domingo, novembro 26, 2006

A separação segundo Marguerite Yourcenar

Há alguns textos que procuramos uma vida inteira e não achamos. Sem o talento de escrevermos nós mesmos um equivalente, muitas vezes optamos por simplesmente calar, curtindo em silêncio as várias marés da alma. E eis que, um dia, quando a turbulência que nos fez buscá-los em primeiro lugar encontra-se sanada, deparamo-nos com tudo que gostaríamos de ter expressado antes, nos momentos cruciais que pontuam nossa vida com a intensidade incomum dos grandes marcos.

Este encontrei por puro acaso no scrapbook de uma pessoa com quem não mantinha contato há muito tempo. E acabou que uma visita casual para dar um singelo alô se tornou uma descoberta feliz. Assim, tenho uma dívida de gratidão com ela, e outra com Yourcenar por ser, nestes versos, o que Neruda e Gibran foram em outros tantos, também reproduzidos aqui de quando em vez. E como certa vez já disse de um dos poemas do grande poeta chileno, gostaria muito de ter tido o privilégio de ser autor das linhas que seguem -- mas aí já não seriam como são, e eu já não as quereria.

Mas chega de paradoxos. Deles já bastam aqueles inevitáveis a cada despedida.




Gherardo Perini

Não irei mais longe, Gherardo.
Não te acompanho mais porque o trabalho urge
e eu sou um homem velho. Sou um homem velho, Gherardo.
Às vezes, quando te entregas mais à ternura,
chegas a chamar-me teu pai. Mas eu não tenho filhos.
Nunca encontrei mulher tão bela como as minhas figuras de pedra,
mulher que ficasse horas imóvel sem falar,
como coisa necessária que não precisa de agir para ser,
e nos faz esquecer que o tempo passa porque está sempre presente.



Mulher que se deixe olhar sem sorrir nem corar
porque compreendeu que a beleza é qualquer coisa de grave.
As mulheres de pedra são mais castas que as outras,
e mais fiéis, porém, são estéreis.
Não há fenda por onde se possa introduzir nelas o prazer,
a morte, ou a semente de uma criança,
e por isso elas são menos frágeis.
Por vezes quebram-se e em cada pedaço de mármore
fica contida a sua beleza inteira, como Deus
que está em todas as coisas,
mas nada de estranho entra nelas que dilate o seu coração.
Os seres imperfeitos agitam-se e acasalam-se para se completarem,
mas as coisas só belas são solitárias como a dor humana.


Gherardo, não tenho filhos.
Eu bem sei que a maioria dos homens não tem propriamente um filho:
têm Tito, ou Caio, ou Pedro, e não é a mesma alegria.
Se eu tivesse um filho,
ele não se havia de parecer com a imagem que eu dele formara
antes de existir. Assim também as estátuas que faço
são diferentes daquelas que comecei por sonhar.
Mas Deus permite-se ser conscientemente criador.
Se fosses meu filho, Gherardo, eu não te amaria mais,
mas não teria que perguntar-me porquê.
Toda a minha vida procurei respostas a perguntas
que talvez não tenham resposta e perscrutei o mármore
como se a verdade se encontrasse no coração das pedras,
e espalhei as cores para pintar muralhas
como se se tratasse de fixar acordes sobre um enorme silêncio.
Tudo se cala, sabes, até a nossa alma —
ou então somos nós que não ouvimos.


Assim, tu partes.
Na minha idade já não se dá importância a uma separação,
mesmo que definitiva. Eu bem sei que os seres que amamos e que nos amam mais
se vão separando insensivelmente de nós a cada momento que passa.
É também deste modo que se vão separando de si próprios.
Estás sentado sobre essa pedra e julgas-te ainda aí,
mas o teu ser, voltado para o futuro, não adere mais ao que foi a tua vida,
e a tua ausência já começou. É certo que compreendo
que tudo isto é ilusão, como o resto, e que o futuro não existe.
Os homens que inventaram o tempo,
inventaram por contraste a eternidade, mas a negação do tempo
é tão vã como ele próprio. Não há nem passado nem futuro
mas apenas uma série de presentes sucessivos,
um caminho perpetuamente destruído e continuado
onde todos vamos avançando.


