Vejo intelectuais pregando a suprema malignidade de inimigos onipresentes. Vejo pessoas usarem a própria dor como carta-branca para demonizarem seus desafetos. Vejo gente inteligente escrevendo todo dia contra, seja algo ou alguém, mas sempre contra. Vejo "iluminados" que não enxergam, libertadores que oprimem, santos que maldizem. E vejo a mim mesmo, não poucas vezes, reproduzindo o que gostaria de combater.
Todos somos heróis em nossa própria narrativa. Temos grandes princípios, causas nobres, pretextos reluzentes. O "mal" está sempre lá fora. Mas somos narradores hipermétropes: enxergamos melhor o que está longe do que o que está próximo, e mesmo o que está dentro. E bem pode ser que, em vez de Galahads e Siegfrieds, talvez sejamos apenas Quixotes fascinados com moinhos de vento, mais necessitados de paciência e compreensão do que de odes e louvores.
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