sexta-feira, dezembro 31, 2010

Ano Novo

A época é de festa, e hoje se fecha o gostoso ciclo do fim de ano. Supermercados cheios, correria, ceia farta (não para todos), planos alegres para a noite que é de confraternização (não para todos). Na televisão, a empolgação transparece nas vozes dos repórteres e nos temas da programação. Não é uma noite comum, e nem tem por que ser. Quantas vezes festejamos em massa? Quantas vezes andamos pelas ruas sabedores de que quase todos que vemos pelas ruas compartilham conosco a mesma intenção e expectativa? Bem poucas. De minha parte, é quando me sinto mais parte de uma comunidade maior, e parte de mim se rejubila com essa certeza. É efêmero, sim, pois amanhã tudo se terá dissipado. Mas hoje ainda está aqui, e é bom viver esse presente vibrante.

Estava à procura de mensagens de Ano Novo, pois, no corre-corre de confraternizações de fim de ano, acabei não encontrando muitas pessoas que gostaria de rever. Topei então com esta, que foge um pouco ao clichê, mas por isso mesmo deixo para compartilhar com vocês:

Mensagem Espírita de Ano Novo

Hoje é o dia que dá início a um novo ano.
É o dia primeiro.
Todos queremos iniciar mais um ano com esperanças renovadas.

É um momento de alegria e confraternização.
As rogativas, em geral, são para que se tenha muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender.

Mas será que se tivermos tudo isso teremos a garantia de um ano novo cheio de felicidade?

Se Deus nos dá saúde, o que normalmente ocorre é que tratamos de acabar com ela em nome das festas.
Seja com os excessos na alimentação, bebidas alcoólicas, tabaco, ou outras drogas não menos prejudiciais à saúde.
Não nos damos conta de que a nossa saúde depende de nós. Dessa forma, se quisermos um bom ano, teremos que fazer a nossa parte.

Se pararmos para analisar o que significa a passagem do ano, perceberemos que nada se modifica externamente.
Tudo continua sendo como na véspera.
Os doentes continuam doentes, os que estão no cárcere permanecem encarcerados, os infelizes continuam os mesmos, os criminosos seguem arquitetando seus crimes, e assim por diante.

Nós, e somente nós podemos construir um ano melhor, já que um feliz ano novo não se deseja, se constrói.
Poderemos almejar por um ano bom se desde agora começarmos um investimento sólido, já que no ano que se encerra tivemos os resultados dos investimentos do ano imediatamente anterior e assim sucessivamente.

Poderemos construir um ano bom a partir da nossa reforma moral, repensando os nossos valores, corrigindo os nossos passos, dando uma nova direção à nossa estrada particular.
Se começarmos por modificar nossos comportamentos equivocados, certamente teremos um ano mais feliz.

Se pensarmos um pouco mais nas pessoas que convivem conosco, se abrirmos os olhos para ver quanta dor nos rodeia, se colocarmos nossas mãos no trabalho de construção de um mundo melhor, conquistaremos, um dia, a felicidade que tanto almejamos.

Só há um caminho para se chegar à felicidade.
E esse caminho foi mostrado por quem realmente tem autoridade, por já tê-lo trilhado. Esse alguém nós conhecemos como Jesus de Nazaré, o Cristo.

No ensinamento "amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo" está a chave da felicidade verdadeira.
Jesus nos coloca como ponto de referência.
Por isso recomenda que amemos o próximo como a nós mesmos nos amamos.

Quem se ama preserva a saúde.
Quem se ama não bombardeia o seu corpo com elementos nocivos, nem o espírito com a ira, a inveja, o ciúme etc.
Quem ama a Deus acima de todas as coisas, respeita sua criação e suas leis. Respeita seus semelhantes porque sabe que todos fomos criados por ele e que ele a todos nos ama.

Enfim, quem quer um ano novo repleto de felicidades, não tem outra saída senão construí-lo. Importa que saibamos que o novo período de tempo que se inicia, como tantos outros que já passaram, será repleto de oportunidades. Aproveitá-las bem ou mal, depende exclusivamente de cada um de nós.

O rio das oportunidades passa com suas águas sem que retornem nas mesmas circunstâncias ou situação.
Assim, o dia hoje logo passará e o chamaremos ontem, como o amanhã será em breve hoje, que se tornará ontem igualmente.
E, sem que nos demos conta, estaremos logo chamando este ano que se inicia de ano passado e assim sucessivamente.
Que todos possamos aproveitar muito bem o tesouro dos minutos na construção do amanhã feliz que desejamos, pois a eternidade é feita de segundos.

(Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no livro Repositório de sabedoria, verbetes: oportunidade e tempo.)


quinta-feira, dezembro 30, 2010

Paz, horror e planos para 2011

Garganta dolorida e um resfriado que não sabe se vai ou fica -- exceto pela já dita garganta e a consequente mudança na voz. Poderia continuar a rotina de sempre, mas a chuva e o vento relativamente frio não o recomendam no meu estado. E a esperança de ainda rever algumas pessoas este ano se esvai entre uma dose e outra de Flogoral.

Uma breve ronda pelos sites de sempre mostra que o fundador do Arts and Letters Daily, um dos meus favoritos e certamente um dos mais úteis da Internet, faleceu. Engraçado que nunca tenha me ocorrido que o ALD tivesse um único fundador, embora felizmente não tenha um único editor. O site continua, para felicidade geral do mundo, e eu agradeço ao professor Dutton pelo legado que deixou. Não há dúvida de que ele fez mais pelo crescimento intelectual do mundo do que boa parte dos acadêmicos pode sonhar em fazer.

