Recebo na mesma tarde fria três exemplares da recém-assinada Newsweek (minha homenagem impressa à informação globalizada). Na primeira, uma foto do Aeroporto de Beirute em chamas; na segunda, um Bush preocupado enquanto ouve assessores sobre a crise no Líbano; na terceira, soldados israelenses levando um companheiro ferido em algum lugar desértico no sul do território libanês. Contemplo essas três imagens, cada uma delas trágica a seu modo, e sou tomado por um enorme tédio -- sensação muito similar à proporcionada pelos jornais repletos de CPIs e candidatos em campanha. Achava que, quando as revistas chegassem, eu as leria com gana. Ledo engano: folheio-as sem vontade, passeando pelas matérias ricamente ilustradas com o prazer de quem consulta a lista telefônica de uma cidade estranha onde não conhece ninguém. Quanto aos jornais, empilham-se sobre a mesa, quase como chegaram. O que trazem parece uma reprise de mau gosto: manchetes, matérias, colunas, seções de cartas, tudo parece ter se tornado um grande clichê. (À exceção honrosa do destaque dado à licença médica de Fidel Castro -- ao menos uma novidade em 47 anos.)
Mas o mundo segue, e com ele as emoções, impermanentes por excelência, vão mudando. É curioso como parecem tão absolutas quando se manifestam -- a ponto de eventualmente esquecermos o quão são transitórias. Assim também os eventos que as originam -- tudo é rápido como o vento. Quisera as tragédias crônicas de nosso pequeno e explosivo mundo tivessem a mesma efemeridade que minhas oscilações de espectador distante.
Clichê por clichê, há um que me ocorre e ainda serve de consolo. Talvez seja a mais realista manifestação de esperança da linguagem humana, repetida à exaustão mas nem por isso menos eficaz. Pois, quer queiramos ou não, por mais profundo que seja o abatimento que nos acomete e por maioe que nos pareça a insensibilidade do Cosmo frente à desgraça de tantos, amanhã é outro dia.
------------
Para não infectar meus já poucos leitores com um estado de espírito pouco convidativo, uma reflexão: a força de vontade é um músculo, precisa ser fortalecida com o exercício regular, mas, se for exigida repetidamente, tende a se esgotar. Não entenderam? Então dêem uma olhada neste artigo de Cordelia Fine no The Australian.
Nenhum comentário:
Postar um comentário