Estás sentado, Gherardo,
mas os teus pés estão assentes no solo
com a inquietação de quem experimenta o caminho.
Estás vestido com trajes do nosso século,
que hão-de parecer feios ou simplesmente estranhos quando o século
tiver passado pois as vestes não são mais que a caricatura do corpo.
Vejo-te nu. Tenho o dom de ver através das roupas o irradiar do corpo,
que é como os santos vêem as almas, segundo penso.
É um suplício quando são feios,
mas é um outro suplício quando são belos,
dessa beleza frágil que a vida e o tempo atacam por todos os lados
e acabarão por tomar-te,
mas neste momento és dono dela e tua será na abóbada da igreja
onde pintei a tua imagem. Mesmo que um dia
o teu espelho te não mostre mais que um retrato deformado
onde não ouses reconhecer-te, existirá sempre noutro sítio
o reflexo imóvel de ti.
E desse modo imobilizarei a tua alma também.


Tu já não me amas.
Se consentes em ouvir-me durante uma hora
é porque somos sempre indulgentes com aqueles que vamos deixar.
Ligaste-me e agora desligas-me.
Não te censuro, Gherardo.
O amor de alguém é um presente tão inesperado e tão pouco merecido
que devemos espantar-nos que não no-lo retirem mais cedo.
Não estou inquieto por aqueles que ainda não conheces,
ao encontro de quem vais e que porventura te esperam:
aquele que eles vão conhecer será diferente daquele
que eu julguei conhecer e creio amar.
Não se possui ninguém (mesmo os que pecam não o conseguem) e,
sendo a arte a única forma de posse verdadeira,
o que importa é recriar um ser e não prendê-lo.


Gherardo, não te enganes sobre as minhas lágrimas:
vale mais que os que amamos partam quando ainda conseguimos chorá-los.
Se ficasses, talvez a tua presença, ao sobrepor-se-lhe,
enfraquecesse a imagem que me importa conservar dela.
Tal como as tuas vestes não são mais que o invólucro do teu corpo,
assim tu também não és mais para mim
do que o invólucro de um outro que extraí de ti e que te vai sobreviver.


Gherardo, tu és agora mais belo que tu mesmo.
Só se possuem eternamente os amigos de quem nos separamos.


Marguerite Yourcenar, O tempo esse grande escultor

sábado, novembro 25, 2006

Músicas para uma noite quente de primavera

Já nostálgico do Video Games Live, um pouco de efervescente música "noturna" ao melhor estilo de uma das mais clássicas e duradouras séries dos jogos eletrônicos:

http://d2.ffshrine.org/soundtracks/Castlevania%20Curse%20of%20Darkness/17_-_a_toccata_into_blood_soaked_darkness.mp3

(Para ouvir, clique no link com o botão direito do mouse e escolha "Salvar destino como...".)

E para variar, uma viagem musical pelas diferentes civilizações da História, na trilha sonora de Civilization IV:

http://gh.ffshrine.org/soundtracks/3145

quinta-feira, novembro 23, 2006

Meditações do dia

"Um intelectual é alguém que achou algo mais interessante do que sexo."

Aldous Huxley



"Não pense que o amor, para ser genuíno, tem de ser extraordinário. O que precisamos é amar sem nos cansarmos."

Madre Teresa de Calcutá



"Vamos sempre ao encontro um do outro com um sorriso, pois o sorriso é o princípio do amor."

Madre Teresa de Calcutá

segunda-feira, novembro 20, 2006

Paz


"Quando o amor vos chamar, segui-o.
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados.
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento devasta o jardim.

Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que contribui para vosso crescimento, trabalha para vossa poda.
E da mesma forma que alcança vossa altura e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes e as sacode no seu apego à terra.

Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete sagrado de Deus.

Todas essas coisas, o amor operará em vós para que conheçais os segredos de vossos corações e, com esse conhecimento, vos convertais num fragmento do coração da Vida."


Gibran Khalil Gibran, O Profeta

sexta-feira, novembro 17, 2006

Leveza

Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.

E a cascata aérea
de sua garganta,
mais leve.

E o que lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.

E o desejo rápido
desse antigo instante,
mais leve.

E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve.