Uma breve pausa em minhas tarefas -- professores universitários levam trabalho para casa e para as férias também -- me permitiu pensar melhor em um projeto que tem me aquecido o coração nos últimos tempos. Trata-se de um grupo de estudos sobre não-violência e assuntos correlatos. A ideia surgiu a partir do interesse de alguns alunos, e também do fato de eu ter finalmente aproveitado o assunto em uma disciplina no início do ano. Estou longe de ser um expert, muito pelo contrário, mas saber alguma coisa é melhor do que não saber nada, e de qualquer forma já tenho uma bibliografia razoável. Mas foi só nos últimos dias, enquanto lia o recém-chegado Humanity - A moral history of the twentieth century ( leia a resenha, mediante breve registro, no NY Times), que me ocorreu o óbvio: o assunto requer mais do que uma abordagem puramente histórica ou a leitura de algumas fontes primárias essenciais. É uma das raras chances numa faculdade de História de sair da abordagem tradicional de fatos e historiografia e mergulhar num exame interdisciplinar sobre a tão buscada (e difamada) "natureza humana" -- e, por extensão, levar os participantes do grupo a se colocarem também como objeto do estudo. Afinal de contas, quando se examina a coragem de um militante dos direitos civis nos EUA dos anos 50 ou 60, ou de um adepto de Gandhi, há que se entender que princípios e escolhas estão por trás disso. Infelizmente, parecemos compreender muito bem as razões e as escolhas táticas de grupos de luta armada, mas a não-violência, em certas situações, ainda dá a impressão de ser uma coisa de outro mundo, quando não uma opção ingênua de sonhadores algo suicidas. Entender o ponto de vista de uma pessoa assim, e ao mesmo tempo a crítica que ele representa à visão quase automática de que "luta = violência", é algo que requer um suporte que a história, sozinha, não pode dar.

Achei alguma coisa em Psicologia, em um livro clássico que sempre serei grato ao hoje humorista Bernardo Jablonski por me haver feito comprar. O próprio Humanity tem capitulos úteis, embora não da maneira como se poderia esperar. Tomei como premissa que um bom estudo sobre não-violência tem que levar em conta o oposto dela, a violência mais extrema. Não se pode construir a paz sem considerar a guerra, ou, como prefiro chamar, o "mal" que tantas vezes se manifesta em pessoas comuns sob determinadas condições. Há uma literatura razoável sobre genocídio disponível, mesmo em português, e pretendo usá-la também. Entre outras coisas, ela mostra bem como as condições sociais podem favorecer a desumanização do próximo e fazer de pessoas ditas "normais" figuras dignas de literatura de terror.

É possível estudar isso sem problematizar as próprias reações e emoções? Eu duvido. Por isso mesmo, o tema pode ser um estímulo a um exercício de autoconhecimento, exatamente como o estudo consciencioso das humanidades, hoje tão burocratizadas, deve ser. Houve época em que se lia um romancista, um filósofo, um historiador, como sábios que teriam algo a nos acrescentar como pessoas, daí a reverência com que eram cercados. Não creio que essa seja a tônica em nossas universidades de hoje -- nem da maioria dos autores que as alimentam com bibliografia e saber. Talvez, apenas talvez, meu modesto projeto de grupo seja uma forma de escapar disso. Mas isso é algo que só poderei constatar na prática.

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Não-violência

Um blog sobre não-violência que acabei de encontrar: http://wagingnonviolence.org/

A origem das coisas triviais - o "gancho" teatral

Do excelente site de trechos diários de livros Delancey's Place, a origem de algo que quase todos já vimos em desenhos animados ou filmes:

'In today's encore excerpt - just as the nineteenth century turned into the twentieth, Miner's Theater in the Bowery introduced the hook as a way to forcibly remove unpopular acts from the stage. At that time, the Bowery was exceeded only by Broadway as a place to see live theater in New York:

"By the [1890s], the major venue in the Bowery was Miner's Theater, home to such nascent legends as the young dialect comedy duo Weber and Fields, and the Four Cohans from which young George M. eventually graduated. ...

"What made Miner's absolutely unique for a time, however, was Amateur Night, held on alternate Fridays. ... A 1905 account outlines a typical night's fare: a juggler, buck-and-wing dancers, a blackface comedian in a red plaid suit, a clay modeler (incredibly arts-and-crafts demonstrations carried off with a certain amount of panache and speed went over with the roughest crowds), a quartet of singing newsboys. As entertaining as the acts on stage might be, people often came to amateur nights at Miner's to take in the audience reaction, which could be brutal. ...

"Since the procession of semi-talented and untalented hopefuls could be painful, not to mention boring, an enterprising stage manager at Miner's came up with a way of policing the lengths of unsuccessful acts: the hook. The first one apparently was a stage-prop shepherd's crook lashed to a pole. Before long, hooks were being manufactured. The hook appeared in theaters all over the world and entered the language ... Back at Miner's, 'Give 'im the hook' took barely twenty-four hours to establish itself as the crowd's favorite line. Soon it was a cliche and stage managers were kept busy hatching entertaining alternatives: dousing performers with selzer from spray bottles, [or] carrying them out on stretchers manned by burly stage hands."

Author: Luc Sante
Title: Low Life
Publisher: Vintage
Date: 1991
Pages: 92-93

sábado, dezembro 25, 2010

sexta-feira, dezembro 24, 2010

Natal


Nada mais clichê que um post dedicado ao Natal. No entanto, às vezes, em meio às expectativas e labores de festa, pode-se sentir melhor o clima subjacente do dia. Apesar das críticas dos detratores e dos males que persistem, com um pouco de boa vontade o mundo se torna um pouco menos pesado e mais harmônico. Na nossa cultura, em nenhum outro dia se pensa mais em temas como perdão, reencontro e fraternidade. Tanto quanto um dia pode ser, este é, sem dúvida, um bom dia.

sábado, dezembro 18, 2010

'TV Pirata' volta a ser exibido na televisão brasileira


17/12/2010 12h36 - Atualizado em 17/12/2010 15h39


Humorístico será reprisado no Canal Viva a partir de 1º de janeiro.
Programa é considerado um dos mais anárquicos da televisão nacional.

