiador e jornalista Paul Johnson, autor do excelente
Uma História do Cristianismo, mas também do peculiar
Os Intelectuais. Só bem depois é que fui descobrindo outros menos marcantes, em artigos variados e mesmo blogs na Internet. E concluí que em vários havia um elemento peculiar que me atraía e tornava sua prosa muito mais atraente. Levou tempo, mas acabei descobrindo o que era.
Note-se que falo dos conservadores por ser a minha experiência mais forte. O que li dos esquerdistas não me chamou muito a atenção, então suponho que sua retórica, usualmente em tom de denúncia indignada, tenha características diferentes.
Já os conservadores, ao menos esses da linhagem que identifiquei (talvez haja outras), têm um sabor bem particular que os define. Em primeiro lugar, eles usualmente se propõem desmascarar alguém ou alguma ideia; notem bem, eu não disse refutar, e sim desmascarar. Ora, quem desmascara, expõe, acusa, humilha publicamente; para isso, muitas vezes lança mão da ironia, de certa arte cruel de mostrar a diferença entre o que se fala e o que a realidade mostra. Melhor ainda se se trata de uma personalidade ou doutrina de larga aceitação, aparentemente consensual -- haverá então maior prazer que demonstrar à multidão inepta que ela está errada? Que os seus supostos melhores se deixaram enganar por uma falácia ou uma farsa deliberada? Que delícia será comparável a poder lançar com justiça ao rosto dos oponentes o sorriso de escárnio de quem sabe mais e melhor e que ainda por cima pode demonstrá-lo? "Que dizes agora, idealista ingênuo que enches a boca para amaldiçoar o mundo que te gerou? Agora que revelei tua estupidez e as contradições de tuas ideias, que farás?" -- bem posso imaginar o conservador a dizer.
O senso de pertencer a uma elite iluminada que se eleva acima da mediocridade mental da ralé certamente transcende qualquer ideologia, mas poucos o fazem com tanto gosto quanto um conservador. Afinal, diferentemente do esquerdista, ele nunca afirmou que a igualdade era um bem em si, tampouco que era sinônimo de justiça. E nesta época que pelo menos de lábios cultua tanto o igualitarismo -- Jacques Barzun a chama de "
demótica" --, ir contra a maré há de ser a autoafirmação suprema de um intelecto forte. Ou assim se pode
acreditar...
Bem, toda essa ruminação foi causada por esta resenha de Russell Jacoby para o novo livro de Thomas Sowell. Se você não sabem quem é Sowell, saiba desde já que ele é um intelectual
conservador. Afinal, quem mais escreveria sobre os pecados dos intelectuais?
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February 14, 2010
Why Intellectuals Are All Bad
By Russell Jacoby
Is there anything new to say about intellectuals? Thomas Sowell, the conservative economist and writer who hangs his hat at Stanford University's Hoover Institution, gives it a shot. Sowell is a rare being, an intellectual who makes his life half in the university and half outside it. He has taught on several campuses, writes a syndicated column, and produces a book almost every year. As a black conservative, he occupies a visible perch, and has not been shy in advancing tough critiques of busing and affirmative action. Sowell gets noticed. With a nod to his provocative ideas, Bates College established an endowed chair in economics after him. Now Sowell turns to intellectuals.
He intimates in its preface that his new book, Intellectuals and Society (Basic Books), should be considered the third of a conservative trilogy that blasts intellectuals. Paul Johnson inIntellectuals (1988) cataloged the personal misconduct and dishonesty of the species. From Johnson we learned, for instance, that Ibsen sometimes got drunk and wrote suggestive letters to young women. Johnson concluded that a dozen people picked "at random" on the street should be preferred to immoral intellectuals, which may include himself, inasmuch as his long-term mistress later denounced in public the long-married author for hypocrisy. Richard Posner inPublic Intellectuals (2003) snared the species in a scientific net to show that it behaved poorly outside its narrow terrain. For example, law professors who protested the Bush military tribunals were not specialists in criminal or international law and could not understand the pertinent issues. For Posner, intellectuals should stick to things they know, advice he flouted in his own book.
In Intellectuals and Society, Sowell cleans up what is left and—in his eyes—on the left, intellectuals who influence policy. They are not necessarily "public intellectuals," but "writers, academics, and the like" who have enormous impact on society. The question of who these intellectuals are does not much interest Sowell. He specifies that his targets are less engineers and financiers than sociologists and English professors. Their influence on millions of people, he writes, "can hardly be disputed." He mentions the impact of Lenin, Hitler, and Mao, but does not explain how English professors influenced those figures.
(Leia o resto em http://chronicle.com/article/Skewering-Intellectuals/64113)
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