Cecília Meireles

Uma (gen)ética egoísta


A Sociobiologia, uma interessante abordagem do comportamento humano a partir do que seria a seleção natural, tem se tornado cada vez mais popular entre as pessoas informadas. Entretanto, não é preciso muito esforço para ver a facilidade com que seus postulados podem levar a uma repetição do que aconteceu, no século XIX, com o darwinismo: seu uso como justificativa para normas sociais e diretrizes éticas injustas e exclusivistas, o chamado darwinismo social cujo preceito básico era "Só os mais fortes sobrevivem", significando que "é natural e desejável que os mais fracos (fossem os pobres, os menos inteligentes, os de cor de pele diferente) pereçam". Este texto, colhido a partir dos Arts & Letters Daily, trata do assunto.
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The Chronicle of Higher Education
The Chronicle Review
November 17, 2006

The Social Responsibility in Teaching Sociobiology


By DAVID P. BARASH

Socrates was made to drink hemlock for having "corrupted the youth of Athens." Is sociobiology or — as it is more commonly called these days — "evolutionary psychology" similarly corrupting? Although the study of evolution is, in my opinion, one of the most exciting and illuminating of all intellectual enterprises, there is at the same time, and not just in my opinion, something dark about the implications of natural selection for our own behavior.

Should we revise Pink Floyd's anthem "Another Brick in the Wall" — with its chorus "No dark sarcasm in the classroom/Teachers leave them kids alone" — to "No dark sociobiology in the classroom"? To answer this, we need first to examine that purported darkness.

Basically, it's a matter of selfishness. For a long time, evolution was thought to operate "for the good of the species," a conception that had a number of pro-social implications; that may be one reason why "species benefit" was so widely accepted, and why its overthrow took so long and was so vigorously resisted. Thus, if evolution somehow cares about the benefit enjoyed by a species, or by any other group larger than the individual, then it makes sense for natural selection to favor actions that contribute positively to that larger whole, even at the expense of the individual in question. Doing good therefore becomes doubly right: not just ethically correct but also biologically appropriate. In a world motivated by concern for the group rather than the individual, altruism is to be expected, since it would be "only natural" for an individual to suffer costs — and to do so willingly — so long as other species members come out ahead as a result.

Then came the revolution. Beginning in the 1960s with a series of paradigm-shifting papers by William D. Hamilton, a notable book by George C. Williams (Adaptation and Natural Selection), and with further clarifications in the early 1970s, especially by Robert L. Trivers and John Maynard Smith, and magisterially summarized in Edward O. Wilson's Sociobiology, the conceptual structure of modern evolutionary biology was changed — maybe not forever (it's a bit premature to conclude that), but into the foreseeable future. Sociobiology was born on the wings of this scientific paradigm shift, whose underlying manifesto holds that the evolutionary process works most effectively at the smallest unit: that of individuals and genes, rather than groups and species.

At first glance, none of this seems especially threatening. Moreover it has been liberating in the extreme, shedding new light on a wide range of animal and human social behavior. But at the same time, the individual- and gene-centered view of life offers, in a sense, a perspective that is profoundly selfish; hence Richard Dawkins's immensely influential book, The Selfish Gene. The basic idea has been so productive that it has rapidly become dogma: Living things compete with each other (more precisely, their constituent genes struggle with alternative copies) in a never-ending process of differential reproduction, using their bodies as vehicles, or tools, for achieving success. The result has been to validate a view of human motivations that seems to approve of personal selfishness while casting doubt on any self-abnegating actions, seeing a self-serving component behind any act, no matter how altruistic it might appear. Sociobiologists have thus become modern-day descendants of the cynical King Gama, from Gilbert and Sullivan's Princess Ida, who proudly announces his cynicism: "A charitable action I can skillfully dissect; And interested motives I'm delighted to detect."

Scientifically, such "detection" works. Ethically, however, it stinks: If the fundamental nature of living things — human beings included — is to joust endlessly with each other, each seeking to get ahead, then we're all mired in selfishness — a dark vision indeed.

It might ease the blow by noting that such a vision of human nature is hardly unique to modern evolutionary science. Thus, in An Enquiry Concerning Human Understanding (1748), David Hume wrote that "should a traveller, returning from a far country, bring us an account of men wholly different from any with whom we were ever acquainted ... who were entirely divested of avarice, ambition, or revenge; who knew no pleasure but friendship, generosity, and public spirit; we should immediately, from these circumstances, detect the falsehood, and prove him a liar, with the same certainty as if he had stuffed his narration with stories of centaurs and dragons, miracles and prodigies." Hume also noted, albeit playfully, "It is not irrational for me to prefer the destruction of half the world to the pricking of my finger." More than 200 years ago, people were made uncomfortable by such sentiments, and they still are.