Do G1, em São Paulo

Ney Latorraca, no papel do inesquecível BarbosaNey Latorraca, no papel do inesquecível Barbosa
(Foto: Divulgação)

O "TV pirata", uma das comédias mais famosas da TV brasileira, voltará ao ar a partir de 1º de janeiro no Canal Viva. O programa de esquetes, que ajudou a consolidar a carreira humorística de atores como Luiz Fernando Guimarães, Regina Casé, Pedro Cardoso e Débora Bloch foi transmitido na TV Globo entre 1988 e 1990, retornando depois como uma atração semanal em 1992.

"TV pirata" será exibido todos os sábados à 0h, com reprise no sábado seguinte, sempre às 16h. O programa irá substituir "Dicas de um sedutor" dentro da grade do canal fechado, criado neste ano pela Globosat e que fez sucesso principalmente com as reprises de "Sai de baixo" e das novelas "Quatro por quatro" e "Vale tudo".

Com influências do americano "Saturday night live" e do britânico "Monty Python flying circus", "TV pirata" tinha uma série de esquetes e quadros fixos. Dentre os personagens mais marcantes da atração estão o velho Barbosa, interpretado por Ney Latorraca, Tonhão (Claudia Raia) e Zeca Bordoada (Guilherme Karan), o apresentador do politicamente incorreto "TV macho".

Na equipe de roteiristas do programa estavam os cartunistas Laerte e Glauco, o escritor Luís Fernando Veríssimo e o os integrantes dos grupos Planeta Diário e da Casseta Popular, que viriam a se tornar depois o Casseta e Planeta.

Em 2004, o Multishow também chegou a reprisar o "TV pirata".

terça-feira, dezembro 14, 2010

A revolução não será tuitada


São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2010

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SOCIEDADE



Os limites do ativismo político nas redes sociais

RESUMO
O ativismo em redes sociais como o Facebook e o Twitter deriva de vínculos fracos entre seus participantes, que não correm riscos reais como os militantes tradicionais, unidos por vínculos fortes, em ações hierarquizadas e de alto risco, tais como as organizadas durante a campanha pelos direitos civis nos EUA dos anos 60.

MALCOLM GLADWELL
tradução PAULO MIGLIACCI

ÀS QUATRO E MEIA da tarde da segunda-feira 1º/2/1960, quatro universitários se sentaram ao balcão da lanchonete de uma loja Woolworth's no centro de Greensboro, na Carolina do Norte. Eram calouros na North Carolina A&T, faculdade para negros localizada a pouco mais de 1 km dali.
"Um café, por favor", disse um deles, Ezell Blair, à garçonete.
"Não atendemos crioulos aqui", ela respondeu.
O comprido balcão em L comportava 66 pessoas sentadas; numa das pontas, comia-se de pé. Os assentos eram para os brancos. A área onde se comia de pé era para os negros. Outra funcionária, uma negra encarregada da estufa, tentou convencê-los a sair: "Vocês estão sendo burros, seus ignorantes!". Eles não se mexeram.
Por volta das cinco e meia as portas principais da loja foram fechadas. Os quatro continuaram lá. Por fim, saíram por uma porta lateral. Do lado de fora, formara-se uma pequena multidão, incluindo um fotógrafo do jornal "Record", de Grensboro. "Volto amanhã, com o A&T College inteiro", disse um dos universitários.
Na manhã seguinte, o protesto havia se expandido e o grupo somava 27 homens e quatro mulheres, em grande parte do mesmo alojamento dos quatro manifestantes originais. Os homens estavam de terno e gravata. Todos levaram material e ficaram no balcão, estudando. Na quarta, veio a adesão dos alunos do colégio "para crioulos" de Greensboro, a Dudley High, e o número de manifestantes subiu a 80. Na quinta, já eram 300, incluindo três brancas, do campus local da Universidade da Carolina do Norte.
No sábado, o protesto contava 600 pessoas, espalhadas pelas calçadas em torno da loja. Adolescentes brancos assistiam, acenando com bandeiras da Confederação.1 Alguém soltou um rojão. Ao meio-dia, chegou o time de futebol americano da A&T. "Lá vêm os baderneiros", berrou um dos estudantes brancos.
Na segunda seguinte, o protesto já havia chegado a Winston-Salem, a 40 km dali, e Durham, a 80 km. No dia seguinte, veio a adesão dos alunos do Fayetteville State Teachers College e do Johnson C. Smith College, em Charlotte, seguidos, na quarta, pelos alunos do St. Augustine's College e da Universidade Shaw, em Raleigh. Na quinta e na sexta, o protesto atravessou as divisas do Estado e novas manifestações surgiram em Hampton e Portsmouth, na Virgínia; em Rock Hill, na Carolina do Sul; e em Chattanooga, no Tennessee. No final do mês, manifestações semelhantes estavam sendo realizadas em todo o sul dos Estados Unidos, chegando até o Texas, no oeste.

