segunda-feira, novembro 23, 2009

Humor negro da melhor qualidade




Vale a pena começar por aqui: http://www.cracked.com/article/149_5-self-destructive-ways-people-accidentally-cured-themselves/

A parte do duelo entre a paciente obesa e o vírus devorador de carne já vale a visita.

domingo, novembro 22, 2009

Os anéis da Terra

Para divagar...


Pena que não levaram a Lua em consideração na viabilidade dos anéis. Mas, raios, que é lindo, é.

sábado, novembro 14, 2009

Divagações mais recentes


Há tempos que vinha planejando escrever de novo aqui, mas as ideias se sucedem numa velocidade maior que minha capacidade de execução. Aliás, não o fazem sempre? Porém, admito que uma certa indisciplina de minha parte não ajuda. Nos últimos anos, tenho sido mais um acumulador de leituras fragmentadas e inspirações esquecidas do que disciplinado monge medieval, mergulhado em constante estudo e meditação, que gostaria de incorporar. Cheguei a pensar que a entrada no doutorado me daria o impulso para isso, a descoberta do meu Roger Bacon interior, mas infelizmente percebi que não. A bem da verdade, dedico mais tempo aos textos e temas que eu mesmo prescrevi aos meus alunos de graduação que àqueles que viriam a compor minha futura tese. (Às vezes, gostar muito do próprio trabalho pode ser desvantajoso...)

Seja como for, o fato é que, lecionando e estudando permanentemente, não posso reclamar de tédio intelectual. Ter sempre vários assuntos com que entreter a própria curiosidade é um privilégio, ainda que signifique alguma possível sobrecarga cognitiva debilitante no futuro (ou não...). Divido com vocês alguns dos assuntos que me têm interessado recentemente.

O primeiro é uma inusitada e fascinante Oficina de Diários, com o Prof. Sérgio Barcellos (PUC-RJ). Soube dela por acaso, graças ao email de uma amiga, e decidi me inscrever na última hora. Até então, não sabia que existiam estudos acadêmicos a respeito da prática diarística, que tanto me encanta na literatura e na história. Lembrei-me imediatamente do meu primeiro contato com o famoso Diário Íntimo de Amiel, e da curiosidade imensa que esse tipo de registro desperta. E apesar das aulas, do doutorado e tantas outras coisas, decidi experimentar por puro prazer. Tem valido muito a pena. É ótimo conviver com pessoas de áreas diferentes, unidas por um interesse comum real e não uma obrigação acadêmica ou de trabalho, e a abordagem dada pelo professor, que é de Letras, é muito leve e agradável. No último encontro, por exemplo, ele levou uma professor de Ensino Fundamental que experimentou uma oficina de escrita pessoal -- o termo mais "técnico" para o diário -- com alunos de nono ano, de 14 a 15 anos. O resultado foi surpreendente, tocante até, uma versão mais suave da experiência retratada no filme Escritores da Liberdade.

Também retirei da prateleira meu quase septuagenário exemplar de Varieties of the Religious Experience, de William James. É um livro de bolso, capa dura, integrante da famosa Everyman's Library, e tenho um carinho especial por ele, por suas páginas tão bem conservadas para sua idade e a fácil portabilidade -- nem sei bem por que razão comprei uma edição mais nova em brochura. Nunca terminei a leitura, como já é praxe, mas James tem uma prosa tão envolvente, e o assunto por si mesmo -- um olhar científico sobre os padrões das experiências e sentimentos espirituais -- é tão apaixonante que jamais esqueço inteiramente essa obra. O caráter do místico, o desapego e a suprema confiança dos santos, as turbulências e angústias existenciais que precedem algumas conversões, tudo está lá, com mais outros tantos tópicos de interesse. Revisitá-lo foi muito prazeroso, e, dado o assunto, também uma forma de obter certo conforto e orientação. Nas citações frequentes que faz, James acaba apresentando o leitor a uma profusão de obras e testemunhos (de fontes cristãs, em geral), os quais, sozinhos, já valeriam o livro. Recomendo a todos, religiosos ou não.




Também andei incursionando pela trilha larga e florida do conhecimento ao estilo fast-food: comprei alguns volumes da divertida coleção Filósofos em 90 minutos, de Paul Strathern e publicada pela Zahar. Iniciado na filosofia por Will Durant, Bertrand Russell e a biblioteca do colégio, recorri a Strathern para tratar daqueles filósofos de que sempre ouvira falar mas sobre quem nunca li nada específico, ou, já que era uma promoção na livraria, como forma de pegar algum conceito mais célebre e me divertir no processo. Depois de encarar Wittgenstein -- de quem o autor enfatiza mais a loucura, quase a ponto de desqualificá-lo como pensador real -- e Foucault -- finalmente entendi o que é episteme! --, passei a Derrida. É espantoso como até um resumo bem-humorado sobre ele consegue ser difícil, o que torna o sucesso da French Theory nas plagas não-europeias ainda mais duro de compreender. Talvez seja verdade que, de uns tempos para cá, a obscuridade seja a chave do sucesso na Filosofia. Ainda me lembro bem dos textos de Deleuze e similares que passaram na faculdade de Comunicação, e de como o fruto desse esforço não foi exatamente significativo. Até hoje tenho certa antipatia instintiva à prosa enrolada de filósofos franceses, pois tenho para mim que textos labirínticos frequentemente são um disfarce para a falta de conteúdo. Talvez tenha sido esse o maior legado do curso de jornalismo, afinal.