Just as nature is said to abhor a vacuum, it abhors true altruism. Society, on the other hand, adores it. Most ethical systems advocate undiscriminating altruism: "Virtue," we are advised, "is its own reward." Such sentiments are immensely attractive, not only because they are how we would like other people to behave, but probably because at some level, we wish that we could do the same. As Bertolt Brecht notes in The Threepenny Opera, "We crave to be more kindly than we are," so much so that purveyors of good news — those who proclaim the "better angels of our nature" — nearly always receive a more enthusiastic reception than do those whose message is more dour.

Although people are widely urged to be kind, moral, altruistic, and so forth, which suggests that they are basically less kind, moral, altruistic, etc., than is desired, it is also common to give at least lip service to the precept that people are fundamentally good. It appears that there is a payoff in claiming — if not acting — as though others are good at heart. "Each of us will be well advised, on some suitable occasion," wrote Freud, in Civilization and Its Discontents, "to make a low bow to the deeply moral nature of mankind; it will help us to be generally popular and much will be forgiven us for it." Why are people generally so unkind to those who criticize the human species as being, at heart, unkind? Maybe because of worry that such critics might be seeking to justify their own unpleasantness by pointing to a general unpleasantness on the part of others. And maybe also because most people like to think of themselves as benevolent and altruistic, or at least, to think that other people think of them that way. It seems likely that a cynic is harder to bamboozle.

In Civilization and Its Discontents, perhaps his most pessimistic book, Freud went on to lament that one of education's sins is that "it does not prepare [children] for the aggressiveness of which they are destined to become the objects. In sending the young into life with such a false psychological orientation, education is behaving as though one were to equip people starting on a Polar expedition with summer clothing and maps of the Italian Lakes. In this it becomes evident that a certain misuse is being made of ethical demands. The strictness of those demands would not do so much harm if education were to say: 'This is how men ought to be, in order to be happy and to make others happy; but you have to reckon on their not being like that.' Instead of this the young are made to believe that everyone else fulfills those ethical demands — that is, that everyone else is virtuous. It is on this that the demand is based that the young, too, shall become virtuous."

At the same time, we can expect that society will often call for real altruism, not because it is good for the altruist but because it benefits those who receive. (If it were clearly good for the altruist, then society wouldn't have to call for it! In fact, cynics point out that it is precisely because altruism is generally not good for the altruist that social pressures are so often focused on producing it.) Friedrich Nietzsche was probably the most articulate spokesman for the view that society encourages self-sacrifice because the unselfish sucker is an asset to others: "Virtues (such as industriousness, obedience, chastity, piety, justness) are mostly injurious to their possessors. ... If you possess a virtue, ... you are its victim! But that is precisely why your neighbor praises your virtue. Praise of the selfless, sacrificing, virtuous ... is in any event not a product of the spirit of selflessness! One's 'neighbor' praises selflessness because he derives advantage from it."

If Nietzsche is correct, then there is probably a distressingly manipulative quality to morals, to most religious teachings, to the newspaper headlines that celebrate the hero who leaps into a raging river to rescue a drowning child, to local Good Citizenship Awards and PTA prizes.

"That man is good who does good to others," wrote the 17th-century French moralist Jean de La Bruyère. Nothing objectionable so far; indeed, it makes sense (especially for the "others"). But La Bruyère goes on, revealing a wicked pre-Nietzschean cynicism: "If he suffers on account of the good he does, he is very good; if he suffers at the hands of those to whom he has done good, then his goodness is so great that it could be enhanced only by greater suffering; and if he should die at their hands, his virtue can go no further; it is heroic, it is perfect."

Such "perfect" heroism can only be wished on one's worst enemies.