FEBRE "Perguntei a cada um dos estudantes que encontrei como tinha sido o primeiro dia de protesto em seu campus", escreveu o cientista político Michael Waltzer ?em artigo na revista "Dissent". "A resposta foi sempre a mesma: 'Foi uma febre. Todo mundo queria participar'."
Por fim, cerca de 70 mil estudantes aderiram. Milhares deles foram detidos, e outros tantos se radicalizavam. Esses acontecimentos do começo dos anos 60 se tornaram uma guerra dos direitos civis que engolfou o sul dos Estados Unidos até o final da década -e tudo aconteceu sem e-mail, mensagens de texto, Facebook ou Twitter.
Dizem que o mundo passa por uma revolução. As novas ferramentas de redes sociais reinventaram o ativismo social. Com Facebook, Twitter e que tais, a relação tradicional entre autoridade política e vontade popular foi invertida, o que facilita a colaboração mútua e a organização dos desprovidos de poder e dá voz às suas preocupações.

REVOLUÇÃO VIA TWITTER Quando 10 mil pessoas saíram às ruas na Moldova, no leste europeu, segundo trimestre de 2009, em protesto contra o governo comunista, a ação ganhou o nome de revolução via Twitter, por causa dos meios utilizados para arregimentar os manifestantes.
Meses depois, quando protestos estudantis abalaram Teerã, o Departamento de Estado americano tomou a providência inusual de solicitar ao Twitter que suspendesse uma pausa programada para manutenção do site, pois o governo não desejava que uma ferramenta tão vital estivesse inativa no auge das manifestações. "Sem o Twitter, o povo do Irã não se teria sentido capaz e confiante o bastante para sair em defesa da liberdade e da democracia", escreveu o ex-assessor de segurança nacional Mark Pfeifle, clamando para que o Twitter ganhasse o Prêmio Nobel da Paz.
Se antes os ativistas eram definidos por suas causas, agora são definidos pelas ferramentas que empregam. Os guerreiros do Facebook entram na internet para pressionar por mudanças. "Vocês são a nossa grande esperança", disse James Glassman, ex-alto funcionário do Departamento de Estado, a uma plateia de ciberativistas em recente conferência patrocinada por Facebook, AT&T (companhia telefônica), Howcast (site de vídeos), MTV e Google.
Sites como o Facebook, disse Glassman, "oferecem aos EUA uma considerável vantagem competitiva diante dos terroristas. Algum tempo atrás, eu disse que 'a Al Qaeda está jantando a gente na internet'. Já não é mais assim. A Al Qaeda continua parada na Web 1.0. A internet agora é interatividade e conversação".

CRÍTICA São alegações fortes e intrigantes. Que importa quem janta quem na internet? As pessoas que estão no Facebook são mesmo a nossa grande esperança? Quanto à chamada revolução via Twitter na Moldova, Evgeny Morozov, pesquisador na Universidade Stanford que vem sendo um dos mais persistentes críticos do evangelismo digital, aponta que a importância do Twitter é quase nula na Moldova, onde existem pouquíssimas contas desse serviço.
E o que aconteceu lá tampouco parece ter sido uma revolução, especialmente porque as manifestações -como sugeriu Anna Applebaum em artigo no "Washington Post"- na verdade podem ter sido uma encenação organizada pelo governo. (Num país paranoico com o revanchismo romeno, os manifestantes hastearam uma bandeira da Romênia na sede do Parlamento.)
Já no caso do Irã, as pessoas que usaram o Twitter para comentar as manifestações viviam quase todas no Ocidente. "É hora de esclarecer o papel do Twitter nos acontecimentos do Irã", escreveu Golnaz Esfandiari meses atrás, na revista "Foreign Policy". "Em resumo: no Irã, não houve revolução via Twitter."
O elenco de blogueiros proeminentes, como Andrew Sullivan, que defendeu o papel da rede social no Irã, acrescentou Esfandiari, não entendeu direito a situação. "Jornalistas ocidentais que não conseguiam -ou nem mesmo tentavam- se comunicar com gente no Irã simplesmente percorriam a lista de 'tweets' em inglês, contendo a tag #iranelection", 2 escreveu ela. "Enquanto isso, ninguém parece ter se perguntado por que pessoas que supostamente tentavam coordenar os protestos no Irã não estariam se comunicando em farsi, mas em outro idioma".
Parte dessa grandiloquência é previsível. Inovadores tendem ao solipsismo. Volta e meia se empenham em enquadrar em seus novos modelos os fatos e experiências mais díspares.
Como escreveu o historiador Robert Darnton, "as maravilhas da tecnologia de comunicação no presente produziram uma falsa consciência sobre o passado -e até mesmo a percepção de que a comunicação não tem história, ou nada teve de importante a considerar antes dos dias da televisão e da internet".

ENTUSIASMO Mas há mais um fator em jogo nesse desproporcional entusiasmo em relação às redes sociais. Cinquenta anos depois de um dos mais extraordinários episódios de sublevação social na história dos EUA, parece que esquecemos o que é ativismo.
No começo dos anos 60, Greensboro era o tipo do lugar onde a insubordinação racial era rotineiramente reprimida com violência. Os quatro primeiros universitários a se sentar ao balcão reservado aos brancos estavam apavorados. "Se alguém tivesse chegado por trás de mim e gritado 'bu', acho que eu cairia no chão", disse um deles mais tarde.
No primeiro dia, o gerente notificou o chefe de polícia, que imediatamente enviou dois policiais para a loja. No terceiro dia, um grupo de brutamontes brancos apareceu na lanchonete e se postou ameaçadoramente atrás dos manifestantes, proferindo epítetos como "crioulo de cabelo ruim". Um líder local da Ku Klux Klan apareceu. No sábado, enquanto a tensão crescia, alguém telefonou e deu um alarme falso de bomba e a loja teve de ser evacuada.
Os perigos eram mais claros no Mississippi Freedom Summer Project de 1964, outra campanha pioneira do movimento pelos direitos civis. O Student Nonviolent Coordinating Committee recrutou centenas de voluntários não remunerados no norte dos EUA, quase todos brancos, para lecionar nas Freedom Schools, alistar eleitores negros e promover os direitos civis no sul profundo.
"Ninguém pode ir sozinho a lugar nenhum, muito menos de carro e à noite", eram as instruções dadas aos voluntários. Poucos dias depois de chegarem ao Mississippi, três deles -Michael Schwerner, James Chaney e Andrew Goodman- foram sequestrados e assassinados; até o final daquele verão, 37 igrejas negras seriam incendiadas e dezenas de casas usadas como abrigos foram atacadas com bombas; voluntários foram espancados, alvejados e perseguidos por picapes repletas de homens armados. Um quarto dos participantes do programa desistiram. Ativismo que desafia o status quo -e ataca problemas profundamente enraizados- não é para bundas-moles.

