segunda-feira, dezembro 01, 2014

Que tenho feito?

Organizando eventos acadêmicos com ex-alunos e também colegas.
Conhecendo minha própria fé, o Espiritismo, de um ponto de vista um pouco mais experimental e menos teórico.
Assistindo, não sem preocupação, ao linchamento virtual de um blogueiro famoso.
Percebendo-me um tanto melancólico com os tribalismos político-virtuais, mais barulhentos desde a última eleição.
Aprendendo o que é a vida a dois, e me preparando para, num futuro próximo, a vida a três.
Acompanhando The Flash e revendo Changeman e A Viagem, completamente alheio ao retorno de The Walking Dead e, o que me dói, House of Cards. Não consigo acompanhar muitas séries de uma vez.
Estudando para um concurso de professor, quando dá, mas sempre com prazer.
Cuidando da casa, mas sem neurose e às vezes com alguma preguiça.
Maravilhando-me de como a idade e a vida alteram nossas percepções, não só quantitativa, mas também e sobretudo qualitativamente.
Constatando como o campo "O que você está pensando?" do Facebook feriu de morte a Era dos Blogs, pelo menos entre amadores como eu.
Vendo alguns horizontes se abrindo com a aurora.
Vivendo, enfim...


Os Justos

Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire. 
O que agradece que na terra haja música. 
O que descobre com prazer uma etimologia. 
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez. 
O ceramista que premedita uma cor e uma forma. 
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade. 
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto. 
O que acarinha um animal adormecido. 
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram. 
O que agradece que na terra haja Stevenson. 
O que prefere que os outros tenham razão. 
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo. 

Jorge Luis Borges, in "A Cifra" 
Tradução de Fernando Pinto do Amaral