Exhortations to extreme selflessness are easy to parody, as not only unrealistic but also paradoxically self-serving insofar as the exhorter is likely to benefit at the expense of the one exhorted. Yet the more we learn about biology, the more sensible becomes the basic thrust of social ethics, precisely because nearly everyone, left to his or her devices, is likely to be selfish, probably more than is good for the rest of us. The philosopher and mathematician Bertrand Russell pointed out that "by the cultivation of large and generous desires ... men can be brought to act more than they do at present in a manner that is consistent with the general happiness of mankind." Society is therefore left with the responsibility to do a lot of cultivating.

Seen this way, a biologically appropriate wisdom begins to emerge from the various commandments and moral injunctions, nearly all of which can at least be interpreted as trying to get people to behave "better," that is, to develop and then act upon large and generous desires, to strive to be more amiable, more altruistic, less competitive, and less selfish than they might otherwise be.

Enter sociobiology. With its increasingly clear demonstration that Hume, Freud, Brecht, and Nietzsche (also Machiavelli and Hobbes) are basically onto something, and that selfishness resides in our very genes, it would seem not only that evolution is a dispiriting guide to human behavior, but also that the teaching of sociobiology (or evolutionary psychology) should be undertaken only with great caution. The renowned primatologist Sarah Hrdy accordingly questioned "whether sociobiology should be taught at the high-school level ... because it can be very threatening to students still in the process of shaping their own priorities," adding: "The whole message of sociobiology is oriented toward the success of the individual. ... Unless a student has a moral framework already in place, we could be producing social monsters by teaching this."

What to do? One possibility — unacceptable, I would hope, to most educators — would be to refrain altogether from teaching such dangerous truths. Teacher, leave them kids alone! Preferable, I submit, is to structure the teaching of sociobiology along the lines of sex education: Teach what we know, but do so in age-appropriate stages. Just as we would not bombard kindergartners with the details of condom use, we probably ought not instruct preteens in the finer points of sociobiology, especially since many of those are hidden even to those expected to do the teaching. For one thing, a deeper grasp of the evolutionary biology of altruism reveals that even though selfishness may well underlie much of our behavior, it is often achieved, paradoxically, via acts of altruism, as when individuals behave in a manner that enhances the ultimate success of genetic relatives. Here, selfishness at the level of genes produces altruism at the level of bodies. Ditto for "reciprocity," which, as Robert Trivers elegantly demonstrated more than three decades ago, can produce seemingly altruistic exchanges and moral obligations even between nonrelatives. Yet genetic selfishness underlies it all. Alexander Pope concluded, with some satisfaction, "That Reason, Passion, answer one great aim; That true Self-love and Social are the same."

Sociobiologists understand that there is an altruistic as well as a selfish side to the evolutionary coin. A half-baked introduction to the discipline, which pointed only to the latter, would therefore do students a substantial disservice. Moreover, gene-centered evolutionary thinking can also expand the sense of self and emphasize interrelatedness: Altruism aside, just consider all those genes for cellular metabolism, for neurotransmitters and basic body plans, all of them shared with every living thing, competing and pushing and somehow working things out on a small and increasingly crowded planet. There, by the grace of evolution, go a large part of "ourselves."

"Gene-centered theories are often reviled," writes the gene theorist David Haig, "because of their perceived implications for human societies. But even though genes may cajole, deceive, cheat, swindle, or steal, all in pursuit of their own replication, this does not mean that people must be similarly self-interested. Organisms are collective entities (like firms, communes, unions, charities, teams) and the behaviors and decisions of collective bodies need not mirror those of their individual members." To some extent, in short, we may even possess — gulp! — free will.

Beyond the question of what our genes may be up to and the extent to which we are independent of them, those expected to ponder the biology of their own "natural" inclinations ought also to be warned (more than once) about the "naturalistic fallacy," the presumption that things natural are, ipso facto, good. I'd even suggest pushing this further, and that the real test of our humanity might be whether we are willing, at least on occasion, to say no to our "natural" inclinations, thereby refusing go along with our selfish genes. To my knowledge, no other animal species is capable of doing that. More than any other living things, we are characterized by an almost unlimited repertoire; human beings are of the wilderness, with beasts inside, but much of the beastliness involves gene-based altruism no less than selfishness. (Recall the paradox that genetic selfishness is often promoted via altruism toward other individuals insofar as these recipients are likely to carry identical copies of the genes in question.)