COMPROMISSO O que leva uma pessoa a esse tipo de ativismo? Doug McAdam, sociólogo na Universidade Stanford, comparou os desertores do programa Freedom Summer com os que optaram por ficar, e descobriu que a diferença crucial, ao contrário do que se poderia esperar, não era o fervor ideológico. "Todos os inscritos -tanto os que ficaram quanto os que desistiram- estavam altamente comprometidos com a causa e eram partidários articulados das metas e valores do programa", concluiu.
O fator decisivo foi o grau de conexão pessoal entre a pessoa e o movimento pelos direitos civis. Pedia-se a todos os voluntários que fornecessem uma lista de contatos pessoais -as pessoas que desejavam manter a par de suas atividades-, e assim a probabilidade de ter amigos que também estivessem indo ao Mississippi era bem mais alta entre os que ficaram do que entre os que abandonaram o programa. O ativismo de alto risco, concluiu McAdam, é um fenômeno de "vínculos fortes".
O padrão se repete em boa parte de casos. Um estudo sobre as Brigate Rosse [Brigadas Vermelhas], grupo terrorista italiano dos anos 70, constatou que 70% de seus recrutas já tinham pelo menos um grande amigo na organização. O mesmo se aplica aos homens que aderiram aos Mujahideen do Afeganistão. Até mesmo manifestações revolucionárias que parecem espontâneas, como as que conduziram à queda do Muro de Berlim, na Alemanha Oriental, são, em seu âmago, fenômenos de vínculos fortes.
O movimento oposicionista da Alemanha Oriental consistia em centenas de grupos, cada qual formado por cerca de uma dúzia de membros. Cada grupo tinha contato limitado com os demais: na época, apenas 13% dos alemães orientais tinham telefone. Tudo o que sabiam era que, nas noites de segunda, diante da igreja de São Nicolau, no centro de Leipzig, as pessoas se reuniam para expressar sua ira contra o Estado. E o determinante primário daqueles que compareciam eram os "amigos críticos" -quanto mais amigos críticos ao regime uma pessoa tivesse, maior a probabilidade de adesão ao protesto.

LIGAÇÕES Portanto, um fato crucial sobre os quatro calouros que foram à lanchonete segregada de Greensboro -David Richmond, Franklin McCain, Ezell Blair e Joseph McNeil- eram as ligações mútuas que mantinham. McNeil dividia o quarto com Blair no alojamento da A&T. No andar de cima, Richmond dividia o quarto com McCain; e Blair, Richmond e McCain foram alunos da Dudley High School.
Os quatro levavam cerveja às escondidas para o alojamento e conversavam noite afora, no quarto de Blair e McNeil. Tinham na memória o assassinato de Emmett Till, em 1955; o boicote aos ônibus de Montgomery, no Alabama, no mesmo ano; e o confronto em Little Rock, no Arkansas, em 1957.
Foi McNeil que apareceu com a ideia do protesto na Woolworth's. Discutiram o assunto por quase um mês. Um dia, McNeil entrou no quarto e perguntou aos amigos se estavam prontos.
Houve uma pausa e McCain disse, de um jeito que só funciona entre amigos que passaram longas madrugadas conversando: "Vocês vão arregar ou vamos em frente?". Ezell Blair tomou coragem para pedir aquele café, no dia seguinte, porque estava na companhia de seu colega de quarto e de dois grandes amigos desde o ensino médio.

VÍNCULOS FRACOS O ativismo associado às redes sociais nada tem em comum com isso. As plataformas dessas redes são construídas em torno de vínculos fracos. O Twitter é uma forma de seguir (ou ser seguido por) pessoas que talvez nunca tenha encontrado cara a cara. O Facebook é uma ferramenta para administrar o seu elenco de conhecidos, para manter contato com pessoas das quais de outra forma você teria poucas notícias. É por isso que se pode ter mil "amigos" no Facebook, coisa impossível na vida real.
Sob muitos aspectos, isso é maravilhoso. Há força nos vínculos fracos, como observou o sociólogo Mark Granovetter. Nossos conhecidos -e não nossos amigos- são a nossa maior fonte de novas ideias e informações. A internet nos permite explorar a potência dessas formas de conexão distante com eficiência maravilhosa.
É sensacional para a difusão de inovações, para a colaboração interdisciplinar, para integrar compradores e vendedores e para as funções logísticas das conquistas amorosas. Mas vínculos fracos raramente conduzem a ativismo de alto risco.