Finalmente, assisti Alô, alô, Terezinha, o documentário de Nelson Hoineff sobre Chacrinha. Foi uma viagem de volta aos tempos de infância, e um bom motivo para gargalhadas. O ponto alto do filme são as entrevistas com os antigos calouros, um mais folclórico que o outro. Também muita atenção é dada às chacretes, e é interessante ver como os depoimentos delas se contradizem no que diz respeito às suas relações com as celebridades que cantavam ou produziam o programa. Mas senti falta de uma maior atenção ao Russo, o assistente de palco mais famoso da Globo e braço-direito de Chacrinha. Também acho que poderia ter aparecido mais da história do próprio personagem central. Seja como for, é entretenimento de primeira ordem.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Pedofilia legitimada no Oriente Médio


02/11/2009 - 11h03

Luta de menina iemenita de 10 anos para se divorciar vira livro

KATY SEEME
da
Efe, em Beirute

A jornalista e escritora franco-iraniana Delphine Minoui conta a história de Nojoud Ali, uma menina iemenita de 10 anos que foi a um tribunal e obteve o divórcio do marido, mais de 20 anos mais velho que ela, com a ajuda e determinação do juiz.

Em entrevista à agência Efe, a autora explica que "Nojoud, 10 anos, divorciada" é a prova de que, apesar da permanência destas práticas, que atentam contra os direitos mais elementares da infância e das mulheres, "há esperança" para as meninas que são obrigadas a se casar. "Apesar de seu caso ser trágico, assim como, infelizmente, da metade das meninas do Iêmen, a coragem da pequena" foi o que incentivou Minoui a escrever o livro, conta.

A menina "quebrou um tabu e foi se refugiar em um tribunal para pedir o divórcio, depois que a casaram com um homem 30 anos mais velho, que abusava sexualmente dela". "Teve a sorte de encontrar um juiz que aceitou ouvi-la, que se comoveu com sua história e prometeu ajudá-la, advertindo, no entanto, que a vitória não era certa", conta a escritora, cujo pai é iraniano e que vive no Líbano.

Cumprindo o prometido, "o juiz se mobilizou, contratou uma advogada especialista em direitos das mulheres, que divulgou o caso à imprensa e pressionou para que Nojoud recebesse o divórcio". "Segundo estatísticas que encontrei na Universidade de Sana [capital do Iêmen], mais da metade das meninas no Iêmen se casa antes dos 18 anos e é comum ver menores de 11, 12 ou 13 anos carregando os filhos nos braços", narra.

Segundo ela, "isso faz parte da normalidade, não só no Iêmen, mas também em países como Afeganistão, Egito e outros da região", onde muitas vezes se impõe a lei do silêncio e transforma o tema em tabu. No entanto, afirma que "o fabuloso por trás da tragédia de Nojoud é que há esperança, porque ela ousou fazer o que nunca ninguém tinha feito antes", como conta o livro, já traduzido para mais de 20 idiomas.

Para a jornalista, as dificuldades da vida das mulheres nesta região do mundo são devido a vários fatores, "entre eles, o religioso, já que, em muitos países, as leis são inspiradas na lei islâmica, ou sharia".

"Mas é um clichê atribuir a situação da mulher apenas à religião, já que existe também o fator tribal, onde prevalece a questão da honra, principalmente nas aldeias, onde e mal visto que uma menina cresça sem se casar", explica. "Temem que brinque com outras crianças, que seja sequestrada por um homem, que tenha relações --não necessariamente sexuais-- antes do casamento, por que estas coisas sujariam a honra da família, da tribo e do bairro", afirma a jornalista.

Outro fator para explicar os casamentos com meninas menores de idade é a pobreza. "Tomemos o caso de Nojoud. Seu pai está desempregado, casou-se duas vezes e tem 16 filhos. Para ele, casá-la é livrar-se de uma carga, é uma boca a menos para alimentar", diz.

A educação também tem papel crucial e Minoui ressalta que o fenômeno acontece no Afeganistão ou no Egito, mas não no Irã --por exemplo--, onde a mulher tem acesso à educação. "Mais de 90% das mulheres são escolarizadas e, com isso, já conseguiram a primeira etapa para sua liberdade e emancipação", opina.

Assim, "inclusive jovens de meios tradicionais, que vão ao colégio e à universidade, aprendem a refletir e a reivindicar seus direitos". "Sem educação e sem consciência de seus direitos, quando um pai diz à filha que esta se casará amanhã, ela não sabe que tem direito de dizer não. A mulher é submetida e vê que a mãe e as irmãs maiores tiveram o mesmo destino", conta.

Mas há pessoas que lutam ativamente contra esta prática, mas, às vezes, a um preço muito alto. "As mulheres que trabalham nas ONG são ameaçadas de morte, são emitidas fatwas [éditos religiosos] contra elas, acusam-nas de serem manipuladas pelo Ocidente e muitas acabam por abandonar", conta.

Além disso, a jornalista fala que, muitas vezes, "as autoridades não fazem fada para que as meninas tenham acesso à educação ou aos serviços de saúde. A maioria delas dá à luz em casa e o planejamento familiar é nulo". No entanto, "o caso de Nojoud, que apareceu na imprensa local e nas televisões, contribuiu para que as coisas comecem a mudar, mas de modo muito lento".

Depois de Nojoud, outras menores de entre 10 e 11 anos no Iêmen obtiveram o divórcio. "Isso é encorajador. Na Arábia Saudita, uma menina era casada com um homem 50 anos mais velho, mas a mãe soube do caso de Nojoud e pediu o divórcio para a filha, e conseguiu", afirma Minoui.