Moreover, as Carl Sandburg put it, each human being is "the keeper of his zoo." Even that is not evidence of a lack of evolutionary influence; rather, it is a result of selection for being a good zookeeper. Socrates, we are told, elected to drink the hemlock when he could have followed a different path. Human beings are capable not only of understanding what the evolutionary process hath wrought, but also of deciding, in the clear light of reason as well as ethics, whether to follow.

David P. Barash is a professor of psychology at the University of Washington.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças



Quanto você daria para esquecer? Eis a premissa desse filme tão original e interessante, delicado sem sombra de pieguice, cuja sinopse está aqui. Um filme para assistir e meditar.

Abaixo, o poema citado no filme e que o inspirou, com destaque para o trecho que lhe dá título.

From Eloisa to Abelard


"...Ah wretch! believ'd the spouse of God in vain,
Confess'd within the slave of love and man.
Assist me, Heav'n! but whence arose that pray'r?
Sprung it from piety, or from despair?
Ev'n here, where frozen chastity retires,
Love finds an altar for forbidden fires.
I ought to grieve, but cannot what I ought;
I mourn the lover, not lament the fault;
I view my crime, but kindle at the view,
Repent old pleasures, and solicit new;
Now turn'd to Heav'n, I weep my past offence,
Now think of thee, and curse my innocence.
Of all affliction taught a lover yet,
'Tis sure the hardest science to forget!
How shall I lose the sin, yet keep the sense,
And love th' offender, yet detest th' offence?
How the dear object from the crime remove,
Or how distinguish penitence from love?
Unequal task! a passion to resign,
For hearts so touch'd, so pierc'd, so lost as mine.
Ere such a soul regains its peaceful state,
How often must it love, how often hate!
How often hope, despair, resent, regret,
Conceal, disdain — do all things but forget.
But let Heav'n seize it, all at once 'tis fir'd;
Not touch'd, but rapt; not waken'd, but inspir'd!
Oh come! oh teach me nature to subdue,
Renounce my love, my life, myself — and you.
Fill my fond heart with God alone, for he
Alone can rival, can succeed to thee.

How happy is the blameless vestal's lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd;
Labour and rest, that equal periods keep;
"Obedient slumbers that can wake and weep;"
Desires compos'd, affections ever ev'n,
Tears that delight, and sighs that waft to Heav'n.
Grace shines around her with serenest beams,
And whisp'ring angels prompt her golden dreams.
For her th' unfading rose of Eden blooms,
And wings of seraphs shed divine perfumes,
For her the Spouse prepares the bridal ring,
For her white virgins hymeneals sing,
To sounds of heav'nly harps she dies away,
And melts in visions of eternal day.

Far other dreams my erring soul employ,
Far other raptures, of unholy joy:
When at the close of each sad, sorrowing day,
Fancy restores what vengeance snatch'd away,
Then conscience sleeps, and leaving nature free,
All my loose soul unbounded springs to thee."

segunda-feira, novembro 13, 2006

Amores e águas turvas

Bridge over troubled water, de Paul Simon e Art Garfunkel, é uma melodia muito conhecida, comum em inúmeras coletâneas baratas de orquestras obscuras. É daquele tipo de música que, se ouvida mais de uma vez, "gruda" no cérebro e nos arrasta para um replay mental que pode durar dias a fio. Tendo-a ensaiado para um coral improvisado há mais de uma semana, eu mesmo ainda estou pagando esse preço, ouvindo-a internamente nas mais diversas horas do dia. Apesar desse "incômodo" -- é uma bela canção, embora repassá-la 3600 vezes não estivesse no plano original --, há um outro motivo pelo qual ela é notável: sua letra.

Antes, uma explicação. Boa parte das canções pop pode ser resumida a uns poucos tópicos de apelo supostamente universal e que se repetem, repetem, repetem... Talvez os mais comuns sejam a paixão não correspondida, a "dor-de-cotovelo", o desejo de desforra, o ciúme a tristeza pela perda, enfim, uma infinidade de variações sobre o "amor". Algumas dessas obras são lindíssimas, um sem-número é de composições banais, mas o que chama a atenção é que versam quase sempre sobre apenas um tipo de amor, o chamado "amor romântico". Essa preferência até se justifica, pela intensidade que caracteriza esse sentimento e o lugar de destaque que ele tem em nossa cultura nos últimos séculos. Porém, em todos os tempos aqueles que procuram um sentido maior para a vida humana não deixaram de observar que esse tipo de amor, tal como é usualmente compreendido, está longe de ser o mais nobre dentre os sentimentos. As razões disso não precisam ser explicadas ao leitor atento, mas uma em particular diz respeito à música de Simon & Garfunkel: a posse.