VIRTUDES Em um livro chamado "The Dragonfly Effect - Quick, Effective, and Powerful Ways to Use Social Media to Drive Social Change" [O Efeito Libélula - Maneiras Rápidas, Efetivas e Poderosas de Utilizar Redes Sociais para Promover Mudanças Sociais, ed. Jossey-Bass], o consultor de negócios Andy Smith e Jennifer Aaker, professora na escola de admininistração de empresas de Stanford, contam a história de Sameer Bhatia, jovem empresário do Vale do Silício que um dia descobriu estar sofrendo de leucemia mielálgica aguda. O caso serve como perfeita ilustração sobre as virtudes das redes sociais.
Bhatia precisava de um transplante de medula óssea, mas não encontrou doador entre seus parentes e amigos. As chances seriam maiores caso o doador tivesse sua etnia, e havia poucos doadores do sul da Ásia no banco de dados de medula óssea americano.
Por isso, o sócio de Bhatia enviou um e-mail no qual explicava o problema do amigo a mais de 400 de seus conhecidos, que por sua vez o encaminharam a seus contatos; páginas de Facebook e vídeos no YouTube foram criados para a campanha Help Sameer. Por fim, quase 25 mil novos doadores se inscreveram no banco de dados e Bhatia encontrou um compatível com ele.
Mas como a campanha conseguiu a adesão de tanta gente? Porque não pedia nada de mais aos participantes. É a única forma de conseguir que alguém que você não conhece de verdade faça alguma coisa em seu benefício. Dá para conseguir que milhares de pessoas se inscrevam como doadores porque fazê-lo é facílimo. Basta enviar uma amostra simples de material genético -no altamente improvável caso de que a medula óssea do doador seja compatível com alguém que precise- passar algumas horas no hospital.
Doar medula óssea não é trivial. Mas não envolve risco financeiro ou pessoal; não implica passar um verão inteiro sendo perseguido por picapes repletas de homens armados. Não requer confronto com normas e práticas sociais arraigadas. Na verdade, é o tipo do engajamento que só traz elogios e reconhecimento social.

DISTINÇÃO Os evangelistas das redes sociais não compreendem essa distinção; parecem acreditar que um amigo de Facebook e um amigo real são a mesma coisa, e que se inscrever em uma lista de doadores no Vale do Silício, hoje, é ativismo no mesmo sentido que pedir um café num restaurante segregado de Greensboro em 1960.
"As redes sociais são especialmente eficazes para reforçar a motivação", escreveram Aaker e Smith. Mas não é verdade. As redes sociais são eficazes para ampliar a participação -mas reduzindo o nível de motivação que a participação exige.
A página da Save Darfur Coalition no Facebook tem 1.282.339 membros, cuja doação média é de nove centavos de dólar per capita. A segunda maior entidade de assistência a Darfur no Facebook tem 22.073 membros, e suas doações per capita são de 35 centavos de dólar. A Help Save Darfur tem 2.797 membros, que doaram, em média, 15 centavos de dólar.
Um porta-voz da Save Darfur Coalition disse à revista "Newsweek" que "não avaliamos necessariamente o valor de alguém para o movimento com base nos montantes doados. Este é um mecanismo poderoso para promover o envolvimento de uma população crítica. Eles informam a comunidade, participam de eventos, fazem trabalho voluntário. Não é algo que se possa medir por números".
Em outras palavras, o ativismo no Facebook dá certo não ao motivar pessoas para que façam sacrifícios reais, mas sim ao motivá-las a fazer o que alguém faz quando não está motivado o bastante para um sacrifício real. Estamos muito longe do balcão da lanchonete de Greensboro.

CAMPANHA MILITAR Os estudantes que participaram de protestos no sul dos EUA nos primeiros meses de 1960 descreveram o movimento como "uma febre". Mas o movimento dos direitos civis tinha mais de campanha militar que de contágio.
No final dos anos 50, 16 protestos semelhantes haviam sido organizados em diversas cidades sulistas, 15 dos quais formalmente coordenados por organizações de direitos civis como a NAACP [sigla em inglês da Associação Nacional para o Progresso da População de Cor] e a CORE [sigla em inglês de Congresso da Igualdade Racial]. Possíveis locais para protestos foram mapeados. Traçaram-se planos. Ativistas do movimento promoveram sessões de treinamento e retiros com potenciais participantes.
Os quatro de Greensboro surgiram como produto desse trabalho de base: eram membros do Conselho da Juventude da NAACP. Tinham fortes ligações com o diretor da seção local da organização. Foram informados sobre a onda anterior de protestos em Durham, e participaram de uma série de reuniões do movimento em igrejas ativistas.
Quando os protestos se espalharam pelo sul a partir de Greensboro, a difusão não ocorreu de modo aleatório. Os protestos surgiram em cidades que já tinham células do movimento -núcleos de ativistas dedicados e treinados, prontos para converter a "febre" em ação.

ALTO RISCO O movimento dos direitos civis era ativismo de alto risco. Era também, e isso é importante, ativismo estratégico: um desafio ao establishment, montado com precisão e disciplina. A NAACP era uma organização centralizada, com comando em Nova York, segundo procedimentos operacionais altamente formalizados.
Na Southern Christian Leadership Conference, Martin Luther King Jr. (1929-68) exercia inquestionável autoridade. A igreja negra tinha posição central no movimento e, como aponta Aldon Morris em seu "The Origins of the Civil Rights Movement", esplêndido estudo publicado em 1984, mantinha uma divisão de tarefas cuidadosamente demarcadas, com diversos comitês permanentes e grupos disciplinados.
"Cada grupo tinha uma missão definida e coordenava suas atividades por meio de estruturas de autoridade", escreve Morris. "Os indivíduos eram responsáveis pelas tarefas que lhes eram designadas e conflitos importantes eram resolvidos pelo pastor, que em geral exercia a autoridade final sobre a congregação."

HIERARQUIA Essa é a segunda distinção crucial entre o ativismo tradicional e sua variante on-line: as redes sociais não se prestam a esse tipo de organização hierárquica.
O Facebook e sites semelhantes são ferramentas para a construção de redes e, em termos de estrutura e caráter, são o oposto das hierarquias. Ao contrário das hierarquias, com suas regras e procedimentos, as redes não são controladas por uma autoridade central e única. As decisões são tomadas por consenso, e os vínculos que unem as pessoas ao grupo são frouxos.
Essa estrutura torna as redes imensamente flexíveis e adaptáveis a situações de baixo risco. A Wikipédia é um exemplo perfeito. Não há um editor instalado em Nova York que direcione e corrija cada verbete. O esforço de produção de cada entrada é auto-organizado. Caso todos os verbetes da Wikipédia sejam apagados amanhã, o conteúdo será rapidamente restaurado, porque é isso que acontece quando uma rede de milhares de pessoas dedica tempo a uma tarefa espontaneamente.
Há, no entanto, muitas coisas que redes não fazem direito. As montadoras de automóveis, sensatamente, usam uma estrutura de rede para organizar suas centenas de fornecedores, mas não para projetar os carros. Ninguém acreditaria que a articulação de uma filosofia coerente de design funcionasse melhor na forma de um sistema organizacional disperso e sem líderes.
Carecendo de uma estrutura centralizada de liderança e de linhas de autoridade claras, as redes encontram dificuldades reais para chegar a consensos e estabelecer metas. Não conseguem pensar de modo estratégico; são cronicamente propensas a conflitos e erros. Como fazer escolhas difíceis sobre táticas, estratégias ou orientação filosófica quando todo mundo tem o mesmo poder?

PROBLEMAS A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) surgiu como rede, e, em ensaio recentemente publicado no periódico "International Security", os especialistas em relações internacionais Mette Eilstrup-Sangiovanni e Calvert Jones argumentam que esse é o motivo para que a organização tenha encontrado tantos problemas ao crescer: "Traços estruturais característicos das redes -ausência de autoridade central, autonomia irrestrita de grupos rivais e incapacidade de arbitrar disputas por meio de mecanismos formais- tornaram a OLP excessivamente vulnerável à manipulação externa e às disputas internas".
"Na Alemanha dos anos 70", os dois prosseguem, "os terroristas de esquerda, muito mais unidos e bem-sucedidos, tendiam a se organizar hierarquicamente, com gestão profissional e clara divisão de tarefas. Estavam geograficamente concentrados nas universidades, onde podiam estabelecer liderança central, confiança e camaradagem por meio de reuniões regulares, cara a cara".
Era raro que entregassem seus companheiros de armas nos interrogatórios da polícia. Já seus equivalentes na direita se organizavam como redes descentralizadas e não mantinham disciplina semelhante. Era comum que esses grupos fossem infiltrados, e que seus membros, quando detidos pela polícia, entregassem facilmente seus companheiros. De forma semelhante, a Al Qaeda era mais perigosa quando mantinha uma hierarquia unificada. Agora que se dissipou em rede, vem se mostrando bem menos eficaz.

MUDANÇA SISTÊMICA As desvantagens das redes pouco importam quando não estão interessadas em mudança sistêmica -caso desejem apenas assustar, humilhar ou fazer barulho-, ou quando não precisam pensar estrategicamente. Mas, se o objetivo é combater um sistema poderoso e organizado, é preciso uma hierarquia. O boicote ao serviço de ônibus em Montgomery exigiu a participação de dezenas de milhares de pessoas que dependiam do transporte público para ir ao trabalho e voltar todo dia. E durou um ano.
A fim de persuadir as pessoas a se manterem fiés à causa, os organizadores encarregaram cada igreja negra local de manter o moral alto e montaram um sistema alternativo de transporte solidário que contava com 48 telefonistas e 42 pontos de parada. Até mesmo o Conselho de Cidadãos Brancos, King afirmou mais tarde, reconheceu que o sistema de transporte solidário funcionava com "precisão militar".
Quando King foi a Birmingham, no Alabama, para o confronto decisivo com o comissário de polícia da cidade, Eugene "Bull" Connor, contava com orçamento de US$ 1 milhão e uma equipe de 100 funcionários em período integral, já instalados na cidade e divididos em células operacionais. A ação foi dividida em fases, que se intensificavam gradualmente e eram mapeadas com antecedência. O apoio foi mantido por meio de sucessivas assembleias, num rodízio entre as igrejas da cidade.

LEGITIMIDADE MORAL Boicotes, protestos e confrontos não violentos -armas preferenciais do movimento pelos direitos civis- são estratégias de alto risco. Deixam pouca margem para conflito e erro. No momento em que um único manifestante abandona o roteiro e reage a uma provocação, a legitimidade moral de todo o protesto fica comprometida. Os entusiastas das redes sociais sem dúvida gostariam que acreditássemos que a tarefa de King em Birmingham seria imensamente facilitada se ele pudesse usar o Facebook para se comunicar com seus seguidores e se contentasse em enviar tweets de uma cela.
Mas as redes são confusas -pense no padrão incessante de correção e revisão, emendas e debates, que caracteriza a Wikipédia. Caso Martin Luther King tivesse tentado um "wiki-boicote" em Montgomery, teria sido esmagado pela estrutura do poder branco. E que uso teria uma ferramenta de comunicação digital numa cidade na qual 98% da comunidade negra podia ser contatada na igreja, todo domingo? Em Birmingham, King precisava de disciplina e estratégia, o tipo de coisas que as redes sociais não são capazes de fornecer.