Não me refiro ao ciúme, aquela vigília contra a concorrência que a Mãe Natureza nos legou e que tantas vezes obscurece o espírito e a alegria de viver. Falo, simplesmente, da condicionalidade, o bom e velho "toma-lá-dá-cá" implicado na paixão, mas que se oculta no auge dessa emoção, quando o apaixonado se sente capaz de mover céus e terras pelo outro sem esperar nada em troca. Ora, esse altruísmo é sincero, sem dúvida, mas costuma ser ilusório, já que toda essa afeição intensa, flamejante, precisa de reciprocidade, do contrário mingua e morre (muitas vezes de forma dolorosa); se correspondida, dá e passa, de modo que, por si mesma, não se sustenta.
Então, se é assim, o que resta? O que lhe falta? E como reconhecer a diferença?

Esse é tema para mentes melhores e corações mais experientes que o deste blogueiro. Mas ficam as perguntas, minhas e de bilhões, sobre como podemos passar da condicionalidade à verdadeira generosidade que constitui o amor genuíno, mesmo em sua forma conjugal. E enquanto esse mistério não se resolve, vamos tateando pela vida, tentando descobrir na prática que amor é esse que tantos trabalhos nos damos para oferecer e pelo qual eventualmente nos deixamos iludir. E se um dia conseguirmos realmente desvendá-lo, aí, quem sabe, teremos condição de descobrir algo que vá além dele, um amor que, afinal, seja Amor.

Ponte sobre as águas turvas
(Adaptação de Evê Sobral)

Se a solidão for demais e em teu coração
não sentires a paz, eu quero estar bem perto
Como alguém que torce por teu bem

Como ponte sobre as águas turvas
Hás de me encontrar


Se a luz que tens se apagar e a escuridão,
meu Pai, ofuscar teu olhar
Verei a luz nas trevas do coração
Com a mão na tua mão

Como ponte sobre as águas turvas
Hás de me encontrar


Vamos navegar, navegar
Em busca de um lugar para a gente sonhar
Somos iguais, eu já sonhei também
Com esta mesma paz, e se acaso precisares de alguém
Hás de me encontrar

Como ponte sobre as águas turvas
Hás de me encontrar

"O" show


sábado, novembro 11, 2006

Milhões de japoneses não podem estar errados...

Japoneses enfrentam longas filas para comprar PlayStation 3
A Sony diz que 400 mil aparelhos serão disponibilizados nos EUA
Centenas de pessoas enfrentaram longas filas neste sábado no Japão para comprar o mais recente lançamento da Sony, o aparelho de videogame PlayStation 3.

Cem mil aparelhos foram colocados à venda e todos já teriam sido vendidos, embora a Sony não tenha confirmado a informação.

Devido à grande demanda pelo produto, as lojas de eletrônicos organizaram uma loteria para decidir quem na fila poderia comprar o tão esperado videogame.

Vendedores usaram microfones para acalmar clientes impacientes e alertar que a venda seria cancelada caso houvesse algum incidente.

"Eu estava esperando por esse dia há muito tempo. Vou jogar todo o fim de semana. Não vou nem comer", disse Tomoake Nakamura, de 41 anos, que estava na fila da loja Bic Camera, em Tóquio, onde estavam cerca de mil pessoas.

Preços

O novo aparelho da Sony está sendo vendido em duas configurações: uma versão mais cara com 60GB e wi-fi (60.000 ienes, o equivalente a R$ 1.090) e uma versão mais barata com 20GB (49.980 ienes, o equivalente a R$ 909).

O lançamento na Europa é aguardado para março do ano que vem e os preços devem ser mais caros do que no Japão.

Originalmente, o lançamento do PlayStation 3 estava marcado para o início de 2006, mas problemas na produção resultaram no atraso.

A Sony diz que 400 mil aparelhos serão disponibilizados nos Estados Unidos no dia 17 de novembro.

A expectativa da empresa é que 6 milhões estejam nas prateleiras ao redor do mundo até o final de março do ano que vem.