PODER DE ORGANIZAÇÃO A bíblia do movimento das redes sociais é "Here Comes Everybody", de Clay Shirky, professor na Universidade de Nova York. Ele procura demonstrar o poder de organização da internet e começa pela história de Evan, que trabalhava em Wall Street, e de sua amiga Ivanna, que esqueceu seu smart-phone, um caro Sidekick, no banco de um táxi nova-iorquino.
A companhia telefônica transferiu os dados do celular perdido de Ivanna a um novo aparelho e assim a proprietária e Evan descobriram que o Sidekick estava em posse de uma adolescente do Queens, que vinha usando o aparelho para tirar fotos de si mesma e de suas amigas.
Quando Evan lhe enviou um e-mail pedindo que devolvesse o celular, Sasha respondeu que ele era um "bundão branco" que não merecia tê-lo de volta. Irritado, ele montou uma página na web com uma foto de Sasha e uma descrição do ocorrido. Encaminhou o link aos amigos, que o repassaram a outros amigos. Alguém localizou a página do namorado de Sasha no MySpace e um link para ela foi criado no site.
Alguém descobriu o endereço dela na web e gravou um vídeo mostrando a casa quando passou de carro por lá; Evan postou o vídeo no site. A história ganhou destaque no Digg, um site agregador de notícias. Evan passou a receber dez e-mails por minuto. Criou um fórum on-line para que seus leitores contassem suas histórias, mas as visitas eram tantas que o servidor vivia caindo.
Evan e Ivanna procuraram a polícia, mas o boletim de ocorrência definia o celular como "perdido", e não "roubado", o que significava que, na prática, o caso estava encerrado.
"Àquela altura, milhões de leitores estavam acompanhando", escreve Shirky, "e dezenas de veículos da mídia convencional haviam mencionado a história". Cedendo à pressão, a polícia de Nova York reclassificou o celular como "roubado". Sasha foi detida e a amiga de Evan conseguiu o Sidekick de volta.
O argumento de Shirky é o de que esse é o tipo de coisa que jamais poderia ter acontecido na era anterior à internet -e ele tem razão. Evan não teria conseguido localizar Sasha.
A história do Sidekick jamais teria sido divulgada. Um exército de pessoas não se teria formado para participar da batalha. A polícia não teria cedido à pressão de uma pessoa só, por algo tão trivial quanto um celular perdido. O caso, na opinião de Shirky, ilustra "a facilidade e rapidez com que um grupo pode ser mobilizado para o tipo certo de causa" na era da internet.

PERIGO Na opinião de Shirky, esse modelo de ativismo é superior. Mas, na verdade, não passa de uma forma de organização que favorece as conexões de vínculo fraco que nos dão acesso a informações, em detrimento das conexões de vínculo forte que nos ajudam a perseverar diante do perigo.
Transfere nossas energias das entidades que promovem atividades estratégicas e disciplinadas para aquelas que promovem flexibilidade e adaptabilidade. Torna mais fácil aos ativistas se expressarem e, mais difícil, que essa expressão tenha algum impacto.
Os instrumentos de redes sociais estão aptos a tornar a ordem social existente mais eficiente. Não são inimigos naturais do status quo. Se, na sua opinião, o mundo só precisa de um ligeiro polimento, isso não deve lhe causar preocupação. Mas se você acredita que ainda existem lanchonetes por serem integradas ao mundo, essa tendência deveria incomodá-lo.
Grandiloquente, Shirky encerra a história do Sidekick perdido perguntando: "O que virá a seguir?" -e, sem dúvida, imagina futuras ondas de manifestantes digitais.
Mas ele mesmo já respondeu à pergunta. O que virá é a mesma coisa, repetidamente. Um mundo feito de redes e vínculos fracos é bom para coisas como ajudar gente de Wall Street a recuperar celulares das mãos de garotas adolescentes. Viva la revolución.


Nota do tradutor
1. Estados do sul dos EUA que se uniram contra os do norte do país durante a Guerra de Secessão (1861-65).
2. No serviço de microblogs Twitter, as "tags" são termos precedidos do símbolo #, utilizados para reunir todas as mensagens sobre um mesmo assunto, como #ilustrissima.


Cinquenta anos depois de um dos mais extraordinários episódios de sublevação social na história dos EUA, parece que esquecemos o que é ativismo

Ativismo que desafia o status quo -e ataca problemas profundamente enraizados- não é para bundas-moles

Os evangelistas das redes sociais não compreendem essa distinção; parecem acreditar que um amigo de Facebook e um amigo real são a mesma coisa

Até mesmo manifestações revolucionárias que parecem espontâneas, como as que conduziram à queda do Muro de Berlim, na Alemanha Oriental, são, em seu âmago, fenômenos de vínculos fortes

Ao contrário das hierarquias, com regras e procedimentos, as redes não são controladas por uma autoridade central. As decisões são tomadas por consenso, e os vínculos que unem as pessoas ao grupo são frouxos

Carecendo de uma estrutura centralizada de liderança e de linhas de autoridade claras, as redes encontram dificuldades reais para chegar a consensos e estabelecer metas

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Amor, sexo, carências e outras confusões



Um relato peculiar, e tocante à sua maneira. A primeira coisa que me ocorreu foi o velho clichê sobre o que homens e mulheres buscam em um relacionamento. A segunda, um conto de Caio Fernando Abreu que uma amiga me mandou já faz tempo, Aqueles dois. A terceira foi a lembrança de Carmilla, o conto clássico de Sheridan Le Fanu sobre o que é considerado o primeiro caso literário de lesbianismo vampiresco (e de onde vem a ilustração deste post). Finalmente, a quarta diz respeito a uma velha questão existencial sobre a maneira como nem sempre sexo e afeição se separam bem na grade interpretativa de nossa cultura moderna -- talvez o problema que a autora enfrentou tivesse sido evitado numa sociedade onde o sexo fosse menos livre ou associado ao amor. Enfim, conjecturas ociosas de um dia de verão carioca, das quais vou poupá-los. Mas compartilho a história com vocês; apesar do título um tanto apelativo, ela merece ser lida.

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My failed lesbian romance

I was heartbroken and lost after the end of my marriage. Then I fell in love with Gisele, and things really got complicated.